Chute em um Carro

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Num momento de fúria um homem se vira contra a máquina. Por achar uma questão relevante para seus leitores o personagem humano desse fato escreve uma coluna para o jornal e sai de férias.

O pedestre é o elemento mais frágil do trânsito e por isso a legislação brasileira enfatiza que é dever de todos protege-lo. A realidade nas ruas não costuma ser assim. Rotineiramente quem domina a máquina mais pesada intimida os mais fracos.

Seja por má fé, ou simples ignorância, o motorista brasileiro em geral desconhece seu dever de proteger a vida dos demais componentes do trânsito. Cabe sempre um alerta por parte dos mais fracos. Quanto mais educado, simples e direto, mais possibilidade de se obter sucesso em difundir o respeito.

Em sua coluna mais recente, o jornalista Artur Dapieve dedicou o espaço semanal que ocupa a questão da opressão que passa o pedestre na rua e também como o trânsito pode ser um indicador de desrespeito cívico.

Vale a pena conferir.

Chutei um carro
Na esquina de Ataulfo com Rainha Guilhermina

Mas foi em legitima defesa. Eram 1h30m de sábado, mais ou menos, e eu e minha mulher íamos atravessar da calçada do Polis Sucos para a do Jobi. Embora estivesse vermelho para o trânsito, alguns motoristas avançavam o sinal. Apontei pra cima, olhei em frente, como costumo fazer, e botamos o pé na faixa de pedestres. Um carro branco insistiu em forçar caminho. Passou na nossa frente, ao alcance do meu pé, e chutei a lataria.

Não forte o bastante para deixar mossa, mas chutei. O motorista solitário ficou olhando para trás e pelo retrovisor, conforme prosseguia pela Ataulfo de Paiva, em busca de mais leis de trânsito para infringir. Nem sei se ele entendeu direito o que aconteceu. E, como mostrou não saber a diferença entre verde, amarelo e vermelho, é pouco provável que compreenda um código bem mais complexo, como o alfabeto latino.

O sinal estava vermelho para o trânsito, aquela esquina estava bem iluminada, e as ruas do Leblon estavam cheias de gente pelas calçadas, festejando a iminente chegada de 2007 – apesar dos agourentos ataques terroristas patrocinados pelo tráfico de drogas na véspera. Não era um cruzamento mal iluminado, ermo, ameaçador. Eu e minha mulher não usávamos toucas ninja. E, ainda assim, o motorista avançou o sinal vermelho.

Obviamente, aquela não é a única esquina desta cidade a ter o sinal vermelho avançado, aquele não é o único horário em que se avança sinal vermelho nesta cidade e aquele não é o único motorista desta cidade a avançar sinal vermelho. Daí o meu hábito de apontar para cima e olhar em frente, enquanto atravesso a rua. No máximo, já abrira os braços ou dera uns tapinhas quase amistosos na lataria do infrator, tipo “vai, animal”. Talvez o próximo estágio da neurose urbana seja carregar um taco de beisebol.

O motorista poderia estar armado, poderia ter descido do carro branco e e você poderia ter lido o meu breve obituário na edição de domingo, sim. E daí? O que isso provaria? Que é mais sábio botar o rabo entre as pernas enquanto bárbaros avançam sinais? Já notou o absurdo de termos de ensinar às crianças que não basta esperar o sinal ficar vermelho para o trânsito, mas que é preciso esperar e ver se os carros estão a fim de parar? Se nos acostumamos com uma indignidade cotidiana, nos acostumamos com todas as outras: pitbulls sem focinheira, seqüestro coletivo de aviões, ônibus incendiados.

Na nossa sociedade autocêntrica, herança maldita de Juscelino Kubitscheck, na qual a posse de um carro substitui um bom transporte público e/ou uma vida sexual saudável, o trânsito é o mínimo denominar comum da doença coletiva. Sintomático que, aqui, o pedestre tenha de deter o passo e deixar o motorista prosseguir. Afinal, vigora a lei do trânsito mais forte: é apenas uma besta contra cem ou mais cavalos-vapor. Dos países que conheço, o nosso é o único onde o carro tem sempre a preferência informal.

