As cidades e seus caminhos

Nossas cidades são os percursos que fazemos nelas e no século XXI estamos reaprendendo a importância da densidade humana. A grande vantagem e dificuldade do meio urbano. Para imaginar como serão as cidades do futuro, é preciso conhecer como elas estão hoje, só assim será possível reinventá-las.

Dois jornalistas da revista Época SP mudaram-se para o centro da paulicéia durante um mês. Irão conhecer a vida e o cotidiano da região mais movimentada da cidade, mas onde poucas pessoas moram. Nas palavras de Camilo Vannuchi:

Hoje saí para explorar o pedaço. Quer dizer… não cheguei exatamente a sair. Optei por começar explorando nosso prédio.Toda boa exploração deveria seguir esse caminho, do mais perto pro mais longe. Tem tanta gente especialista em grandes questões nacionais que não conhece direito sequer seu bairro, sua rua, seu prédio… Eu, pessoalmente, defendo que é na cidade que a gente vive, muito mais do que no “país”, e, por isso, se a gente cuidasse com mais carinho da nossa vizinhança, daríamos uma bela contribuição para a cidadania e para o futuro da nossa cidade.

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Esporte e o futuro das cidades

Roterdã é uma grande metrópole européia, com mais de 6,7 milhões de habitantes na sua região metropolitana, ainda assim, o centro da cidade tem ao redor de 500 mil habitantes desde 1925. Foi cidade que se reinventou e superou diversidades ambientais e a guerra que colocou tudo abaixo em 1940.

No entanto o passado pertence aos livros de história e uma cidade só se mantém ao longo do tempo quando seus administradores também sabem manter os olhos no futuro. A bicicleta não é só moda passageira, mas representa a qualidade de vida das cidades que irão manter sua relevância econômica e política.

A largada do Tour de France, ou le Grand Départ é o tema por trás de um vídeo promocional para promover Roterdã. A bicicleta e seus diversos usos em uma cidade que irá ser tomada pelas velozes máquinas do asfalto em uma prova competitiva de importância mundial.

Os atletas internacionais tornam-se menores diante das pedaladas cotidianas, que definem o caminho que de toda uma cidade em direção ao futuro que almeja.

Via Copenhagenize.

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Festival Ciclobr

Vai ter bike-polo, bikester e prova do cotonete. Vale passar pelo Parque das Bicicletas a partir das 9h desse sábado, 27 de fevereiro e no domingo 28.

Quanto as definições, bike-polo é um pouco como o tradicional polo, mas com bicicletas no lugar dos cavalos. Bikester é um campeonato de arrancada com bicicletas infantis em que não valer se levantar do selim. Já a prova do cotonete é similar ao desafios medievais em que cada cavaleiro tinha que derrubar seu adversário com uma lança. Nesse caso, novamente saem os cavalos e no lugar das lanças, tubos de papelão com luvas de boxe.

Haverá também infraestrutura para os espectadores com direito inclusive a manobrista de bicicletas no local.

Mais informações sobre o Festival Ciclobr.

Bicicletas para todos

A bicicleta felizmente está na moda, não custa repetir. Mas isso ainda é pouco, muito pouco. Ainda há uma grave divisão entre os usuários da bicicleta e principalmente na percepção em relação as magrelas.

Veículo dos pobres, excêntricos ou esportistas, a bicicleta ainda tem um longo caminho a percorrer, para ganhar escala no que sempre foi, o melhor meio de transporte urbano para distâncias médias e curtas.

O discurso “cicloativista” tende a ser messiânico, acredita em salvação e redenção. Como os evangélicos acreditam que não são pecadores porque foram lavados pelo sangue de Jesus. Ou tem sabor marxista, intelectuais orgânicos ou engajados, portadores predestinados da missão revolucionária sagrada de mudar o sistema político-social em nome de uma nova ordem mundial.

Com isto, podemos conseguir 2 ou 20 adeptos. Convencer vereadores a votarem “políticas cicloviárias municipais”. E construir “rotas cicláveis” a toque de caixa. Em que isto vai mudar a vida do Sr. Modesto?

