Cariocas, preparem-se para as Olimpíadas

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O dia 05 de agosto de 2016 marca o fim de 2500 dias de preparação Olímpica da cidade do Rio de Janeiro. Nesses quase 7 anos, a cidade teve um viaduto a menos, a volta do bonde, corredores exclusivos para os ônibus e uma grande reordenação das linhas. Além é claro de dezenas de outras grandes obras.

Muito mudou no Brasil e no Rio desde outubro de 2009 quando em festa nacional, a Cidade Maravilhosa tornou-se a primeira da América do Sul a ser palco da maior celebração do esporte no mundo. O primeiro à chegar no entanto, foi o “Imprevisível de Almeida”, parente próximo do “Sobrenatural de Almeida” de Nelson Rodrigues. Com ele vieram os atrasos nas obras, a crise política, a econômica e todas as manchetes negativas que circularam antes das Olimpíadas.

Os desafios da população no entanto estão concentrados justamente no período das competições. Entre 5 e 21 de agosto mais do que cidade, o Rio de Janeiro será palco. Mas ao contrário do teatro, nem tudo se resume ao público e as estrelas do espetáculo.

A recomendação oficial é que o carioca deve “evitar transitar”. Face a uma recomendação tão drástica, fica esquecido o óbvio, sobre como a cidade precisa ser melhor para além das arenas e cartões postais. Nos feriados olímpicos, as pessoas “devem aproveitar o feriado sem grandes deslocamentos, preferindo ficar em casa ou curtir o lazer perto de onde moram”. Ou seja, é preciso viver uma cidade na escala humana.

É preciso planejar

Circular de carro no Rio de Janeiro é uma opção rotineiramente ruim, no caso excepcional das Olimpíadas, é ainda pior. As “faixas olímpicas” já provaram ao que vieram. Antes mesmo da cerimônia de abertura o Rio já detinha um honroso quarto lugar no ranking de piores congestionamentos do mundo, com espaço reservado para a circulação motorizada da “família Olímpica”, os cariocas se tornaram o morador da casa que passa a dormir no sofá para receber a visita especial. A recomendação óbvia portanto, é simplesmente guardar as “poltronas motorizadas” na garagem.

Ainda assim a circulação livre, nem mesmo de bicicleta, grandes interdições nas ruas estão previstas para todas as regiões. Por isso é fundamental acessar o roteiro de alterações no trânsito disponibilizado pela prefeitura.

O guia do torcedor Olímpico ciclista

Com base no Mapa Cicloviário do Rio de Janeiro, plotamos todos os bicicletários próximos a alguns dos locais dos jogos. Basta clicar nas imagens acima e conferir que muitas vezes a bicicleta deixa o torcedor mais perto que o transporte público.

Aproveite os espaços que vão se abrir

Interdições no entanto tem um aspecto fundamental que sempre beneficia quem pedala, são aberturas involuntárias das ruas para as pessoas. Circular nos ônibus e no metrô pode variar entre complexo até simplesmente impossível, dadas as restrições impostas aos “sem ingresso”

Talvez melhor do que ruas e avenidas abertas temporariamente, o carioca pode também aproveitar as provas de rua ao ar livre. Vai ter ciclismo de estrada, contra-relógio, maratona além de competições náuticas.

Promovam a bicicleta

Veículo individual, a bicicleta é solução perfeita para momentos complicados de circulação, é portanto fundamental espalhar os benefícios para mais pessoas, esse sim um legado Olímpico que podemos entregar. Primeiro passo é saber que para muitos eventos, vai ser mais fácil chegar em bicicleta e estacionar nos bicicletários já existentes do que contar com o transporte público. Para isso, o mapa cicloviário é a solução.

Para quem não é espectador, as atividades não-olímpicas serão muito mais simples de serem feitas em bicicleta. Seja o deslocamento cotidiano para quem não teve férias, quanto as outras pequenas viagens para compras e lazer.

A bicicleta para além do esporte

Ciclismo de estrada, contrarrelógio, BMX, Mountain Bike e diversas provas na pista irão merecer muitas medalhas, mas um evento paralelo e aberto irá discutir mais do que as competições em duas rodas. A Transporte Ativo participará ativamente do Shimano Lounge, que acontece de 02 a 21 de agosto no Hotel Tulip Inn em São Conrado. Confira nossa agenda:

Dia 8 de agosto 2016 – Segunda-Feira:
17 as 18hs e 18 as 19hs
“Mobilidade por Bicicletas no Rio, no Brasil e no Mundo, as Bicicletas para além do Esporte“

Dias 16 e 17 de agosto 2016 – Terça e Quarta-feira:
18 as 19hs
“Perfil do Ciclista Urbano Brasileiro”

Dia 20 de agosto 2016 – Sábado:
18 as 19hs e 19 as 20hs
“Mobilidade por Bicicletas no Rio, no Brasil e no Mundo, as Bicicletas para além do Esporte“

Saiba mais:

Paes pede que carioca evite transitar pelo Rio nesta sexta
O Brasil chega à Olimpíada sem cara
Faixas olímpicas causam congestionamentos e mais de 200 multas no Rio
Rio 2016 – Mobilidade
“Bike vai ser o melhor transporte durante a Olimpíada”
Shimano Lounge

Esse post se inspirou nas recomendações ciclísticas para Londres 2012.

Bicicleta nas Olimpíadas, é possível incluir?

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Olímpiadas Rio 2016 prestes a começar e a cidade prepara-se para sentir os impactos de um mês completamente diferente. Espalham-se mensagens de restrição à circulação. Pede-se ao carioca que evite determinadas regiões.

