Bicicletas públicas são mais seguras que as particulares

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Já foram mais de 35 milhões de viagens em bicicletas públicas nos Estados Unidos e nenhuma ocorrência fatal. Um estudo recente foi atrás dos motivos para as estatísticas mais favoráveis. Afinal, na terra do automóvel, são 21 ocorrências fatais com ciclistas para cada 100 milhões viagens em bicicletas particulares.

Sim, infelizmente houveram ocorrências graves com pessoas usuárias de sistemas públicos de bicicleta. Mas o que se comprovou até agora é que no geral essas pessoas, de maneira geral, envolvem-se menos em batidas, quedas e atropelamentos enquanto pedalam.

O mistério estava nos números, mas a resposta veio através de um olhar detalhado nos ciclistas. A conclusão passa por cinco pontos principais.

Cinco motivos porque bicicletas públicas são mais seguras

  1. O desenho importa muito – As bicicletas compartilhadas disponíveis no Estados Unidos além de robustas (e pesadas), tem também diversos detalhes de projeto que a fazem mais seguras. O principal deles, comum também nos sistemas brasileiros, é que elas são em geral lentas. Além disso, são coloridas, chamativas e favorecem uma postura mais ereta, todos elementos que facilitam a visibilidade por parte de motoristas
  2. As viagens são feitas, em geral, em zonas centrais densas – Outro fator também comum nos EUA e no Brasil, é que as estações de bicicletas públicas estão majoritariamente concentradas em regiões densas. Locais com mais tráfego motorizado, mas sobretudo com velocidades mais lentas e motoristas mais atentos à presença de pedestres, ciclistas e outras “interferências no viário”. Acima dos 50km/h colisões de motoristas com ciclistas tornam-se mais comuns (e mais graves). Sendo o “fator humano”, em especial a desatenção de motoristas, um motivo notório para atropelamentos e batidas, ruas repletas de gente são mais seguras
  3. Quem pedala é mais inexperiente, e isso tem algumas vantagens – Bicicletas públicas são utilizadas muitas vezes por ciclistas novatos ou simplesmente inexperientes. A falta de traquejo no trânsito é um grande motivo para atenção redobrada e uma postura mais previdente. Pela maior aversão ao risco, esses ciclistas tendem a ficar mais seguros. Os dados são um pouco controversos, já que a pouca prática também pode ser um fator de risco em si.
  4. Bicis compartilhadas são mais seguras, mesmo com baixo uso do capacete – Sim, existem pessoas que saem de casa caminhando com um capacete na mão para utilizar uma bicicleta pública. Mas esse comportamento é uma completa exceção. Esse comportamento da maioria em deixar o cabelo ao vento enquanto pedalam não tem qualquer impacto na segurança. Pode, inclusive ajudar, afinal motoristas tem uma tendência a manterem-se mais distantes de ciclistas sem capacete. Até porque, o capacete nunca ajudou ninguém a não sofrer uma queda ou colisão.
  5. Ainda não está claro se bicis públicas geram “segurança na quantidade” – Vários estudos apontam que um aumento de ciclistas nas ruas não significa aumento equivalente no número de ocorrências graves envolvendo bicicletas. No estudo conduzido nos EUA essa correlação, quando se trata de usuários de bicis públicas, é mais direta. Com mais gente pedalando as compartilhadas sendo diretamente equivalente ao número de ocorrências registradas com elas. Talvez simplesmente ainda não tenhamos um número suficientemente grande para obter os benefícios gerais de segurança necessários.

Esse post é uma tradução adaptada de um texto no site Vox. Para quem entende inglês vale ler o original: “A new study looks at why bike share is so much safer than regular biking”, que têm uma série de referências. O resumo em vídeo é especialmente impecável.

Cartas compromisso, armadilha ou oportunidade?

Ano de eleições e ressurge a idéia de realizar cartas compromisso com candidatas e candidatos. Podem ser para a prefeitura, para deputados, vereadores ou presidente.

Sempre bom deixar claro que a Transporte Ativo sempre se posicionou politicamente de forma a nunca pedir nada para políticos eleitos ou em campanha. Acreditamos na necessidade de agir em prol da bicicleta e com isso oferecer soluções que facilitem o trabalho principalmente de gestores públicos do corpo técnico.

Afinal, as eleições são periódicas, mas o trabalho de influir em políticas públicas passa também pelo diálogo de quem é servidor público desvinculado dos processos partidários e eleitorais.

Campanhas eleitorais, vitrines para a bicicleta?

Campanhas eleitorais são ao mesmo tempo uma excelente vitrine para diversos temas, e também o momento em que candidatos irão concordar com qualquer iniciativa que seja capaz de lhes trazer votos. Cartas compromisso tem portanto esse desafio de lidar com a propensão dos políticos em assumir compromissos eleitorais, ainda que haja consequências.

