Devagar e Sempre

Z308

A Transporte Ativo recentemente apresentou um plano de Zonas de velocidade máxima em 30km/h e para a Prefeitura do Rio e para a Secretaria de Transporte do Estado. A proposta foi muito bem recebida e tem se espalhado, sendo inclusive pensada para outras regiões da cidade e do estado.

A adoção de áreas seguras para o uso da bicicleta através de restrições amigáveis ao uso do carro particular com sistemas de ruas com velocidade reduzida à 30km/h e uso de bicicletas em ambas as direções já é adotado em muitas cidades européias.
Em ruas onde a velocidade já é baixa e já existe o trânsito de bicicletas, a demarcação destas áreas proporciona segurança para as bicicletas consequentemente aumentando seu uso na região. Além disso, o artigo 58 do CTB permite a circulação de bicicletas no sentido contrário aos carros desde que exista de sinalização específica.

Copacabana, Zona Sul do Rio, conta com um movimento intenso de bicicletas particulares e de empresas circulando diariamente.
Muitas das ruas secundárias em Copacabana já possuem o limite de velocidade em 40km/h hora, têm um trânsito razoavelmente tranquilo. Além disso, já existe um enorme número de ciclistas que cruzam em todas as direções por estas vias. Temos portanto as condições ideais para implementação de zonas com limite de velocidade de 30km/h.

O uso da bicicleta vem aumentando em toda a cidade e também em Copacabana, veículo ecologicamente correto que estrategicamente tem sido usado, cada vez mais, em várias cidades do mundo como parte das soluções para o transporte urbano é a melhor opção para distâncias de até 5 km.
Com o incentivo de áreas mais seguras para uso deste modal, a tendência é o aumento do uso e conseqüente melhoria para a saúde da população, e de toda a cidade. Além de uma melhor fluidez no trânsito motorizado na região.

Copacabana por sua fama mundial e grande visibilidade tem tudo para se tornar um exemplo a ser replicado em outros bairros e cidades. Ao formar uma rede para a circulação de bicicletas integrando o metrô e os bairros vizinhos, os ciclistas contarão com uma infra-estrutura convidativa que fará com que hajam mais bicicletas mais vezes pelas ruas.

Veja aqui a apresentação “Zona 30 em Copacabana“.

– Mais sobre Acalmia no Trânsito.
– Confira a Contagem de Ciclistas na ligação Lagoa-Copacabana.

Cidade Maravilhosa

O dia 22 de setembro no Rio de Janeiro foi um grande sucesso. Milhares de pessoas desfrutaram a orla de Copacabana em um lindo dia de sol.

Pedestres, patinadores e ciclistas. Ao fim um show instrumental com a banda Fanfarra Paradiso que se prolongou mesmo depois da retomada do fluxo de veículos motorizados.

Abaixo o Dia Mundial sem Carro em 10 momentos:

A rua Xavier da Silveira com o fluxo liberado para pedestres, ciclistas e os automóveis dos moradores.

A manhã de sol na Avenida Atlântica, Pão de Açúcar ao fundo e pedestres nas pistas.

A chegada dos veículos de 4 rodas movidas a pedal.

Aula de Patinação.
O asfalto como espaço de lazer, atividade física e aprendizado.

O passeio ciclístico. Desfile de bicicletas.

O passeio ciclístico. Trânsito compartilhado.
Duas pistas para a massa de ciclistas e uma para os automóveis.

Grama, asfalto e dança de rua. Ao fundo os espectadores.

Fim de tarde em Copacabana.
Continuam por lá os pedestres e firme o Pão de Açúcar compõe a paisagem.

Fanfarra Paradiso em ação. O trânsito já é motorizado, e seguem por lá os espectadores.

Rio de Janeiro. Sábado, 22 de setembro de 2007.
Ensaio geral para a construção de uma cidade ainda mais maravilhosa.

Obrigado a todos que trabalharam para a realização desse dia e também a todos os que desfrutaram. Só é possível ser feliz cercando-se de felicidade humana.

  • Mais:
  • No banco de fotos.

    Transporte Público

    [photopress:decaraloscerros.jpg,resized,centered]

    Foto do Autor – Bogotá

    Uma cidade ideal é aquela que consegue dar a melhor qualidade de vida para todos os seus habitantes. Essa cidade ainda não existe. Mas nela, a população usa como veículo particular a bicicleta em curtas distâncias. O transporte público serve para distâncias maiores e ambos estão perfeitamente integrados.

