Com bicicletas em ônibus

Em muitos países do mundo, destacando Europa e Estados Unidos, o cicloturismo é uma atividade consolidada há muitas décadas. Aqui no Brasil, seguindo a tendência mundial, o cicloturismo tem conquistado cada vez mais adeptos e se populariza de forma cada vez mais rápida. A Estrada Real e o Circuito Vale Europeu, ambos com apoio do Governo Federal e dos governos de Minas Gerais e Santa Catarina, respectivamente, e da iniciativa privada, mostram que o cicloturismo no Brasil encontra-se em estágio de amadurecimento.

Pesquisa realizada pelo Clube de Cicloturismo em 2008 mostra que 40% dos cicloturistas utiliza o ônibus como transporte complementar durante suas viagens de bicicleta. Para o cicloturismo avançar ainda mais em nosso pais, com valorização e respeito ao turista de bicicleta, alguns entraves precisam ser eliminados, e o transporte da bicicleta em ônibus é um destes empecilhos.

A legislação brasileira é confusa no que diz respeito ao transporte de bicicletas em ônibus intermunicipais e interestaduais. Há um entendimento de que a bicicleta não se enquadra na definição de bagagem pessoal, só podendo ser embarcada nos ônibus como encomenda. Mas o embarque como encomenda somente pode ser realizado se “devidamente acompanhado de documentação fiscal”. Esta exigência choca-se com o Código de Trânsito, que não obriga o ciclista a andar com a nota fiscal de sua bicicleta.

O resultado deste emaranhado jurídico é que, na prática, cada empresa de transporte decide arbitrariamente o que fazer. O problema é tão grave que são conhecidos casos de ciclistas que foram proibidos de embarcar para viajar, pois a empresa de ônibus não aceitou o embarque da bicicleta nem como objeto pessoal nem como encomenda (por não haver nota fiscal).

Para solucionar o problema, o Clube de Cicloturismo do Brasil, em parceria com a Transporte Ativo, ajudou a elaborar o Projeto de Lei 6824/2010, que foi apresentado no início deste ano pelo Deputado Federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). O projeto já está sendo analisado na Câmara dos Deputados pelas Comissões de Viação e Transportes e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para ver o Projeto de Lei na íntegra e acompanhar seu andamento, acesse a página da Câmara dos Deputados.

Bicicletas para todos

A bicicleta felizmente está na moda, não custa repetir. Mas isso ainda é pouco, muito pouco. Ainda há uma grave divisão entre os usuários da bicicleta e principalmente na percepção em relação as magrelas.

Veículo dos pobres, excêntricos ou esportistas, a bicicleta ainda tem um longo caminho a percorrer, para ganhar escala no que sempre foi, o melhor meio de transporte urbano para distâncias médias e curtas.

O discurso “cicloativista” tende a ser messiânico, acredita em salvação e redenção. Como os evangélicos acreditam que não são pecadores porque foram lavados pelo sangue de Jesus. Ou tem sabor marxista, intelectuais orgânicos ou engajados, portadores predestinados da missão revolucionária sagrada de mudar o sistema político-social em nome de uma nova ordem mundial.

Com isto, podemos conseguir 2 ou 20 adeptos. Convencer vereadores a votarem “políticas cicloviárias municipais”. E construir “rotas cicláveis” a toque de caixa. Em que isto vai mudar a vida do Sr. Modesto?

Falta perguntar ao homem-de-gravata-que-vai-chegar-atrasado-no-trabalho e à mulher-de-calça-branca-que-leva-os-filhos-ao-colégio se eles querem ser redimidos ou se querem salvar o mundo. Talvez eles queiram apenas chegar aos lugares da forma que lhes for mais conveniente.

Para sensibilizarmos este cidadão mediano, precisamos saber como ele pensa, quais são suas ambições, aspirações e medos. Ainda não sabemos conversar com o “pobre” que usa a bicicleta hoje, mas assim que melhorar de vida um pouquinho, compra uma moto ou um carro usado. Tão pouco sabemos conversar com o cidadão classe média, convencê-lo a usar bicicleta assim como usa escova de dentes, sem fazer dele um ativista, sem levantar bandeiras do anti-consumismo e do ecologismo, batismo de iniciação na excentricidade.

Construir cidades para pessoas e com mais bicicletas é um caminho longo, com muito diálogo e pressão política, mas acima de tudo valorizando o que é mais importante em qualquer planejamento, a condição humana e nossas fragilidades diante do mundo e das máquinas complexas que criamos. Não somos assim tão diferentes de qualquer outro animal social, seguimos líderes, agimos em bando e sozinhos, somos fracos e medrosos.

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Ano novo, viva!

Pai e filha pedalam por um caminho e param perto de um lago. O pai diz adeus à filha e se vai. A filha espera seu retorno, por toda a vida.

  • Também disponível no Youtube.
  • O desenho animado, do diretor holandês Michael Dudok de Wit, ganhou o Oscar de melhor curta de animação em 2001. Está disponível no volume 2 da coleção Anima Mundi.

    A trilha sonora contribui para dar um aperto no coração, mas é a metáfora da vida de todos nós, feita de perdas, despedidas, sonhos, esperanças e coisas boas e simples, que se renovam em ciclos, como andar de bicicleta.

    Ciclistas, quase Pedestres

    Os legisladores que escreveram o Código de Trânsito (Lei 9.503/97) foram muito lúcidos quando estabeleceram que “o ciclista desmontado empurrando a bicicleta equipara-se ao pedestre em direitos e deveres” (Art. 68, § 1º).

    A simples aplicação desta regra seria solução para diversos problemas de política cicloviária. Como exemplo, leis estaduais ou normas internas que proíbem o transporte de bicicletas em trens e metrôs estão em claro conflito com o Código de Trânsito.

    Mais do que uma questão legal, o artigo revela o que todo ciclista sabe: em termos de mobilidade e liberdade da escolha de caminhos, a bicicleta está mais perto do pedestre que dos automóveis.

    Se o planejamento urbano priorizasse o pedestre, os ciclistas também sairiam ganhando. Não se pode planejar para pedestres sem redução da velocidade dos carros e da limitação do seu fluxo. Estas medidas também são as mesmas que favorecem os ciclistas.

    A Mobility eMagazine, edição outubro/dezembro 2009, publicou material produzido pela Arup Consulting Engineer, que sintetiza os primeiros passos necessários no planejamento urbano para pedestres e ciclistas.

    A Transporte Ativo traduziu o check-list e o deixou disponível na biblioteca TA, para livre consulta. Confira aqui.

    Presente de Natal

    amo bicicleta
    Papai Noel passou por aqui e deixou presentes para todas as meninas e todos os meninos que foram bons ciclistas durante o ano.
    Gifs animados que podem ser baixados e usados livremente em blogs, sites, emails. De graça!

    coração quebrado

    Por enquanto são 3 modelos, em 3 tamanhos diferentes. Em breve teremos mais. Confira aqui
    Use. Divirta-se. Espalhe. Pedale!