Espaço público em debate

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Almoço grátis não existe. E no uso do espaço público, tudo que é de graça na verdade tem seu custo dividido por todos. Um exemplo clássico é o estacionamento gratuito de automóveis particulares nas vias. Um espaço que pertence à sociedade é utilizado livremente pelo dono de uma propriedade particular.

No nobre bairro de Moema, em São Paulo, a prefeitura, reduziu o espaço para o estacionamento gratuito visando benefícios para a fluidez do trânsito. Além disso, para compensar a redução dos espaços para estacionar, implantou o estacionamento rotativo nas ruas. Tudo para gerenciar de maneira mais eficiente o território limitado das ruas.

A medida, infelizmente, gerou descontentamento junto a um grupo de moradores e comerciantes da região. Um caso claro de confusão entre interesses privados e o bem maior.

Reverter o cenário de imobilidade motorizada em São Paulo envolve uma série de medidas, muitas vezes polêmica. A restrição ao estacionamento em locais públicos é uma delas.

Isso implica na readequação da circulação de moradores e visitantes do bairro. Comerciantes precisam depender mais da clientela local que aos poucos terá mais incentivos para deixar o carro na garagem e circular a pé ou de bicicleta pelo próprio bairro.

Para qualificar o debate, estão sendo promovidas audiências públicas na Assembléia Legislativa:

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Serviço:
Audiência Pública
Terça-feira, dia 25 – às 19h
Local: Plenário José Bonifácio
Assembleia Legislativa de São Paulo
Avenida Pedro Álvares Cabral, 201, 1 andar
Em frente ao Parque do Ibirapuera

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As cidades e seus caminhos

Nossas cidades são os percursos que fazemos nelas e no século XXI estamos reaprendendo a importância da densidade humana. A grande vantagem e dificuldade do meio urbano. Para imaginar como serão as cidades do futuro, é preciso conhecer como elas estão hoje, só assim será possível reinventá-las.

Dois jornalistas da revista Época SP mudaram-se para o centro da paulicéia durante um mês. Irão conhecer a vida e o cotidiano da região mais movimentada da cidade, mas onde poucas pessoas moram. Nas palavras de Camilo Vannuchi:

Hoje saí para explorar o pedaço. Quer dizer… não cheguei exatamente a sair. Optei por começar explorando nosso prédio.Toda boa exploração deveria seguir esse caminho, do mais perto pro mais longe. Tem tanta gente especialista em grandes questões nacionais que não conhece direito sequer seu bairro, sua rua, seu prédio… Eu, pessoalmente, defendo que é na cidade que a gente vive, muito mais do que no “país”, e, por isso, se a gente cuidasse com mais carinho da nossa vizinhança, daríamos uma bela contribuição para a cidadania e para o futuro da nossa cidade.

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A simplicidade no ambiente urbano

Para além das grandes obras, suas grandes avenidas e viadutos, uma cidade tem muitas vezes detalhes esquecidos. Becos que ninguém cuida, vazamentos que pingam livremente há anos. Mas também existem pessoas que se focam em pequenos e inspiradores detalhes.

Um simples gotejamento não só deixava feia uma calçada, mas podia ser um grave risco a segurança quando a fina camada d’água congelava no inverno. Um grupo de artistas interveio com uma solução improvisada que chamou a atenção das pessoas certas que enviaram o maquinário pesado que resolveu o problema.

Astoria Scum River Bridge from Jason Eppink on Vimeo.

De uma maneira ainda mais completa, uma iniciativa em São Paulo que buscou não só agir para que algo fosse feito, mas da prática reverter um contexto desagradável. A filosofia por trás é o “Manifesto BioUrban” que começa assim:

A arquitetura e urbanismo modernista mata, é ademocratico, é panoptico e rouba o dinheiro público. O manifesto BioUrban é a antítese quanto concepção. É a resistência filosófica e estética da prática do construir e viver Cidade. É a vida. É a Cidade Viva.

O vídeo abaixo explica um pouco mais.

