Pelo fim do Cicloativismo

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Todos os dias, milhares de pessoas nas grandes cidades brasileiras pegam suas bicicletas e saem para as ruas. Seja qual for o propósito do uso da bicicleta, esses brasileiros recebem o adjetivo de ciclistas, alguns bicicleteiros. Mas antes de saírem de casa, espera-se que todos tenham escovado os dentes, e nenhum deles é chamado de “escovador de dentes”.

Temos hoje nas ruas um tipo diferente de ciclistas, são os cicloativistas. Aqueles que agem em prol da valorização do uso da bicicleta. As maneiras de agir são as mais variadas, mas o objetivo é sempre o mesmo. Colaborar para a boa imagem da bicicleta e convencer mais pessoas a utilizá-la.

Mas incrivelmente, não existem ativistas em prol da escovação dentária. Pais e mães, professoras e naturalmente os dentistas incentivam o uso das escovas de dentes, mas ninguém se define como ativista. A bicicleta cada vez ganha espaço como veículo de transporte, lazer e esporte. No entanto, para que esse uso se alastre melhor, uma atitude simples pode ser tomada, trocar o foco.

A marcha da promoção as bicicletas precisa sair da coroa pequena que gira muito sem alcançar velocidade. Precisamos ir mais rápido na coroa maior. Ativismo muitas vezes implica em confronto, negação e até mesmo uma visão pessimista da sociedade, focada nas dificuldades. Andar de bicicleta seja como for e para onde for deve ser encarado como a atividade prazerosa que é, capaz tornar as pessoas e as cidades mais felizes.

Inserir a bicicleta no cotidiano urbano irá eventualmente implicar na morte completa do cicloativismo e a transição para o foco total na promoção ao uso da bicicleta. Nos mesmos moldes propostos pelos dinamarqueses e a Embaixada das Bicicletas.

Copenhagen – City of Cyclists from Colville Andersen on Vimeo.

26 thoughts on “Pelo fim do Cicloativismo

  1. Simples e preciso. E por que não colocamos em prática? Esse espírito cicloativista, na minha opinião, é um dos problemas da bicicletada paulistana. Ativistas em geral se vêem na necessidade de convencer os outros. Necessidade de brigar e fazer barulho. Inegável que em alguns momentos isso é necessário. Inegável que coisas boas foram conquistadas. Mas andar de bicicleta é uma coisa muito natural. Essa mudança de foco é necessária.

  2. Me indentifiquei com o texto.
    Cultivar hábitos cotidianos saudáveis, mostrar na atitude a relaçao com o mundo que cada um quer. Sem nos limitarmos.

  3. Eu sou a favor da bicicleta sim, mas tem uma coisa que não é falado e é muito importante. Copenhague é uma cidade (muito) plana. Moro em São Paulo e já tive a oportunidade de andar de bicicleta tanto em São Paulo como em Copenhague. Acredite…. são experiências totalmente diferentes.
    Me parece que o pessoal, cicloativistas ou não, esquecem deste detalhe. Tentar convencer as pessoas a andar de bicicleta em uma cidade plana é uma coisa (acho que Ubatuba é um bom exemplo). Tentar convencer as pessoas a subir a Av. Rebouças, é outra!
    Bom… parabéns pelo blog novamente.

  4. O detalhe para o qual o post do Davi é importante. Mas, a experiência de pedalar em Londrina, Pr, uma cidade cheia de vales e rios urbanos me fez perceber uma coisa: toda vez que, dentro de uma bacia hidrográfica, pedalamos em ruas paralelas e próximas ao curso d’água, a declividade é suave ou nula. (Os espigões das bacias também apresentam esta tendência.) Tenho usado esta estratégia para evitar a maioria das ladeiras dos meus trajetos. O mais difícil ainda, entretanto, é enfrentar a ausência de infra-estrutura e cultura cicloviárias. Por enquanto, só com bastante paciência, atenção e cautela.

