Barreiras Psicológicas

Instalar bicicletários e construir ciclovias até pode incentivar pessoas a mudarem rotinas diárias, trocando o automóvel pela caminhada ou bicicleta. As cidades precisam disto, o planeta depende disto, a própria saúde física e mental das pessoas exige isto pra já, mas a grande barreira a ser vencida não está fora das pessoas, mas dentro delas.

Mudar hábitos significa passar por 3 fases distintas:

  • adquirir conhecimento
  • mudar de atitude e
  • mudar de comportamento.

Primeiro, as pessoas precisam ser convencidas racionalmente, com argumentos lógicos, explicações, números, conhecer os benefícios de andar a pé ou de bicicleta e os males causados pela dependência do automóvel. Isto é facílimo de fazer, há dezenas de estudos científicos comprovando os benefícios da bicicleta e da caminhada, e outro tanto de estatísticas oficiais apontando a rua sem saída entupida de automóveis e mortos atropelados.

Depois, o conhecimento adquirido precisa mudar sua atitude perante o problema. Atitude pode ser definida como “aquilo que estamos dispostos a fazer”. No caso do trânsito, uma mudança de atitude pode ser percebida quando você disser ou pensar: não vou encontrar vagas, vou ficar no engarrafamento… bem que eu poderia ir de bicicleta. É uma disposição para agir de uma maneira e não de outra. Esta fase passa por caminhos psicológicos mais densos, que exigem uma percepção diferente da realidade. Hoje todo mundo tem uma atitude positiva com relação às bicicletas, até mesmo os governos e prefeituras.

Ainda assim, parece ser tão difícil que as pessoas nas ruas e as pessoas dentro dos governos mudem seus hábitos e percepções e adotem a bicicleta como solução para sua vida e para nossas cidades. Na verdade, isto exige uma mudança de comportamento. Atitude é intenção; o comportamento é ação. Se mudar de atitude já exige certas escavações psicológicas, mudar comportamento é algo extremamente bem mais complexo e profundo. O ditado popular diz com sabedoria que “é grande a distância entre intenção e gesto”.

As grandes tranformações fracassadas esbarram sempre em mudanças de comportamento, pois estas dependem da personalidade de cada pessoa, da imagem que cada um tem de si, dos estereótipos e das reações condicionadas, e dos sentimentos e emoções envolvidos no processo. Por exemplo, experimentar a sensação de liberdade e o prazer de pedalar é mais decisivo do que saber quantas toneladas de CO2 um carro lança no ar por mês. De outro lado, estereótipos como “bicicleta é para atleta” ou “de carro vou mais rápido” ou “não posso chegar suado no trabalho” são barreiras psicológicas quase intransponíveis se não forem confrontadas adequadamente. Ciclovias e bicicletários, por exemplo, não serão respostas satisfatórias para a necessária mudança de comportamento nestes casos.

Esta mudança virá como crianças pequenas aprendendo a pedalar: a bicicleta está ajustada e a rua livre, alguém do lado dá incentivo, apoio e segurança, mas, sem vencer medos e bloqueios internos, toda tentativa de mudar será frustante.

2 thoughts on “Barreiras Psicológicas

  1. Quando comecei a ir de bike para o trabalho, houve gente que me olhava com pena. “Coitado, ele tem que vir de bike para poupar grana da passagem”. Romper isso leva tempo, infelizmente. Se há 30 anos alguém falasse tai chi chuan numa festa, seria convidado a se retirar. Comida natural era coisa de hippie, assim como yoga e meditação. Se alguém falasse em desenvolvimento sustentável, não conseguiria sustentar a conversa por mais um segundo, a não ser que falasse sozinho. Há uns vinte anos só mesmo ciclista profissionais formavam grupos para pedalar pela cidade à noite. E no entanto, nunca vi tanta bicicleta nas ruas como nesse verão. Acredito que não vá levar tanto tempo para as pessoas se livrarem dos seus conflitos internos. Aliás, vai lá no Bala e veja como tem gente fazendo a sua parte.
    abração e ótima semana

  2. Continuo na luta para ir trabalhar de bike. O unico bicicletario proximo de onde trabalho fica dentro do predio da prefeitura, fico meio preocupado dos guardas municipais encrecarem comigo. Eu quero comprar uma Dahon, mas tem o problema de peso maximo do ciclista ser de 105Kg . . . .

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