Rio de Janeiro e o Aquecimento Global

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Foto Edu

O Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro publicou hoje uma notícia sobre o “Protocolo de Intenções do Rio”. Através desse documento, a prefeitura promete unir esforços no combate ao aquecimento global.

O setor de transportes é um dos pontos prioritários para as ações da Prefeitura que, para reduzir a emissão de gases que promovem o aquecimento global, vai criar redes especiais de integração formadas pela Supervia (trens), Metrô e corredores especiais para ônibus de alta capacidade, além de outras medidas para racionalizar o serviço de ônibus.

Um menor número de ônibus circulando certamente irá contribuir para a diminuição da poluição nas cidades. São aproximadamente 8 mil ônibus à diesel que realizam mais de 5 milhões de viagens diariamente. Trata-se do meio de transporte motorizado mais utilizado para o deslocamento dos cariocas. Os automóveis particulares infelizmente não entraram na conta da prefeitura. São quase 2 milhões deles emitindo uma quantidade muito maior de CO2 por passageiro por quilômetro..

Fica a sugestão para que a Prefeitura busque não apenas racionalizar a frota de ônibus da cidade do Rio de Janeiro, mas também, criar incentivos para que cada vez mais motoristas usem menos seus carros. Afinal, segundo dados oficiais, a frota ciclística é de aproximadamente 4 milhões que realizam menos de 700 mil viagens por dia.

Não se trata de uma campanha “anti-automobilista”. Esses cidadãos são também consumidores e parceiros na mudança da realidade urbana que se faz necessária. Têm portanto direito a voz num debate sobre a mobilidade na cidade. Eles precisam ser ouvidos para que possam ajudar a definir soluções para seus problemas. Têm também que obter ajuda para superar o medo de romper barreiras que aumentariam a qualidade de vida de todos. Dada as enormes perdas geradas pelos congestionamentos hoje, buscar alternativas não é tarefa difícil. Basta que se criem condições adequadas para a reflexão e a transição para o uso de meios de transporte mais sustentáveis e menos danosos ao meio ambiente.

> A biblioteca da Transporte Ativo traz alguns artigos que complementam a discussão acerca do tema. Dois deles merecem destaque:
O papel da bicicleta para a mobilidade urbana e a inclusão social – do saudoso Sergio Bianco
Os Automóveis e o Meio Ambiente – Fábio Angeoletto e Patrícia Pinheiro

> Confira a notícia sobre o decreto da Prefeitura no DO.

> A íntegra do “Protocolo de Intenções do Rio“.

Planejamento Cicloviário

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Foto Zé Lobo

A defesa de ciclovias costuma ser uma grande bandeira para a promoção do uso da bicicleta como meio de transporte. No entanto, mais do que simplesmente espaços segregados para os meios de transporte à propulsão humana, deve-se pensar em planejamento cicloviário.

Cinco exigências podem resumir a questão de maneira bastante direta na execução de qualquer projeto de ciclovia ou que simplesmente vise o incentivo ao uso da bicicleta. São eles:

1. Segurança Viária

Todo o planejamento e desenho da infra-estrutura cicloviária tem de ser pensando em conjunto. Redes viárias, pisos de qualidade e cruzamentos que não gerem riscos. Tudo deve garantir deslocamentos seguros para todos os usuários, sejam ou não ciclistas.

2. Rotas diretas/rapidez

Nesse caso tudo deverá ser pensado com o objetivo de minimizar o tempo e o esforço necessário para os deslocamentos por bicicleta. Como a água segue sempre o caminho mais curto e rápido, assim devem ser as rotas cicloviárias de qualidade.

3. Coerência

Ser coerente implica em manter não só uma unidade visual em relação a sinalização e pisos, mas também em rotas completas e fáceis de serem seguidas.

4. Conforto

Para que mais pessoas utilizem a bicicleta com meio de transporte, o fato das vias serem confortáveis certamente representa um fator fundamental. Atingir esse objetivo primordial, requer poucas paradas, piso de qualidade, largura adequada, proteção das intempéries sempre que possível e que o ciclista nunca seja forçado a desmontar da bicicleta durante seu deslocamento.