(Nisso, quem diria, Brasília é quase solitária exceção de respeito ao mais fraco no trânsito brasileiro. Lá, o pedestre põe o pé na faixa e os carros ou reduzem a velocidade, ou para por completo. Bem, nalguma coisa Brasília teria de não avançar o sinal…)

Outro dia, ouvi de um colega o relato de um episódio emblemático de como o trânsito simultaneamente informa e macaqueia o confronto diário entre o público e o privado no Brasil. O carro à frente do dele furou o sinal vermelho e arremeteu contra um grupo de colegiais uniformizados da rede municipal, diante do Miguel Couto. Dentro, iam papai ao volante, mamãe de carona e, no banco de trás, o filhinho do casal, com o uniforme de uma escola particular, seguro pelo cinto. Tremenda aula de sociologia.

Essa flexibilização das leis de trânsito em benefício próprio marca, talvez mais do que qualquer arcabouço institucional, a distância entre uma democracia e uma republiqueta de bananas. Do mesmo modo que a indústria automobilística da qual emergiu o presidente Lula foi a matriz escolhida por JK para o desenvolvimento pátrio, a vista grossa para a infração de trânsito que ela trouxe a reboque é a matriz do desprezo pátrio pelo Outro.

Ao sermos tolerantes com o avanço de sinal vermelho, com a fila dupla no meio da via, com o motorista que não dá nem seta (e logo) nem satisfação na hora de entrar numa rua, com o que buzina na frente do hospital, com aquele outro que estaciona com duas rodas sobre uma calçada estreita e obriga os carrinhos de bebê a contorná-lo pelo asfalto, com o jogador de futebol que disputa um pega no seu carrão importado e mata três jovens, estamos prontinhos para outras leniências, em outras esferas da vida pública.

Ora, quem não faz caixa dois, não é esse o papo?

Tudo isso, claro, é uma racionalização a posteriori da minha madrugada de fúria, que se renova enquanto escrevo. Mas sei que não chutei a lataria do carro branco apenas pelo que o seu motorista solitário de fato era: um infrator sem vergonha de desrespeitar o nosso direito de atravessar a rua na hora combinada e, em última instância, sem vergonha de ameaçar a nossa própria existência pedestre. Chutei também o que ele, sem saber, simboliza: uma nação que se reiventa como desterro a cada troca de verde por vermelho.

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Como se lê, ando estressado. Preciso sentir um pouco de saudade da minha cidade. Por isso, estou saindo de férias. Retorno à página no dia 9 de fevereiro. Até lá.

Publicado no Jornal O Globo no dia 5 de janeiro de 2007. Reproduzido com autorização do autor.
Clique aqui para ler a coluna (usuários cadastrados).

Cicloviagem Rio-Resende

O Natal dos Membros da Transporte Ativo foi marcado por muitos quilômetros de estrada. Naturalmente em bicicleta.

Confiram o relato pessoal do Eduardo.

Cicloviagem

A cicloviagem Rio – Resende foi intensa. Confesso que fui inundado por uma confusão de pensamentos e sensações. Ao mesmo tempo que me surpreendi comigo e com a Zöhrer EXD 20×26, também me decepcionei um pouco. Eu já sabia que seria uma experiência de aprendizado com muito conteúdo e em pouco tempo. Cheguei a ficar com dor de cabeça de tanto que o cérebro funcionou durante e após a viagem.

A instalação do bagageiro traseiro atrasou muito, mas valeu a pena. O Paulinho (Diamond Bike) me entregou a EXD em casa com uma adaptação muito bem feita na minha avaliação. Mas esqueceu de trazer meu capacete que eu tinha deixado na loja dele (eu também não pedi). Sem condições de ir buscar (eram 22 horas) consegui um emprestado, mas que não tinha viseira, o que me fez adaptar um boné por baixo, fundamental para conter o sol que faria. A adaptação ficou ruim e fui assim mesmo, uma hora atrasado em relação ao meu planejamento. Às 6:30 estava no portão de casa. Ao chegar na Praia de Botafogo decidi ir pela ciclovia, pois já era dia e qual não foi minha surpresa ao achar, na passagem subterrânea, uma viseira de capacete perfeita para o capacete que tinha. Surreal!