    A visão primordial dos governantes da cidade ideal não é só deslocar veículos no menor tempo possível, mas fazer com que as pessoas se movam e tenham destinos agradáveis também. Essa locomoção é pensada para que todos possam ter acesso ao ambiente urbano por inteiro.

    Na cidade ideal, a escala humana é priorizada juntamente com os meios de transporte que se valem da propulsão humana. Além daqueles capazes de deslocar grandes “massas” de habitantes.

    Na foto inicial, uma avenida de Bogotá na Colômbia. Uma ciclovia ao centro, de cada lado duas pistas para o ônibus expresso chamado de “TransMilenio”, nas outras, os demais veículos motorizados. Seria a definição de uma “via rápida” (leia mais aqui).

    Abaixo o exemplo de uma via local. A ciclovia novamente em destaque.

    [photopress:ciclorruta94.jpg,resized,centered]

    Um pequeno vídeo com legendas em inglês ilustra claramente a importância do transporte público para o bom uso do espaço urbano.

    O texto pede para que se observe o espaço ocupado pelos automóveis particulares em cinco pistas com uma média de 1,4 ocupante por veículo. Um ônibus em apenas um quinto do espaço transporta 160 passageiros. Mais que o dobro das 75 pessoas em 54 carros.

    Cidades mais humanas precisam também de meios de transporte motorizado mais eficientes.

    > A eficiência do transporte à propulsão humana pode ser facilmente comprovada.

    Implementação de um Espaço Compartilhado

    O Projeto de um Espaço Compartilhado, busca criar locais públicos onde haja liberdade de movimentos e a interação social entre pessoas aconteça naturalmente. Um bom exemplo são as áreas residenciais, destinadas ao convívio, e onde o tráfego rápido deve se adaptar ao comportamento social do entorno.

    O espaço social é projetado de forma que nós não o percebamos como um espaço de tráfego, mas como um espaço de pessoas. Uma pessoa em deslocamento (de bicicleta, carro, , moto, etc.) que passa por ali está ciente do fato de que ela é um visitante, e em resposta a isso, ela ajusta seu comportamento de trânsito ao comportamento social do contexto”. INTERREG III, programa da Comunidade Européia.

    A escolha das áreas próprias para a implantação de Espaços Compartilhados deverá ser feita com muito cuidado pelos profissionais envolvidos, em lugares onde seja possível projetar uma rede lenta com uma velocidade máxima de deslocamento para veículos de 30 km/h. Isto é uma exigência para que a iniciativa funcione. Os diferentes usuários poderão dividir o mesmo espaço público e negociar a preferência através do contato visual.

    A rede “lenta” só funciona se houver uma rede “rápida”.

    A implantação de um Espaço Compartilhado implica no estabelecimento de três situações distintas: o comportamento social, o comportamento social de trânsito, e o comportamento de trânsito.

    [photopress:sharedspace2.jpg,resized,centered]

    Num espaço onde prevalece o comportamento social, os movimentos são desfocados, imprevisíveis e relativamente lentos. O comportamento das pessoas é basicamente determinado pelo ambiente físico e pela conduta dos outros, onde o contato visual desempenha um papel importante. Este tipo de convivência é predominantemente encontrado nos espaços públicos.

    [photopress:sharedspace.jpg,resized,centered]

    O comportamento de trânsito se faz presente onde as pessoas querem se mover rapidamente de A até B. A chamada “rede rápida” de estradas e autopistas.São áreas projetadas para uma movimentação veloz para diferentes lugares. Neste cenário, a função do tráfego é o fator decisivo para o projeto, e demanda um tipo específico de comportamento. É caracterizado por movimentos diretos, focados e, basicamente, previsíveis. A velocidade é alta, e praticamente não existe contato visual. As pessoas se deslocam com objetivos definidos e seus comportamentos são fortemente guiados pelos sistemas legais do trânsito, por veículos na pista e por sinais de trânsito, tais como linhas de marcação de trânsito nas estradas e placas de trânsito.

    A transição entre estes dois tipos bem diferentes de comportamento no deslocamento será caracterizado pelo comportamento social de trânsito, onde haverá uma mediação de atitudes, uma combinação de troca social com comportamento de tráfego. Para que “Espaço Compartilhado” funcione bem, é importante que se mantenham estas áreas de transição tão pequenas quanto possíveis, pois são as que oferecem maiores chances de incompreensões entre as pessoas. Ciclistas e pedestres que não estão com pressa esperam certo comportamento social da parte dos motoristas, enquanto usuários apressados presumem um outro comportamento dos demais.

    > Fotos retiradas do site shared-space.org.
    Para baixar uma publicação oficial sobre o tema, clique aqui. Também em português (pdf).

