Ponte anti-inundação em São Paulo

198732_517769304932934_1406458676_n

Foto: Daniel Guth

A “valet-ponte” que ilustra esse texto é um retrato das águas de março em São Paulo, uma cidade que descobre enchente onde antes havia a baixada de um rio, descobre corredeiras de água suja pelo asfalto onde antes escorriam cachoeiras.

Uma redistribuição eficiente do espaço de circulação urbano, com mais árvores, rios a céu aberto e solo permeável é mais do que sonho utópico. É um redesenho urgente da metrópole que já foi da garoa e hoje é da tromba d´água com enchente.

A cada boletim informativo da CET-SP que divulga o número de pontos de alagamento intransitáveis, melhor ler que por ali perto passa um rio escondido em uma tubulação subterrânea que não lhe dá vazão.

Pela ponte e entre rios circulam os ciclistas, imunes ao semáforos que se apagam com as trombas d´água, às árvores caídas que inviabilizam a circulação motorizada e ao caos que se instala em uma cidade que virou as costas para os seus rios.

É Lenine que canta “esse lugar é uma maravilha, como faz para sair da ilha? É pela ponte, é pela ponte”.

O documentário Entre Rios com a história hídrica de São Paulo:

ENTRE RIOS from Caio Ferraz on Vimeo.

Você praça

Quem circula pelas ruas de São Paulo, ou até mesmo que está de olho nas novidades que aparecem nas redes sociais podem já ter visto uma imagem que traz um stencil com a frase”

Você praça, acho graça

Você prédio, acho tédio

O autor é Dafne Sampaio, que se define como “um sujeito de cabelos e barba grisalhos, óculos” e busca muros e tapumes pela cidade para fazer o diálogo com esses espaços e com a cidade, suas pessoas.

As reações de quem passa e vê o jornalista em ação nas ruas são sempre cordiais e despertam sorrisos. São Paulo, cidade opressiva com ruas travadas com tantos carros, em que falta espaço público para contemplação certamente precisa desse debate.

Praças nesse contexto são a graça de poder estar na cidade em um ambiente público, o prédio é a esfera privada, o espaço sem diversidade e cada vez mais isolado do tecido urbano por muros altos, grades e garagens.

A história completa de como surgiu a idéia do estêncil está no blog do artista. Há ainda o texto “Por uma cidade cheia de graça” que conta um pouco mais.

Carnaval, época de ruas para pessoas

O carnaval no Brasil é o período do ano em que as ruas são devolvidas as pessoas para comemorações e festas.

Ainda assim, as cidades e suas administrações municipais ainda buscam aprender como readequar, ainda que de maneira excepcional, o espaço público para circulação e ocupação exclusiva de pedestres.

O já tradicional carioca molda a cidade semanas antes dos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí. Os blocos de rua atraem multidões para a festa o que impacta negativamente o fluxo motorizado.

Ciente da importância da festa para seus cidadãos e turistas, a prefeitura do Rio de Janeiro sempre faz campanha pública para que as pessoas priorizem o transporte público e também a bicicleta. photo 2

A enormidade do fluxo humano é ao mesmo tempo beleza e drama. O fluxo carnavalesco é festa, mas dada a quantidade de pessoas que atrai, tem também graves problemas. Para listar o principal deles, resíduos da festa. Seja a serpetina, as latinhas de cerveja ou a urina.

Felizmente os fluxos diários, fora da época de festas são mais equacionáveis, mas precisam levar do carnaval a lição principal, as ruas pertencem as pessoas e é necessário garantir que o espaço público possa ser usado com prioridade absoluta para as pessoas.

A direção e o propósito dos deslocamentos é secundário, seja para festa ou para a ida ao trabalho, as ruas pertecem aos cidadãos e devem ser usadas de maneira eficiente para os diversos fluxos urbanos.

Ciclofaixas e ciclomodismo

A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que irá lançar ciclovias operacionais aos domingos, será inicialmente um corredor isolado por cones dedicado ao trânsito de bicicletas. O plano é conectar o Parque do Aterro do Flamengo na Zona Sul, à Quinta da Boa Vista na Zona Norte.

É importante no entanto entender o nascimento desse tipo de infraestrutura. O termo “ciclovia operacional” é mais conhecido pelo apelido paulistano “ciclofaixas de lazer”. Criadas em agosto de 2009 pela Secretaria Municipal de Esportes, com o apoio de um patrocionador, de imediato esse parque ciclístico teve um sucesso estrondoso, se espalhou por São Paulo e pelo Brasil.

Inspiradas em parte nas “Ciclovias” de Bogotá na Colômbia, a versão paulistana tem dois grandes diferenciais, sinalização horizontal e vertical permanente e o fato de ser exclusiva para bicicletas.

A capital colombiana iniciou nos anos 1970 uma política de estímulo as atividades ao ar livre. Diversas avenidas durante algumas horas aos domingos e feriados tornaram-se exclusivas para a circulação de pessoas em transportes ativos. Bicicletas, patins, skates, patinetes, pessoas a pé, todos circulando livremente em um sentido das avenidas enquanto no sentido oposto o trânsito motorizado seguia seu fluxo. Muito parecido com o que acontece todos os domingos e feriados na orla carioca. As pistas junto ao mar somente para pedestres e transportes ativos (exceto a bicicleta, que contam com a ciclovia) e as pistas junto aos prédios com o fluxo motorizado em um único sentido.

Ao traduzir para a realidade carioca a iniciativa paulistana, o Rio de Janeiro visa promover o uso da bicicleta como veículo de lazer, uma estratégia válida na valorização da bicicleta, mas que também parece desconhecer o histórico da cidade. As ruas de lazer são um enorme sucesso, avenidas abertas para pessoas, independente do veículo, são transformadoras.

As ciclovias operacionais são um enorme sucesso de público Brasil afora, mas a sinalização permanente confunde e deseduca ciclistas e motoristas durante a maior parte do tempo em que a iniciativa não está em operação. Além disso, concede um privilégio aos ciclistas em detrimento de skatistas, patinadores e principalmente pedestres. Afinal basta uma caminhada na Avenida Paulista em um domingo para ter a alegria de ve-la repleta de bicicletas em circulação e a tristeza de ver que as calçadas seguem lotadas demais. Pedestres, skatistas e patinadores certamente preferem ruas de lazer.

===== Leia Mais:
Ciclistas do Rio vão ganhar corredores especiais aos domingos
Editorial: Ciclomodismo

O que sobrou das praças

As praças como estão hoje são retrato de como foi construída a cidade do século XX, são ilhas, muitas vezes isoladas, cercadas de fluxo motorizado pro todos os lados. Mas essa construção é recente e um desejo profundo de reverter a condição atual das praças está em curso. Essa é um pouco a história do documentário feito para a agência Pública sobre as praças de São Paulo.