Pontes Paulistanas

O planejamento urbano e viário para o pedestre na cidade de São Paulo não está a altura da grandeza da metrópole, haja vista o número expressivo de viagens a pé segundo a pesquisa Origem/Destino do Metrô. Em mais de um terço das viagens realizadas na região metropolitana diariamente, o paulistano caminha.

Mesmo sendo um “meio de transporte” largamente utilizado, o ato de caminhar tem alguns pontos em que são necessárias melhorias urgentes. Recentemente a repórter Renata Falzoni afirmou em seu blog que não existe nenhuma ponte paulistana sobre os rios Tietê ou Pinheiros onde o pedestre possa cruzar com segurança. Os rios nesse caso acabam representando verdadeiras barreiras geográficas para quem vai a pé ou de bicicleta em São Paulo.

A falta de atratividade para se caminhar de uma margem a outra nos grandes rios paulistanos contribui para aumentar a pressão sobre o sistema de transporte de ônibus, já sobrecarregado e também incentiva um número maior de viagens motorizadas.

Repensar as pontes paulistanas é uma solução que irá trazer enorme benefícios para a mobilidade urbana da cidade. Priorizar o fluxo de pedestres e ciclistas que cruzam diariamente os grandes rios paulistanos é resolver um grande nó para o fluxo dos transportes ativos. Ao mesmo tempo irá passar a clara mensagem para toda a população sobre o valor que o pedestre e o ciclista tem para a cidade.

Mais:
Álbum de fotos na Ponte Cidade Universitária – ta.org.br
O Valor Econômico de Andar a Pé – blog.ta.org.br

As reportagens no blog da Renata Falzoni:
Boas Noticias do Cicloativismo
Tecnologia a serviço da cidadania

Espaço Compartilhado na Floresta

Estrada Dona Castorina

Meca dos subidores de montanha, cariocas, as estradas Dona Castorina e da Vista Chinesa são rotas bastante utilizadas por ciclistas há muitos anos. As ladeiras íngremes em meio a Mata Atlântica dentro da Floresta da Tijuca atraem atletas amadores, profissionais e muitos turistas. O asfalto que corta a maior floresta urbana do mundo é um grande facilitador para que cariocas e visitantes possam desfrutar e aprender a valorizar esse espaço verde.

O movimento de ciclistas em todas as estradas da Floresta da Tijuca é intenso, a maioria deles está lá por esporte ou por lazer. Nos dias de semana o fluxo é menor, mas aos finais de semana fica bastante movimentado. Por ser uma via estreita de mão dupla e sem calçada, a Estrada da Dona Castorina e a da Vista Chinesa são necessariamente “espaços compartilhados”. No entanto esse conceito ainda é novo tanto para pedestres e ciclistas, quanto principalmente para os motoristas.

A velocidade máxima permitida nas estradas dentro do parque sempre foi de 40km/h ainda que ocasionalmente desrespeitada. A falta de sinalização indicando a presença de ciclistas e existência da faixa divisória de pista, favoreciam um deslocamento mais livre para os automóveis. Para promover a segurança viária e ordenar o uso desse espaço compartilhado, a prefeitura optou por instalar uma nova sinalização horizontal e vertical. Inicialmente serão demarcados os 7,5km do Horto até a Gávea Pequena. Felizmente, a direção do Parque já pediu à Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) que a sinalize todas as áreas do Parque Nacional da Floresta da Tijuca.

Uma Solução Pronta

São Paulo já tem alguns bairros que tem toda a infraestrutura preparada para o compartilhamento seguro das vias entre o trânsito motorizado e os ciclistas. No Jardins, basta apenas sinalizar e divulgar rotas por dentro do bairro. Será um enorme incentivo para os ciclistas acessarem o parque do Ibirapuera, interligando a região de Pinheiros com o bairro de Moema e outros. Uma solução expansível por toda a baixada do rio Pinheiros, uma região perfeita para deslocamentos de bicicleta e que conta com diversas rotas seguras que não envolvem percursos por grandes avenidas.

O Rio de Janeiro tem investido em um programa piloto de sinalização viária em prol das bicicletas. Algo simples, rápido e que traz grandes resultados para a mobilidade urbana. Basta sinalizar algumas rotas ciclísticas em ruas por onde já se pedala e avisar a todos. Naturalmente mais ciclistas serão induzidos a ir pelos caminhos sinalizados e o trecho vai se tornar cada dia mais popular e por isso mesmo seguro para pedalar.

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Dispositivos de acalmia de trânsito já estão implantados e um projeto simples na região tem grande potencial de mostrar a viabilidade e os benefícios da bicicleta na cidade de São Paulo. Seguindo o modelo sugerido pelo Alfredo Sirkis no Rio de Janeiro durante os anos 1990: “Na hora de começar o faça sempre pelo ponto de maior visibilidade da cidade.

