Bicicleta na estrada

Muitos usuários da bicicleta como meio de transporte acabam, mais cedo ou mais tarde, caindo na estrada com a magrela. Uma viagem turística ou apenas de deslocamento soa, para muitos, como loucura. É verdade que a velocidade dos veículos automotores é muito maior nas estradas e os acidentes costumam ser graves. Porém há estradas e estradas. Parte do processo de viajar de bicicleta inclui o planejamento das distâncias, paradas e a escolha da rodovia. Estradas secundárias com acostamento e pouco trânsito são as mais seguras e prazerosas aos que viajam a pedal. Mesmo estradas principais podem ser uma boa escolha quando já conhecidas pelo ciclista por sua tranqüilidade e pela sinalização.

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Rodovia Santos Dumont (Rio – Teresópolis).
Foto Edu

Um atrativo a mais é a solidariedade que se pode encontrar na estrada, principalmente de caminhoneiros, que ao entenderem que aquela bicicleta com alforjes está sendo usada numa viagem se identificam com o ciclista que tem gosto pela estrada. A bicicleta, aliás, é muito mais querida na estrada do que na cidade e é um cartão de visita capaz de quebrar barreiras de comunicação e aproximar as pessoas do viajante.

Para quem quer começar a dica é escolher estradas mais calmas e procurar um companheiro mais experiente. Depois é só curtir os finais de semana em viagens curtas no entorno de sua cidade.

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Estrada secundária na região de Vassouras RJ.
Foto Edu

Se o ciclista já estiver acostumado com a sua bicicleta pode experimentar uma viagem curta sozinho, se bem planejada será uma viagem memorável. Quando já estiver mais tarimbado pode começar a se aventurar em viagens mais longas, com alguns dias de duração e por lugares inóspitos onde o contato com a natureza e o auto-conhecimento são ainda maiores. Para isso o planejamento deve ser ainda mais detalhado e a companhia de amigos já conhecidos de outras pedaladas é muito importante pra concluir a viagem sem aborrecimentos e com boas histórias e fotos para mostrar.

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Travessia da Praia do Cassino no Rio Grande do Sul.
Foto Marcelo Kulevicz Bartoszeck

> Saiba mais em: www.clubedecicloturismo.com.br

Uma Nova Bicicleta em Sampa

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Foto Zé Lobo

Impressões sobre a chegada de uma nova Dahon em São Paulo.

Descobri duas coisas. Que tem um lugar chamado Café Galícia no fim da Consolação que faz uns sucos inacreditáveis. Uva verde com água de coco, nesse naipe! Pretendo voltar com certeza.

(…)

Como o funcionário do metrô Anhangabaú que me perguntou:
– É estrangeira ela né? Inglesa? Americana?
– Americana.
– Ah…E é pra competição?
– Hã..Não…Competição?
– É que ela dobra desse jeito, pra que serve?
– Pra entrar no metrô?…

Escrito por Pedalero.
Via Apocalipse Motorizado

A vida é feita de simples prazeres. Vento no rosto e total liberdade de ir e vir. Veículos leves a propulsão humana clarificam que “menos é mais”.

Um vídeo de integração modal das Dahon. Dobradas elas se integram à ônibus, trem, metrô, barco e avião. Desdobradas, desbravam.

Planejamento Cicloviário

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Foto Zé Lobo

A defesa de ciclovias costuma ser uma grande bandeira para a promoção do uso da bicicleta como meio de transporte. No entanto, mais do que simplesmente espaços segregados para os meios de transporte à propulsão humana, deve-se pensar em planejamento cicloviário.

Cinco exigências podem resumir a questão de maneira bastante direta na execução de qualquer projeto de ciclovia ou que simplesmente vise o incentivo ao uso da bicicleta. São eles:

1. Segurança Viária

Todo o planejamento e desenho da infra-estrutura cicloviária tem de ser pensando em conjunto. Redes viárias, pisos de qualidade e cruzamentos que não gerem riscos. Tudo deve garantir deslocamentos seguros para todos os usuários, sejam ou não ciclistas.

2. Rotas diretas/rapidez

Nesse caso tudo deverá ser pensado com o objetivo de minimizar o tempo e o esforço necessário para os deslocamentos por bicicleta. Como a água segue sempre o caminho mais curto e rápido, assim devem ser as rotas cicloviárias de qualidade.

3. Coerência

Ser coerente implica em manter não só uma unidade visual em relação a sinalização e pisos, mas também em rotas completas e fáceis de serem seguidas.

4. Conforto

Para que mais pessoas utilizem a bicicleta com meio de transporte, o fato das vias serem confortáveis certamente representa um fator fundamental. Atingir esse objetivo primordial, requer poucas paradas, piso de qualidade, largura adequada, proteção das intempéries sempre que possível e que o ciclista nunca seja forçado a desmontar da bicicleta durante seu deslocamento.

5. Atratividade

A atratividade requer um grande esforço no planejamento, mas certamente é a mais fácil de visualizar como necessária. Quem não usa a bicicleta como meio de transporte se sentirá convidado a fazê-lo quanto mais atrativa for a infra-estrutura. Para isso, deve-se pensar em rotas que cruzem ambientes diversificados, agradáveis, que não coincidam com vias arteriais de trânsito motorizado e por fim, que não seja zonas inseguras em relação à criminalidade.

