Fluxos de Água e de Vida

Condição fundamental para a existência de vida, a água sempre foi fator preponderante em qualquer ocupação humana. Ao redor de rios cresceram cidades e deles retiravam o precioso líquido, mas também transportavam-se neles, podiam extrair energia. O fluxo das águas sempre esteve associado a qualidade de vida, em seu mais amplo sentido. Desde a garantia de sobrevivência até a beleza da paisagem.

Durante o século XX, sempre ele, as ocupações urbanas intensificaram ainda mais a perda de simbiose com o fluxo de vida dos rios. Esgoto, canalizações, rios enterrados para dar lugar ao asfalto.

Esse janeiro de 2010 tem ensinado aos brasileiros, da pior maneira possível, quão importante são os rios e as águas nas cidades. Deslizamentos em encostas e alagamentos nas ruas tem paralizado o trânsito paulistano. A “locomotiva do Brasil”, responsável por mais de 10% da riqueza econômica do país, enferruja um pouco a cada tragédia com mortos e em interrupções do fluxo motorizado.

Os prejuízos financeiros são astrômicos, mas maior é o prejuízo para as pessoas que passam a conviver com o medo e a insegurança. Seja de soterramentos, ou de ficar ilhada por conta de ruas alagadas. E não são exclusividade de São Paulo, são apenas maiores na maior cidade da América Latina.

A tragédia das chuvas em São Paulo ou em qualquer cidade brasileira é acima de tudo um convite a reflexão sobre como construimos nossas cidades e o que está sendo priorizado. As grandes avenidas de São Paulo, assentadas em grande parte no leito de rios e córregos, representam mais um erro de percepção em relação ao poder dos rios.

Piscinões e canalizações nunca serão suficientes e requerem um custo de manutenção proibitivo e que nem sempre será pago. Uma cidade do tamanho de um país tem sempre prioridades de mais para poder cuidar de todas com a devida atenção.

Humanizar as cidades é também tratar de maneira correta seus rios. Devolvendo-os para que a população possa usufruir deles (como foi feito em Seoul) ou simplesmente permitindo que eles aos poucos possam voltar a serem rios. Poderosos fluxos de água que seguem sempre o caminho mais fácil que a gravidade lhes manda tomar.

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