  5. Eu também me identifiquei com o texto. Sou um cicloativista recente, mas já notei que preciso controlar a minha vontade de fazer o mundo seguir meus passos para não virar um “ciclochato”. É uma postura que faz as pessoas reagirem contra qualquer idéia. Certo mesmo é dar EXEMPLOS, é usar a bicicleta o máximo possível, é ter uma postura da mais alta correção quanto as leis, pedestres, e até mesmo “esmolar” a simpatia dos motoristas. Quanto ao fato de ser cidade plana ou não, creio que o tempo vai tratar de convencer a qq um, mesmo os que moram em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Natal, Salvador, João Pessoa, todas pródigas em ladeiras, que não existe opções para o futuro que não incluam o transporte por bicicleta. E para as ladeiras, que se instalem alguns “elevadores” para bicicleta – vi uma foto de um assim instalado em uma ladeira grande, que permitia puxar várias bicicletas+ciclista ladeira acima simultâneamente!!!

  6. Cicloativista ou não, ciclista ou bicicleteiro, morar em cidade plana ou em Bogotá, tudo isso é pequeno perto do direito de se deslocar de bicicleta, que deveria ser o mesmo, tanto em Amsterdã como em São Paulo.

    Cicloativista vem do ativismo, ou do fazer mais do que o básico, fazer mais do que simplesmente usar a bicicleta para pedalar da mesma maneira que escovamos os dentes. Se amanhã alguém aparecer e te confiscar sua escova de dente e te obrigar a escovar seus dentes com um pedaço de pau? Dizendo que a partir de agora, escovar os dentes só com uma escova Ultra Mega Flash Turbo Limpator Tabajara que custa 100 vezes mais que custava uma escova comum. Com isso, o simples direito de escovar os dentes será apenas de alguns bem aventurados.

    Foi isso que senti o dia que tiraram o acostamento da marginal pinheiros para apenas os carros passarem. E aí? O que fazer então? Escovar os dentes com um casco de telha?

    Infelizmente, sem o cicloativismo será difícil mudar essa situação. Será difícil colocar nas ruas aquele ciclista que não tem medo de subir a rebouças, mas tem medo sim de dividir espaço com os carros. Aliás só escuto essa besteira de subidas daqueles que não querem pedalar, como mais uma desculpa para deixar de fazer algo para se livrar do automóvel.

    Meu ativismo busca, não só encorajar essas pessoas (que querem) a subir a Rebouças sem medo, além de questionar aqueles que querem que escovemos os dentes com galho seco. Gostaria de poder gastar minhas energias com outras ações, mas da maneira que as coisas caminham, vai demorar para mudar minha maneira de atuar.

    André Pasqualini

    1. Desculpe amigo, mas este seu pensamento não tem lógica nenhuma. Assim como você não se sente bem sendo forçado a usar um meio de transporte motorizado, outras pessoas que utilizam carros ou motos não se sentiriam bem ao serem obrigadas a utilizarem uma bicicleta. Não esquece que nem todas as pessoas possuem condições físicas para utilizarem uma bicicleta. Além disso, vivemos em uma democracia onde os direitos de um terminam onde começam os direitos dos outros, ou seja, ninguém é obrigado a aceitar regras simplesmente “impostas” por certos grupos demagogos. Sem falar que no transito é coisa seria, não sendo o lugar ideal para “politicagem”.

  7. Eu adorei o texto. Tudo que é exagero é chato, e ativismo leva ao exagero, ao negativo, ao ruim. Confesso que muitas vezes, para instigar mudanças é necessário esse tipo de gente, que briga e luta por uma causa, o mundo sem elas ficaria monótono e sem grandes acontecimentos. Mas uma coisa essas pessoas falarem com os responsáveis, lutarem para mudar com as autoridades, outra é tentar convencer a gente a ser como elas. Bicicleta é bom, e isso é obvio. Mas ainda tem muita gente com medo de usá-las. As cidades ainda não estão preparadas para recebe-las e sei que aqui é que podemos ajudar. Podemos ajudar usando as bicicletas, enfrentado o medo e simplesmente saindo por ai. Não precisamos gritar, fazer congestionamentos e causar para que isso aconteça. Quanto mais gente na rua, mais será necessário uma mudança e aqui estou disposta a ajudar e de pouquinho em pouquinho saio de casa com minha bicicleta.

