Aos pedais e ao trabalho

Churrasco sobre rodas

Esse que sorri é o Brito, tradicional churrasqueiro que atende seus clientes no bairro da Liberdade em São Paulo. A bicicleta cargueira tem apetrechos extras, duas caixas de isopor com gelo para as bebidas e a disposição de alimentar as pessoas que buscam comida barata estacionada na calçada.

Churrasco sobre rodas

Uma outra bicicleta tem pedais mas as rodas que giram não são capazes de tirar o ciclista da imobilidade. Trata-se de uma solução adaptada em que as pernas são o motor da máquina de amolar. Facas, tesouras, alicates de unha, tudo afiado com pedaladas.

Amolando com pedais

Duas maneiras de ganhar a vida, movidos pelas próprias forças.

Quem se importa com o aquecimento global?

A população humana cresceu exponencialmente durante o século XX e continua a crescer. Mas um estudo diz que se colocarmos na balança toda a população de formigas, elas pesam mais do que 6 bilhões de pessoas e consomem 5 vezes mais calorias. Interessante notar que elas são parte de um mundo finito e mesmo com o impacto que geram, sobrevivem. Geração após geração as formigas comem muito, reproduzem-se bastante, constroem cidades gigantescas e o planeta segue muito bem com elas.

Há algo de errado com os impactos negativos da humanidade, mais errado ainda desde a “revolução industrial”. A energia que passou a mover o homem deixou de ser a mesma biomassa que move as formigas e passou a vir de combustíveis fósseis. Esses combustíveis intensificaram o efeito estufa, e tudo o mais. O caos climático mostra suas garras, mas o medo de um mundo mais quente na média e desequilibrado como um todo não foi o suficiente para um tratado climático convincente. Nem em Quioto em 1997 ou Copenhague 2009.

Paira a pergunta: quem se importa com o aquecimento global? Países ricos querem se eximir das emissões, pobres querem poluir até ficarem ricos e nesse ínterim, o mundo esquenta. Talvez a melhor estratégia para combater o caos climático, seja deixá-lo de lado. Tratar o problema por um outro lado.

Estilos alternativos, que minimizam os impactos humanos negativos tem se tornado comum. Políticas públicas, privadas e particulares que alastrem e modos de vida condizentes com um planeta finito tem de ser promovidos e valorizados.

Seres humanos podem e sabem viver com menos. E menos não significa uma vida de privações, mas ter ao dispor mais bens duráveis e menos descartáveis. Ter mais máquinas que potencializem eficiências de toda natureza, gerar menos lixo, viver em cidades mais densas e com prédios mais de acordo com o ambiente local, etc.

O concreto e o aço que abriga a tantos e os combustíveis fósseis que transportam muitos estão aí, também estão presentes as energias renováveis e meios de transporte sustentáveis. A lição das formigas é simples, ou bem sabemos usar os recursos finitos do planeta de maneira inteligente, ou quando chegarem os efeitos do caos climático, os seres humanos serão como as cigarras que na abundância comemoram e na escassez sofrem e definham. Melhor para nós se soubermos ser um pouco mais como as formigas.

——
Leituras complementares:
Hitler, formigas e transições por Denis Russo Burgiermann – Há uma infestação de humanos na Terra e é isso a causa de todo o resto dos problemas.
Make it last, por Peter Egan. As habilidades de um holandês de dar durabilidade ao que ele já tinha.
Dinheiro? Para quê? por Rodrigo Turrer – O irlandês Mark Boyle viveu um ano sem um tostão para convencer o mundo de que dinheiro é bobagem.

Acertos e erros

O equilíbrio vem sempre do movimento, de seguir sempre em frente. Na história, já se chegou a pensar que o homem deveria ser controlado, tutelado e o certo era agir dentro do esperado. Felizmente a natureza humana, aquela que ninguém sabe direito qual é, prevaleceu. Conseguimos inserir o erro, o incerto e o imprevisto como algo que é inerente a tudo aquilo que é humano. Mas todo o erro, traz na sequência um acerto, mesmo que seja pequeno.

Talvez o grande acerto dos excessos do século XX, já esteja sendo corrigido ao longo do começo do século XXI. O progresso deixa aos poucos de ser sinônimo de destruição e expansão desenfreada. A felicidade vira aos poucos importante, para além da economia ou qualquer outra teoria. As cidades que foram pensadas em asfalto, concreto e aço aos poucos são modificadas para se adequarem as pessoas de carne e osso.

Felizmente ainda erraremos muito, mas é preciso deixarmos claro para nós mesmos a importância de procurar o caminho certo e a ajuda de quem estiver por perto. Assim como todos fizemos ao aprender a andar de bicicleta. Até quando formos capazes de andar sem as mãos, equilibrando-se apenas graças a inércia e ao movimento do próprio corpo.

Asfalto, flores e chuva

O asfalto molhado da Avenida Paulista foi coberto de pétalas de rosa. Uma homenagem a uma bicicleta que parou na avenida paulista, exatamente um ano atrás.

Mas foi apenas uma bicicleta que parou. A ciclista Márcia Prado, que estava na bicicleta continuou sua luta. Agora levada a campo por amigos, novos e antigos, que seguem pedalando na cidade de São Paulo e agindo para que pedalar seja uma atividade mais fácil e segura para cada vez mais paulistanos.

A Rota Cicloviária Márcia Prado faz parte desse esforço dos amigos para honrar a ciclista.

Cumpra-se

Dois vídeos, distantes no tempo e no espaço ajudam a comprovar a importância de atitudes dos ciclistas para garantir seus direitos. Em Nova Iorque recentemente uma lei foi aprovada que obriga estacionamentos para automóveis a aceitarem bicicletas. Munido de uma câmera, um ciclista foi fazer o teste.

O resultado reflete uma realidade mundial, sem fiscalização efetiva, qualquer lei é condenada a tornar-se letra morta.

Detalhe impressionante é que o funcionário do estacionamento pratica a embromação com grande classe. Confessa inclusive que informou aos fiscais da prefeitura que aceitava bicicletas. Aceita no discurso, mas quando confrontado pelo ciclista, informa que só poderá receber a bicicleta quando seus superiores definirem o preço a ser cobrado.

Depois do vídeo em inglês, uma versão carioca de um ativismo similar. Espera-se que em breve a moda pegue nos Estados Unidos e mais cidades tenham leis em favor do estacionamento de bicicleta. Além disso, que os ciclistas também estejam presentes para fortalecer o “cumpra-se”.

Leia no Streetsblog, em inglês, sobre o caso.A Media Player is required.Saiba mais sobre o estacionamento subterrâneo para bicicletas na Cinelândia.