Bicicleta sem cano de descarga

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Em 2010 publicamos aqui o post Bicicleta com cano de descarga, uma análise crítica sobre grandes passeios de bicicleta com o uso de muitos veículos motorizados para apoio e sonorização. A postagem teve defesas apaixonadas de ambos os lados desta questão polêmica, mas mantivemos nossa posição de preferir que a bicicleta, em sua plenitude de virtudes e versatilidade seja a principal estrela destes eventos.

Recentemente tivemos a grata surpresa de conhecer uma pedalada com centenas de participantes que comprovou a possibilidade de um evento ciclístico grande e sustentável com reduzidíssimo uso de veículos a combustão. No dia 20 de abril a TA esteve discretamente representada no pedal da Paz em Porto Alegre. O que seria uma simples pedalada plana com 13 km pela agradável orla do Rio Guaíba foi uma verdadeira aula de como valorizar a bicicleta como veículo limpo, silencioso, divertido, lúdico… e sustentável. Quase 1000 ciclistas foram graciosa e elegantemente conduzidos por não mais que 15 ou 20 ciclistas da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) e voluntários. O silêncio só era quebrado pela potente caixa de som rebocada… por uma bicicleta, claro! Conduzida pelo ótimo animador Juarez Pereira, cujo gosto musical e animação encantou a todos sem emitir um grama de poluição atmosférica.

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O evento organizado pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) através da EPTC é uma tradição na semana em que se comemora o Dia Internacional do Ciclista (15 de abril), e o Dia Nacional da Paz no Trânsito (21 de abril). Nada mais eloquente e apropriado que homenagear o ciclista e a paz no trânsito em um passeio sem veículos motorizados, expoentes da poluição do ar, do barulho e da violência que alguns de seus (maus) condutores levam para o trânsito.

Deixamos aqui um forte abraço e um grande agradecimento à inspiradora iniciativa da municipalidade, e dos cidadãos portoalegrenses, de realizar um belíssimo e verdadeiramente sustentável mega passeio, que honrou com categoria todas as qualidades da nossa amiga bicicleta. Vida longa ao Pedal da Paz!

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Por mais pessoas, em mais mega passeios, com mais bicicletas (e só!) mais vezes!

De quebra, 250 kg de alimentos não perecíveis foram coletados nesse dia e doados uma instituição de caridade.

2ª Corrida de Bicicletas de Carga – Parque Madureira – 2024

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Pelo segundo ano consecutivo, a Transporte Ativo aceitou o convite da Secretaria Municipal de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro para realizar uma corrida de bicicletas de carga no Parque Madureira, por ocasião da Festa do Trabalhador de 1º de maio. Desta vez 16 ciclistas se increveram, um número maior que no ano passado, e com a novidade da participação de duas mulheres. Serão sempre muito bem-vindas!

Com trajeto simples numa reta da pista asfaltada do Parque Madureira, a missão era buscar e transportar um saco de areia de 5 kg num trajeto de ida e volta duas vezes por bateria com 2 participantes. O primeiro a chegar continuava para a fase seguinte e o perdedor era eliminado. Em um dia normal seria algo relativamente fácil, mas à medida que o sol subia a temperatura ia junto, aumentando a dificuldade e o cansaço de quem seguia para as fases seguintes. Mais ou menos como o dia-a-dia dos ciclo entregadores.

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Todos pedalaram muito forte, elevando o nível da competição em relação ao ano passado, também porque os prêmios desse ano atiçaram a competitividade de todos. Ao terceiro colocado uma bicicleta de carga, primeiro e segundo colocados um triciclo cada. A disputa foi acirrada, com direito a algumas colisões e tombos sem muita gravidade, mas houve espaço para inspiradores episódios de espírito esportivo entre os competidores.

