Um belo texto ilustra como foi a experiência de tornar-se um ciclista urbano. Abaixo alguns trechos. Confira a íntegra do “Nascimento de um ciclista“.
O bikely.com tem uma rota ciclística Laranjeiras-Tijuca.
![barraforte](http://transporteativo.org.br/ta/wp-content/uploads/2007/04/barraforte.jpg)
Foto e texto: Rafael Pereira.
Tá. Aquele ditado que fala sobre quem sabe andar de bicicleta está certo. Não tem erro. Mas não se tratava apenas de ter aprendido a andar de bicicleta ou não. Era mais. Era desbravar o trânsito do Rio. De um terceiro ponto de vista. Vi de dentro do carro. Vi como pedestre (muito). Agora, uma nova fronteira precisava ser transpassada.
No que imagino ter sido o primeiro quilômetro, fui na contramão. Sabia que existe uma lei para ciclistas, semelhante às leis de trânsito? O ciclista não pode andar pela calçada. Tem que andar apenas pela rua. Pelo corredor esquerdo – o contrário do dos ônibus – de preferência. Calçada é para os pedestres. E eu era pedestre há até pouquíssimo tempo. Uns minutos. Andar na calçada, e ao mesmo tempo na contramão, era uma infração gravíssima. Ainda bem que ninguém sabe disso. E eu fui bem devagar. Juro. Não atropelei nenhum velhinho.
E foi por pouco tempo. Logo, já tinha ganhado o Largo do Machado, e estava na Praia do Flamengo. Com sua bela ciclovia de duas pistas. Foi bom eu ter ido por lá. Deu para testar minhas seis marchas – tudo funcionou perfeitamente – e os demais probleminhas que poderia ter minha nova amiga.
O maior problema foi o banco.
No começo do percurso, o banco mostrou-se muito baixo. E quase pude escutar meu amigo, especialista em bicicletas, dizer: “Sair da loja com a bicicleta desregulada é o mesmo que começar um relacionamento com o pé esquerdo”. Tá… não foi tão grave assim. Mas foi um contratempo.
(…)
Dali em diante, tive meu primeiro desafio real: Andar nas ruas engarrafadas da cidade pela mão que me cabia. A do trânsito. Da Lapa, fui em direção ao Estácio.
No começo, tudo bem. A não ser por uns carros que param à esquerda, atrapalhando a nós, ciclistas.
Não estava lá muito seguro, até encontrar à minha frente um colega de duas rodas. Era o moço dos Correios. Saca os caras dos Correios? Aqueles caras que levam os e-mails de papel nas nossas casas.
Então. Ele deve fazer isso todos os dias. E eu fui atrás dele. O moço dos Correios, acredite, passeia pelas ruas. Não dá a mínima para nada. Nem os carros e caminhões parados à esquerda parecem incomodá-lo. Fiquei atrás dele um tempo, em baixa velocidade, só aprendendo o movimento das ruas, seus movimentos. Até que ele se foi. Acelerei e me senti o ciclista mais seguro do mundo. E ele nem tem idéia de o quanto me ajudou.
Dali para a Tijuca foi um pulo.
Aproveitei, antes de casa, para parar no supermercado. Um luxo, para mostrar que eu estava seguro. Parei a bicicleta, coloquei a tranca recém adquirida, comprei, tirei a tranca e fui para casa como um rei.
Hoje eu virei um ciclista urbano.