Outra grata surpresa do tipo que te incentiva a encarar o desafio. Nunca consegui regular o câmbio traseiro da EXD e nesse dia ele funcionou perfeitamente.

Não tive nenhum problema mecânico, apenas uma situação mecânica. A trepidação na Avenida. Rodrigues Alves perto do Rodoviária foi tão violenta que a corrente escapou da polia e eu só fui notar na Dutra uns 30 km depois.

Até a Serra das Araras a relação com a EXD foi de Lua-de-Mel. Mantendo 24 km/h de média e fazendo um sucesso danado por onde parasse e por toda a estrada. Cheguei a perder o equilíbrio acenando pra dois motoristas que me saudavam. Há que se abrir um parênteses. A bicicleta é, definitivamente uma forma de unir as pessoas. Foram tantas as pessoas que acenavam, buzinavam, aceleravam e gritavam frases ininteligíveis que depois da trigésima perdi a conta. O fato de estar num veículo diferente contribuiu muito e acho que esse é um forte ponto positivo da EXD na estrada. Acho que é até mais seguro. Tanto que depois da segunda parada em postos, quando fui cercado por curiosos decidi só parar de novo num deles se fosse realmente necessário, afinal de contas me preocupava demais o fato de ter saído uma hora atrasado. No Belvedere fiquei parado uma hora e não consegui sossego por mais de 10 minutos.

O caldo engrossou a partir da subida da Serra das Araras. Juntando minha falta de preparo específico para reclinadas e um possível ajuste ergonômico ruim (confesso que nem avaliei se tava certo ou não) meu desempenho caiu muito. Em qualquer subidinha só conseguia atingir 7 ou 8 km/h. A partir da serra, no km 98 de uma viagem de 185, começou o drama. Freqüentes subidas e muito lentas, as descidas, efêmeras, resultaram numa viagem fisicamente dedicada a escalar.

Numa dessas ladeiras o sol, até então, tímido e escondido nas nuvens surgiu forte e experimentei a conhecida e desagradável sensação de coração batendo no pescoço, muito suor e um calor muito forte. Ciente de que muitos atletas tem problemas sérios com o aumento da temperatura corporal, tratei de parar logo e mais uma vez fui brindado com um incentivo. Há barracas de frutas na Serra das Araras que canalizam um filete de água de algum riacho próximo e instalam uma mangueira na beira do acostamento. Me salvei em duas ou três delas ao longo da subida.

Cicloviagem

Minha maior motivação estava atrás. Pelo espelho controlava a aproximação dos ônibus da Expresso Brasileiro. Às 14:20 vi um deles se aproximando. Era o 512 que minha esposa Carol tinha me avisado ser o ônibus dela.

Parei e comecei a acenar. Vi a Carol me acenando e me emocionei de verdade… O motorista piscou os faróis, buzinou, acionou os piscas em saudação e não parou. Ela passou por mim e eu estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Nos 20 km seguintes pedalei sem ânimo. Já não respondia aos cumprimentos dos passantes e pra piorar surgiu na minha frente uma das ladeiras mais longas e íngremes. O calor ia me torturar, mas eis que outro incentivo me surpreendeu. Começou a chover, não muito, mas o suficiente pra renovar o ânimo e as forças. Subi a 8 km/h.

Próximo de Resende, já no final da tarde, mais chuva. Foi depois que parei na casa de parentes da Carol em Floriano, a 20 km do meu destino. Uma boa pancada de chuva cai como um bálsamo e alivia a tensão e o cansaço, mas nessa hora surgiu uma dor chata nos joelhos que só parou na noite de domingo. Juntando uma dor bumerangue no cotovelo direito e a certeza de que meu preparo está aquém do desejado e imaginado.

Sem treinar e sem adequar a ergonomia da EXD a mim, não rola.