Falta perguntar ao homem-de-gravata-que-vai-chegar-atrasado-no-trabalho e à mulher-de-calça-branca-que-leva-os-filhos-ao-colégio se eles querem ser redimidos ou se querem salvar o mundo. Talvez eles queiram apenas chegar aos lugares da forma que lhes for mais conveniente.

Para sensibilizarmos este cidadão mediano, precisamos saber como ele pensa, quais são suas ambições, aspirações e medos. Ainda não sabemos conversar com o “pobre” que usa a bicicleta hoje, mas assim que melhorar de vida um pouquinho, compra uma moto ou um carro usado. Tão pouco sabemos conversar com o cidadão classe média, convencê-lo a usar bicicleta assim como usa escova de dentes, sem fazer dele um ativista, sem levantar bandeiras do anti-consumismo e do ecologismo, batismo de iniciação na excentricidade.

Construir cidades para pessoas e com mais bicicletas é um caminho longo, com muito diálogo e pressão política, mas acima de tudo valorizando o que é mais importante em qualquer planejamento, a condição humana e nossas fragilidades diante do mundo e das máquinas complexas que criamos. Não somos assim tão diferentes de qualquer outro animal social, seguimos líderes, agimos em bando e sozinhos, somos fracos e medrosos.

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Mais amor, mais transporte, mais esporte

O Campus da Universidade de São Paulo na zona oeste da capital formou personalidades políticos, cientistas, pesquisadores e pensadores. A cidade universitária nasceu também para desarticular a luta dos estudantes contra o regime. Os prédios e vias seguem firmes, no entanto uma universidade é um lugar em outro espaço tempo, onde alunos sempre renovam o ambiente.

Carente de espaços públicos de qualidade, muitos paulistanos buscam refúgio no campus da universidade. Pistas são tomadas por ciclistas em máquinas leves capazes de alcançar altas velocidades, corredores de rua também frequentam a USP para treinar. A atitude agressiva de alguns esportistas em bicicleta no trânsito dentro do campus fez com que a presença deles chegasse a ser até mesmo proibida.

Um anacronismo. Mas que é baseado na atitude opressora de pelotões de ciclistas em alta velocidade que por serem um grupo forte intimidavam os demais frequentadores da universidade. Assim como o Pateta fica feroz atrás do voltante alguns ciclistas faziam o mesmo. A proibição na USP não está mais em vigor, mas ainda existem conflitos e a administração não sabe bem como resolver o “problema ciclístico”. Até mesmo o autódromo de Interlagos foi proposto como local para substituir os treinos dos ciclistas.

Esssa semana foi anunciada mais uma medida que claramente tem tudo para ser ineficaz naquilo que se propõe. Ciclistas e corredores deverão se cadastrar e receber gratuitamente uma carteirinha. A universidade nesse aspecto torna-se um clube, com os sócios (alunos e professores) e os atletas fazendo o papel de convidados.

A intenção, segundo o coordenador do campus, Antonio Marcos Massola, é reduzir as ocorrências, como discussões e brigas envolvendo pessoas de fora da universidade, que hoje não se submetem a nenhum tipo de controle.

Medidas de burocratização e restrição do uso nunca foram responsáveis por melhorar espaços públicos. Os ciclistas tomaram o campus por conta do asfalto liso e das pistas livres. A conduta inadequada de alguns levou aos conflitos, no entanto a melhor maneira de expulsar os indesejados é convidar os “desejáveis” a tomarem conta do espaço.

Um campus tomado por ciclistas se deslocando e passeando em baixa velocidade, ou com pistas que desfavoreçam altas velocidades são medidas muito mais efetivas do que cadastros. Regras nunca foram respeitadas simplesmente por estarem escritas em algum lugar. Leis servem para minimizar conflitos, mas quando são pensadas como um fim em si mesmo, sem levar em conta o fator humano, tendem a ficar presas no papel.

As adequações para a boa convivência entre velozes ciclistas, ciclistas lentos, corredores, e a população do campus pode e de ser feita de maneira mais amistosa. Mas restrições nunca foram o caminho e os incentivos para a prática adequada dos esportes na Cidade Universitária ou em outros locais da cidade de São Paulo é certamente um ganho para todos os paulistanos.

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