Desde 2010 os partidos são obrigados a protocolarem planos de governo juntamente com suas candidaturas. No entanto, não cumprir o prometido ainda não tem implicações nebulosas. Afinal, o processo eleitoral brasileiro não dispõe do dispositivo de “recall” em que se pode afastar políticos eleitos por quebra de promessa ou descontentamento geral. Temos apenas o impedimento que se baseia em denúncia por crime de responsabilidade.

Todo o furor em relação as discussões de rumos do país e da cidade são também uma oportunidade positiva de ampliar a discussão sobre bicicletas (ou quaisquer outros temas) junto ao público geral. Campanhas eleitorais ocupam muitos espaços, seja nos meios de comunicação, seja nas conversas de mesa de bar. Buscar colocar o tema da mobilidade ativa nessa grande discussão social é portanto uma oportunidade.

Iniciativas sociais que buscam transformar a cidade podem também ficar reféns de um papel acessório na discussão eleitoral. Sem criatividade ou meios novos de embarcar nas discussões eleitorais, a tendência é que fique perdida a relevância e se avolumem cartas compromisso das mais variadas temáticas e que somem como ruído de todo o processo.

Oferecer soluções primeiro, colher resultados depois

Pedir menos e oferecer soluções para candidatas e candidatos é um caminho possível. É possível municiar os comitês partidários de campanha com dados e sugestões que qualifiquem as propostas que serão apresentadas pela população. Seja um mapeamento colaborativo como o Ciclo rotas Centro, ou até mesmo elaborando de maneira conjunta propostas de compromissos a serem assumidos.

Outra brecha, essa em geral menos explorada, é apresentar diretamente aos eleitos um grande leque de informações, dados e propostas para serem incorporados já durante o período de transição.

Campanhas políticas vendem sentimentos em troca de votos. Tanto faz se é o medo ou a esperança, o importante é mexer com as emoções de quem vai às urnas. Mas a democracia participativa está em crise mundo afora. Um dos motivos certamente é a decepção constante de quem vota com os sonhos em mente e se decepciona com a lentidão, burocracia e os desvios que se apresentam pós euforia eleitoral.

A relevância do terceiro setor está menos em se associar as tão desgastadas disputadas político-partidárias e mais em fortalecer formas novas e mais impactantes de diálogo social. Influir nas campanhas eleitorais representa um horizonte de possibilidades, mas se buscamos seguir o lema de fazer transformações sociais com o mínimo de recursos, temos o dever de fugir do óbvio.

biciRio 2016 foi esquenta para o VeloCity Rio 2018

Foto: Fabio Nazareth

Foto: Fabio Nazareth

A edição 2016 do Fórum internacional da mobilidade por bicicleta (biciRio) aconteceu nos dias 21 e 22 de junho no Rio de Janeiro. Foram mais de 150 participantes, com direito a protesto por mais infraestrura cicloviária, mas também grandes oportunidades de aprendizado.

Com presença de destaque de pessoas e organizações da Federação Européia de Ciclismo (European Cycling Federation – ECF) e Aliança Mundial de Ciclismo (World Cycling Alliance – WCA), o biciRio 2016 foi um excelente oportunidade para deixar um gosto de quero mais para quem promove o uso da bicicleta no Rio de Janeiro e no Brasil.

O Velo-city é a maior conferência global de promoção ao uso da bicicleta não apenas pelo número de inscritos, mas principalmente pelos impactos na comunidade local. A próxima edição em 2017 vai ser na Holanda, mas o Rio de Janeiro já está no circuito decisório do comitê organizador.

Foi justamente a presença do corpo diretivo da ECF e da WCA que fez do biciRio desse ano uma conferência mais relevante do que anos anteriores.

Cabe lembrar que estão abertas desde 01 de junho de 2016 as inscrições de trabalhos para o Velo-city 2017. O tema dessa vez é a “Liberdade do ciclismo” (Freedom of Cycling) e 5 subtemas já estão definidos:

  • Infraestrutura: Aprendizado, experimentação e colocar e prática
  • Pessoas: Pessoas diferentes, idéias diferentes, escolhas diferentes
  • Bicieconomia: A bicicleta economiza e gera dinheiro
  • Planejamento urbano: Ciclimso em um mundo digital
  • Governança: Como eles conseguem?

Mais informações no site oficial do Velo-city 2017.

Leia mais:

6º edição do BiciRio abre os preparativos para o Velo City 2018, no RJ

Os 30 mitos mais comuns sobre o uso da bicicleta e como respondê-los

Falácias sobre o uso da bicicleta

Falácias sobre o uso da bicicleta – Cycling Fallacies.com

Todas as cidades do mundo em algum momento tiveram de lidar com mitos relacionados ao uso da bicicleta. Em alguns lugares os pressupostos equivocados sobre a importância da mobilidade em duas rodas movidas a pedais são coisa do passado.

Há no entanto um longo caminho para garantir que verdades comuns para quem pedala rotineiramente sejam transformadas em senso comum.

