Em busca do Centro do futuro.

Mais uma reunião do Projeto Ciclorrotas para o Centro do Rio aconteceu nesta segunda-feira. As rotas levantadas na oficina de 25 de agosto e as que foram recebidas em seguida, foram consolidadas em um só mapa e lapidadas até se chegar à uma rede ideal que foi apresentada para validação. Novas ideias surgiram, alguns trechos foram incluidos e a possibilidade de integrar a rede ao VLT do Centro e BRT TransBrasil também foi considerada. O projeto segue no prazo e novas etapas virão em breve.

Confira as contagens de ciclistas já realizadas no Passeio Público e no Estácio, que darão apoio ao projeto. Se você quer participar ou contribuir de agluma forma com o projeto, entre em contato.

Pedalar até o estádio pra ver

O Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014, estádios estão sendo construídos e a palavra da vez é “legado”. Para discutir o papel da bicicleta nesse grande evento, convidamos o consultor de transporte Jonas Hagen a contar um pouco da história da experência de Berlim durante a Copa de 2006.

A Bicicleta e a Copa – Jonas Hagen

Pedalar até o estádio para ver um jogo de uma Copa do Mundo, é um sonho inalcançável? Na Copa 2006, a bicicleta teve um papel fundamental no transporte em Berlim. A cidade, que já era dotada de 1,090 km de infraestrutura para ciclistas (incluindo ciclovias, ciclofaixas, ruas de baixa velocidade e preferência para o ciclista), fez uma grande campanha para incentivar as pessoas a desfrutarem dos jogos, e festas (“fanfest”) que acompanharam à Copa, de bicicleta e transporte público.

“Tínhamos o desafio de transportar muitas pessoas numa área cujas ruas já eram definidas. Sabíamos que isso só podia ser feito como modos mais eficientes, como a bicicleta e o transporte público. Imaginamos que poderíamos transferir a imagem do futebol, da atividade física, e da agilidade, para o transporte urbano de bicicleta,” explica Dr. Friedeman Kunnst, então funcionário da prefeitura de Berlim, que estava encarregado do projeto.

A campanha consistiu nos seguintes elementos: mapas da rede de ciclovias, cartões postais, um site, uma conferência de imprensa, quatro bicicletários protegidos (um na frente do estádio, outros três na área do “fanfest”), e campanhas nas ruas da cidade.

A campanha nas ruas enfatizava a bicicleta como o meio de transporte mais eficaz para os deslocamentos durante a Copa. Durante a conferência de imprensa foi mostrada a área que 60 pessoas de carro ocupavam versus 60 ciclistas (aproximadamente 540 m² versus 60 m²). Muitos dos 75.000 mapas da rede cicloviária foram distribuídos nos pontos mais congestionados pelos carros, diretamente aos motoristas engarrafados.

A reação da imprensa foi muito positiva e os bicicletários lotaram. Uma pesquisa mostrou que um aumento de 25 % nas viagens de bicicleta e transporte público durante a Copa, e uma queda de 5 % de viagens de carro no mesmo período. A mesmo pesquisa apontou que 20 % dos usuários dos bicicletários usavam normalmente o carro, e que o principal motivo de usar a bicicleta foi a economia em tempo de procurar estacionamento.

Três meses depois da Copa, outra pesquisa mostrou que o transporte de bicicleta aumentou 15 % em Berlim – isso é um legado legal!

Educação Vs. Transporte

O Brasil vive um momento privilegiado em sua história, com o crescimento econômico dos últimos anos já somos a sexta economia mundial, o PIB brasileiro tornou-se maior do que a Inglaterra. As desigualdades entre os muito pobres e os muito ricos diminuiram. Tudo aponta para um horizonte de otimismo para nos tornarmos um país com uma classe média importante e principalmente consumidora de produtos nacionais e estrangeiros.

Apesar do otimismo, é preciso analizar com atenção um detalhe fundamental sobre a inflação e os indicadores econômicos no Brasil. A nova “Pesquisa de Orçamentos Familiares” do IBGE irá mudar o cálculo da inflação. Como bem destacou o Jornal O Globo, a inflação e o carro zero quilômetro já pesam mais no orçamento das famílias do que os gastos com educação.

O dado aponta para um reflexo perverso da falta de investimentos em transporte público e na mobilidade em bicicleta. O brasileiro que se sente obrigado a fugir para a educação privada, para os planos de saúde e para mobilidade particular compromete grande parte de sua renda com serviços que deveriam ser garantidos pelo Estado. E segundo o IBGE agora passa a gasta mais para se locomover nos grandes centros urbanos Brasil afora do que para estudar os filhos.

Mas existe um horizonte possível que o IBGE ainda não descobriu e que precisa crescer e ser estimulado, uma certa elite que opta por não ter o veículo motorizado próprio em prol de investimentos na educação de si mesmo e dos filhos. Optar pela bicicleta e pelo transporte público é acima de tudo uma decisão inteligente e necessária.

Bicicletas estacionadas

As contagens de bicicletas continuam, desta vez estacionadas. Com o aumento de bicicletas circulando, aumenta a necessidade de locais para estacioná-las.

Para ter uma idéia de quantas são e onde instalar bicicletários, a Transporte Ativo foi a campo, com patrocínio do Banco Itaú, para contar as bicicletas estacionadas no principal corredor comercial de Leblon, Ipanema e Copacabana, bairros com o trânsito já bastante comprometido e com um volume de uso de bicicletas que vem crescendo a cada dia.

Algumas medidas para facilitar o estacionamento de bicicletas já vem sendo tomadas, na cidade do Rio de Janeiro, como a resolução SMAC 438 para pedidos de bicicletarios e o decreto 34481 que libera o estacionamento de bicicletas em postes. Mas ainda há muito a ser feito e esta contagem é apenas mais um passo nesta busca por estacionamentos práticos e seguros para nossas bicicletas.

Baixe o relatório aqui, ou clicando na imagem acima.
Conifra o Álbum de Fotos.

Mais sobre contagens no blog.

Mobilidade para cidades saudáveis

De 18 a 21 de outubro, aconteceu no Rio de Janeiro o 18º Congresso da ANTP, evento voltado ao transporte público, repleto de soluções, pesquisas e boas praticas. Muito do mundo motorizado estava lá e apresentava soluções mais limpas como veículos híbridos e elétricos, mas ainda muito ligados a lógica de transportes do século passado.  Em meio a isso lá estavam duas seções sobre Transporte Não Motorizado, pelo título da seção podemos ver que os meios de transporte mais eficientes e antigos foram colocados de forma subalterna aos modais motorizados. De qualquer forma já é um grande passo, um evento deste tipo e porte dando espaço às bicicletas e pedestres.

A Transporte Ativo esteve presente, na seção técnica 27, onde além de coordenarmos a mesa, apresentamos dois artigos. Um em parceria com a prefeitura do Rio entitulado  A importância do GT Ciclovias para a consolidação da malha cicloviária da Cidade do Rio de Janeiro. E outro em parceria com a Clinton Climate Initiative, ITDP e Jonas Hagen,  Os Benefícios dos Veículos de Carga à Propulsão Humana: Cidades Podem Alcançar Menores Emissões e Maior Segurança. Confira os artigos clicando em seus títulos.