Cicloviageme]

Resumindo: 185 km em 12 horas, das quais 9 pedalando, 20 km/h de média, 58 de máxima, nenhum problema mecânico, algumas dores, mas muito o que aprender e muito a treinar. Talvez seja essa uma das maiores lições que uma cicloviagem traz pro nosso cotidiano. Não importa o quanto saibamos, sempre temos algo a aprender.

Um grade abraço

Edu

Outra coisa: viajar sozinho é bom, mas dá próxima uma companhia cai bem.

Cicloviagem Rio-Petrópolis

Um relato longo e um tanto pessoal sobre a primeira experiência de usar a bicicleta como meio de transporte fora da cidade, para ser mais preciso, entre cidades. Confira o roteiro aproximado.

rio petropolis

Um churrasco em Petrópolis foi a desculpa para a primeira cicloviagem. Foi também um grande esforço. O plano inicial era pedalar até a rodoviária, subir com a bicicleta no bagageiro e descer pedalando no dia seguinte. Na noite anterior, os planos mudaram. Estava decidido a ir pedalando. Só consegui dormir às 2 horas da manhã, um misto de ansiedade e preparativos finais. Acordei às 7 horas, às 8 horas estava de pé, às 8:47 cruzei pelo primeiro relógio de rua.

Os primeiros quilômetros são estranhos. Conhecia todo o trajeto, fui pelas ruas até o Campo de Santana e de lá, tomei um rumo que era novo pra mim. Passei pela rodoviária, depois segui pela Avenida Brasil. O asfalto até que não estava ruim. A negociação com os ônibus e vans não foi das piores.

Estava um tempo estranho e via a serra à frente com nuvens negras por cima. Tinha trocado 500g de amendoim pela minha capa de chuva para manter o peso. Segui por toda a Brasil, até a BR-040, as conexões entre as vias e a estrada são sempre a pior parte. Veículos em alta velocidade. As regras na estrada são bem diferentes e tomei as devidas precauções em relação a minha segurança viária nesses trechos. Só conhecia o caminho de carro e através do bikely.com. Sabia que nas interseções principais não tinha como errar. Assim foi.

Na entrada para a rodovia Rio-Teresópolis foi engraçado reparar como pedalar na estrada é estar no lugar “errado”. A placa apontava a pista central como o destino a seguir. Quase fiz a burrada, mas depois pensei, que nada, estou de bicicleta, vou aqui pela pista lateral mesmo. Sábia decisão da minha parte.

Segui tranqüilo e depois de alguns quilômetros fiquei um pouco ansioso por não ter certeza se já tinha perdido a entrada para Magé, onde me aguardava A “Estrada Real” e seus 17 quilômetros de subida. Parei num posto de gasolina na beira da estrada. A segunda vez que encostei os pés no chão desde o Rio.

Fiquei surpreso com a indicação, era para entrar à direita e seguir reto até Parada Angélica, ou algum outro bairro de Magé que conhecia de nome por já ter feito a mesma viagem de trem metropolitano. Não teve erro, virei a direita e depois de 2 quarteirões vi a linha férrea. Não tinha certeza que estava na direção certa, mas supus que sim e depois que passei por baixo da estrada vi que estava no rumo. Bastava manter os trilhos à vista. Nessa brincadeira me perdi uma vez, mas logo me achei, pedi mais algumas orientações e segui. Achei a linha do trem e numa bifurcação pedi novas orientações.

Naturalmente saber para onde você está indo ajuda e principalmente como o pessoal da terra chama o lugar para onde você está indo. No posto de gasolina tinha perguntado pela RJ-107 e o atendente não fazia idéia de onde era, mas quando disse que meu rumo era “Raiz da Serra” ele entendeu e deu a orientação que eu precisava.

Um grande parênteses em relação a viagem, foi a certeza de ter acertado em não ir pela BR-040. Chegar em Imbariê (o primeiro bairro de Magé que eu tinha de cruzar) e ver aquela vida bucólica da região metropolitana, várias bicicleta na rua, um trânsito tranqüilo em um sábado de manhã. Estacionamentos espontâneos de bicicleta em frente a estações de trem e um monte de magrelas onde quer que houvesse fluxo de pessoas.