O que foi feito em Berkeley na Califórnia e está exemplificado no vídeo abaixo merece uma tradução a altura na maior cidade brasileira. Certamente um exemplo capaz de inspirar o país inteiro.

Uma Pedalada a Frente

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Foi promulgado na semana passada o Decreto Nº 50.708, que transfere para a secretaria de Transportes o Pró-Ciclista, o Grupo Executivo da PMSP para Melhoramentos Cicloviários criado em maio de 2006. Composto por diversos órgãos da prefeitura cuja principal missão é identificar oportunidades e articular as instituições para implantação de melhoramentos cicloviários.

No entanto o momento aponta para a necessidade de uma correção histórica no grupo, a inclusão da sociedade civil. Um dos pré-requisitos para que um grupo de trabalho em prol da bicicleta dê certo é a presença de ao menos um ciclista. Alguém que conheça a realidade das ruas, que saiba das dificuldades e aponte caminhos possíveis. Uma pessoa que diga “Jamais passarei por aí”! Ou “Precisamos disso e não daquilo”. Alguém que realmente coloque a bicicleta em seu devido lugar, com respeito motivação, que influencie os outros participantes do grupo até que este se torne autônomo por conhecimento e compreensão das bicicletas.

No Rio de Janiero foi criado também por decreto o GT Ciclovias no inicio dos anos 90 e muito se passou sem que nada de bom acontecesse para os ciclistas. Em 2003 este grupo passou a contar com os usuários e a sociedade civil. A visão das bicicletas começava a mudar, não que a sociedade civil tenha passado a comandar o GT, mas ela estava ali sempre dizendo que a bicicleta é boa também para isso , as vantagens são estas, esta solução será ignorada pelos ciclistas, sempre motivando e elevando os participantes do grupo a serem realmente pró ciclistas.
Hoje o Rio anda sozinho mas mesmo assim não dispensam nem por um minuto o apoio da sociedade civil organizada e dos usuários para os quais estão planejando. Resultado: uma cidade mais amiga das bicicletas e dos pedestres e com um futuro promissor pela frente.

A Transporte Ativo sempre se colocou a disposição do Pró Ciclista, para passar a experiência de anos no Rio adiante, para passar seu expetise no assunto, que conta com suporte técnico de organizações internacionais como ITDP e ICE, totalmente sem custo, visando apenas o crescimento do conhecimento interno do Pró Ciclista sobre seu assunto principal.

Uma parceria da TA com a cidade de São Paulo já foi feita através do Curso de Introdução ao Mundo Cicloviário (IMC). A CET ouviu os usuários e apresentou para mais de 200 técnicos da PMSP o IMC em parceria com TA e ITDP. Ali se desenhou um caminho para a mudança. A Transporte Ativo segue totalmente disponível para apoiar a administração da cidade no assunto.

São Paulo precisa melhorar a sua mobilidade como um todo e a bicicleta tem um papel fundamental nessa mudança. Trata-se de rever paradigmas e de pensar qual cidade queremos. Em que departamento as bicicletas estarão torna-se um problema menor enquanto não for construída a vontade política e o conhecimento técnico que valoriza a bicicleta e os transportes sustentáveis.

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Saiba sobre o histórico do Pró-Ciclista no Apocalipse Motorizado.

Sustentabilidade Urbana

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Cada momento histórico tem seus erros e acertos, mas todos eles tendem a ficar sempre no passado. Muito se fala e se luta em nome do conceito de sustentabilidade. Nossas cidades precisam ser capazes de manter o equilíbrio para que possamos ter um estilo de vida urbano que seja compatível com o meio ambiente.

O crescimento das cidades foi baseado na expansão do concreto, aço e asfalto durante o século XX. As consequências são visíveis em qualquer grande cidade. As perdas econômicas podem apenas ser estimadas e são imensas. Cidades nasceram para facilitar trocas, sejam elas financeiras ou não. As oportunidades concentradas nas metrópoles continuando atraindo até hoje um grande fluxo migratório. No entanto faz-se necessário planejar e antever caminhos para o futuro,
investimentos precisam ser feitos, mas não podem continuar obedecendo a mesma lógica do passado.

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Três peças da mobilidade urbana. Transporte sobre trilhos, planejamento cicloviário e transporte individual motorizado.

O conceito de sustentabilidade precisa caminhar ao lado da diversidade. Quem vive e circula pelas cidade precisa de opções em seus deslocamentos e naturalmente opções de moradia também. A aprendizagem histórica nos trouxe até aqui, mas não podemos insistir no que não pode ser sustentado indefinidamente. Precisamos aprender com nossas cidades e olhar para os acertos vindos de fora ou de dentro. Só assim será possível vivermos em cidades nas próximas décadas.