  8. Texto muito legal e bonitinho mas infelizmente serve só pra causar polêmica. Gostei mais do vídeo que sim trata a bike como deveria ser vista. Mas voltando ao assunto, acho pertinente questionar o ciclo-ativismo na Dinamarca mas aqui no Brasil??? Infelizmente precisamos ainda sim dos ativistas, sejam eles pró bikes, escova de dentes, anti-fumo, contra drogas, a favor da saúde pública, contra a corrupção, etc… Na verdade o que não falta no Brasil é coisa pra ser “ativada” é ou não é? Sei que não se trata de um ataque ao ciclo-ativismo mas é preciso que as pessoas entendam que sem esses corajosos ciclistas nunca teríamos o que a cidade de São Paulo está conquistando ultimamente. Concordo com o Pasqualini que a maioria dos argumentos aqui são de pessoas que não querem largar seu carro em casa e estão loucas pra arrumar um argumento contra os ciclistas. Afinal eles vivem atrapalhando a bendita fluidez dos automóveis. Talvez fosse melhor deixarmos que as 40mil mortes no trânsito por ano continuem acontecendo. O dia que um motorista bêbado te atropelar num parque não vale reclamar tá. PS: Pô David, se você não quer (quenta) subir pela Rebouças, vai pela Vila Madalena ou pelo Jardins, é bem mais agradável.

  9. Rodrigo,

    A idéia é sim levantar polêmica. Mas acima de tudo, é importante deixar claro que não basta ser “contra tudo isso que está aí”, mas valorizar o que há de positivo no uso da bicicleta.

    É muito mais fácil convencer alguém a mudar seu comportamento pelo prazer do que pela culpa.

    abs

  10. o mínimo respeito ao ciclista e os poucos quilômetros de ciclovias que foram conquistados nas grandes cidades foi por causa do cicloativismo. sua comparação com escovar os dentes foi ridícula e incabível ao tema. só agradou a quem não tem o mínimo discernimento sobre um assunto tão importante (e talvez sobre nada), capaz de inclusive diminuir consideravelmente o caos das grandes cidades. se você fosse todos os dias escovar os dentes do lado direito da pista da direita da rua onde você mora, sua visão sobre o transporte urbano (que é quase ditatorial) já seria outra. seu depoimento não foi nada polêmico, foi manco, unilateral.

  11. Entendi a reflexão sobre o fim do ativismo. Espero ansiosa o dia em que não será mais necessário cobrar, criticar e buscar soluções para a falta de infraestrutura e respeito aos ciclistas, o dia em que veremos massas críticas de ciclistas por toda a cidade, cotidianamente, e muitas vezes também me pergunto se determinadas ações são válidas nessa busca de valorização do espaço da bicicleta na sociedade. Mas, cada vez que eu entro no metrô com a minha bicicleta, eu penso que bem antes de eu pensar em pedalar, alguém com certeza lutou para que o metrô liberasse a entrada das bicicletas, com certeza essa pessoa recebeu diversos e-mails de respostinhas padrão, se irritou, desanimou, mas não desistiu, até que algum dia conseguiu criar um canal verdadeiro de diálogo, expor ideias e finalmente, conseguir o tal acesso. Portanto, se hoje eu vejo aquela bicicletinha verde pintada no chão da estação, tenho a certeza de que é graças ao ativismo. E eu acho lindo alguém que dedica parte de seu tempo pra fazer algo que não só ele, mas muitos poderão usufruir, dali muitos anos, como o exemplo que citei.

    Pra mim, o ativismo é belo e, por instinto, trabalha rumo a sua própria extinção!

    Abraço!

  12. Eu acho muito importante as pessoas se organizarem em movimentos por alguma causa. E, nesses movimentos, deve-se sempre tentar evitar os excessos e as agressões, mas sem deixar de ver e mostrar as verdadeiras razões dos problemas. De forma simpática, prazerosa, agregadora e não sectária.

