Existem mil receitas para adotar a bicicleta nas cidades

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Todas as cidades de dentro do carro são iguais. Afinal, o planejamento feito pela engenharia de tráfego transforma as ruas e avenidas em versões atravancadas de grandes rodovias. Um sonho global de cidade para pessoas é uma utopia genérica, mas que possibilita transformar o ambiente urbano com o uso de receitas locais.

Por seu tamanho e influência global, o Velo-City tem o poder de moldar o debate sobre mobilidade urbana em favor das bicicletas. Foi assim em Viena em 2013 com as zonas 30. Agora em 2016, em Taiwan já se fala na remoção total do trânsito motorizado de regiões centrais.

Quem vai a pé ou de bicicleta tem a real experiência urbana. Dá pra sentir a cordialidade do povo, a qualidade da infraestrutura. E as soluções utilizadas em Taipei refletem as transformações que a cidade está passando.

As transformações urbanas de Taipei

A organização dos espaços de cada cidade refletem a própria cultura do povo que ali vive. A paisagem é espelho e os problemas e soluções tem sempre que levar em conta as pessoas que irão compor o espaço construído.

O modelo norte-americano de amplos espaços de circulação para quem escolher motores aos poucos perde espaço para soluções em favor das pessoas, um momento de transição que emana das capitais européias, mas que precisa sempre de tempero local para funcionar.

Em Taipei, vultosos investimentos foram responsáveis por empilhar autopistas entre prédios. As rodovias elevadas estão lá, sólidas, mas sua destruição é símbolo da vontade de construir novos modelos urbanos.

Certamente não foi coincidência a divulgação de um belo vídeo do desmonte de um viaduto que fez ressurgir na paisagem um prédio histórico. Na prática, o pequeno trecho suprimido apenas trocou os automóveis de lugar, agora circulam junto ao chão e deixam o prédio em uma isolada ilha cercada de asfalto por todos os lados.

O momento de transição global para cidades que sejam novamente para as pessoas ainda tem um bom caminho pela frente. O consenso vindo do Velo-City de Taipei no entanto é que essa transição está claramente atrelada a limitação do acesso aos veículos motorizados.

Taipei, cidade compartilhada

semcalcada30O tecido urbano de Taipei tem três grandes componentes. Os longos e empilhados viadutos, as grandes avenidas e as vielas.

A segregação em benefício do fluxo motorizado é total nos viadutos. Nas grandes avenidas o asfalto pertence a quem usa motores e as calçadas, mesmo amplas, são compartilhadas pelo estacionamento de duas ruas rodas, ciclistas e pedestres.

Na última camada de tecido, ruas estreitas compartilhadas entre motorizados e pedestres. A infraestrutura construída mostra com clareza a lógica de que pedestres compartilham espaço com todos, motorizados e bicicletas.

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O tempo do pedestre é um componente fundamental na organização dos espaços de circulação. A velocidade motorizada e mesmo das bicicletas traz tensão para a caminhada e conflitos que tem os caminhantes como vítimas. Certamente a defesa da liberdade e tranquilidade para andar a pé é a utopia geral que se traduz na restrição absoluta da circulação motorizada em determinados espaços.

A atenção aos detalhes e a qualidade do acabamento da ciclovia compartilhada denunciam um cuidado com a infraestrutura que tanto faz falta às empreiteiras que fazem obras nas ruas  do Brasil.

A atenção aos detalhes e a qualidade do acabamento da ciclovia compartilhada denunciam um cuidado com a infraestrutura que tanto faz falta às empreiteiras que fazem obras nas ruas do Brasil.

A paixão pela bicicleta é o que nos move – Velo-City 2016

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O primeiro dia de Velo-City é o que dita o ritmo para os demais com a abertura oficial recheada de falas inspiradoras em painéis que reúnem todo o público presente ao evento. Em Taipei, nesse 27 de fevereiro de 2016 não foi diferente.

A maior inspiração para o público presente, em especial aos brasileiros, foi certamente a fala de King Liu presidente e fundador da Giant, maior fabricante mundial de bicicletas.

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Em sua fala o empresário mostrou que é “da bicicleta”. Atualmente com 82 anos, King Liu comemorou oito décadas de vida sobre pedais. Foram mais de 300 km cruzando a ilha Formosa (Taiwan).

Sua maior realização no entanto foi bancar a implementação do sistema de bicicletas públicas na capital taiwanesa, Taipei. Chamado de U-bike, o serviço é tão eficiente que conta com a aprovação de mais de 90% dos usuários.

Já durante o primeiro dia de evento, os participantes do Velo-City puderam testar as bicicletas e ficaram impressionados com a rapidez para destravar uma magrela e sair pedalando.

Foi preciso primeiro agir em favor da causa da bicicleta, com resultados vindo na esteira. Mesmo sem saber dos impactos possíveis de um sistema da bicis públicas, a Giant bancou a implementação. Os números hoje comprovam o acerto. Cidades com sistemas de compartilhamento pedalam mais e compram muito mais bicicletas.

