Retrospectiva: 3º Campeonato Sulamericano de Bike Polo

E esse bike polo é de comer, de vestir ou de pedalar? – É um esporte que já existe desde que o vovô do nosso vovô era garoto (pasme: foi até esporte olímpico), mas caiu no ostracismo. Nos anos 80 os entregadores em bicicleta, por falta do que fazer entre uma entrega e outra, trouxeram um novo fôlego ao esporte e assim houve sua revitalização. O gramado foi trocado pela quadra de solo rígido, algumas regras foram modificadas e hoje jogamos o que se chama de hardcourt bike polo. Cada partida tem 2 times em quadra. Os times possuem 3 jogadores munidos de taco e bicicleta no qual cada um desempenha o papel que preferir, não existe um goleiro designado (ainda que existam jogadores que preferem ficar no gol o jogo todo). Uma partida se encerra ao final de 5 minutos ou até que um dos times faça 5 gols.

Já ouvi alguém definir bike polo como a simples soma de bicicleta, mallet (ou taco, para quem não conhece) e cerveja. E pensando bem não haveria explicação melhor. O campeonato realizado em São Paulo em setembro de 2013 celebrou esse espírito de amizade e festa que é inerente ao esporte. Talvez seja porque é um esporte misto, ou porque é um esporte novo ou porque é praticado por uma horda de hipsters, mas seja qual for o motivo, todo campeonato tem essa atmosfera de farra. Mas não é por isso que a competição não é acirrada: os jogos foram disputadíssimos e quem subiu no pódio foram:

1º – Mala Pata – (Chile)
2º – Untitled – (Argentina)
3º – Hagame Famoso – (Colombia)

Os campeões da edição posterior do campeonato foram os paulistas Underdogs, que dessa vez só chegaram até o quarto lugar, representando o Brasil muitíssimo bem.

Uma novidade dessa edição foi o Interpolas, o primeiro torneio feminino latino americano de bike polo. Sim, é um esporte misto, entretanto ainda existe um número muito superior de homens no esporte. O Interpolas é uma tentativa de trazer mais mulheres para a quadra, assim como o Lady’s Army é na gringa. O nível dos jogos foi altíssimo e a premiação farta. E nesse torneio as brasileiras conseguiram destaque. A classificação foi:

1º – Tandera (Brasil)
2º – Pololas (Chile)
3º – Hit Girl (Argentina)

Terminados os jogos, conforme manda a tradição, foi realizada uma festa no espaço de co-working/oficina/bicicafé Las Magrelas. Terminada a festa, boa parte dos hermanos quis continuar a viagem e foram para o Rio de Janeiro e perpetuar o clima. Foram cerca de duas semanas seguidas de jogos e festas quase todos os dias.

Para quem quiser fazer parte desse clima boêmio/esportivo e arriscar umas tacadas na quadra, os jogos no Rio acontecem na quadra de tênis na Lagoa Rodrigo de Freitas localizada em frente ao Clube Monte Líbano toda terça e quinta às 21h30 e todo domingo às 18h. Em São Paulo os jogos acontecem próximos à quadra de basquete do Parque Ibirapuera às terças e quintas as 21h e domingo às 11h. Lembrando que poleiros são de açúcar, então se chover, os jogos são transferidos para outras quadras que sejam cobertas. Saiba mais nos grupos do facebook de bike polo do Rio de Janeiro e de Sampa.

E vale se preparar para 2014 na Colômbia.

 

Texto por Beatriz Folly, que é carioca, fundadora da marca de acessórios de urban commuting Psicodrome, jogadora de bike polo e fã de filmes de zumbi

 

Será que somos ciclistas?

Uma pergunta fundamental precisa ser feita regularmente, quem são afinal os “ciclistas”. Em geral a resposta é bastante direta, são seres quase especiais que por diversos motivos pedalam. Pode ser a definição do triatleta, do entregador da farmácia, de quem se deslocam até o trabalho, ou um pai ou mãe que aproveita a rapidez da bicicleta para deixar o filho na escola.

