As cidades e seus caminhos

Nossas cidades são os percursos que fazemos nelas e no século XXI estamos reaprendendo a importância da densidade humana. A grande vantagem e dificuldade do meio urbano. Para imaginar como serão as cidades do futuro, é preciso conhecer como elas estão hoje, só assim será possível reinventá-las.

Dois jornalistas da revista Época SP mudaram-se para o centro da paulicéia durante um mês. Irão conhecer a vida e o cotidiano da região mais movimentada da cidade, mas onde poucas pessoas moram. Nas palavras de Camilo Vannuchi:

Hoje saí para explorar o pedaço. Quer dizer… não cheguei exatamente a sair. Optei por começar explorando nosso prédio.Toda boa exploração deveria seguir esse caminho, do mais perto pro mais longe. Tem tanta gente especialista em grandes questões nacionais que não conhece direito sequer seu bairro, sua rua, seu prédio… Eu, pessoalmente, defendo que é na cidade que a gente vive, muito mais do que no “país”, e, por isso, se a gente cuidasse com mais carinho da nossa vizinhança, daríamos uma bela contribuição para a cidadania e para o futuro da nossa cidade.

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Mais espaço para a circulação

A Companhia de Engenharia de Tráfego em São Paulo restringiu o estacionamento de automóveis no bairro de Moema em São Paulo. De um lado de diversas vias não é mais permitido estacionar, e no lado oposto o estacionamento passa a ser pago, em sistema rotativo. Houveram protestos, mas os cálculos comprovam que a rotatividade é boa e que os impactos na circulação viária tende a melhorar.

Mas um ciclista mostrou o antes e depois para quem pedala. Menos conflitos e mais espaço para a bicicleta.

O que alguns veem como perda, para outros são ganhos. Ao final, a tendência é que mesmo os que se sentiram prejudicados, sintam que os benefícios foram maiores.

Veja a postagem original no blog do Ecologia Urbana.

Mobilidade urbana, um direito básico

Foi somente no século XX que as cidades perderam seu caráter de acomodar com segurança uma diversidade de meios de deslocamento. Nas palavras do historiador Peter D. Norton em seu livro “Fighting Traffic”:

Antes que as cidades norte americanas pudessem ser fisicamente reconstruídas para acomodar automóveis, as ruas tiveram de ser reconstruídas socialmente como espaços nos quais o carro pudesse ser aceito. Até então, as ruas eram consideradas espaços públicos onde condutas que pudessem colocar em risco ou obstruir os outros (inclusive os pedestres) eram consideradas desrespeitosas. O direito dos motoristas era portanto frágil, sujeito a restrições que inviabilizavam as vantagens de ter um carro.

Ruas como espaço para o fluxo motorizado são uma construção subjetiva do século XX, algo perfeitamente reconfigurável dentro de um novo conceito político que se desenha no século XXI. Esse redesenho de nossas cidades tem de ser portanto construído antes de tudo nas mentes antes de se materializar fisicamente.

Essa reconfiguração mental passa por enxergar para além da forma atual das cidades e seus usos. Medidas de incentivo e valorização de pedestres e ciclistas são o caminho, mas não existe um roteiro definido. Apenas diversos primeiros passos que busquem deixar claro que cidades são para pessoas e qualquer objeto ou estrutura física serão sempre coadjuvantes.

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A simplicidade no ambiente urbano

Para além das grandes obras, suas grandes avenidas e viadutos, uma cidade tem muitas vezes detalhes esquecidos. Becos que ninguém cuida, vazamentos que pingam livremente há anos. Mas também existem pessoas que se focam em pequenos e inspiradores detalhes.

Um simples gotejamento não só deixava feia uma calçada, mas podia ser um grave risco a segurança quando a fina camada d’água congelava no inverno. Um grupo de artistas interveio com uma solução improvisada que chamou a atenção das pessoas certas que enviaram o maquinário pesado que resolveu o problema.

Astoria Scum River Bridge from Jason Eppink on Vimeo.

De uma maneira ainda mais completa, uma iniciativa em São Paulo que buscou não só agir para que algo fosse feito, mas da prática reverter um contexto desagradável. A filosofia por trás é o “Manifesto BioUrban” que começa assim:

A arquitetura e urbanismo modernista mata, é ademocratico, é panoptico e rouba o dinheiro público. O manifesto BioUrban é a antítese quanto concepção. É a resistência filosófica e estética da prática do construir e viver Cidade. É a vida. É a Cidade Viva.

O vídeo abaixo explica um pouco mais.

Existem muitas formas de viver nas cidades e vivenciá-las. Mas sempre, as melhores cidades são aquelas em que seus habitantes tomam para si o espaço compartilhado de todos.

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O Vício de ser ciclista

Acordar, levantar, comer alguma coisa e seguir para a rua. Essa é a rotina, talvez não para todos, mas para a absoluta maioria dos urbanóides. Alguns fatores são responsáveis pela motivação do primeiro passo fundamental, sair da cama.

Controlados pelos relógios que nos despertam, assim que saímos de casa o espaço também passa a nos reger. Afinal com exceção dos que trabalham em casa, chegar ao local de trabalho ou estudo envolve cumprir uma certa distância seja a pé ou em algum meio de transporte. Nesse ponto a vantagem relativa de ser ciclista é raramente superável. Afinal a bicicleta é o meio de transporte mais confiável para ir do ponto A ao ponto B em uma cidade.

No entanto, ser um ciclista cotidiano também implica em ver-se imerso em uma rotina de emoções e sensações que alguns já definiram como vício.

A primeira pedalada é quase mágica, depois dela os quilômetros seguintes pertecem ao ciclista, um ser híbrido. Usina viva de transformação de biomassa em potência e um máquina perfeita para fazer da energia acumulada movimento.

Ciclista é aquele que pode variar o caminho por qualquer motivo e seguir sempre pelos mesmos por opção. Ser ciclista é sentir o coração pulsar mais rápido no semáforo fechado logo depois de uma subida. Ser ciclista é divertir-se no trajeto e repor as energias vitais consumindo calorias. É ser viciado em endorfina sem saber o que isso significa. Ciclista é quem coloca o primeiro pé no pedal e sente-se dono do mundo e sorri para os outros ciclistas, afinal eles também são os donos do mundo.

Utilizar a bicicleta é ter o domínio do tempo e do espaço. É percorrer trajetos olhando a frente, ciente de que todas as barreiras são transitórias e de que um semáforo fechado é só uma luz vermelha que se acende para você poder para e observar os arredores do seu trajeto na sua cidade. Ser ciclista é ser dono sem ser egoísta. É simplesmente mover-se utilizando a sua própria energia.

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