5. Atratividade

A atratividade requer um grande esforço no planejamento, mas certamente é a mais fácil de visualizar como necessária. Quem não usa a bicicleta como meio de transporte se sentirá convidado a fazê-lo quanto mais atrativa for a infra-estrutura. Para isso, deve-se pensar em rotas que cruzem ambientes diversificados, agradáveis, que não coincidam com vias arteriais de trânsito motorizado e por fim, que não seja zonas inseguras em relação à criminalidade.

Um vídeo feito na cidade de Nova Iorque exemplifica diversas situações de conflito vividas num ambiente que ainda requer um grande esforço no campo do planejamento cicloviário.

– Esse texto foi baseado na apresentação do Engenheiro do I-Ce Jeroen Buis (“As 5 principais exigências para o planejamento cicloviário“) durante o Curso de Planejamento Cicloviário realizado na cidade de Guarulhos em agosto de 2006.

A Importância dos Estacionamentos

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Não basta a paisagem.

Foto Edu

A falta de confiança na bicicleta como meio de transporte tem basicamente dois grandes motivos: a insegurança no trânsito (e aqui se incluem maus motoristas, incivilidade do brasileiro, falta de ciclovias) e a ausência de locais seguros para guardar a bicicleta. Este segundo problema é o mais fácil de ser atacado tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada.

Contudo, mesmo quando há boas intenções e a prefeitura ou loja/escola/clube instala um paraciclo, o que temos geralmente é uma péssima tradição de instalar suportes mal-feitos, uns trem bem xinfrim e pobrim, feitos de vergalhão e que mal prendem o pneu da frente de uma bicicleta.

Como ativistas e defensores, devemos bater firme nesta tecla e divulgar a cultura não só de “ciclovias” mas de paraciclos bem feitos e bem instalados. O suporte tipo inglês (ou Sheffield) é aprovado por associações de ciclistas tanto na Inglaterra quanto nos EUA. Para irmos na mesma linha, foi traduzido o folheto “Bicicletários” do Sustran-UK. Com a mesma intenção, já foi iniciada a tradução de outro texto técnico semelhante: o folheto da Associação Americana de Pedestres e Ciclistas Profissionais, cujo original em inglês já está na página da TA.

Estes dois folhetos contém tanto explicações claras e precisas sobre o que fazer e o que não fazer, bem como trazem especificações técnicas muito úteis para que possamos sair do bla-bla e ajudar efetivamente na prática. O que me falta apenas é saber qual seria o custo de um suporte deste, aqui no Brasil. Antes de finalizar a próxima tradução, irei numa serralheria para colher preços aproximados. Se tivesse preços de outras cidades, poderíamos fazer uma média nacional e adaptarmos os folhetos para nossa realidade, que tal?

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Paraciclo adotado como padrão pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Foto do dia em que foi apresentado à TA.

Zé Lobo

Formas de Ação

Os ativismos podem ser de diversas formas e têm raízes históricas que não cabe aqui ilustrar. Resumidamente, grupos de ação da sociedade civil buscam representar o povo de uma maneira diversa em relação aos governos estabelecidos. Um pequeno parágrafo no livro de treinamento “Sensibilização Cidadã e Mudança de Comportamento” escrito por Carlos F. Pardo do GTZ:

Normalmente espera-se dos governos que sejam mais “diplomáticos” enquanto a sociedade civil deve ser mais “ativista”. No entanto, se ambos os atores políticos puderem agir em sinergia, ações puramente ativistas podem não ser necessárias. Medidas mais formais e diplomáticas tornam-se preferíveis. Caso ambos os grupos possam trabalhar juntos, fica mais fácil promover ações que tragam resultados mais coerentes.

A foto que ilustra esse parágrafo é de Sérgio Jr. e foi publicada no Jornal do Brasil na reportagem “Bicicletas, o jeito ecológico de ir e vir“. A legenda no livro diz: “O grupo brasileiro Transporte Ativo desenvolve diversas ações para promover o uso da bicicleta, inclusive gerando mudanças nas regulações de transporte em suas cidades.”