Existem muitas formas de viver nas cidades e vivenciá-las. Mas sempre, as melhores cidades são aquelas em que seus habitantes tomam para si o espaço compartilhado de todos.

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Como começar bem o dia

A maneira como escolhemos ir de um lugar a outro na cidade influi diretamente sobre nossa percepção em relação a cidade.

Começar bem o dia de bicicleta é aquela velha história do vento no rosto e a endorfina no sangue. Mas um “experimento pedestre” vale a pena ler.

Rodolpho foi ao trabalho a pé e resolver dar “bom dia” a todas as pessoas que encontrasse no caminho, sem exceção. Do porteiro do prédio até o pessoal da reforma, todo mundo foi saudado igual.

Resultados obtidos:
1. Moradores de rua, ciclistas e pedestres de calça jeans: responderam com “bom dia”;
2. Motoristas: não responderam e colocaram uma cara que eu descreveria como “vou te atropelar”;
3. Pedestres em roupa social ou terno: ignoraram;
4. Pedestres do sexo masculino, quando há uma bunda feminina para observar: ignoraram o “bom dia” também.

Conclusões:
1. Motoristas odeiam pedestres que andam mais rápidos que eles;
2. Preciso fazer a barba e cortar o cabelo, os moradores de rua estão me achando um deles;
3. Roupa social e bundas femininas tornam uma pessoa mais arrogante.

Pode ser uma experiência maluca ou uma pequena tese de antropologia, mas com certeza é sempre divertido estar vivo e experimentar sua própria cidade.

Leia a postagem original: “Experimento Matutino“.

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Pedestres e comércio

Associações de lojistas e comerciantes em geral tendem a ser contra iniciativas que abram espaço para a livre circulação de pedestres em detrimento do fluxo motorizado. Felizmente acabam sendo sempre maravilhosamente desacreditados em suas previsões e medos iniciais.

Calçadões e ruas exclusivas para pedestres tendem a atrair mais pessoas e a instalar um ambiente favorável para vendas. Até porque somente estacionamentos tem no fluxo de automóveis a sua atividade final. Pessoas são as responsáveis por comprar, comer e consumir diversão.

Cada rua a mais para o trânsito exclusivos de pessoas é uma benesse para as cidades e ajuda a estimular a demanda que precisamos no espaço urbano. A demanda por qualidade de vida e convívio humano, onde é importante estar e não cruzar em alta velocidade rumo a um destino distante em que as ruas não passam de um borrão indistinto de prédios.

Ruas para pedestres são mais do que “centro de compras a céu aberto”, por serem de livre circulação para todos. Elas fazem mais sentido com uma rede de transporte que dê suporte ao grande afluxo de pessoas. Até porque a valorização do espaço tende no longo prazo a inviabilizar o uso de terrenos como espaço para estacionamento, ou ao menos desencorajam viagens motorizadas pelo alto custo para estacionar.

A foto que ilustra esse post é na mesma rua da foto abaixo. É a Calle Fuencarral em Madrid que antes era assim:

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Google StreetView

As imagens de Madrid foram retiradas de um post no blog português “Menos um carro” que trata de uma reportagem no New York Times. O jornal norte-americano menciona como o comércio da Calle Fuencarral se tornou mais vigoroso depois que as pessoas puderam circular livremente. Bom para as grifes internacionais e as pequenas lojas de estilistas instaladas lá. Tudo partindo da premissa de que as pessoas tendem a frequentar mais um lugar onde podem caminhar com conforto e tranquilidade, sem se esbarrarem umas nas outras.

O Brasil também tem o exemplo pioneiro de Curitiba, cidade modelo nos anos 1970 e que hoje enfrenta enormes desafios pelo crescimento demográfico que sofreu. Fruto, em grande parte, da qualidade de vida de parques, o primeiro calçadão do Brasil e um sistema inteligente de transporte. Um trinca de boas iniciativas urbanas que atrairam pessoas e novos negócios para a cidade.

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