  13. Discordo bastante desse ponto de vista. Acho importante e necessário ter uma visão crítica e pedir para os responsáveis condições melhores para o dia-a-dia (dos ciclistas, no caso).

    Mesmo em Paris, com um sistema grande e abrangente de ciclovias e bicicletas públicas, existe o movimento Massa Crítica (Vélorution universelle) que luta por políticas melhores de incentivo à bicicleta, espaço para a oficina comunitária que eles mantém, etc.

    Não podemos ficar simplesmente felizes pela ciclofaixa de Moema, precisamos pedir mais diálogo, melhores projetos, mais obras, tudo.

    Grande abraço!

  14. Como tem gente xarope nesse mundo… se preocupe com uma causa que necessecite de preocupação realmente e deixem cada um ser/viver/defender o cicloativismo que existir dentro
    de si mesmo…

  15. Se levarmos em consideração que pessoas que fazem “Bike Angel” são cicloativistas, talvez acabar com isso não seja uma ideia tão boa.

    Quanto as pessoas totalmente reativas, que querem colocar tudo “goela abaixo” elas não são bem vindas em local algum, isso é verdade.

    1. Rafael,

      Assim como não existem mais os abolicionistas, mas existem os que lutam em prol de condições de trabalho dignas, é fundamental que se promova a bicicleta sempre. E como você falou, sem ser reativos, mas propositivos e positivos.

  16. Caro João. Você é um cicloativista, por mais que não queira. É um termo que virou meio pejorativo, mas somos todos ativistas do transporte cicloviário. Temos que ser menos reativos e mais propositivos e positivos, concordo com você e muito. Mas a comparação com 'ativismo em prol da escovação dentária' foi infeliz. Tem que haver ativismo e tem que haver mobilização em torno de causas importantes! Correção de rumo, menos reativismo e mais organização, sim. Fim do cicloativismo, não.

    1. Gustavo,

      Cada texto é reflexo do seu tempo e uma construção do pensamento que formamos aos poucos. O exemplo da escovação dentária dizia respeito a um assunto que rolava à época. No entanto ainda hj acredito que sou menos ainda um "ativista" e mais uma pessoa engajada em promover alguma coisa. Pra mim essa diferença segue fundamental!

      E assim como acabou o abolicionismo, espero pelo dia que o cicloativismo não seja mais necessário.

  17. sou cicloatovista e pretendo continuar sendo. escolhi ser BikeAnjo pelo cunho educativo e transformador na sociedade. Só se aprende por amor ou pela dor e pretendo ser o porta-voz do amor a esse meio de transporte tão prazeroso que é a bicicleta. cicloabraços

  18. o Brasil n tem nem saude, educacao e segurança corretamente e vcs pensando nesses assuntos triviais? ELEVADOR DE BIKE? HAHAHAHAAH
    SONHADOOOOOREEES, SONHO MEU!

  19. Parabéns !! Ando muito de carro – não tenho 2 ou 3 horas sobrando pra fazer 40 km numa manhã. Mas também ando bastante de ônibus e metrô, sempre que for conveniente. Bicicleta tenho 2 e uso mais para lazer e percursos pequenos. No trânsito tento ser “compatível” e noto a simpatia da maioria. Não brigo nem exibo a “superioridade” que muitos exalam …. Acho que dá pra conquistar mais espaço com uso, exemplo, frequência da bike do que trancar o trânsito numa sexta-feira, às 18h, apenas para mostrar a “importância” da bike. É contraprodutivo e só agrega reações adversas.
    Vejo que muitos discordam radicalmente da sua “pregação por bom exemplos”, especialmente os jovens. Quero ver essa postura deles quando chegarem aos 60 anos e as pernas não serem mais suficientes. Vão fazer o quê, se brigaram décadas contra motoristas, motores, etc ?? Andar à pé ??
    Fácil falar da Alemanha, França, etc.. Mas poucos querem as responsabilidades que lá os ciclistas têm…e são muitas !! Abraços e parabéns …

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