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Os participantes incorporaram a força, dedicação e resistência características dos entregadores de bicicleta em seu trabalho diário de entregas e prestação de serviços pelas ruas do Rio. Nesta competição, como no trabalho diário deles a amiga bicicleta é a catalisadora de saúde e sustentabilidade, com a diversão da corrida ou o emprego que ajuda no sustento.
Quem enfrentou a corrida do feriado ou encara os desafios do trabalho nas ruas concretiza e compartilha sempre uma grande conquista: uma cidade mais limpa, humana e fraternal.
Esperamos que cada vez mais a bicicleta leve as pessoas pelo caminho do esporte, da saúde, do emprego verde, da cordialidade e fraternidade no compartilhamento da cidade, como vimos no Parque Madureira neste 1º de maio de 2024.

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Agradecemos à Secretaria Municipal de Trabalho e Renda pelo convite, aos produtores do evento pela parceria na organização, aos Fotógrafos Roberto Moreyra e Cadu Souza pelos belos registros da corrida, à COMLURB que nos cedeu gentilmente suas bicicletas de carga e principalmente aos 16 participantes listados abaixo, pela confiança, paciência e dedicação:
André
Carlos Eduardo
Daiane
Diego
Domdng
Ewerthon
Fernando
Lilian
Luis Eduardo
Luiz Henrique
Marcos
Matheus
Patrick
Pedro Henrique A.
Pedro Henrique G
Ruan

NitBike, as bicicletas públicas de Niterói

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Já não é novidade, a mobilidade ativa tem no compartilhamento de bicicletas um aliado há muitos anos mundo afora. Quando uma cidade investe em ciclovias, redução de velocidade nas vias, qualificação de calçadas e áreas públicas para as pessoas podemos afirmar que ela escolheu o caminho da evolução na gestão de seu espaço. O modelo atual de mobilidade motorizada individual foi superado, é um fracasso inquestionável, não atende à realidade e as necessidades das cidades de hoje. A bicicleta cai como uma luva no desafio de melhorar o uso do espaço urbano e os sistemas de compartilhamento de bicicletas são a grande ideia para mobilidade desse milênio (nota: embora tenham surgido em 1965 ganharam força e relevância nos anos 2000).

Há várias cidades brasileiras que possuem Sistemas de Compartilhamento de Bicicletas, grandes ou pequenos, pagos ou gratuitos. Não há como negar sua influência positiva para a mobilidade, qualidade de vida e até segurança das cidades.

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No estado do Rio de Janeiro temos um caso emblemático de cidade média que merecia um sistema desses há muito tempo. Niterói, vizinha próxima do Rio de Janeiro tem meio milhão de habitantes, uma imensa frota de automóveis em uma área pequena, logo, transitar por lá é um desafio que requer paciência. Por necessidade e praticidade a bicicleta sempre foi muito usada na cidade, mas explodiu nos últimos anos com os investimentos da cidade em promover o uso da bicicleta, no melhor estilo de “construa e eles virão”. A chegada das bicicletas roxas do NitBike é uma justa e merecida novidade em Niterói. O sistema gratuito de uso público de bicicletas tem previsão de ganhar as ruas em maio de 2024 e, num primeiro momento terá 50 estações e 600 bicicletas nos bairros mais centrais da cidade.

É a coroação do caminho que uma cidade está tomando para amenizar seus problemas de mobilidade, poluição do ar, má ocupação do espaço urbano e prejuízos com engarrafamentos. Sempre há muito a se fazer nesse sentido e as barreiras à mobilidade mudam de forma e tamanho com frequência. Mas Niterói completou uma etapa importante deixando claro que está firme no propósito de garantir espaço e força à bicicleta como ferramenta promotora de qualidade de vida nos deslocamentos de sua população. Neste sentido, e apesar da baía que nos separa fisicamente, Rio e Niterói se aproximaram. Seja com nossas bicicletas pessoais ou nas compartilhadas vamos pedalar cada vez mais lá e cá. Por mais pessoas em mais bicicletas (laranjinhas ou roxinhas) mais vezes!

Pedalada Museu na Rua – Entre Ruas e Rios

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No último sábado 2 de março realizamos em parceria com o Museu do Amanhã a pedalada Museu na Rua, saindo da Praça Mauá até o Aterro do Flamengo. Com paradas na Praça XV, Largo da Carioca, Praça Luís de Camões, no Deck da Foz do Rio Carioca e no Monumento a Estácio de Sá os educadores do Museu trouxeram reflexões sobre os rios da cidade, que foram cobertos, canalizados, poluídos, esquecidos.