O site “Cycling Fallacies” (falácias ciclísticas) traz resposta para algumas das argumentações mais comuns de quem é contra o uso da bicicleta mas usa informações incorretas para disfarçar.

É possível ter resposta para questões bastante corriqueiras sobre “como não somos iguais a Holanda”, ou sobre a falta de apreço dos ciclistas pelas regras de trânsito. Cada mito que cai é certamente um giro no pedal para que mais pessoas descubram as maravilhas do uso regular da bicicleta para as pessoas e as cidades.

O site foi traduzido do inglês britânico para o português europeu então algumas expressões de uso corrente em Portugal podem soar estranhas aos ouvidos brasileiros. Talvez o ajuste mais notório de tradução seja o de substituir “estradas” por “ruas”. Mas no geral, os argumentos estão por lá.

Três dimensões da qualidade de vida nas cidades

A maioria absoluta das cidades é incapaz de conceder três simples desejos: ter uma economia local forte, qualidade de vida e moradia com preços acessíveis. Um levantamento recente nos Estados Unidos pesquisou as 100 maiores zonas urbanas do país e encontrou apenas três que concentram as qualidades fundamentais que todos buscam.

É possível conseguir sucesso em até duas das variáveis, mas quase nunca em todas. Com o mínimo de observação é possível visualizar esse tripo dilema, ou “trilema” dentro de uma única cidade.

Fortalecimento econômico muitas vezes gera melhoria na qualidade de vida que costuma ser acompanhado de um aumento no custo de moradia. É possível ainda ter qualidade de vida à preços acessíveis, mas sem pujança econômica.

Inúmeros exemplos em terras brasileiras demonstram a dificuldade em conciliar o acesso à moradia com maior desenvolvimento econômico. Seja nos morros cariocas ou na periferia paulistana, para ter emprego e renda muitas pessoas são forçadas a buscar o que se define em termos técnicos como “habitações subnormais”.  Chamamos aqui de favelas, o que se trata de um o fenômeno global, pessoas de baixa renda com tetos precários sobre suas cabeças.

A análise passa menos por medir a qualidade das construções das favelas, mas no acesso à cidade pelos mais pobres. Ou simplesmente nos três simples desejos que qualquer pessoa pediria ao gênio da lâmpada: ter qualidade de vida, acesso à renda e conseguir ter onde morar.

Precisamos primeiro partir pressuposto que vivemos em um mundo maioritariamente urbano. Afinal, o êxodo rural foi um fenômeno do século XX. A população do mundo hoje é composta por urbanóides. Uma população que nasce, cresce e morre nas colméias humanas, nossos zoológicos de pedra.

Através do comparativo das cidades norte-americanas, é possível ter uma pequena dimensão do desafio que representa para uma nação economicamente periférica como o Brasil equacionar as necessidades de sua população. Nosso cobertor é ainda mais curto do que o estadunidense, mas nossos habitantes também partilham de desejos fundamentais que são certamente universais.

Desafio de urbanização tropical

Traduzir um modelo de urbanização tropical envolve centrar os maiores esforços em políticas de igualdade social em que o maior número de pessoas possa ter acesso ao maior horizonte de possibilidades possível.

O exemplo brasileiro mostra com clareza que cidades apenas para alguns, são cidades para ninguém. Os muros nunca serão tão altos, as blindagens nunca serão tão resistentes para deixar de fora a massa de excluídos. Realizar os três desejos urbanos só é possível quando são concedidos para todos.

Um primeiro passo certamente é uma melhor distribuição territorial das oportunidades econômicas, dentro do território urbano e também nas diversas cidades do país.

O simbolismo de São Paulo, locomotiva do país é justamente o erro que trouxe a cidade ao seu atual quadro de inchaço urbano com moradia cara e sem qualidade de vida.

Bicicleta é bom, mas não é tudo

O papel da bicicleta é acima de tudo marginal. Pelas margens das pistas congestionadas, pelos bordos das ruas e avenidas ciclistas desbravam outras cidades possíveis.

Para usar a bicicleta sempre, o ideal é ter trabalho perto de casa, ou os deslocamentos diários tornam-se maratona atlética em busca de dinheiro. É preciso portanto garantir moradia perto dos empregos unindo uma economia local forte e moradia acessível.

Já qualidade de vida é inerente ao uso das magrelas. Deslocar-se utilizando as próprias pernas envolve necessariamente um ambiente agradável, do contrário ser ciclista torna-se um eterno nadar contra a corrente em um rio infestado de piranhas e jacarés famintos.

De maneira resumida, a bicicleta sozinha pode não resolver todos os problemas, mas certamente é capaz de abrir os primeiros caminhos para as soluções desejadas e necessárias.

Leia mais:

Only Three US Cities Have Good Jobs, Affordable Housing, and High Quality of Life (Gizmodo)
The Housing Trilemma (Oregon Office of Economic Analysis)