Segurança dos Ocupantes

DSC01310

Os ocupantes de automóveis no Brasil devem em breve ficar mais seguros. Caso seja aprovada, a “Lei do Air Bag” irá garantir a segurança de quem estiver dentro do carro. No entanto um detalhe chama a atenção. Os testes de colisão realizados para comprovar a segurança dos passageiros são feitos a uma velocidade de 48 km/h.

Conclui-se portanto que velocidades acima desse limite são mais perigosas mesmo para quem está dentro de um veículo motorizado e extremamente bem protegido com a mais alta tecnologia.

Cálculos feitos pelo Cesvi (Centro de Experimentação em Segurança Viária) indicam que R$ 2,2 bilhões de reais em despesas médicas e 3.426 vidas poderiam ter sido salvas caso o air bag já fosse obrigatório em todos os automóveis brasileiros. No entanto, milhares de vidas continuam a ser perdidas no Brasil por conta dos limites de velocidade em nossas ruas. Dentro dos perímetros urbanos brasileiros é possível trafegar legalmente a velocidades de até 90 km/h em pistas expressas ou de até 70 km/h em avenidas com grande afluxo de pedestres. É permitido até transitar a 60 km/h em ruas repletas de pessoas caminhando em calçadas estreitas.

Proteger os ocupantes dos veículos motorizados irá certamente contribuir para salvar vidas e diminuir prejuízos. No entanto, uma medida mais benéfica ainda precisa ser feita. Uma que vá de encontro ao modelo europeu copiado no Brasil no que tange os air bags. Precisamos de limites de velocidade mais baixos em nossas ruas e avenidas. Na Europa automóveis circulam a no máximo 50 km/h dentro das cidades com locais onde devem ir ainda mais devagar.

Veículos motorizados que trafegam mais lentamente trazem duas consequências, segurança viária e por vezes aumento da velocidade média do trânsito em geral. No anda e para das cidades brasileiras, limites de velocidade máxima mais baixos podem inclusive contribuir para aumentar a velocidade média das vias saturadas.

—-
Mais:
Contra a Velocidade, a favor da vida (apocalipse motorizado).
Potêncial de Efetividade do Air Bag (PDF – Cesvi Brasil).

Diferença entre Ter e Usar

DSC07003a

O consumo deixa cada vez mais de ser baseado em “ter”. Passa a ser mais importante um modelo de negócios voltado à função das coisas. O pensamento das empresas sai portanto da lógica de comercializar bens físicos para buscar atender as necessidades do cliente de uma maneira integrada.

Dentro desse contexto, as bicicletas públicas são uma tendência que não se resume as magrelas e a mobilidade em geral. Trata-se de uma aplicação, nas ruas. A satisfação de ir e vir com total liberdade encarada através de um novo olhar.

Ter e manter uma bicicleta tem um custo, ciclistas inveterados normalmente tem até mais do que uma bicicleta. No entanto para usos eventuais e para quem não quer se preocupar em manter sua bici, a mobilidade em duas rodas se traduz no compartilhamento. Um modelo de uso para as magrelas que representa o nascimento de um novo modo de transporte público, bem como uma exemplificação exemplar de um modelo econômico em dia com a sustentabilidade.

Mais:
Bicicletas Públicas
Velha Mobilidade
Product service system – Wikipedia (em inglês)

Mercado de Bicicletas no Brasil

Os números mais precisos em relação ao tamanho da frota levam em conta a produção industrial e a durabilidade média das bicicletas, que é de 10 anos. Segundo dados da Abraciclo, a produção industrial de 1998 a 2008 vai somar 51,8 milhões de veículos.

Contudo, este total é subestimado, pois a vida média de uma bicicleta pode ser maior que 10 anos. Um fabricante nacional dá garantia até 2020 para os quadros das suas bicicletas. Além disso, a soma leva em conta apenas a produção registrada pela indústria formal. Os fabricantes de coroas para bicicleta afirmam produzir mais de 13 milhões de unidades/ano, mais que o dobro da produção formal de bicicletas (confira a pág. 27 do Caderno de referência para elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades do Ministério das Cidades).
Assumindo que 30% das coroas se destine a consertos ou manutenção de estoques, estima-se que o número de bicicletas produzidas no Brasil nos últimos 10 anos estaria em torno de 90 milhões.

Então, para calcular a frota de bicicletas no Brasil, partimos dos números precisos da Abraciclo, 51,8 milhões. Calculamos, por baixo, uma produção informal igual a 50% da produção formal. Com isto, em nossos estudos e previsões, trabalhamos com uma frota atual de 76 milhões de bicicletas no Brasil.

