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Carnaval: tempo de purpurinar as ruas
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Há alguns anos, ainda na primeira década do século XXI, um fenômeno começou a tomar conta das ruas do Rio de Janeiro durante o carnaval, foi o fenômeno da multiplicação dos blocos. Nos bairros, no centro da cidade, da zona sul à zona norte a ruas e avenidas passaram a pulsar com gente.
Hoje o samba e a alegria já estão consolidados muito além do sambódromo da Marques de Sapucaí. Todos os anos, quem gosta de espaços públicos democraticamente ocupados por pessoas pode ser deslumbrar com a diversidade da diversão. Seja rico ou seja pobre, o rei Momo sempre vem.
A consolidação da festa pagã durante o feriado religioso ainda coloca cidades no mapa, Salvador e Rio de Janeiro ainda são as praias famosas para quem quer tomar as ruas na busca de diversão. Tanto que em ambas, existe além dos consolidados roteiros, a aventura dos “pipocas” baianos, ou os “blocos clandestinos” dos cariocas.
Carnaval para redescobrir cidades
O ano de 2016 foi de consolidação da redescoberta das festividades de rua pelos paulistanos. Houve quem dissesse que a culpa foi da crise econômica que limitou os orçamentos e fez com que mais gente optasse por ficar em casa durante o carnaval. Uma análise mais ampla aponta para um fenômeno que se alastra Brasil afora. Carnaval deixou de ser a época de escapar dos grandes centros em busca de diversão sem limites nas cidades carnavalescas.
As pessoas continuam buscando as ladeiras de Olinda, Ouro Preto e tantas outras. Mas cada ano torna-se mais possível e razoável escolher entre ir dormir em casa depois da folia ao invés de enfrentar estradas ou aeroportos.
São Paulo é cidade de fugitivos. Destino de homens de negócio durante a semana e palco de gigantescos congestionamentos nas estradas causados por moradores em fuga para locais mais aprazíveis nos feriados prolongados. O necessário embate entre lazer/prazer e trabalho é ainda mais necessário na maior cidade brasileira, a noção de que a cidade é engrenagem de produção de riqueza e moedor de carne humana precisa ser reinventada.
Os cariocas descobriram primeiro que é possível ter prazer nas ruas da cidade em que se vive. Os paulistanos estão seguindo no caminho, e com seus superlativos, buscam espalhar a folia pela cidade para que o carnaval seja a apoteose da felicidade e menos parecido com o apocalipse da bebedeira, urina e lixo.
Saldo positivo para apresentar São Paulo já tem. A cidade arrecada mais dinheiro com o Carnaval de rua do que com o sambódromo do Anhembi e principalmente, desloca-se em massa através dos ônibus, metrô e trens. Mas acima de tudo, o reinado motorizado do resto do ano submete-se ao reinado das pessoas alegres, fantasiadas e dançantes.
Até quando o próximo carnaval chegar, o importante é tirar a purpurina do corpo, mas deixá-la guardada na alma.
Bicicleta na ladeira do senso comum
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Inauguração Ciclovia Avenida Paulista Foto: ITDP Brasil
Promover o uso da bicicleta no Brasil ainda envolve uma série de pequenas ladeiras assentadas no senso comum. O discurso de preservação do meio ambiente e dos benefícios para a saúde são rotineiramente utilizados como ponto de partida para qualquer discussão. O velho clichê de quem pedala vai salvar o mundo e ter mais qualidade de vida.
Essa abordagem funciona em reportagens televisivas e campanhas publicitárias, mas não é elemento decisivo para mudanças de atitude individual e na transformação efetiva da paisagem urbana.
Símbolo de liberdade e ferramenta de transformação urbana
Bicicleta como poster de marca de roupas é a apropriação do veículo como símbolo e certamente traz impacto mental positivo ao tornar cada vez mais as magrelas como figura onipresente no imaginário popular. No entanto, um bicicletário na porta da loja é não apenas a adoção de uma bandeira, mas a valorização efetiva de quem pedala além de encorajar mais pessoas a faze-lo.
O papel da sociedade civil, o que naturalmente inclui a Transporte Ativo, é abraçar as transformações, mesmo as superficiais, e colaborar para aprofundá-las. A mentalidade rodoviarista do século XX ainda resiste e desmontá-la requer ações conjuntas e inteligentes. No âmbito do fortalecimento de políticas públicas, a visão tem de ser ainda mais estrutural.
Nos idos de 2006 fez sucesso o desafio intermodal. Iniciativa de grande apelo midiático e que provou de forma simples o que para quem pedala era apenas o óbvio, que a bicicleta é o veículo mais rápido no congestionado meio urbano. Iniciativa menos formatada ao jornalismo televisivo, o perfil do ciclista brasileiro no entanto apresentou papel similar ao novamente apresentar a quem está longe do selim, o que nos parece óbvio. Dessa vez foi apresentada a informação do uso da bicicleta e sua importância como veículo, em especial para as pessoas mais pobres.