Segui sem parar (com exceção das informações) até a base da serra. Ali começaria efetivamente o desafio. Tinha saído de casa às 8:45 e eram quase meio dia. Reabasteci a mochila de hidratação com duas garrafas de meio litro d´água e tomei um guaraná natural. As comidas que tinha trazido junto comigo no corpo já haviam acabado. Tirei mais do alforje e parti.

O bar em que parei (e já conhecia da vez que tinha feito a viagem de trem) é onde fica o pessoal que opera as kombis na região. Assim que encostei a bici e entrei um deles se aproximou e ficou observando o veículo. Vi que era numa boa, mas naturalmente fiquei um pouco preocupado.

Iria passar algumas boas horas vulnerável subindo a serra. Na saída dois deles vieram falar comigo, numa boa. Naturalmente a primeira coisa foi o comentário de um com o outro sobre os freios à disco, com pastilhas e tudo. Ele ainda brincou com o amigo que a minha bicicleta valia mais que o carro dele. Desconversei, dei atenção aos caras por mais pouco tempo, me despedi e segui meu rumo.

Ao meio dia começou a aventura de verdade. Uma estrada de paralelepípedo, mão dupla e em subida, só subida. A inclinação não era forte por ser um traçado desenhado para trens, ainda assim foi complicado. Quase duas horas para subir. Parei uma vez no começo para tirar água do joelho e uma outra sem nem saltar da bicicleta. Doíam-me os glúteos, o joelho e a planta do meu pé esquerdo. Levantar 1 centímetro o selim ajudou a dor no joelho. Resolvi não ficar muito tempo parado, minhas pernas latejavam. Pensei em empurrar um pouco para variar o movimento da musculatura, mas acabei desistindo da idéia.

A estrada tinha numeração ao contrário. Vi duas vezes o número, na altura do 4000 e depois no 3000. Sabia que o fim estava próximo, não o meu, mas o da subida. O próximo conjunto de casas certamente seria o último da serra. Não deu outra. Vi logo numa delas a numeração, 650. Comemorei, fiquei em êxtase. Faltava muito pouco. Cheguei em Petrópolis. Ainda tinha de cruzar a cidade e chegar ao Bingen. A orientação que recebi na rua era fazer o caminho pela BR ao invés de cruzar por dentro. Assim fiz. Mal sabia o quão longe estava da estrada. Várias subidas e descidas, ainda nos malditos paralelepípedo. Finalmente cheguei na estrada, asfalto, grande alegria.

Alegria que nada, mais subida pela frente. É a famosa regra de, em bicicleta, preferir os caminhos que se fazia de trem. Estradas para carros tem sempre subidas e descidas demais. Assim foi. Penei na subida, com a água acabando, a comida também, mas sabia que faltava pouco e uma longa descida me aguardava.

Cheguei num posto da policia rodoviária, cruzei o túnel e desci feliz, até começar uma outra subida chata. Ao menos sabia que faltava muito pouco. Na descida seguinte, estava o retorno que deveria pegar. Felicidade pura, não deu pra ir muito rápido e ainda tinha mais uma subidinha até voltar para dentro da cidade.

A glória se aproximava. Cheguei na casa do churrasco e, recebido por aplausos, fiquei bem contente. Suado, com uma leve dor nas costas, mas sem estar cansado, ter vencido a subida a já algum tempo ajudou. Devia ter levado a cópia com os movimentos para alongamentos, mas que esqueci em casa.

Olhei para o relógio enquanto comprimentava a todos. O relógio marcava 14h47min. Exatas seis horas.

Tomei um belíssimo banho e estava “semi-novo”. Depois de duas horas subindo a base da minha coluna reclamou. Pior saber que uma reclinada não teria serventia alguma nesse caso, já que penaria ainda mais pra subir.

No dia seguinte acordei numa boa, ansioso pela descida. Saí pouco depois das 10 horas. Bem tarde, o sol castigou, mas descer a serra foi um enorme prazer. Pena que durou pouco. Não usei os freios, ultrapassei dois caminhões, tudo na maior tranqüilidade, sem arriscar e sem qualquer imprevisto. Pedalando sempre. Só deu pra chorar (lacrimejar com o vento na verdade) uma vez. Ri bastante quando percebi e segui pedalando.