Numa sociedade democrática, todos têm voz. Tanto para eleger representantes, quanto para pressioná-los. No entanto, mais produtivo para todos é minimizar os conflitos e buscar sempre a maneira conciliatória de dialogar.

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> O GTZ chama-se: Gesellschaft fur Technische Zusammenarbeit GmbH. Eles se auto-definem como um grupo mundial de cooperação para o desenvolvimento sustentável.

> O livro de treinamento que aparece acima está disponível através do site do SUTP, que requer cadastro. Vale a pena conhecer o trabalho desse braço do GTZ. Está disponível em inglês como: “Training Course on Public Awareness and behavior change“. Ou em espanhol: “Curso de entrenamiento en Sensibilización Ciudadana y Cambio de Comportamiento“.

> Mais informações sobre Ativismo na Wikipedia (em inglês).

Implementação de um Espaço Compartilhado

O Projeto de um Espaço Compartilhado, busca criar locais públicos onde haja liberdade de movimentos e a interação social entre pessoas aconteça naturalmente. Um bom exemplo são as áreas residenciais, destinadas ao convívio, e onde o tráfego rápido deve se adaptar ao comportamento social do entorno.

O espaço social é projetado de forma que nós não o percebamos como um espaço de tráfego, mas como um espaço de pessoas. Uma pessoa em deslocamento (de bicicleta, carro, , moto, etc.) que passa por ali está ciente do fato de que ela é um visitante, e em resposta a isso, ela ajusta seu comportamento de trânsito ao comportamento social do contexto”. INTERREG III, programa da Comunidade Européia.

A escolha das áreas próprias para a implantação de Espaços Compartilhados deverá ser feita com muito cuidado pelos profissionais envolvidos, em lugares onde seja possível projetar uma rede lenta com uma velocidade máxima de deslocamento para veículos de 30 km/h. Isto é uma exigência para que a iniciativa funcione. Os diferentes usuários poderão dividir o mesmo espaço público e negociar a preferência através do contato visual.

A rede “lenta” só funciona se houver uma rede “rápida”.

A implantação de um Espaço Compartilhado implica no estabelecimento de três situações distintas: o comportamento social, o comportamento social de trânsito, e o comportamento de trânsito.

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Num espaço onde prevalece o comportamento social, os movimentos são desfocados, imprevisíveis e relativamente lentos. O comportamento das pessoas é basicamente determinado pelo ambiente físico e pela conduta dos outros, onde o contato visual desempenha um papel importante. Este tipo de convivência é predominantemente encontrado nos espaços públicos.

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O comportamento de trânsito se faz presente onde as pessoas querem se mover rapidamente de A até B. A chamada “rede rápida” de estradas e autopistas.São áreas projetadas para uma movimentação veloz para diferentes lugares. Neste cenário, a função do tráfego é o fator decisivo para o projeto, e demanda um tipo específico de comportamento. É caracterizado por movimentos diretos, focados e, basicamente, previsíveis. A velocidade é alta, e praticamente não existe contato visual. As pessoas se deslocam com objetivos definidos e seus comportamentos são fortemente guiados pelos sistemas legais do trânsito, por veículos na pista e por sinais de trânsito, tais como linhas de marcação de trânsito nas estradas e placas de trânsito.

A transição entre estes dois tipos bem diferentes de comportamento no deslocamento será caracterizado pelo comportamento social de trânsito, onde haverá uma mediação de atitudes, uma combinação de troca social com comportamento de tráfego. Para que “Espaço Compartilhado” funcione bem, é importante que se mantenham estas áreas de transição tão pequenas quanto possíveis, pois são as que oferecem maiores chances de incompreensões entre as pessoas. Ciclistas e pedestres que não estão com pressa esperam certo comportamento social da parte dos motoristas, enquanto usuários apressados presumem um outro comportamento dos demais.

> Fotos retiradas do site shared-space.org.
Para baixar uma publicação oficial sobre o tema, clique aqui. Também em português (pdf).