Ainda assim, o uso do termo costuma também designar a “tribo” dos ciclistas. Aqueles que tem paixão pelo esporte, necessidade pelo transporte ou utilizam a bicicleta como ferramenta profissional. E aí que reside um pequeno grande problema. Os “nichos” que buscam definir e compartimentalizar a existência humana e todas as suas atividades de maneira a afastar justamente o fator humano.

Vale experimentar definições mais claras. Pessoas a pé, pessoas de carro, pessoas de ônibus, pessoas em motocicletas, pessoas de patins, pessoas de skate e pessoas de bicicleta. Em todas essas últimas expressões o mais importante são justamente os seres humanos que optaram por um ou outro meio de transporte. Esse fato pode ser melhor exemplificado em uma releitura de estatísticas na mortalidade no trânsito.

Para cada número que fala de “pedestres” mortos em atropelamentos, certamente é mais grave a morte de “pessoas a pé” no trânsito. As maiores vítimas, frágeis por estarem a pé e por serem pessoas como todos nós. O mesmo se aplica aos “motociclistas”, “motoristas”, “ciclistas” etc. Para cada definição dessa natureza, é possível entender que “não faço parte desse grupo” e esquecer que cada número é uma vida.

Pela simplicidade e empatia que gera, é que temos especial apreço pelo nosso slogan: “por mais pessoas em mais bicicletas mais vezes”. Pouca diferença faz qual o nicho, subgrupo ou cultura pertence aquele que pedala, mas será sempre um ser humano que optou pela bicicleta. Ao priorizar as pessoas, daremos uma pedalada certeira em direção a uma humanização dos espaços em que essas pessoas vivem e circulam.

Dentro dessa lógica, querer aumentar o número de “ciclistas” pode parecer contra intuitivo para quem está de fora e até a defesa da vontade de um pequeno nicho de ativistas em detrimento da vontade da maioria. A definição do senso comum para “ciclista” costuma ser restritiva e para o “ciclista urbano” vir acompanhada de elogios distanciados. Comentários em geral elogiosos ao “ciclista” pela “coragem” em pedalar, seguida de uma desculpa genérica na linha de “não é para mim”. Ser uma pessoa que pedala portanto é uma quebra do senso comum que busca devolver a quem acredita na bicicleta como uma “nave especial nas ruas” uma resposta simples e inclusiva. Afinal, é preciso apenas tomar uma opção em pedalar para ser uma “pessoa em bicicleta”.

Certamente promover o uso da bicicleta passa menos por máquinas sem alma e mais por carne, osso e mentes que conduzem objetos sem vida.

– Esse texto foi inspirado na leitura do artigo: Can Saying “People on Bikes” Instead of “Cyclists” Make Biking Safer?

Bicicletas, skates e a força da lei

A polícia de Nova Iorque passou um grande vexame ao tentar coibir uma corrida informal de skatistas que acontece na cidade desde o ano 2.000. Começou como um pequeno grupo que chamou a aventura de “Broadway Bomb”.

Algumas poucas regras e lançaram-se às ruas. Até que em 2012, com milhares de participantes a iniciativa tornou-se ilegal e, com o devido amparo do judiciário, a polícia resolveu agir. As cenas de loucademia de polícia do vídeo acima mostram como quando a história são skates é preciso pensar fora da caixa.

Louvável a idéia dos policiais de “capturar” skatistas utilizando uma espécie de rede de arrastão nas ruas. Mas a reação óbvia da massa de surfistas do asfalto expôs ao ridículo os profissionais da segurança esperançosos em cumprir seu dever de garantir a lei e a ordem.

A criminalização de “usos alternativos das ruas” é certamente uma faceta cruel das cidades que se tornaram espaços para movimentos motorizados acima de todas as outras formas de circulação. O esforço em prol da manutenção de estágio das coisas por parte dos defensores da “lei e da ordem” tem seu lado cômico, mas também tem outros desdobramentos.

Na cidade de São Paulo o exemplo de criminalização das ruas tramita na Câmara de Vereadores. Imbuído de um discurso em defesa “da ordem” e do combate aos furtos e roubos de bicicleta um vereador optou por tirar da gaveta um estapafúrdio projeto de lei municipal que obriga o emplacamento de bicicletas e até o uso de “calçados apropriados” para pedalar.

