O ambiente natural e as cidades

O sudeste brasileiro concentra 42% da população do país em menos de 11% do território. São quase 80 milhões de pessoas sendo que mais de 90% vivem em cidades.

Salada de números à parte, a mais densa concentração de brasileiros vive na região da Mata Atlântica que sucumbiu a 7% da sua extensão original. Muito se fala sobre salvar a Amazônia, mas o exemplo das maiores cidades brasileiras vai na contramão da preservação de biomas.

O modelo de gestão e crescimento das cidades no sudeste ainda não segue regras básicas de boa convivência com o ambiente natural. É um caminho lógico portanto que as cidades do resto do país se espelhem nos modelos de gestão das maiores metrópoles.

Um exemplo australiano pode servir de inspiração para que cidades brasileiras possam reconhecer que fazem parte de um bioma e que um manacá da serra plantado na calçada pode ser mais do que algumas flores bonitas que embelezam uma rua.

Um trecho de um artigo no O Eco ilustra o que tem sido feito na Austrália.

Os governos federal, estadual e municipais mapearam os espaços verdes da Grande Sydney e verificaram as possibilidades de interligá-los. A idéia é aumentar a área útil das unidades de conservação da cidade por meio de corredores de vegetação nativa, que viabilizem rotas migratórias para pássaros e pequenos mamíferos e permitam assim maior troca genética à fauna de Sydney.

Tudo foi inventariado. Parques infantis, terrenos baldios, jardins públicos, campos de futebol e de golfe, mananciais, áreas de recreação de escolas públicas e privadas, estacionamentos de fábricas e de entidades do governo, margens de rodovias, jardins de casas particulares etc.

Iniciativas como a tomada em Sydney servem de modelo para repensarmos nossas cidades. E tudo que acontece eixo São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte tem potencial para balizar o desenvolvimento urbano dos mais de 5.000 municípios brasileiros.

Leia a íntegra do artigo “Sydney dá bom exemplo” de Pedro da Cunha e Menezes.

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3 thoughts on “O ambiente natural e as cidades

  1. as duas cidades mais densas do país – Salvador e Recife – não ficam no sudeste, mas ocupam também regiões que outrora foram de mata atlântica – e no caso de Pernambuco, de mangues que serviam até como berçario de tubarões (daí a praia de Boa Viagem ser impestiada deles ao ponto do banho ser proibido).

    Além disso, as duas regiões de pequenas cidades de interior mais densas do país (depois do cinturão paulistano que vai até Jundiaí e da Baixa Fluminense no Rio de Janeiro) são o Recôncavo Bahiano e a Zona da Mata Pernambucana.

    Também, uma área que foi de mata atlântica. No Recôncavo, felizmente, a mata ainda abunda – por nunca ter sido tão monocultórica (houve cana, mas houve fumo e algodão igualmente), ter abrigado a capital durante a Guerra de Independência (Cachoeira), ter tido atividades ligadas ao comércio e mineração (na época dos diamantes da Chapada Diamantina que escoavam pelo Paraguaçú até o porto de Maragogipe). Na zona da mata de PE, só se vê canavial – a civilização do assúcar, diria Gilberto Freyre.

  2. no entanto, há exemplos. Tanto a cidade universitária de Ondina, quanto o Campus do Vale do Canela, no centro de Salvador, são exemplos de belíssima arquitetura modernista ocupando vales sem tapar rios e coberta da mais exuberante mata atlântica (3 vivas aos mestres Diógenes Rebouças, Mario Leal Ferreira e ao Magnífico Reitor Edgar Santos!).

    Recife tem seu sistema de orlas integralmente as margens de rios imensos – Capibaribe, Beberibe e Jordão. E se pode, do cais da Aurora, centrão da metrópole mameluca, pescar e “tomar banho de canal quando a maré encher”. Fora os monumentais parques que Recife tem: o Palácio do Governo, a residência oficial do governador, a assembléia legislativa e seu teatro municipal (todos com nomes em homenagem ao II Império) ficam dentro de parques florestais.

    O Rio de Janeiro tem uma floresta replantada no meio, que se espraia e adentra cada viela da cidade. E sua face de entrada é um dos mais deslumbrantes jardins públicos do mundo: o Aterro do Flamengo, de Reidi e Burle Max.

    O país do erro tem certos demais para ser aceitável…

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