Um vídeo feito na cidade de Nova Iorque exemplifica diversas situações de conflito vividas num ambiente que ainda requer um grande esforço no campo do planejamento cicloviário.

– Esse texto foi baseado na apresentação do Engenheiro do I-Ce Jeroen Buis (“As 5 principais exigências para o planejamento cicloviário“) durante o Curso de Planejamento Cicloviário realizado na cidade de Guarulhos em agosto de 2006.

Capacetes e Segurança

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Foto do autor

O uso ou não de capacete é polêmico, e exatamente por isso não há opinião “certa”. Eles evoluíram muito desde aqueles modelos só de isopor, “cogumelão”, mas é sempre bom rever freqüentemente os conceitos em relação a esse equipamento. Cada pedalada é uma experiência diferente, não se pode generalizar as situações.

Quanto à questão de “usar pois assim estamos mais protegidos”, é uma meia verdade. Vejo dezenas de pessoas usando capacete, mas só uma pequena minoria usando campainha, refletores e espelho retrovisor, que têm uma eficácia muito maior. A valia desses acessórios está em prevenir o acidente, não minimizar suas conseqüências. Mesmo se formos nos ater a elas, deveríamos todos usar luvas, cotoveleiras e joelheiras, já que previnem a ocorrência de ferimentos que, mesmo de menor gravidade, ocorrem mais frequentemente.

Creio que uma das grandes vantagens da bicicleta é sua “despretensiosidade”. Todos comentamos como é fácil e gostoso simplesmente subir na bici e sair por aí. Portanto em certas situações, pra que complicar, tendo que usar capacete? Pra ir na padaria, não precisa de capacete. Precisa sim, de uma cestinha pra pôr o pão dentro, pois carregar a sacola no guidão tira o controle, é perigoso.

Outro motivo para não usar o capacete: é muito quente. Podem até tentar me convencer que os novos capacetes, com 357 aberturas de ventilação, não são quentes. Na verdade, são menos quentes e custam 700 reais, ou R$ 2 por furo de ventilação. Durante uma pedalada no ano novo, mesmo na serra catarinense o calor estava de rachar e optei por pedalar sem capacete para refrescar. Nesse momento, muito mais importante foi o boné.

Interessante como todo mundo, quando quer dar um exemplo de civilidade e uso da bicicleta, dá o exemplo da Holanda, de como eles têm intimidade com a bici, são o máximo. Vale assistir ao vídeo “Cidades Amigas da Bicicleta” e contar quantas pessoas estão usando o capacete. Claro que a realidade deles é diferente, que estão expostos a menos riscos, têm motoristas e ciclistas mais educados, vias melhores, etc. Mas não precisamos radicalizar, uma coisa é fazer um downhill a 80 km/h numa trilha cheia de pedras ou uma viagem de 200 km por uma BR, com uma bici pesando 40kg. Outra é fazer um passeio à beira-mar, de Ceci. O bom senso é nosso maior companheiro.

Uma outra questão relativa ao “pensamento único dominante” de que devemos todos, sempre, usar capacete, é que acabamos por afastar quem não faz. Acho que não podemos nos dar a este luxo, podemos sim sempre recomendar o uso, mas não obrigar e repreender. O capacete “entrou em cena” só após o mountain bike. Antes, nem os ciclistas de competição de estrada o usavam. Claro que muitos morreram e que inegavelmente é mais seguro usá-lo. Mas há uma diversidade enorme de modos como a bici é usada.

Capacete é legal, mas não é a solução do mundo. Há vida na cabeça pelada. Sentir o vento passar entre os fios de cabelo, é uma garantia de voltar à infância, pois essa é a autêntica sensação de liberdade que a bici traz. Não se prendam a dogmas.

– Mais sobre o tema em dois artigos anteriores:
Uso do Capacete” e “Capacetes e Cabelo

Pedalar no Escuro

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Foto Zé Lobo

A noite é agradável companheira do ciclista urbano. Principalmente nos dias de semana. Ruas livres, mais silêncio e uma aprazível solidão. Aos que conhecem e admiram a cidade, sair de bicicleta com a benção das estrelas é um prazer inigualável.

O horário varia de acordo com as vias escolhidas. Pedalar na madrugada

A segurança viária e pessoal são fatores importantes. Enquanto durante o dia a possibilidade de ser “colhido por trás” por um automóvel varia em torno de 1%, durante a noite esse tipo de acidente passa a ser estatisticamente relevante e medidas preventivas devem ser tomadas. Refletivos e luzes na bicicleta, além de um colete reflexivo no corpo. Tudo para ver e ser visto. Em relação a segurança pessoal, seguir pelo trânsito normal dos motorizados é a melhor atitude. Num ritmo constante e silencioso, a bicicleta torna-se imune a ação de gatunos. Atenção as paradas e trechos estreitos.

Há uma maneira diferente de pedalar no escuro disponível para um grupo mais restrito. Os deficientes visuais tem sempre a possibilidade de pedalar em uma tandem, como foi relatado anteriormente. No entanto, um grupo norte-americano chamado de “Time Morcego” (Team Bat), é capaz de praticar o Mountain Bike sozinho na sua própria bicicleta. Para isso, eles utilizam o princípio da ecolocalização, ou biosonar. Através dessa técnica, os deficientes visuais tornam-se capazes de realizar atividades não esperadas.

A bicicleta serve não só para ter um olhar diferente sobre a cidade, mas também pode ser usada para abrir um mundo de possibilidades e visualizações.