A contra-mão da história infelizmente ainda segue seu rumo. Felizmente os skatistas de Nova Iorque estão aí para nos ensinar que as forças do passado são incapazes de segurar o movimento do mundo.

Bicicletas e furtos

Quando mais pessoas passam a optar por pedalar pode surgir uma consequência nem sempre imaginada, o aumento no furto de bicicletas. A afirmação soa até mesmo óbvia e beira o senso comum. Mas é preciso encará-la como mais um desafio.

Veículos baratos, simples, produzidos em larga escala e expostos em estacionamentos ao ar livre, as bicicletas furtadas são difíceis de serem encontradas ou até mesmo rastreadas. Pelo baixo preço e facilidade de reposição, os usuários costumam se preocupar pouco e além disso a facilidade do furto e o baixo custo inviabilizam seguros financeiros.

O exemplo de nações mais amigas da bicicleta dá a pista que toda a bicicleta eventualmente se torna um veículo “público”, ainda que de maneira forçada. Apenas um objeto que eventualmente terá de ser substituido por conta de um furto.

Mesmo em Londres e em toda a Holanda, por exemplo, as autoridades policiais declaram-se incapazes de solucionar o problema do furto de bicicletas. Recomendam medidas de prevenção por parte de quem pedala.

O primeiro passo certamente passa pela escolha de um bom local para estacionar, somado a trancas de qualidade. É importante ter a noção de que trancar bem a bicicleta é algo que tem um custo financeiro, na compra da tranca, de tempo, mas que funciona como o seguro da bicicleta. Uma conta aproximada é gastar 20% do valor de compra da bicicleta em trancas de qualidade (às vezes mais de uma pode ser fundamental).

Mas impactos mais duradouros que enfrentem o aumento nos furtos de bicicleta precisam de iniciativas mais amplas. O mercado paralelo cresce a medida que mais bicicletas entram no mercado formal, então onde houver pessoas pedalando, haverão pessoas que compram bicicletas de origem duvidosa. Campanhas de esclarecimento podem ser úteis e feitas pelo poder público ou pela sociedade civil (a imagem que ilustre esse post é exemplo disso). Medidas para coibir o mercado paralelo são sempre úteis, ainda que por sua própria natureza informal tornem esse mercado extremamente ágil em se adaptar.

Há portanto poucos motivos para esperar soluções coletivas para o problema dos furtos de bicicletas. Mas é importante fazer uma grande diferenciação entre os furtos e roubos no Brasil e em nações européias com grande uso da bicicleta. Enquanto por aqui é comum o roubo com uso de violência, na Europa o comum são apenas os furtos, um ilícito que passa longe de qualquer ameaça contra a integridade física das pessoas e que simplesmente aproveita a oportunidade de surripiar um bem alheio.

Nessa distinção entre roubos e furtos no Brasil e no exterior é preciso ter algumas pistas sobre como o abismo social brasileiro mostra sua face mais cruel. Por aqui ameaçar alguém para subtrair um bem material é algo corriqueiro. Já em países em que a diferença entre os muito ricos e os muito pobres é menor, a violência física para subtrair uma bicicleta é menos comum, pra não dizer inexistente.

Tem até sites para levantamentos de dados sobre violência urbana e pelos pontinhos no mapa, as bicicletas ainda são vítimas menos frequentes.

PechaKucha sobre bicicletas

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Apresentações rápidas, informais e diretas sobre um tema. Esse é o conceito do PechaKucha, um evento para discutir como redesenhar mentes e atitudes.

Todos estão convidados para trocar idéias, bater papo e terminar tudo com uma cerveja, suco ou mate bem gelado em mais um evento paralelo ao projeto Ciclo Rotas Centro.

Vai ser no Studio-X Rio nessa sexta 22 de novembro de 2013.

Quem estiver por lá, vai ter também sorteio de uma bicicleta Durban.

Confirme presença e saiba mais.