A novidade talvez, e que gerou mais revolta, é que até mesmo as bicicletas aparentemente não serão bem vindas durante os jogos. Ao menos foi essa a mensagem divulgada em e-mail direcionado a quem comprou ingressos.

Captura de tela de email da organização dos Jogos.

Captura de tela de e-mail da organização dos Jogos Olímpicos.

A importância de uma mobilidade focada em incentivos é uma das lições olímpicas que certamente ainda não foi compreendida. É preciso deixar de lado as políticas de punição e cerceamento para pensar nas melhores maneiras de ajudar quem se diverte e trabalha durante os jogos, com direito a um legado positivo para a população quando a festa acabar.

Legado Olímpico nos transportes

Na atual configuração da região metropolitana do Rio de Janeiro, todos os anos são perdidos R$ 19 bilhões nos congestionamentos, ou seja, 5,9% de tudo que é produzido na região se perde em um sistema ineficiente de transportes. Esse valor é quase o dobro dos cerca de R$ 10,5 bilhões gastos nos 16 km de metrô construído para as Olimpíadas.

Com grandes cifras, o setor de transporte é muitas vezes apenas uma máquina de espalhar concreto, asfalto e trilhos para, ao final, apenas enxugar gelo. O motivo é justamente a falta de um olhar para o que deve ser mais incentivado.

Grandes avenidas com BRT, expansões viárias e até mesmo grandes sistemas de transporte sobre trilhos tem dois efeitos claros já no curto prazo: aumentam o número de viagens e principalmente as distâncias possíveis de serem percorridas.

A nova linha de metrô que conecta a Barra até Ipanema deverá levar diariamente cerca de 300 mil cariocas mais rápido, mas a distância física entre as moradias e os empregos persistirá.

Segue-se um caminho que trata a cidade como espaço a ser percorrido, quando já deveríamos estar no estágio de buscar viver com qualidade dentro do tecido urbano.

Justamente na bicicleta está o segredo para essa transição e os desafios dos mega eventos na inclusão da mobilidade ativa é apenas uma versão concentrada do desafio cotidiano de promover cidades melhores para as pessoas.

Pedestres e Bicicletas nos mega eventos – Alemanha 2006

Todo mega evento só existe com uma enorme concentração de pessoas. Seja Copa do Mundo ou Olimpíadas, os pedestres serão necessariamente bem vindos. Afinal, os únicos lugares que precisam de acesso dedicado para motorizados são cinemas drive-in e oficinas mecânicas.

Em 2006 a Alemanha foi exemplo no cuidado com pedestres promovendo infraestrutura para a caminhada que fosse agradável e convidativa nos acessos aos estádios. Sobraram bons exemplos com até 10.000 fãs caminhando até 5 km para assistir as partidas.

Investimentos e facilidades para pedestres foram a garantia de uma mobilidade mais eficiente e de menor impacto. Do total de viagens até os locais de jogos em todas as cidades, cerca de 75% foram feitas por transporte público, a pé ou em bicicleta. Os outros 25% foram convidados de honra, VIPs e jornalistas, todos com direito a estacionamento exclusivo muito próximo ao gramado.

No entanto, a exemplar política alemã para mega eventos e a vontade de mitigar impactos negativos do transporte fizeram pouco para atrair pessoas em bicicletas para os estádios. Em média 200 pessoas pedalaram para cada jogo, com picos de no máximo 700, números muito pouco expressivos.

Londres 2012, ainda longe de ser exemplar

Há quatro anos a capital britânica já vivia um grande aumento do uso da bicicleta, que trouxe consigo o crescimento do número de ativistas e defensores da mobilidade ativa. Natural portanto que Londres 2012 já tenha visto a pressão de grupos de ciclistas por incentivos para pedalar até as competições.

Aviso de remoção de bicicletas em zona de exclusão.

Aviso de remoção de bicicletas em zona de exclusão na Olimpíada de Londres 2012.

A realidade foi um pouco diferente e a contribuição dos grupos organizados em favor da bicicleta foi justamente buscar maneiras de contornar os congestionamentos olímpicos e também de tentar acessar os locais dos jogos pedalando.

Interdições, zonas de exclusão, pistas exclusivas para os carros e ônibus da família olímpica. Os londrinos viveram tudo isso e os benefícios da bicicleta se tornaram óbvios para mais pessoas. Afinal o congestionamento é também um fator de incentivo à mobilidade ativa.

Sistema de bicicleta pública não funcionou durante Londres 2012

Sistema de bicicleta pública não funcionou durante Londres 2012

Bicicleta na Rio 2016, o que ainda é possível fazer?

Preocupações de segurança e mesmo a enorme concentração de pessoas fazem de mega eventos momentos de criação de zonas de exclusão. Em geral, ao redor dos estádios só entra quem tem ingresso e apenas caminhando.

Para assistir às competições ainda é preciso passar por detectores de metais etc. A própria natureza de procedimentos de segurança rígidos já excluem a mobilidade ativa por patins, skate ou patinete.

Bicicleta excluída, será?

Bicicleta excluída, será?

A bicicleta ainda tem uma pequena brecha. Apesar da falta de incentivos é possível chegar mais perto em diversos locais de competição em bicicleta, do que através do transporte público. A quem quiser ir pedalando basta levar boas trancas, estacionar fora da zona de exclusão e seguir a pé o resto do caminho.

A bicicleta dará uma grande contribuição quase involuntária durante as Olimpíadas. Com as diversas restrições à mobilidade motorizada, pedalar durante os Jogos será a melhor maneira de se manter imune aos já previstos congestionamentos olímpicos.

Pedalemos portanto.

Saiba mais: