Amar ao pedestre sobre todas as coisas

Para os sábios e entendidos de nossa nação, os pedestres estão acima de todos. Mas a palavra maior que orienta o trânsito brasileiro não parece devidamente respeitada. São descriminados em juízo os pequenos, que temem a face de um ser inorgânico semovente.

Caminhamos todos, rumo ao topo. Maior e mais alto tornou-se o povo e as cidades fortificadas se despiram dos elementos de guerra em nome da paz. Santificado foi o pedestre, incólume acima de todas as coisas e assim foi escrito:

os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

Código de Trânsito Brasileiro – Art. 29, § 2º.

Aos homens de pouca fé, no entanto, o direito da máquina ainda parece prevalecer e visam atribuir ao ser inorgânico semovente caráter de divindade. Erro crasso, sem dúvida. Frágeis e sem nenhum objeto que lhes resguarde a vida, o pedestre é criatura sagrada no trânsito.

O que foi redigido ainda tem um longo caminho para que seja cumprido. As velocidades do fluxo motorizado tem de ser adequadas à segurança do pedestres, as rotas seguras de travessia tem de estar presentes e naturalmente os caminhos desempedidos nas calçadas também. Até que a fluidez de quem vai a pé seja devidamente priorizada, haverá consequências em que a vítima vai ser sempre o pedestre.

Corrigir distorções que penalizam os pedestres é portanto o caminho inicial e fundamental para que a mobilidade das pessoas esteja acima de todas as outras.

Bicicletas Públicas em Barcelona Salvam 12 Vidas Por Ano

 

O sistema de bicicletas públicas de Barcelona, o “Bicing”, salva 12 vidas por ano e economiza 9.000 toneladas de CO2 (gás de efeito estufa), segundo um estudo do “Centro de Investigación en Epidemiología Ambiental (CREAL) de Barcelona”.

“É evidente que as políticas de transporte, que promovem a atividade física, são um bom meio para melhorar a saúde da população e reduzir os gastos em saúde pública”, declara Dr. David Rojas-Rueda, pesquisador do CREAL e principal autor deste estudo.

Os resultados, publicados no British Medical Journal, se baseiam num estudo de impacto na saúde do Bicing, o sistema de bicicletas públicas de Barcelona, que hoje conta com umas 6000 bicicletas, 420 estações e 120.000 usuários.

De fato, estes serviços são cada vez mais populares na Europa, e mais de 70 cidades já contam com ele (Entre elas: Berlim, Londres, Oslo, Paris e Servilha). O maior sistema, na Europa, é o de Paris, que conta com 20.000 bicicletas e mais de 1.200 estações.

Bicicletas, segurança e mobilidade

Quando se discute o uso da bicicleta, a segurança é sempre identificada como questão vital.

Para incentivar e apoiar o uso da bicicleta, é preciso que a segurança e o engajamento público andem de mãos dadas.

Usar os benefícios para a saúde como argumento e gatilho para uso da bicicleta não é bom o suficiente. Ninguém pode esperar que pessoas comecem a pedalar se um nível mínimo de segurança não for alcançado. Basicamente isso significa providenciar espaço para andar de bicicleta nas áreas urbanas – o que pode ser feito de muitas maneiras diferentes.

Um boletim publicado pelo projeto Civitas Mobilis avalia a situação de segurança em quatro cidades europeias (Ljubljana, Odense, Toulouse e Veneza) e faz uma síntese das discussões havidas num workshop sobre o assunto, que traduzimos a seguir, com adaptações:

Lições aprendidas

Para reforçar a cultura de mobilidade sustentável e implantar condições mais seguras para o uso da bicicleta em áreas urbanas, as soluções propostas precisam abranger diferentes áreas de ação:

• Infraestrutura
• Regulamentos
• Consistência e equidade
• Cominação (fazer cumprir as leis)
• Educação
• Sensibilização e compreensão mútua

Especialistas apontaram que as questões de segurança devem ser focadas em:

• segurança nos cruzamentos
• segurança da bicicleta contra acidentes e crimes
• promoção da cultura de uso seguro da bicicleta
• cooperação entre ONGs e Prefeituras

De acordo com a estatística de acidentes, a segurança em cruzamentos foi identificada como o ponto mais crítico quando se anda de bicicleta. Para maior segurança, várias soluções técnicas têm sido identificadas (sinalização, vias e áreas exclusivas para bicicletas), mas cada um tem vantagens e desvantagens.

A principal solução é adotar a área de espera (“ciclocaixa”) para ciclistas entre a faixa de pedestres e os veículos motorizados. Na Dinamarca, por exemplo, uma maior segurança para os ciclistas que vão virar à esquerda no cruzamento foi obtida com faixas exclusivas paralelas à travessia de pedestres. Com faixas exclusivas em interseções adota-se uma infraestrutura que permite que o ciclista seja visto pelos condutores de automóveis e caminhões.

Em Liubliana, o maior problema de segurança são os roubos que acontecem constantemente. Uma das possíveis soluções para este problema é a introdução de chips de identificação das bicicletas. Fazer seguro é possível somente quando são usados travas e cadeados com qualidade certificada. Neste caso, a questão financeira não é o preço do chip, mas o tempo empregado pela polícia ao procurar a bicicleta roubada.

A promoção da cultura para uso seguro da bicicleta pode ser feita de várias formas, utilizando diferentes ferramentas e com foco em públicos diferentes.

Apenas projetos educativos são demorados, uma vez que levam, como no caso de Odense, de 20 a 30 anos para alcançar a mudança comportamental. A educação deve ser completada: 1) pela cominação, ou seja, forçar o cumprimento das leis, medida geralmente considerada antipática e desestimulante, mas obviamente indispensável quando mudanças rápidas são necessárias; e 2) por medidas de engenharia, fornecendo infraestrutura segura como base.

Em Odense, há 30 anos começou a política de resolver os problemas do uso da bicicleta na cidade, com ações para tornar a mobilidade por bicicleta melhor e mais segura (nova e melhor infraestrutura cicloviária) e os políticos foram envolvidos, dando apoio à bicicleta. Foi estabelecida uma boa comunicação entre a administração da cidade e os ciclistas. Em 1998 a Dinamarca adotou um novo projeto de mobilidade por bicicleta, tendo as questões de saúde como uma das principais forças motrizes. Contudo, a experiência em Odense e Louvain mostra que, em termos de educação, o mote é trabalhar com crianças.

Nas cidades pesquisadas, foram estabelecidas cooperações de vários níveis e dimensões entre ONGs e administrações públicas nas últimas décadas. Em Veneza, por exemplo, o coordenador de mobilidade por bicicleta costumava trabalhar para ONGs e tem uma abordagem mais crítica do que outros funcionários públicos, pois conhece diretamente os problemas enfrentados por quem anda de bicicleta. Em Liubliana foi instituída uma abordagem mais participativa – há 10 anos, por meio de manifestações e com propostas de eliminar pontos críticos e de haver ciclovias limpas e contínuas, ONGs começaram a informar a administração da cidade sobre os problemas críticos que os ciclistas enfrentam na cidade. Em Toulouse, várias organizações oferecem serviços de aluguel de bicicletas, desde voluntários a empresas privadas. Em Munique, juntamente com as autoridades, ONGs realizaram campanhas inovadoras na cidade, como dias sem carro, fechamento de áreas da cidade ao tráfego motorizado e atividades educativas.

Para conhecer, com mais detalhes, as medidas adotadas nas cidades citadas, leia o Boletim Mobilis nº 4 (PDF, em inglês).

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Mostrando preocupação sobre este tema, no dia 22 de julho, a Prefeitura do Rio promoveu o Painel Brasileiro de Segura Viária, como parte dos preparativos do Dia Mundial Sem Carro – 22 de setembro. Saiba mais aqui.

Policiamento com bicicletas

As chances de ver um policial de bicicleta são provavelmente maiores do que há 30 anos. O que está causando o renascimento?

