Vermelha ou Azul

Certas opções levam a caminhos sem volta. A velha fábula reiventada da pílula azul ou vermelha, a verdade sobre o mundo ou a ignorância sobre tudo que nos cerca.

Usar a bicicleta no cotidiano é uma decisão que muda para sempre a percepção da realidade urbana. Ao mesmo tempo é um transporte individual, mas sem custos fixos proibitivos. Portanto aos poucos quem pedala vai mais e mais se envolvendo com a magrela, começa a depender dela para ir a todos os cantos, não consegue mais viver sem.

A cidade e seus problemas se mostram plenos e daí nasce a necessidade de mudar o ambiente, viver num mundo mais adequado ao trânsito de pessoas. A tendência é de que devagar e sempre mais pessoas optam pela pílula vermelha.

No dia em que a maioria da população estiver sensibilizada para as imbatíveis vantagens da bicicleta que todo ciclista conhece não haverão mais comprimidos a serem tomados. Afinal, a bicicleta apesar de todos os seus poderes não é o messias.

Que o futuro seja azul e sempre em movimento.

  • Mais

O Messias das Pílulas Azul ou Vermelha é Neo do filme Matrix.

Ciclos do Diamante

Uma viagem de bicicleta durante 7 dias pela Serra Geral (do Espinhaço), no Norte de Minas. Agora, quase 12 meses depois, ficou pronta a página que mistura muitas fotos com bastante informação sobre a cicloviagem e as cidades visitadas.

Só para aguçar a curiosidade:

– Itacambira, primeira cidade, foi uma feitoria do bandeirante Fernão Dias. A cidade fica incrustada na Serra Resplandecente. Uma serra lendária que brilhava ouro e esmeraldas e que atraiu o bandeirante para a região.

– A Lagoa Vapabussu fica ali. O terreno de quartzito da serra fez com que os corpos enterrados se mumificassem naturalmente; múmias na Matriz de Itacambira – a mesma igreja de batismo de Diadorim, que está nas últimas páginas do “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa.

Foram 7 dias na estrada, mas em aproximadamente 20 minutos pode-se ler tudo e ver algumas das fotos do trio. Vale o convite para os que tiverem a oportunidade algum dia, repitam a aventura. Pedalando serra acima, morro abaixo, vida adentro.

Visite a página da viagem “Ciclos do Diamante“.

“Não se tem onde se acostumar os olhos, toda firmeza se dissolve. Isto é assim. Desde o raiar da aurora, o sertão tonteia.”

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Emplacamento de Bicicletas

O assunto é bastante polêmico. Não há informações de países aonde o emplacamento de bicicletas seja obrigatório. Existem no entanto pontos localizados, até mesmo no Brasil, aonde as bicicletas tem de ser emplacadas obrigatoriamente. O exemplo mais notório é a cidade de Lorena no interior de São Paulo.

O argumento principal para justificar a medida é coibir o roubo. No entanto, mirando-se no exemplo dos veículos auto-motores, emplacar não coibiu que eles fossem alvo de ladrões. As desvantagens do emplacamento de bicicletas seriam mais taxas, mais burocracia. A imprudência de alguns colegas ciclistas, outra justificativa, pode ser combatida com educação ou apreensão do veículo e multa, mesmo sem placa, como já acontece em Santos e em Ubatuba.

Durante o Seminário “Bicicletas e a mobilidade Urbana no Brasil”, técnicos e especialistas de todo o Brasil puderam conhecer um pouco melhor a mobilidade por bicicleta na cidade paulista. Abaixo trechos de apresentações sobre Santos e Lorena e um pequeno relato sobre o seminário:

A CET-Santos, Rogério Crantschaninov, apresentou suas linhas de ação em infra-estrutura e educação. Dentre elas a sensacional blitz de fiscalização e educativa. Ciclistas infratores, nas ruas e ciclovias, são abordados e orientados a agir corretamente, aqueles que não acatam a orientação, são abordados mais a frente por outro grupo, comunicado por rádio, e o infrator será autuado pelo artigo 255 do CTB tendo sua bicicleta apreendida. A fiscalização visa principalmente o pedalar na contra-mão, avanço de sinais e pedalar nas calçadas. Os agentes de trânsito contam com apoio da PM nestas blitzes. Uma ação simples, barata e de grande eficácia educativa. Em Santos a fiscalização anda junto a educação.

[photopress:Untitled_1_1_2_3.jpg,full,pp_image]

Placa para ciclistas em Lorena, SP.