A paixão pela bicicleta no entanto precisa no entanto ser integrada e é isso que faz a diferença e o sucesso de qualquer iniciativa. As bicicletas públicas de Taipei (e qualquer outro sistema) precisam de integração e, principalmente, estar acima das expectativas ao ser simples de ser utilizado, com bicicletas perfeitas e 24 horas no ar, 7 dias por semana.

Restrição ao espaço da mobilidade individual motorizada

Tema que esteve presente no painel de abertura e que se manteve forte ao longo do primeiro dia de Velo-City foi o da restrição ao uso do automóvel.

A cidade do futuro é a que conseguir ter 50% dos seus deslocamentos a pé ou em bicicleta, 40% através do uso de transporte público e os 10% restantes para as viagens individuais motorizadas. Administrar uma cidade hoje é portanto o desafio de adequar as políticas públicas para contemplar essa lógica.

As diretrizes do governo federal brasileiro inclusive já contemplam, em teoria, essa lógica. Resta colocar na prática os orçamentos para se adequarem à expansão de infraestrutura para beneficiar as pessoas nas cidades.

No painel “Urban Challenges for Smart Cities” (Desafios urbanos para cidades inteligentes) foram feitas apresentações de Xangai na China, Los Angeles nos EUA e Gronigen na Holanda, três cidades em estágios diferentes de transição para o futuro de humanização urbana.

Há um consenso mundial de que as cidades do futuro serão de restrição à mobilidade individual motorizada e de promoção ao uso eficiente dos espaços de circulação em benefício das pessoas tendo ainda o incremento de espaços públicos de qualidade.

Até mesmo em Los Angeles o caminho para aumentar o número de pedestres e ciclistas é por meio de políticas de restrição ao uso dos automóveis. Já em Gronigen, na Holanda todo o centro histórico é inacessível para quem está de carro.

As resistências estarão sempre presentes em qualquer implementação que beneficia as pessoas. Mas depois das melhorias consolidadas, o resultado é que as pessoas não querem voltar ao passado de privilégio motorizado.

O uso de dados para favorecer a bicicleta

No painel “The Data we Have, The Data we Use” (Os dados que temos, os dados que usamos), foi apontada a necessidade para que quem planeja para a bicicleta, quem promove seu uso e que administra precisa trabalhar junto. A produção de dados atualizados e confiáveis é a melhor maneira de apontar os rumos da implementação de infraestruturas cicloviárias e corrigir eventuais desvios ao longo da trajetória.

Resumão do primeiro dia de Velo-City 2016, Taipei

Renata Falzoni, do Bike é Legal conduziu um bate-papo com a delegação brasileira presente ao Velo-City desse ano:

Leia mais:

VELO-CITY GLOBAL TAIPEI 2016 – DAY 01
Menos Carros = Mais Espaço para Pessoas – Velo-City 2016

Maior encontro sobre mobilidade em bicicletas do mundo será no Rio em 2018

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Maior evento sobre mobilidade em bicicletas do mundo, a conferência Velo City Global acontecerá no Rio de Janeiro em 2018. Será a primeira vez que o evento será realizado na América do Sul.

Organizado pela Federação Européia de Ciclismo (ECF – European Cycling Federation) o congresso tornou-se global a partir de 2010 e acontece a cada dois anos em cidades  que promovem o uso da bicicleta. São cerca de 4 dias em que técnicos e políticos da administração, empresários e membros da sociedade civil vindos do mundo todo reunem-se para discutir soluções para promover a cultura ciclística e as pedaladas como meio de transporte.

Velo City Global 2018 Rio de Janeiro

O Velo City Rio 2018 é o coroamento de uma longa trajetória que começou em 2007 com a primeira participação de uma delegação brasileira no encontro. Em Munique 2007 já ficou clara a importância de trazer um evento desse porte para o Brasil. Nós da TA levamos as primeiras conversar a sério e desde então pedalamos para ter um Velo City brasileiro e carioca.

Em 2010, no primeiro Velo City Global, em Copenhagen, o assunto voltou a tona entre a delegação Brasileira e ganhou força. O Rio de Janeiro pleiteou sediar a edição 2014, chegando a ficar entre as 3 possíveis sedes, mas a escolhida acabou sendo Adelaide na Austrália.

Durante o Bici Rio 2015, a possibilidade da cidade sediar o evento foi apresentada pela ECF e logo virou notícia. Ao todo, foram mais de 6 anos nos quais a Prefeitura do Rio e a entidade organizadora dialogam para realização o Velo City na cidade, foram diversas reuniões, idas e vindas até o anúncio  que oficializou o nascimento do Velo City Global 2018 Rio de Janeiro.

Esse é apenas o começo. Nos próximos 2 anos, prefeitura, iniciativa privada, ECF toda a sociedade civil, que trabalha em prol da mobilidade em bicicleta irão trabalhar juntas para para realizar este grande encontro do ciclismo.

São esperadas cerca de três mil pessoas, direta e indiretamente, de diversas cidades do mundo que, em um período de quatro dias, em junho de 2018, se reunirão para debater todos os temas relacionados à “magrela” tais como ciclovias, ciclofaixas, infraestrutura, negócios, logística, segurança, lazer, saúde, cultura e inclusão.

