Cidades para Ciclistas

Deslocar-se de bicicleta é uma atividade ainda desconhecida por muitos urbanistas e planejadores urbanos em geral. Um artigo bastante interessante aborda um tema difícil: “Por que ciclistas odeiam sinal fechado?”

A conclusão explicita claramente uma contradição hoje existente em nossas cidades. A necessidade de incentivos ao uso da bicicleta e a falta de um planejamento que atenda as necessidades dos ciclistas.

Motoristas se dizem confusos com a presença de bicicletas nas ruas, alguns desejam até que veículos de duas rodas simplesmente desapareçam. Os carros são a principal preocupação dos ciclistas em relação a sua segurança. Os técnicos de trânsito têm de descobrir maneiras de coexistência pacífica entre bicicletas e automóveis.

Um bom começo, é levar as preocupações dos ciclistas a sério. Quem pedala não será bem servido por um sistema viário desenhado para motorizados. A redução do número de paradas obrigatórias em rotas ciclísticas faria com que os deslocamentos por bicicleta se tornassem mais atraentes tanto para os atuais usuários, como os em potencial. Permitir que os ciclistas tratem sinais de parada obrigatória como sinais de “dê a preferência” poderia resolver o problema de uma maneira diferente.

Talvez as cidades devessem comprar bicicletas para os seus engenheiros de trânsito e exigir que eles as usassem frequentemente para ir ao trabalho. Não há maneira para que eles aprendam o que é pedalar no trânsito do que experimentando os riscos e alegrias de faze-lo.

Contando com a força das próprias pernas, ciclistas têm necessidades especiais para bons deslocamentos. Uma delas, como também aborda o artigo, é manter uma velocidade constante, que implica num bom ritmo de batimentos cardíacos que acarreta na diminuição do esforço para cumprir distâncias.

  • Mais Informações:

> Why Bicyclists Hate Stop Signs
Joel Fajans & Melanie Curry

Velha Mobilidade

A humanidade está sempre caminhando rumo ao que se convencionou chamar de progresso, no entanto, um dos princípios básicos dessa jornada são as tentativas e erros. Muitas vezes algo que se mostra como uma solução, acaba sendo um equívoco depois.

O transporte urbano no começo do século XX era em grande parte, tracionado por cavalos. Uma série de problemas eram gerados em virtude dessa falta de diversidade na mobilidade das cidades. Por ruas mais limpas, surgiu o automóvel que não gerava fezes e não produzia o mal cheiro, como os cavalos.

[photopress:R_Branco_rush_anos_50.jpg,resized,centered]

Avenida Rio Branco, Anos 50 – Foto “O Cruzeiro”

Via André Decourt.

Aproximadamente 50 anos foram necessários para que a supremacia do automóvel se tornasse um problema. Os efeitos malévolos de um planejamento urbano equivocado, produziram o que hoje se define como “Velha Mobilidade”. A expressão pode ser traduzida por ficar parado no engarrafamento, ou em um ponto de ônibus em dia de chuva, enquanto investimentos pesados continuam a ser feitos em infra-estrutura viária que privilegiam a mobilidade individual motorizada.



Avenida Rio Branco
Foto de alex robinson.

O século XXI já tem sido marcado pela intensificação de um processo ainda recente, mas que balizará o futuro dos transportes. São dois conceitos: Transporte Sustentável e Agenda da Nova Mobilidade. O primeiro visa moldar as políticas ambientais e de meio ambiente. O segundo conceito visa trabalhar a oferta de idéias sustentáveis que possam ser aplicadas. Cidades mais humanas serão construídas através de uma visão sistêmica, diversidade, participação de todos e amplo alcance. Tudo somado a uma vasta rede de parcerias, interações e colaboração sinergética.

Os ambientes naturais são ricos em diversidade para garantir a sua sobrevivência. Certamente a jornada evolutiva humana irá seguir os mesmos moldes. Na ótica urbana, isso quer dizer que deveremos cada vez mais ter ambientes ricos e diversos com inúmeras possibilidades habitacionais e de deslocamento para a população.

A Velha Mobilidade em Vídeo:

  • Mais informações (em inglês):
  • Vídeos sobre Velha Mobilidade.
    Agenda da Nova Mobilidade no wikiVelha Mobilidade.

    O Não Transporte

    [photopress:Carnaval_1.jpg,resized,pp_image]

    Foto Zé Lobo

    Uma tese apresentada em maio de 1989 no VII Congresso Brasileiro de Transporte Público continua atual. As idéias partiram da Comissão de Circulação e Urbanismo da Associação Nacional de Transporte Público – ANTP, a tese: “Não Transporte: a reconquista do espaço tempo social”.

    A tese defendia a idéia da redução das viagens motorizadas como solução para o deslocamento sustentável. Ao invés de vias ociosas nos horários de pico no contrafluxo, defendiam-se as mãos horárias, isto é, nos horários de pico, vias de mão dupla teriam todas as pistas funcionando num único sentido, acabando com a ociosidade no contrafluxo. Defendiam-se bairros com mais autonomia nas atividades de trabalho e cotidianas, através da descentralização de unidades públicas, industriais e comerciais, evitando assim o deslocamento das pessoas para outros bairros em busca destes serviços. Mostrava-se que o deslocamento a pé e de bicicleta poderiam ser tratados com a mesma seriedade de uma via de automóvel com planejamento, iluminação, orientação, e estar adequadamente pavimentada, sem buracos e com piso de qualidade. Defendia-se que o transporte coletivo podia ter serviços de qualidade no atendimento aos usuários, reduzindo o tempo de viagem com faixas e vias exclusivas, diversificando os serviços para atender os vários públicos. Além disso, apresentaram a idéia de um reordenamento profundo do espaço urbano através de políticas que obrigassem a ocupação dos espaços vazios em áreas infraestruturadas que estivessem retidos pela especulação imobiliária.