A palestra que mais causou polêmica no seminário, “Disciplinamento da Circulação das Bicicletas” com Marcelo Pazzini da Prefeitura de Lorena. Cidade aonde as bicicletas tem a obrigatoriedade do emplacamento. A palestra foi muito boa e foi bom conhecer mais de perto iniciativas deste tipo. São aproximadamente 80 mil habitantes para 70 mil bicicletas e pouco mais de 25 mil carros. Todas as bicicletas devem ser emplacadas, o emplacamento começou em janeiro e aproximadamente mil já estão emplacadas. Qualquer infração o infrator tem a bicicleta apreendida no ato sem direito a apelação ou recursos. As principais vantagens do sistema apresentadas por eles: diminuição de roubos; perfil dos ciclistas da cidade; regulamentação do veículo; disciplinamento do trânsito; auxílio na fiscalização; diminuição de acidentes e melhor harmonia no trânsito. Benefícios também tangíveis com outras medidas que não o emplacamento. A impressão que ficou foi de desconhecimento e discriminação da bicicleta e que a repressão antecedeu a educação, as pesquisas e mesmo a infra-estrutura.

No caso de Lorena, as bicicletas foram tratadas como vilãs, em Santos e Ubatuba elas são tratadas com respeito. No Rio de janeiro foi feito um estudo para analizar qual a melhor forma de regulamentar as bicis e a conclusão foram medidas semelhantes as de Santos e Ubatuba, educar e autuar sem a necessidade do emplacamento que é algo que sem dúvida iria inibir o uso de bicicletas, algo negativo sobre qualquer ponto de vista.

Na Europa, as bicicletas são multadas e apreendidas também sem a necessidade de placas. Holanda e Dinamarca, países campeões no uso da bicicleta como meio de transporte, também não emplacam sua bicicletas.

Dentre os grandes benefícios das bicicletas está a liberdade. Vantagem que diminui com o emplacamento. Na Espanha existe um cadastramento voluntário de bicicletas feito por uma organização local. Seu objetivo é coibir o roubo mas só cadastra quem quer, como no projeto-lei 5368/2005 que foi arquivado aqui no Brasil.
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=288137

Ainda restou mais uma dúvida em relação a Lorena, não esclarecida pelos representantes locais no seminário, como seria para o cicloturista em passagem pela cidade.

  • Mais:

> Seminário ANTP “Bicicletas e a mobilidade Urbana no Brasil

> Matéria no programa Raio X com Renata Falzoni fala sobre Santos e seu sistema cicloviário.

> Vídeo institucional de Ubatuba e seu sistema cicloviário.

> Noticia de maio de 2006 sobre o emplacamento em Lorena.

Pólo Urbano

A popularização da bicicleta na mobilidade individual contribuiu para que o cavalo tivesse uma presença cada vez menor nas cidades e vilas ao redor do mundo. Hoje a propulsão por tração animal é raridade na maioria das cidades e proibida em muitos casos.

Há no entanto uma aura de glamour ao redor dos cavalos que são utilizados na prática esportiva. As duas rodas à propulsão humana no entanto também estão presentes nesse esporte inusitado que é o bici-pólo. Geralmente é jogado por entregadores de bicicleta em grandes cidades da América do Norte. O esporte envolve ainda o reaproveitamento de sucata para a confecção dos tacos, além da preferência por bicicletas sem marcha ou roda livre.

Um vídeo convida para a participação da edição de Chicago, realizada na grama.

  • Mais

> Versão urbana do pólo é febre em Nova York

Gentileza gera Gentileza

Nos anos de 1970 um andarilho cruzou diversas vezes a cidade do Rio de Janeiro. Levava palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Tornou-se conhecido como o Profeta Gentileza e sua mensagem maior pode ser traduzida pela expressão:

gentileza

Estão marcadas em 56 pilastras de um viaduto carioca muitas das palavras desse andarilho. O local é inóspito e tem um fluxo de pedestres pequeno ao longo do percurso de 1,5 km por onde se estendem as pinturas.

A mensagam no entanto não é tanto para ser lida, mas para ser vivida. O local escolhido não poderia ser mais emblemático. Afinal, o trânsito das grandes cidades muitas vezes é conhecido por fazer aflorar nas pessoas momentos que em nada lembram a máxima de que a gentileza é atitude capaz de gerar um círculo virtuoso.

Montado nas rodas de uma bicicleta o ciclista é certamente o mais capaz de impulsionar a gentileza tão necessária no trânsito de nossas cidades. Respeito ao pedestre antes de mais nada, um sorriso ao motorista preso no engarrafamento, um agradecimento aquele que cede passagem. Todas atitudes simples que certamente colaboram para melhorar a vida de todos, uma gentileza de cada vez.

  • Mais

José Datrino, Profeta de Gentileza
Profeta Gentileza na wikipedia.