Na maioria das cidades do Reino Unido e em outras cidades pelo mundo afora, a polícia está novamente usando bicicletas de alguma forma. Elas estão sendo utilizadas no trabalho comum de patrulha, mas também de forma mais ativa como um veículo de repressão do tráfico de drogas e demais criminalidades urbanas. Em Londres, o número de bicicletas de polícia aumentou de pouco mais de 400, em 2005, para cerca de 2.500 em 2009.

Alguns locais ainda estão encontrando dificuldades para colocá-las no orçamento da cidade, e muitos duvidam do seu valor. Mas, uma vez colocadas para trabalhar, bicicletas de polícia são um sucesso unânime.

Isto não surpreende, pois a bicicleta possui vantagens óbvias:

1) Discreta. Todas as polícias destacam o fato de serem veículos silenciosos, quase “invisíveis”. Pode-se surpreender grupos de criminosos surgindo por onde eles menos esperam, sobretudo por rotas de fuga onde não dá para passar um carro.

2) Rápida. Em Londres, onde há mais bicicletas de patrulha do que viaturas, o tempo de resposta a chamadas caiu pela metade. E em 70% dos casos elas chegam à cena antes das ambulâncias.

3) Acessível. As pessoas têm mais facilidade de acenar e conversar com policiais ciclistas. Também é comum relatos de crianças que se aproximam querendo saber sobre as bicicletas. Um sargento britânico salienta “este tipo de conversas revela algumas excelentes informações que levam a uma série de problemas de comportamento anti-social a serem abordados e resolvidos”.

4) Baixo custo. A cidade de Glasgow relatou que “podem ser empregados 15 policiais ciclistas pelo mesmo custo de adquirir e manter um carro.” Mas um gasto suplementar que não pode ser esquecido é a manutenção, que por vezes pesa tanto quanto a aquisição das bicicletas.

5) Saudável. Bicicletas mantêm os policiais em boa forma física. Além de melhorar a autoestima pessoal, a corporação e a cidade ganham porque as faltas ao trabalho por motivo de doença são reduzidas drasticamente.

Há desvantagens.
É inviável para transportar pessoas presas. E caso a situação exija, é preciso gastar um tempo preciso trancando as bicicletas. No primeiro caso, uma viatura pode ser chamada. No segundo caso, pedalar em duplas reduz as chances de uma bicicleta policial ser roubada em tumultos. Além disto, alguns modelos de bicicleta possuem um mecanismo de blocagem rápida da roda dianteira, que não precisa de chave para bloqueá-lo, apenas para abri-lo.

Por falar em modelos de bicicleta, confiabilidade e resistência são mais importantes do que desempenho. Suspensão dianteira para subir e descer degraus ou meio fios, e forros de pneus kevlar anti-furo são muito úteis. Numa frota grande, cada bicicleta deve ter identificação única, para facilitar os registros de serviço, semelhante às demais viaturas.

O kit que acompanha as bicicletas é a roupa (bermuda, capas, faixas/coletes fluorescentes, luvas, sapatos, etc), bagageiros e alforjes, sirenes, capacetes, trancas e outros opcionais. Em alguns lugares, bicicletas podem usar as luzes piscantes que identificam os veículos da polícia, mas isto depende de cada legislação.

Por fim, o uso da bicicleta pela polícia é bom para melhorar o status dos ciclistas em geral, um grupo ainda considerado como delinquentes por muitos motoristas. Se a própria polícia usa bicicletas, mostra que elas são uma forma inteligente e rápida de se locomover.

[traduzido e adaptado de Police on mountain bikes]

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Com o objetivo de contribuir para que o policiamento por bicicleta também seja uma realidade brasileira, a Transporte Ativo traduziu dois textos com orientações básicas:

artigo

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Clique nas imagens para baixar os PDFs ou diretamente aqui:
Policiamento com bicicletas – como criar uma unidade de patrulha
Policiamento com bicicletas – controle de multidões