Bicicletas públicas em Londres

Um programa de aluguel de bicicletas públicas começou a operar nesta sexta-feira na capital britânica, Londres.
A organização Transport for London (TfL), que coordena o transporte da capital, disse que mais de 12.450 chaves foram entregues para que os londrinos que se cadastraram possam destrancar as bicicletas deixadas em mais de 330 estações.
As chaves custam 3 libras (R$ 8) e o aluguel das bicicletas varia de uma libra (R$ 2,7) por uma hora de uso até 50 libras (R$ 137) por 24 horas.
As bicicletas pesam 23 quilos e têm três marchas. Elas não vêm com travas – mas são trancadas automaticamente quando colocadas de volta nas estações encerrando o período de aluguel, para evitar que as pessoas fiquem com as bicicletas por longos períodos.

O serviço funciona 24 horas por dia, durante o ano todo.

O programa foi oficialmente lançado no parque Jubilee, na região londrina de South Bank, pelo prefeito Boris Johnson.

A TfL espera chegar a seis mil bicicletas e 400 estações até o fim do ano.

Com informações da BBC Brasil e imagens da Transport for London (TfL)

Veja mais em:
BBC News (em inglês)
BBC Vídeo com o prefeito de Londres, Boris Johnson

Enxurradas urbanas

Quando a bicicleta é a opção, devagar e sempre, vão todos.

De trem, movem-se no ritmo das composições que vem e vão.

Congestionamento, originally uploaded by kassá.

Na enxurrada de carros, ninguém se move.

Cento e cinquenta pessoas em de Bogotá. Com ruas inteligentes a cidade pode ser de poucos, de muitos, ou de todos.

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Ruas Inteligentes

Construir, a parte fácil

Brasília foi desenhada na prancheta, fruto da mente criativa de Lúcio Costa e seu “plano piloto”. Mas tão rígida nos planos, a nova capital federal não levou em conta o erro, o tempo e as incertezas. Todas as cidades não planejadas do mundo contém o erro ao longo de muitos anos e Brasília só teve 50 anos de interferências humanas não previstas.

Nem mesmo o mais “planificado planejamento” foi capaz de prever que ao invés de 500.000 a cidade fosse ter 2 milhões e 600 mil habitantes. Cercada de invasões e habitações informais das cidades satélites, Brasília reforça a distância física entre moradia e emprego, entre ricos e pobres. Niemeyer foi gênio da poesia com concreto, mas uma cidade não pode contar apenas com aço, asfalto, cimento e cabos de força.

A nossa capital federal, só é mesmo cidade por suas pessoas que garantem que toda a beleza e inovação arquitetônica dos traços de Niemeyer permaneçam firmes e bem cuidados. As rodovias que ligam a cidade e amplitude do horizonte do planalto central garantem a beleza da cidade construída, mas o desafio é garantir que esse espaço possa ser para as pessoas.

Cada superquadra é um pouco uma célula urbana quase autosuficiente, com comércio e moradia. No entanto a mesma amplitude que fascina o visitante é a que desincentiva a caminhada e a presença das pessoas nas ruas. A compartimentalização nunca fez bem as cidades, como diagnosticou Jane Jacobs.

Mesmo as vias expressas que funcionam como rodovias não foram capazes de abrigar o fluxo sempre crescente de veículos motorizados particulares e a cidade que nasceu sem semáforos hoje já convive com o malfafado congestionamento motorizado. Sinal do triunfo da mobilidade individual sobre o transporte coletivo, grande falha da capital federal.

Apesar de tudo, Brasília é o reflexo de um Brasil do passado que mirou longe rumo ao futuro. Não foi erro crasso, nem retumbante sucesso. Foi apenas um rascunho que virou maquete que ergueu-se em meio a poeira do cerrado para ser o símbolo de um Brasil que queria ir além do litoral atlântico, onde ainda vive a maioria absoluta dos brasileiros. Acabou sendo apenas uma cidade brasileira diferente e igual a todas as outras e marcadamente fruto de um tempo histórico em que o homem acreditava-se maestro do mundo.

Mais sobre Brasília:
Pólis: o Locus do Poder
Brasília, a epopeia da construção

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Sementes para o futuro

O Ciclista que Calculava

Quantidade de bicicletas para cada grupo de 1.000 pessoas (1990)
Nos Estados Unidos…385
Na Alemanha…………..588
Na Holanda…………..1.000

Percentual de viagens urbanas feitas em bicicleta (1995)
nos Estados Unidos…1%
na Alemanha………….12%
na Holanda…………….28%

Percentual dos adultos que sofrem de obesidade (2003)
nos Estados Unidos…30,6%
na Alemanha…………..12,9%
na Holanda……………..10,0%

Percentual da despesa total com saúde em relação ao PIB (2002)
nos Estados Unidos…14,6%
na Alemanha…………..10,9%
na Holanda……………….8,8%

Quantidade de pessoas que podem se deslocar no espaço equivalente a um metro de largura, em 1 hora:
Automóvel……..170
Bicicleta………1.500
Ônibus…………2.700
Pedestre……..3.600
Trem/metrô…4.000

Energia gasta por passageiro/milha (em calorias):
Automóvel….1.860
Ônibus…………..920
Trem……………..885
Pedestre……….100
Bicicleta………….35

Democracia à Propulsão Humana

O trânsito e o transporte afetam a sociedade como um todo. Todas as pessoas, indistintamente, têm necessidade de se deslocar de um lugar a outro, por qualquer meio de transporte que tenham ou estejam dispostas a usar.

A característica fundamental da sociedade brasileira é a desigualdade social. Em vez de atuar como indutor de mudanças, o Estado é usado secularmente como mantenedor de privilégios. No caso dos automóveis, soma-se uma política econômica que serve e submete-se a interesses de grandes grupos nacionais e multinacionais, há décadas.

Com isto, políticas públicas de trânsito e transporte têm sido exclusivamente favoráveis aos automóveis particulares, historicamente patrimonialistas, sem distinção entre interesses públicos e privados. Calçadas e espaços públicos são invadidos por proprietários particulares, sem que haja fiscalização ou embargos. Ruas e avenidas são duplicadas para atender pequeno número de moradores de condomínios de luxo. Permite-se estacionamentos em ruas e sobre calçadas para satisfazer interesses de comerciantes locais. Não há estudo do impacto destas obras na cidade como um todo. Ou, no máximo, as ruas são vistas como via de passagem e não espaço democrático.

Valorizar pedestres e ciclistas, impondo restrições a automóveis e priorizando o transporte público coletivo, são medidas que necessitam de uma verdadeira mudança de paradigma nas políticas públicas do município, estado e país. É necessário que os órgãos técnicos de trânsito estejam abertos à participação comunitária, por meio de orçamento participativo, grupos de trabalhos representativos e canais de comunicação eficientes e funcionais, seja na internet ou em debates abertos e audiências públicas.

É imprescindível que qualquer projeto de melhoria ou expansão da malha rodoviária passe por discussões abertas, que sejam consultados e ouvidos representantes de pedestres, ciclistas e deficientes físicos, e não unicamente orientados por interesses econômicos ou eleitoreiros.

Obras cicloviárias precisam passar pelo mesmo crivo. Se forem mal projetados e construídos, bicicletários, ciclovias e ciclofaixas não serão usados. Tornam-se um desperdício de recursos e fonte de argumentos para manutenção da cultura rodoviarista que teoricamente aquelas facilidades pretendiam contrapor.

Quanto mais democrática uma administração pública, mais obras para pedestres e ciclistas ela fará.

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Calçadas e Democracia