O perfil do ciclista apareceu em mais de 56 notícias, desde blogs especializados ao Jornal Nacional. Uma pequena pedalada para dar visibilidade aos ciclistas e mostrar a importância de encarar com seriedade a urgência de políticas públicas sérias em favor da mobilidade em bicicleta.
Bicicleta na agenda política
Iniciativas como o perfil do ciclista, contagens fotográficas e outras são atalhos possíveis para criar um ambiente favorável para a promoção ao uso da bicicleta. O fornecimento de dados mensuráveis e confiáveis são um caminho fundamental para fortalecer quem já trabalha o mobilidade cicloviária dentro da máquina pública.
As análises e recomendações do ITDP Brasil para São Paulo é uma dessas iniciativa. Já parte do pressuposto que infraestrutura é fundamental e buscar ir além. Promove ao mesmo tempo uma perspectiva favorável em relação à bicicleta e facilita mudanças de comportamento para modos suaves de deslocamento.
São dois eixos principais:
- identificação do histórico de ações, programas e políticas de mobilidade por bicicleta;
- análise da rede cicloviária implantada no município de São Paulo.
Conhecer o longo caminho até a adoção da bicicleta como ferramenta de transformação urbana é fundamental para que se possa seguir esse caminho, ultrapassando bandeiras partidárias.
Saiba mais:
Para além da visibilidade
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Uma boa política pública precisa ter visibilidade e também abrangência. O desafio é portanto que as pessoas possam conhecer as mudanças e desfrutar delas. O Rio de Janeiro nos dá um bom exemplo do caminho traçado durante o século XX da motorcracia e o que está sendo feito para valorizar uma outra mobilidade no século XXI.
A conexão cicloviária entre a zona Sul e a zona Oeste é demanda antiga de ciclistas cariocas. Todos os trajetos disponíveis (por enquanto) envolvem cruzar maciços rochosos em túneis feitos para o fluxo motorizado expresso, ou subir e descer montanhas. A ciclovia que contorna a avenida Niemeyer, fincada nos pilares do costão, é o primeiro passo para quebrar barreiras geográficas para a bicicleta. Agora quem quiser ir do Leblon a São Conrado pode fazer o trajeto com conforto e segurança.
100 anos de atraso
Com suas rampas suaves e curvas sinuosas, a avenida Niemeyer é um livro escrito na rocha, testemunho da fascinação do século XX pelos motores. Idealizada para ser uma ligação ferroviária, logo tornou-se estrada. Os trabalhos de abertura começaram ainda no século XIX, mas a inauguração data de 20 de outubro de 1916. O grande responsável pela conclusão do trajeto foi o comendador Conrado Jacob Niemeyer, grande proprietário de terras na região e que depois de patrocinar a obra de ligação das chácara do Leblon à antiga praia da Gávea cedeu o direito de passagem em suas terras à prefeitura.
Para a visita do rei da Bélgica em 1920 a estrada em homenagem ao comendador Niemeyer foi ampliada e pavimentada. Lógica similar ao que aconteceu com a linha Vermelha, uma “ampliação” de um viaduto para a passagem dos chefes de Estado em visita ao Rio para a Eco92.
Durante os anos 1930 e 1940 o belo trajeto à beira mar foi palco do incipiente automobilismo brasileiro. Foram os tempos do “Trampolim do Diabo”, apelido do Circuito da Gávea que abrigou o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro.
As Olimpíadas e uma ciclovia à beira mar
Investimentos em mobilidade urbana são o maior dos legados de grandes eventos esportivos. Seja a visita do rei da Bélgica, a Eco92, Copa do Mundo ou Olimpíadas. Os valores gastos pelo poder público com diferentes soluções de mobilidade mostram um progresso. O Rio de Janeiro voltará a ter trilhos na superfície (os novos bondes do Centro), mais metrô (o linhão 1 até a Barra), corredores de ônibus, ciclovias e também obras para a mobilidade individual motorizada.
Continuação da ligação entre as zonas Oeste e Sul, o elevado do Joá foi durante muitas anos o maior atalho expresso entre a Barra e São Conrado. Aos ciclistas e pedestres restava o sobe e desce da sinuosa Estrada do Joá. As pistas para carros e ônibus junto ao mar serão duplicadas e, de brinde, a futura ciclovia também terá um atalho de baixa altimetria.
A inauguração da ciclovia da Niemeyer, suspensa no costão rochoso do morro Dois Irmãos, precisa ser guardada como um marco para a cidade. Uma grande obra de importância vital para a circulação em bicicletas. Por hora ainda está longe de representar uma prioridade absoluta para as pessoas que utilizam transportes ativos, mas certamente servirá como exemplo futuro.
