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Pontes urbanas e nossas cidades
Posted onAuthorJoão LacerdaLeave a comment
Quem já pedalou pelas ciclovias holandesas certamente se impressionou com as pontes e as conexões quase invisíveis entre os dois lados de um canal ou simplesmente para passar debaixo de uma auto-estrada.
São Paulo é uma cidade partida, talvez até mais partida do que o Rio de Janeiro de Zuenir Ventura. Entre rios, a paulicéia cresceu e desvairou-se. Para além das margens centrais foram morar os migrantes pobres e os que foram expulsos da zona central cada vez mais valorizada, especulada e gentrificada.
Mas como cidade de rios, ainda que muitos deles asfaltados, São Paulo tem pontes e por incrível que pareça, não há ponte, viaduto ou passagem subterrânea que dê as boas vindas para pedestres e ciclistas cruzarem de uma margem a outra dos rios. Honrosas excessões as antigas pontes que cruzam o vale do rio Anhangabaú, onde aliás não se vê mais água, ainda que as chuvas de verão ocasionalmente nos façam lembrar do porquê do nome “vale” associado a região.
Para além de pontes para conectar a cidade partida entre o centro expandido e o restante da cidade, São Paulo precisa de um pouco mais de cidade ao redor dos seus rios. Afinal como comprova quem caminha nas margens dos rios Tietê e Pinheiros, há muito pouco de agradável e divertido para ser visto por quem trafega pela região em velocidades humanas.
Até que tenhamos portanto todas as pontes humanizadas, teremos de construir juntos uma cidade mais interessante. E o primeiro passo para esse nova cidade é garantir que mais pessoas possam desfrutar, mesmo das partes menos interessantes, a pé ou de bicicleta.
Fotos via treehugger:
– 7 bike bridges in the Netherlands offer us a few lovely lessons
Quem incentiva a bicicleta no Brasil?
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Foram 15 organizações de diversas partes do Brasil que em março de 2013 estiveram juntas para discutir o que é a promoção ao uso da bicicleta. O aprendizado conjunto rendeu frutos e espalharam a metodologia de contagem de ciclistas pelo país afora.
Em 2014 haverá mais uma edição do evento, dessa vez com o foco em como administrar uma organização para promover o uso da bicicleta. Certamente um aprendizado necessário em um país que ainda estrutura o terceiro setor e tem muito o que aprender através da sociedade civil engajada.
Além do workshop, haverá também o prêmio para as melhores iniciativas brasileiras de promoção ao uso da bicicleta, dividida em três áreas:
· Ação educativa e de Sensibilização
· Levantamento de dados e pesquisas
· Empreendimento
Pedalar já mudou muito as pessoas, serão ainda muitas pedaladas e é fundamental acreditar que a união de esforços, o compartilhamento de informações e o reconhecimento das pessoas e iniciativas que estão transformando o país irão transformar as ruas brasileiras.
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O futuro chegou
Posted onAuthorJoão LacerdaLeave a comment
No Brasil ainda estamos superando o carnaval, mas é sempre bom lembrar que, mundo afora, a festa de Momo não tem espaço nas ruas ou nas mentes. Natural portanto que surjam novidades que irão dominar o mundo e apontar o futuro quando por aqui ainda estamos em meio a blocos e desfiles carnavalescos.
Abaixo um vídeo com a lenda viva do skate Tony Hawk e outros nomes das artes e da música em que é apresentado o skate flutuante do filme “De Volta para o Futuro II”.
Um olhar atento já percebe que o “produto” é claramente uma encenação, o que faz com que seja esperada alguma explicação posterior sobre os motivos de tal campanha na internet. É interessante no entanto pensar o que era o futuro de 30 anos atrás em relação ao presente que temos hoje. Afinal, a categoria de “ficção científica” é sempre um retrato perfeito do presente com eventuais antecipações sobre a realidade que está por vir.
O mundo dos anos 1980 tinha ainda mais fé no tal “progresso tecnológico” do que ainda temos hoje. O discurso de que vivemos em um planeta de recursos naturais finitos ainda está fora do senso comum e as pessoas realmente acreditavam na remota possibilidade da ultra-tecnologia na casa de todos. Talvez não com carros e skates voadores em meio a paisagem urbana, mas certamente numa onipresença da tecnologia.
Muita coisa mudou nos últimos 30 anos, mas continuamos sendo humanos, com necessidades humanas. Respirar, acesso a água e comida, abrigo, amor etc. Talvez nessa sanha pelas mais complexas soluções dependentes de tecnologia, esquecemos que somos apenas animais que habitam um ecossistema planetário. Em sua maioria vivendo dentro de gigantescas colméias de concreto. Felizmente o futuro da desumanização começa a ceder espaço, no presente, para tecnologias métodos e meios de vida mais humanizados.
O futuro talvez nos traga algo muito mais especial que skates voadores, televisores com ultra interatividade e chamadas em vídeo. Hoje conseguimos imaginar um tempo com mais participação cidadã e por isso mais democrático. Um futuro em que as necessidades dos mais frágeis (nas ruas e no mundo) sejam respeitadas e assim todos possam ter de volta a garantia de abrigo e segurança que ficou esquecida em nome do espaço que tecnologias sonhadas em pleno século XX e que não se mostraram de grande valor nesse novo milênio.