Com informações Diário Oficial do Município

Bicicleta, potência mundial – #BrasilnoVelocity

 

Os temas do Velo-City 2015 foram desde infraestrutura cicloviária até cultura da bicicleta, como era fisicamente impossível participar de todas as mesas e debates, resta resumir dentro das limitações pessoais. Estiveram presentes representantes da sociedade civil, governos, universades e do mercado. No total, foram cerca de 1.500 inscritos de 60 países, unidos para discutir o futuro da bicicleta. Recorde de participação que o Brasil ajudou a impulsionar.

Plenária de abertura de bicicleta rumo à COP21

Mesmo diante da grandeza do evento e a preponderante presença européia, o Velo-City e a bicicleta ainda são temas à margem de grandes discussões globais. O desafio de incluir a bicicleta é portanto mundial. A Federação Européia de Ciclismo (ECF) é a responsável pelo Velo-City. Manfred Neun, presidente da Federação, abriu a conferência propondo o desafio de colocar a bicicleta no patamar central que ela merece como veículo capaz de construir o futuro que almejamos.

Nantes é parte do protagonismo francês em 2015. Em dezembro acontecerá em Paris a COP 21 quando, espera-se, a ONU adote suas novas metas de desenvolvimento sustentável. Para preocupação e tristeza de quem promove a bicicleta, as magrelas seguem ausentas na agenda das Nações Unidas.

Outra apresentação de destaque coube a Michael Cramer, membro do comitê de Transporte e Turismo do Parlamento Europeu. Além de ressaltar que 90% das viagens dentro das cidades são feitas em distâncias menores do que 6km, Cramer resaltou ainda que 50% das entregas, ou “viagens de logística” podem ser realizadas em bicicletas de carga. Copacabana está aí para ser exemplo mundial.

O principal destaque do depoimento do deputado no entanto foi relativo a outros números. Em uma comparação fácil de entender, Cramer deu a dimensão do tamanho do mercado europeu de cicloturismo, 44 bilhões de Euros/ano comparável aos 42bi do mercado de cruzeiros. A dimensão do problema está que quando se demanda investimentos em infraestrutura para receber grandes navios, 2bi é um orçamento possível para ampliar um porto, mas 20 milhões é uma quantia grande demais para se construir ciclovias.

A qualidade e quantidade do dinheiro que circula nas bicicletas pelas estradas mundo afora é apenas um oceano de dinheiro que ainda permanece invisível como potencial transformador das bicicletas.

O Hangout com Renata Falzoni e o #BrasilnoVelocity tem mais informações sobre esse dia:

Um grande desfile – Velo Parade

O Velo-City é acima de tudo para inspirar, e a pedalada de milhares de pessoas pelas ruas e avenidas de Nantes foi o encerramento perfeito para o segundo dia da conferência. Sob o sol da primavera francesa, a cidade de Nantes transformou suas vielas e suas grandes avenidas em uma grande festa em duas rodas.

Mesmo para quem não entende francês, o vídeo abaixo dá uma dimensão em imagens do que rolou:

Um outro vídeo mostra a Velo Parade em um drone.

Saiba mais:

Os bate-papos diários do #BrasilnoVelocity na página Bike é Legal.
Uma visão brasileira do Velo-City 2015, por Renata Falzoni
Velo-city 2015 Day 2 round-up – Wednesday, 3 June

#BrasilnoVelocity – as expectativas

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Começou o Velo City 2015 – Nantes, será a maior delegação brasileira nessa que é a mais importante conferência sobre mobilidade em bicicleta no mundo. Nunca fomos tantos presentes nem tantas participações no programa.

São centenas de apresentações, impossível estar presente a todas, mas a missão dos brasileiros aqui em Nantes é assistir ao maior número possível delas e compartilhar o conhecimento. As informações serão diariamente compartilhadas através de um Hangout, uma parceria Bike é legal, Bike Anjo e Transporte Ativo.

Confira como foi o primeiro Hangout #BrasilnoVelocity:

Ter acesso ao conhecimento e trazê-lo para nosso país irá fortalecer nossa busca por cidades mais amigas das bicicletas.
O Velo City é a experiência de viver por alguns dias um mundo que sonhamos, o ambiente, a cidade, as cabeças pensando bicicletas durante todo o tempo. É possível encontrar desde o ativista ao técnico, passando por políticos, administradores, empresários, todos com o mesmo objetivo, conhecer as tendências, o que vem funcionando e o que não, no mercado, nos gabinetes, nas ruas, uma enxurrada de informações e folhetos.

Transporte Ativo no Velo-City

Nantes será o sexto Velo City em que estivemos presentes. A cada um, importantes mudanças ocorreram na vida da organização e no Rio de Janeiro, certamente acontecerá com todos os presentes, nunca mais serão os mesmos. Pra quem pensa a mobilidade por bicicletas a experiência é sempre um marco.

Que a partir daqui possamos transformar nosso país e nossas cidades, como vem acontecendo com o Rio desde o meu primeiro Velo City em 2007.

Saiba mais:

Confira a programação completa do Velo-City 2015 (em inglês, ou francês)

Cobertura direta de Nantes – Bike é Legal