Assim que terminou a serra, a dura realidade. Sabia que estava a muitas horas de casa. Os carros zuniam, mas no acostamento tudo numa boa. As bifurcações continuaram sendo um problema, nada que a paciência não resolvesse. A bicicleta sendo usada como meio de transporte pelo pessoal da região foi um estímulo. Já em Duque de Caxias meus amigos passaram de carro. Um contato efêmero. Antes um carro também tinha saudado, mas não conhecia. Segui até uma lanchonete conhecida onde comi um pão com lingüiça, tomei um suco de laranja e comprei meio litro d´água.

Nessa altura o sol já ardia, parei um pouco depois em um posto para passar o protetor solar. Deveria ter feito isso ao sair. Segui direto até a Avenida Brasil, sempre atento às entradas da estrada. O asfalto me pareceu um pouco pior desse lado da pista. Mas foi inesquecível. Superei o temor de enfrentar a Brasil e agora sei que é possível viajar de bicicleta e nem é coisa tão de maluco assim.

Cheguei no cruzamento da Rio Branco com Presidente Vargas antes das 13 horas. Estava bem no centro do Rio, sabia que faltava quase nada. Vim pelo Aterro do Flamengo. Sem saltar da bicicleta
tirei a mochila de hidratação, a camisa e o capacete e pedalei com três pistas da via expressa fechadas. Poucos ciclistas e pedestres aproveitavam aquele espaço. Um imenso prazer. Ainda parei para uma água de coco pertinho de casa.

Cheguei às 14 horas e pouco. Aproveitei e fiz os alongamentos todos. Felizmente não tive qualquer problema. Mas acho que ainda falta trabalhar mais as costas e com companhia teria feito algumas paradas. Mas foi um grande prazer seguir sempre. Mesmo sem ter pedalado forte (principalmente na subida). Senti falta de um pedal de encaixe e como uma mochila de hidratação é realmente uma boa coisa.

Assim foi, a minha primeira cicloviagem. Sem qualquer problema e de grandes conquistas.

Bicicletas e a Música

Ano de 1978, Inglaterra. A banda Queen lança a música “Bicycle Race“. O vídeo segue a mesma estética de outras produções da banda. Efeitos especiais e imagens semi-abstratas.

As duas rodas à propulsão humana, no entanto, estão lá, em movimento e na letra da música. Uma representação possível da bicicleta como lazer e esporte, incitando com o refrão para que pedalemos mais e mais.

Em 2005 nos EUA a bicicleta também está em um vídeo clipe, Bob Sinclair – Love Generation. Uma balada pop de enorme sucesso.

Simplicidade, uma viagem ao redor do continente norte-americano por um garoto de 10 anos. Bicicleta não apenas como um elemento, mas como estrela principal da história visual do vídeo. Uma excelente representação da capacidade da bicicleta de vencer longas distâncias. A “geração do amor” de que fala a letra da música segue pedalando.

Existe ainda no Rio de Janeiro um grupo que ao mesmo tempo pedala e toca música erudita, a Cyclophonica. A definição deles mesmos é a seguinte:

Música é a mais difundida, universal e estimulante forma de expressão humana e ciclismo é o mais popular, econômico, ecológico e acessível meio de transporte e de lazer no planeta. Entretanto, estas duas atividades raramente se encontram reunidas.

A Bicicleta

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foto Zé Lobo

O que é uma bicicleta? Definir esse veículo não é tarefa fácil. São tantos tipos, tantas peças, tantos usos.

Nada melhor do que procurar o que está escrito na Wikipedia, a enciclopédia livre. O texto é aberto a todos e em português ainda pode receber úteis adendos. A versão em inglês do artigo, no entanto, está ficando longa demais.

Uma bicicleta, diz-se, é a forma de deslocamento mais energeticamente eficiente, biologicamente falando. Confira aqui, em inglês.

Está disponível também um dicionário básico de várias línguas só sobre componentes da bicicleta. O português disponível é o dos nossos patrícios de Portugal, vale conhecer.