    Espaço Compartilhado

    Mônica Campos*

    Durante muitas décadas o sistema de tráfego urbano deveria organizar a circulação dos diversos modos de transporte estabelecendo uma série de regras postuladas por códigos de trânsito e implantando no cenário urbano um sistema de comunicação visual que orientasse as ações das pessoas ao se deslocar. Tanto para pedestres quanto para veículos, o sistema determinava através de placas de sinalização, sinais de trânsito, e também desníveis (calçada) onde deveria ser o lugar de cada um e como cada um deveria se “comportar” em seu lugar, para que houvesse segurança.

    A inquestionável “separação” entre os diversos modos de deslocamento em nome da tão necessária segurança começou a ser colocada em cheque pelo holandês Hans Monderman em um novo conceito conhecido como Shared Space ou Espaço Compartilhado.

    Engenheiro de tráfego e atuante na área de urbanismo desde 1969, Monderman iniciou suas reflexões a cerca desse tema há mais de 30 anos quando na Holanda havia 15 milhões de habitantes e se registravam 3,4 mil acidentes por ano. O governo holandês descontente pelas inúmeras tentativas de solucionar os problemas ocorridos pelos conflitos viários convidou Monderman para elaborar um projeto que acabasse com o grande número de acidentes ocorridos.

    A sugestão do “compartilhamento do espaço” passou da sugestão à prática na cidade holandesa de Drachten. A idéia do engenheiro de tráfego Hans Monderman foi aplicada em apenas uma quadra, pavimentada com pequenos tijolos. Nenhuma faixa de demarcação e divisão de pistas para veículos ou de travessia de pedestres, semáforo, quebra-molas, indicação de velocidade ou um guarda para disciplinar o fluxo. Suprimiu-se também a calçada.

    Embora se tratasse de uma via cujo volume de veículos circulantes era de 20.000 veículos/dia (via de trânsito pesado), Monderman conseguiu reduzir quase a zero o número de acidentes nas áreas em que o projeto foi implantado.

    Na verdade o sucesso dessa nova filosofia de projeto urbano se deve à comunicação pelo olhar. Quando os motoristas param de consultar a toda hora a sinalização e se concentram no ato de dirigir, monitorando com seu olhar o que acontece em sua volta, acabam tornando mais seguro o ambiente por onde circulam. O princípio de tudo é o respeito ao ser humano, onde o pedestre tem sempre a preferência.

    O objetivo dessa nova filosofia seria “integrar” as diversas formas de deslocamento ao invés de separá-las por meio de regras, placas de sinalização, semáforos, desníveis (calçadas). Nessa nova ótica, o espaço público seria devolvido ao ser humano, ator principal nos layouts dessas áreas de convívio.

    O advento do carro fez com que o ato de pensar o tráfego adquirisse uma influência dominante deste modo de transporte sobre o uso e projetos de espaços públicos. Os espaços públicos passaram a se tornar locais destinados unicamente à movimentação e ao tráfego de veículos motorizados, refletindo em seus projetos viários a preocupação com a fluidez dos mesmos e com o desejo de limitar os perigos relacionados à segurança. O papel do homem, como usuário do espaço, foi reduzido ao de participante do trânsito. O êxito do Espaço Compartilhado é reverter estes papéis.

    Implantado inicialmente na cidade em Drachten, o conceito será também aplicado no período de 2004 a 2008 em mais sete cidades na forma de projeto piloto. A iniciativa ficou a cargo do Programa da Comunidade Européia chamado INTERREG III. As cidades beneficiadas são: Bohmte (Alemanha), Ejby (Dinamarca), Emmen, Fryslân e Haren (Holanda), Ipswich (Reino Unido) e Ostende (Bélgica).

    Frases de Monderman:
    “Quanto mais organizado o comportamento do tráfego, mais sujeito a infrações. As pessoas têm que se organizar sozinhas, sem as autoridades”

    “Quando há separação, as pessoas pensam, esse espaço é meu. Sendo compartilhado, têm a consciência de dividir o espaço”

    “É uma evolução do conceito de preferência. Em vez de isolar a bicicleta em ciclovias, fazer com que ela tenha preferência em relação aos automóveis e, por sua vez, dêem preferência aos pedestres”.

    Mônica Campos é Arquiteta Urbanista, mestre em Engenharia de Transportes e escreveu esse texto especialmente para o blog da Transporte Ativo.

    [photopress:Shared.jpg,resized,pp_image]

    Imagens da Cidade de Roma – Exemplos de Espaços Compartilhados

    [photopress:Shared2.jpg,resized,pp_image]