Números tão expressivos mostram que a mobilidade no Brasil apresenta uma demanda reprimida para o uso da bicicleta, já que apenas parte desta frota está nas ruas circulando diariamente.


Mais: Reflexões sobre o Mercado de Bicicletas.

Bicicletas são bem vindas em Brasília também

Embora o projeto inicial do Plano Piloto fosse centrado nas pessoas e no conceito de vizinhança, por interesses pouco revelados Brasília passou a ser conhecida como “a cidade planejada para automóveis”. Com o tempo esta cultura foi se cristalizando na cidade, e as vias largas da cidade alimentam o sonho idílico de todos os motoristas visitantes. Os habitantes de Brasília não têm pernas, têm quatro rodas, diz a lenda que também é um mito. Mas hoje, com um milhão de carros nas ruas, o sonho está se tornando pesadelo, e a cidade já enfrenta os mesmos problemas de outras megalópoles.

Muitas bicicletas andam pelas ruas de Brasília. Espelhando aquele mito, muitas pessoas, empresas e órgãos públicos insistem em não enxergar esta realidade. O exemplo mais óbvio disto é que nenhum shopping da cidade permite estacionamento de bicicleta, ou tem local apropriado para isto. Alguns chegam até a expulsar ciclistas…

Não permitia!! A recente instalação de um bicicletário pelo Brasília Shopping é uma iniciativa pioneira e inovadora em todos os sentidos.
bsb_shopping2

Localizado no piso G1 da garagem, o bicicletário foi instalado há pouco mais de um mês. A administração do Brasília Shopping também vai implantar sinalizações indicativas e de segurança.

bsb_shopping

O local é bom e tem suportes confiáveis para prender as bicicletas. O acesso ao bicicletário é pago, cobrando das bicicletas a mesma tabela para carros. Isto pode ser melhorado com uma adaptação simples no sistema: basta carimbar os tíquetes das bicicletas e ter um código de cobrança com descontos.

Segundo a administração do shopping, o bicicletário insere-se dentro da já existente política de sustentabilidade do edifício e foi instalado para atender as demandas e expectativas do seu público cliente-alvo.

O Brasília Shopping está de parabéns por seu pioneirismo e por estar antenado na nova onda que está mudando a forma de ver e viver a cidade. Faz jus ao seu nome: Brasília é a cidade das vias largas sim, mas também das amplas calçadas, das imensas áreas verdes, dos Clubes de Vizinhaça, dos comércios locais voltados para as quadras residenciais próximas. Brasília das bicicletas!

—-
Saiba mais sobre o Rio de Janeiro e bicicletas nos Shoppings.

Reflexões sobre o Mercado de Bicicletas

Bicicletas dobráveis no Brasil são um “nicho de mercado”. As norte-americanas Dahon são uma das representantes. Fabricadas em Taiwan seguem da fábrica direto para o Brasil onde são vendidas a preços relativamente altos o que impossibilita que elas possam ser os veículos de transporte dos mais pobres que já usam a bicicleta.

Fabricante e importador têm o foco no uso como meio de transporte, mas por hora o sucesso maior é na Europa, onde as dobráveis são mais comuns. Além da China, maior mercado de bicicletas, onde 15% do total são dobráveis.

As que chegam ao Brasil hoje são todas importadas e a tarifação para as magrelas ainda as considera brinquedos. Isso faz com que o consumidor final de uma bicicleta importada pague até 60% do seu veículo em impostos. Vale ressaltar que a fabricação, importação e exportação de veículos motorizados ainda conta com inúmeros incentivos por parte do governo brasileiro.

A estrutura do comércio é outra dificuldade para o aumento das vendas de bicicletas em geral e das dobráveis especificamente. Os maiores revendedores são as bicicletarias que são pouco capitalizadas e incapazes portanto de fazer grandes pedidos e gerar economia de escala.

As ruas de nossas cidades ficam lotadas de veículos automotores parcelados à perder de vista, mas ainda não estão presentes os incentivos necessários para que os consumidores possam comprar boas bicicletas em mais do que 10 ou 12 vezes. Os custos em encargos financeiros inviabilizam ao pequeno comerciante oferecer condições vantajosas para quem não pode comprar a sua bici à vista.

O problema está dado, as bicicletas dobráveis são um nicho porque poucos compram ou porque não há oferta? A resposta pode estar nos 15% de mercado desse tipo de bicicleta na China. País com poder de compra equivalente ao do Brasil. Para que hajam mais e melhores bicicletas em nossas ruas, não se pode desprezar o fator macro-econômico.

Mais:
Carro de Branco, Bicicleta de Negro.

—–
Esse post foi escrito com a colaboração de Luis Felipe, sócio da Alternation, importadora das dobráveis Dahon e parceira da Transporte Ativo.