Sementes para o futuro

A cultura do automóvel encontrou terreno fértil no Brasil.
A matriz exploratória como se faz a ocupação da terra em nosso país desde sua origem, firmada em monocultura e latifundios, lançou profundas raízes em toda a organização social brasileira. A forma como urbanistas e governos pensaram nossas cidades, sobretudo após a década de 50, é uma mera transplantação urbana das práticas latifundiárias mais perversas.
Assim como nas fazendas dos barões, de café ou de soja, nossas cidades são uma imensa e vasta plantação de automóveis. Margens dos rios, passeios, veredas, praças e quintais, tudo está sendo explorado em benefício de uma minoria, cada espaço urbano é planejado e feito para que mais carros sejam colocados nas ruas.
Mas como toda monocultura latifundiária traz dentro de si o germe da sua destruição, os malefícios da monocultura do automóvel estão ficando cada vez mais evidentes.

Vamos plantar bicicletas!
A terra está exaurida e cheia de vossorocas, um vento ressequido de CO2 e enxofre torna nossas cidades um deserto de asfalto e petróleo. Mas nossa plantinha é resistente. Melhor de tudo, ela se adapta facilmente a qualquer clima e relevo.
Vamos plantando uma semente de bicicleta aqui e outra ali. Com o tempo as sementes brotam e vão crescer plantinhas. Basta ter o cuidado de regar e adubar, sempre. As árvores vão crescer e elas próprias vão dar novas sementes, que cairão no chão ou serão levadas por passarinhos. Assim, em volta daquela primeira árvore de bicicleta, nascida com tanto sacrifício, haverá outras tantas brotando, e mais outras e outras. Um dia, as cidades serão uma floresta de bicicletas.

 

 

2 thoughts on “Sementes para o futuro

  1. Gostei muito do artigo. Só não concordo com o fato de a plantinha se adaptar “a qualquer relevo”: moro no alto de uma ladeira, e todas as vezes que subo, gostaria que minha bicicleta fosse dobrável: colocaria ela na traseira de um táxi e subiria até em casa.

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