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Um poucos mais sobre essa trollada midiática do skate:
– Why Are All These Celebrities Participating In An Epic Fake Hoverboard Troll?
Mas para imaginar um outro futuro, vale a leitura do Nowtopia.
A importância dos cruzamentos
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Em cada esquina está o maior risco que um condutor, ciclista ou pedestre enfrenta nas cidades. São nos cruzamentos entre ruas e avenidas que as mais graves ocorrências de trânsito acontecem. As vítimas em geral são os mais frágeis, mas nem sempre a carcaça de aço de veículos motorizados representa defesa suficiente.
Com essa lógica em mente arquitetos da Universidade George Mason projetaram “cruzamentos protegidos”, uma adequação para as esquinas típicas nas cidades norte-americanas e como eles podem ser modificados para se adequarem aos cidadãos em bicicleta. O mais importante no projeto no entanto talvez não seja exatamente a solução de arquitetura, mas sim a necessidade de adaptação dos espaços de circulação nas cidades as pessoas que por ela circulam.
Ainda é comum vermos ruas de bairro que se prolongam ao infinito (ou ao menos até o próximo cruzamento) sem qualquer barreira física ou até mesmo visual. Reordenar cruzamentos é uma maneira de lembrar as pessoas que por ventura estejam ao volante que existem pessoas do lado de fora e que a cada esquina, elas tem a oportunidade e os incentivos para cruzarem. As ruas do mundo precisam de mais atenção para as pessoas que estão nelas e ao redor delas. As soluções de projeto serão implementadas no seu devido tempo, até lá é preciso imaginá-las.
Para isso, vale assistir o vídeo demonstrativo (em inglês) que conta melhor o conceito de “cruzamentos protegidos”.
Protected Intersections For Bicyclists from Nick Falbo on Vimeo.
Por mais afeto nas ruas
Posted onAuthorJoão LacerdaLeave a comment
Houve um tempo em que as pessoas estavam acima das máquinas nas cidades.
Ao que tudo indica, depois de décadas desumanas nas ruas há um pouco de amor que se prolifera no leito do asfalto e em todos os intervalos entre o concreto dos prédios, viadutos e túneis.
É preciso um olhar atento para descobrir por onde caminha subversão urbana em curso. Quem prestar atenção irá ver ela vem através do amor pela bicicleta.
Em cidades desumanas é preciso uma máquina para explorar as rachaduras de um ambiente construído para veículos motorizados. Confinados e desvalorizados, os cidadãos que por ventura estejam a pé carecem de união pela paixão de caminhar para unirem-se na transformação urbana que lhes seria benéfica.
Certamente a desvalorização ampla do caminhar impôs uma estrutura urbana que é simplesmente inviável para o pedestrianismo. Por conta disso, a bicicleta tornou-se o veículo perfeito para defender a humanização de espaços urbanos. Só um veículo industrial que potencializa a força humana seria capaz de quebrar resistências e encurtar distâncias. Distâncias que foram pensadas para serem percorridas por pessoas em máquinas transformaram em desnecessário o esforço humano.
De zero ao próximo semáforo vermelho em poucos segundos é a rotina de desamor que se acostumaram os habitantes das cidades. Pela força nada irá convencer um condutor de um motorizado a mudar de atitude ou se quer rever comportamentos. Mas a suprema ironia da eficiente bicicleta em meio aos excessos do congestionamento é mensagem clara, que mesmo assim não basta. Uma única bicicleta circulando em meio ao trânsito motorizado é a imagem de um cidadão fora do contexto social vigente.
Pela necessidade de serem o trânsito que nasceu o movimento da Massa Crítica e das bicicletadas. Foi o momento em que paixão pela bicicleta começou a se misturar com ativismo político em prol da bicicleta. Muitos queriam apenas pedalar, outros já viam o potencial político transformador que a bicicleta imprimia nas cidades em seu simples girar pelas ruas. A mistura entre amantes de um objeto e ativistas é capaz de levar a transformação urbana até certo ponto.
A partir de determinados obstáculos, não é mais possível apenas unir-se em bando e pedalar tranquilo entre amigos. É preciso influir diretamente na organização espacial das cidades. Uma atuação política real que represente de maneira clara para todas as pessoas da cidade a real função da bicicleta. Que a torne mais que um objeto, uma ferramenta de subversão urbana capaz de simplesmente colocar os deslocamentos em função das pessoas em detrimento das máquinas.
Quando a bicicleta se torna uma opção para todos, a infraestrutura urbana tende a se comprimir para uma escala mais humana e as distâncias podem ser percorridas de diversas maneiras. O veículo motorizado particular deixa portanto de ser a opção mais encorajada e torna-se apenas mais uma.
Viveremos para ver e celebraremos.

Ciclovia no centro do Rio – Foto: Studio-X Rio