Novamente a bicicleta foi a parceira perfeita para esse misto de aula-passeio-exercício de mobilidade ativa. Tivemos duas pessoas cegas recebendo as informações por áudio descrição de seus guias. Cerca de 25 pessoas pedalaram pelas ciclovias e ciclofaixas entre o centro e o Aterro do Flamengo. A experiência completa de conhecimento de sua cidade é bem mais prazerosa e proveitosa quando a fazemos pedalando.

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Nenhuma cidade é perfeita, a sua história e o seu desenvolvimento podem ter episódios ruins, mas sempre há tempo de mudar, corrigir, evoluir. Passamos pela Praça da Justiça, inaugurada recentemente com calçadão, ciclovia, arborização, bancos, estação de bicicleta pública. Onde antes havia estacionamento para alguns carros agora há um espaço verdadeiramente público.

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Ao devolver a cidade para as pessoas elas podem conhecer a sua história (boa ou ruim), aprender sobre ela e se apropriar dela como verdadeiros cidadãos. Só daí virão as mudanças no planejamento urbano e principalmente no que as pessoas querem para a sua cidade no presente e no futuro. Nesses passeios vivenciamos a cidade como queremos, mais para as pessoas que para os carros.

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A bicicleta inteligente

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Há uma novidade na rede: o acesso à inteligência artificial se popularizou e com ele vieram promessas de avanços antes inimagináveis e uma certa ‘surpresa’ com os problemas inéditos que surgiram. Não raro as pessoas ignoram que a tecnologia só é um avanço se o fator humano quiser e deixar.
Enfim, não demorou para que a inteligência artificial chegasse às bicicletas. Uma fábrica patenteou um sistema que em tese aprende com o ciclista e muda regulagens sem a atuação do ciclista. Altura do selim e ajustes de suspensão seriam feitos de acordo com uma interface entre os dados coletados pelo computador central e o retorno do ciclista sobre os ajustes serem bons ou não. Ao repetir o mesmo trajeto a bicicleta se ajustaria automaticamente para melhorar conforto e eficiência.

Polêmica à vista. O consumidor tem total liberdade de escolha sobre qual produto e com qual tecnologia comprar. Mas o lado lúdico da bicicleta está justamente em ser um dos veículos mais integrados ao ser humano. Usando até cinco pontos de apoio e propulsão humana na condução da bicicleta convencional a sinergia é total, sem dispositivos que interferem na relação com o movimento e com o que o ciclista sente ou quer fazer. Ao mesmo tempo ela só proporciona as sensações se o condutor fizer força nas pernas, nos braços, em todo o corpo e… pensar.
Ao colocarem um motor à combustão ou elétrico nas bicicletas a tal sinergia ligada à força que se faz para ela se movimentar foi parcialmente mascarada, anestesiada. Agora um computador poderá regular partes móveis da bicicleta diminuindo a sinergia do pensar no pedalar.

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Será mesmo necessário ou mesmo importante interferir tão profundamente nessa invenção fantástica cuja relevância para a humanidade nunca diminui? Muitos avanços tecnológicos caros e complexos chegaram à indústria e ao mercado da bicicleta e não conseguiram tornar obsoleta a bicicleta tradicional. Este provavelmente será mais um.

A bicicleta é aquele veículo simples que te leva perto (ou longe), com a força de seu corpo, sob controle da mente e com o rosto ao vento, transporta suas coisas, seus sonhos, sua liberdade, acelerando seu coração e seu metabolismo para te deixar mais saudável e feliz, tudo isso de forma compacta, limpa e silenciosa, por um custo acessível e que pode até ser consertada por você mesmo! Tem algo mais inteligente que isso?

Ser original e inovador é usufruir do que a inteligência humana criou de melhor e mais acessível, democrático para facilitar nossa vida, amenizar desafios, proporcionar saúde, economia, desenvolvimento e sustentabilidade. Veja na bicicleta uma aliada como ela é e pedale que o mundo gira.

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