    Passados 18 anos após o lançamento dessa primeira semente podemos ver o quão atual ela ainda é. Ao longo desse tempo, a Comissão de Circulação e Urbanismo escreveu outras teses complementares dando prosseguimento à proposta do não transporte. Atualmente, o conceito recebe também o nome de mobilidade sustentável, e ainda precisa percorrer um longo caminho para tornar-se hegemônica no nosso país.

    Defender hoje a tese do não transporte significa introduzir o conceito do tempo no uso da cidade, o que é essencial à apropriação social do espaço de mobilidade. Dessa forma, ter pedestres, ônibus, carros e bicicletas compartilhando o tempo e o espaço na cidade, não se torna um sonho impossível. A rua poderia ser usada pelos pedestres e veículos. O tráfego de bicicleta seria demarcado apenas por um desenho na via. Isso já ocorre em cidades européias, onde também as vias de automóveis têm seu leito reduzido para ceder espaço às bicicletas, ou se compartilha o espaço entre todas as formas de deslocamento.

    Uma revolução de valores acontece quando a calçada atravessa a rua e o carro é obrigado a pedir licença ao pedestre. As crianças podem voltar a ser crianças, os velhos e paraplégicos podem seguir como cidadãos seu ritmo próprio, e a grama deixar de ser estacionamento de automóveis.

    > A matéria apresentada baseou-se em artigo publicado na Revista dos Transportes Públicos – ANTP – Ano 23 – 2001 – 2º Semestre – “Não Transporte, 10 anos depois Resultados do trabalho da Comissão de Circulação e Urbanismo da ANTP” escrito pelo Vice-presidente da Associação Nacional de Transporte Público, presidente da Comissão de Circulação e Urbanismo e presidente do Instituto Ruaviva – Sr.Nazareno Stanislau Affonso.

    Imobilidade pode ser vício

    De acordo com o autor suíço Siro Spörli, o automóvel é tão perigoso quanto uma droga e proporciona aos seres humanos uma forte sensação de poder, sedução e tesão. O carro então adquire um significado diferente, não mais apenas um mero meio de transporte, mas um simulacro de felicidade e prazer. Homens e mulheres tentam encontrar um momento de plenitude em suas vidas estressadas.

    Nenhuma campanha que vise reduzir o uso do carro particular terá sucesso se não levar em consideração a “dependência automobilística”. São necessárias algumas das eficazes táticas de combate aos vícios empregadas em campanhas como o anti-tabagismo e o alcoolismo. Iniciativas apelativas, que apontam o dedo na cara dos “malvados motoristas”, podem ser contraproducentes, uma vez que a resposta típica das pessoas para os alertas de um futuro sombrio e condenando é sentir-se oprimido, com sentimentos do abandono e desespero.

    Como se cura um vício?

    Uma característica importante das campanhas anti-fumo foi o foco em crianças. Embora haja várias técnicas para se lidar com hábitos, a maioria dos peritos concorda que a melhor solução é nunca adquiri-los. Segue então que a melhor maneira de tratar o uso desnecessário do carro é, antes de tudo, nunca começar a usá-lo desnecessariamente.

    Um estudo feito na Inglaterra em 1995 descobriu que as crianças são tão dependentes dos carros quanto seus pais, pois 90 por cento das meninas e 75 por cento dos meninos disseram que encontrariam dificuldade em ajustar seu estilo de vida sem um carro. Tentativas devem ser feitas para impedir que gerações futuras se tornem viciadas em carro, é importante ter como alvo as crianças que ainda não assimilaram a propaganda pró-carro. O estudo sugere que, quando crianças atingem 13 anos, já está demasiado tarde; por meio de condicionamentos sociais elas já foram influenciadas pela cultura do automóvel.

    Estas e outras desafiadoras idéias estão presentes no artigo “Viciados em carros”, traduzido do original inglês “Hooked on cars”, que se encontra na Revista Carbusters.

    ————————————-

    Há outros textos e artigos acadêmicos nesta mesma linha, que considera o uso do carro como vício.

    Disponível na página da Transporte Ativo:
    * Como Curar a dependência do Carro.
    * Uma campanha que ensina a:
    Dieta de redução no uso do carro“.

    Em Inglês:
    * Autoholicos Anônimos.
    * Dez Maneiras de Reduzir a Dependência do Automóvel.

    Três indicações bibliográficas também em inglês:

    * Kicking the habit – part 1
    Kicking the habit – part 2
    * The most dangerous addiction of all: the car
    * Driving passion

    Pesquisa Ciclística

    [photopress:pesquisa_pedala.gif,full,centered]

    Imagem Divulgação

    Uma empresa de comunicação está fazendo um levantamento sobre o ciclismo urbano com a intenção de quantificar as necessidades e os hábitos de todos aqueles que objetivam viver numa cidade com menos tráfego, menos poluição e menos violência.

    Aos que pedalam, ou gostariam de pedalar mais em nossas cidades, fica o convite para responder a um breve questionário.