O Rio de Janeiro que se modificou para ser confortável para a transporte individual motorizado não foi construído em um dia. A cidade maravilhosa para as pessoas a pé, em bicicleta ou no transporte público aos poucos se mostra aos olhos da população e do mundo.
Saiba mais:
– Avenida Niemeyer – História
– Fotos do projeto do novo Viaduto do Joá
A inauguração da mais bela das ciclovias

Foto: Nighto – via Mapillary
“Imaginação é a faculdade de criar a partir da combinação de ideias; criatividade.”
Quem poderia imaginar uma ciclovia como a que foi feita ao lado da Avenida Niemeyer no Rio de Janeiro? Contornando o costão rochoso entre os bairros de Leblon e São Conrado ela será inaugurada dia 17/01/2016 como a primeira etapa da futura ligação cicloviária completa de toda a orla carioca.
A criação e ampliação da malha cicloviária carioca não é fruto da imaginação de ninguém, apenas uma adequação urbana aos novos tempos. Pedalar em ciclovias faz parte do cotidiano carioca desde os anos 1990 e como a cidade tem uma beleza natural famosa as bicicletas circulam com paisagens belíssimas ao fundo. Mas a da Niemeyer extrapolou essa qualidade da capital fluminense. Quem imaginaria que a mobilidade urbana carioca acrescentaria uma obra com tamanha capacidade de gerar empatia (e antipatia também) no Rio, no Brasil e mundo afora?
Feliz a cidade que explora os novos tempos de liberdade de opinião para discutir abertamente a validade e qualidade da ciclovia da Niemeyer. A (polêmica) ciclovia ganhou cores fortes, opiniões apaixonadas, declarações de amor ao Rio e de ódio a quem construiu. Há quem queira vir de outros estados para pedalar e há quem pense que a hora é de se mudar do Rio de mala e cuia.
Nossa imaginação pode nos permitir sonhar com o dia em que a bicicleta será uma unanimidade e que a ciclovia da Niemeyer será o ícone dessa nova matriz urbana, voltada mais para as pessoas que para veículos motorizados. Mas como toda a unanimidade é burra quem pedalar pela nova e mais bonita pista da cidade o fará não só com a vista deslumbrante, mas também com a certeza que pode debater de forma aberta e democrática como será a cidade que queremos.
Para lembrar
A avenida Niemeyer foi palco do famoso vídeo “Como ultrapassar mais de 100 carros em 5 minutos”. Um desafio apocalíptico em uma avenida que só agora permite o acesso seguro e confortável para quem pedala.
Bicicleta na empresa, dúvidas juridicas
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Quem tem uma empresa e quer incentivar seus funcionários a pedalarem ao trabalho tem uma série de dúvidas. Para sanar algumas delas, o promotor de justiça em Santa Catarina, Eduardo Sens dos Santos elaborou um pequeno documento que deixa claro os bônus de mais pessoas em bicicleta nos escritórios e fábricas Brasil afora.
Dúvidas trabalhistas sobre o uso da bicicleta
A doação ou empréstimo de bicicletas é um procedimento simples, sem ônus ao empregador além do custo do veículo. Não tem imposto extra, ou qualquer implicação tributária. É possível até financiar a compra com desconto em folha de pagamento sem problemas.
Caso o empregado se machuque durante o deslocamento ao trabalho utilizando a bicicleta as consequências são as mesmas de qualquer outro sinistro. Empregador que dá, empresta ou financia bicicleta não tem qualquer responsabilidade extra com seu funcionário. Seja de carro, moto, ônibus ou bicicleta as regras do auxílio-doença e estabilidade acidentária permanecem.
Quem quiser saber mais, é possível conhecer as implicações do uso da bicicleta em relação ao vale-transporte, desconto do tempo de trabalho na jornada, acordos trabalhistas coletivos para promover a mobilidade ativa, bike-anjo entre funcionários e até mesmo implicações de furto no estacionamento da empresa.
– Manual “Empresas, Bicicletas e Empregados – Dúvidas mais frequentes”.
Responsabilidade empresarial e a bicicleta
Os deslocamentos de funcionários e clientes são um impacto relevante de qualquer empresa e que precisa ser encarado como um desafio a ser enfrentado.
Muitos dos incentivos para que as pessoas possam adotar transportes mais eficientes e agradáveis estão ao alcance de qualquer empresário adotar em seu negócio.
Outros materiais para quem quer promover o uso da bicicleta:
50 maneiras de favorecer os ciclistas.
Guia De Bicicleta para o Trabalho.
Manual Bicicleta na Empresa.
Manual Frota de Bicicletas.
