O futuro das ciclorrotas

A mobilidade urbana é um sistema complexo que muitas vezes está além da capacidade de resolução linear a qual estamos acostumados. A solução está sempre além do óbvio. Por exemplo, quanto mais investimentos no sistema viário para automóveis, maiores os congestionamentos. Ou seja, veículos motorizados tendem a se comportar como os gases, ocupam todo o espaço que lhes é disponibilizado.

É preciso, antes de mais nada, rever a maneira de encararmos o problema e prover incentivos corretos. E em um sistema complexo e consolidado, como a mobilidade urbana, não há fórmula ou manual simples que possa ser replicado de maneira universal. Cada cidade tem sua lógica e cada bairro é um pequeno universo.

O caminho da experimentação paulistana em prol das bicicletas define-se aos poucos. A iniciativa recente mais clara e emblemática foi a criação das ciclofaixas de lazer, uma vitrine para a bicicleta e acima de tudo um celeiro de novos usuários. Sucesso estrondoso, a iniciativa tem sido ampliada. Ao mesmo tempo em que deu visibilidade e projeção à bicicleta, possibilitou o florescimento de mais e melhores iniciativas à favor dos ciclistas.

A vitrine da ciclofaixa de lazer funciona ao que se propõe, mas por ser uma infraestrutura que funciona apenas aos domingos e feriados, não contribui diretamente para a resolução do problema da mobilidade urbana. Daí surgem as ciclorrotas, basicamente a sinalização que legitima o fluxo de bicicletas. Ao mesmo tempo convidando o ciclista a percorrer as ruas de menor tráfego motorizado e alertando aos condutores sobre a preferência da bicicleta na via.

Ciclorrotas, no entanto, estão circunscritas à ruas de bairro em que o trânsito motorizado é menos carregado. Em vias em que o fluxo e a velocidade dos automóveis é maior, torna-se necessária uma ciclofaixa. Através da confluência de ambas as iniciativas São Paulo começa a intervir de maneira direta para facilitar e incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte no dia a dia.

O próximo passo está em aberto e, como anteriormente, não há solução pronta, será necessário medir resultados e definir rumos. Seja qual for o caminho escolhido e qual a infraestrutura o sinalização a ser implantada nas ruas de São Paulo, é preciso coibir o abuso de velocidade e a imprudência. Como no vídeo que ilustra esse post, é preciso incutir nos condutores paulistanos a incerteza que obriga a negociação.

Ciclofaixas, ciclorrotas ou qualquer sinalização no sistema viário em favor das bicicletas só irá surtir o devido efeito quando estiver presente a negociação entre os diferentes atores dentro do espaço de circulação. São Paulo optou pela publicidade em favor do respeito ao pedestre e pela legitimação da presença do ciclista na rua, são apenas os primeiros passos. Em breve será a hora de intervir no asfalto para que o fluxo nas ruas seja feito de menos arroubos de velocidade e de mais negociação fluída.

Leituras para ampliar visões:
Os sete mandamentos cicloviários.
Ruas mais tranquilas e ciclorrotas.
As mudanças em curso em Moema e suas ciclofaixas.

A exposição – Bicicletas, histórias e curiosidades

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A exposição, mais uma iniciativa do Programa Rio Estado da Bicicleta da SETRANS – RJ, foi um sucesso de publico e de mídia. Mais de mil pessoas visitaram e tiveram a oportunidade de conviver um pouco com bicicletas de diferentes épocas, participar de palestras e debates, desfrutar de milhares de folhetos. Foram distribuídos 500 exemplares do “6 Jogos de Bicicleta“, mas o mais importante foi viajar nas possibilidades que a bicicleta apresenta.

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As palestras ficaram por conta do Mauro Tavares – SETRANS Rio Estado da Bicicleta; Valter Bustos – Museu da Bicicleta; Zé Lobo – Transporte Ativo; Claudio Santos – FECIERJ; Thaís de Lima – VeliMobi; Altamirando Moraes – Sec Municipal de Meio Ambiente Rio Capital da Bicicleta. A Palestra da Transporte Ativo, Bicicleta é Veículo, apresentou as possibilidades da bicicleta ontem, hoje e amanhã, para um grupo de mais de 40 crianças e alguns adultos bastante interessados, este já vão crescer com uma outra visão das bicicletas.

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Rolou ainda o lançamento do livro Pelos Caminhos de Nuestra América de Rafael Limaverde e as atividades diárias com crianças de escolas da rede pública. O bicicletário móvel da Transporte Ativo tambem estava por lá e pelo visto teve uma semana bem movimentada.

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5 anos

Em 2 de junho, este blog da Transporte Ativo completou 5 anos.

Para nós, é uma satisfação muito grande manter este canal de comunicação e aprendizagem mútuas. Divulgamos nossas ideias em busca de uma cidade e um trânsito melhor para todos, e recebemos muito retorno, com elogios e também críticas. E com isto vamos construindo uma cultura coletiva e proativa.

Os artigos do blog tornam-se, às vezes, locais de discussão de ideias controversas, como foi o caso do post O dilema das ciclovias.

Outros posts polêmicos:
Uso do capacete
Capacete e segurança
Bicicleta com cano de descarga
Massa crítica ou falha crítica?
Pelo fim do cicloativismo.

Mas nem sempre os assuntos polêmicos são campeões de audiência. Por curioso que pareça, o post campeão é Paródias educativas, com a música Ande ciclista em ritmo de Marcha soldado.

Confira os demais posts mais acessados nestes 5 anos:
Estilo Feminino (34.084 acessos).
Bicicletas e a Música (32.815).
About Transporte Ativo (30.248).
Comodidade Ciclística (13.109).
Bicicletas nas Ruas (10.421).
Ciclismo, o Esporte (9.531).
Aprendendo a Andar de Bicicleta (9.059).

Outra curiosidade. Nem sempre os post mais polêmicos ou mais acessados são os mais comentados. Segue a lista dos 10 artigos mais comentados:
Paródias educativas – 282 comentários
Comodidade Ciclística – 46 comentários
Bicicleta com cano de descarga – 21 comentários
Aprendendo a Andar de Bicicleta – 20 comentários
Viajar de Bicicleta – 19 comentários
Massa crítica ou falha crítica? – 19 comentários
Bicicletas são bem-vindas! – 17 comentários
Bicicletas em Condomínios – 17 comentários
Bicicletas para todos – 17 comentários
Fluxos e seus sentidos – 17 comentários

Ao longo destes 5 anos, foram escritos 903 artigos no blog e recebemos 1928 comentários publicados por 1121 diferentes usuários.
Já passamos a barreira de um milhão de acessos! (confira na coluna à direita, seção “Estatísticas”)

Obrigado a todos vocês por estarem nesta festa!!

Equipe Transporte Ativo

Medo não muda nada

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Contagem Túnel Velho

Sobre a “Cultura do Medo“, livros foram escritos, teses, mestrados doutorados. Mas ciclistas apocalípticos que pedalam em condições longe da ideal sempre acabam ouvindo a mesma pergunta:

– Mas você não tem medo?

Quem nunca ouviu essa pergunta, ou a sua variante: “Mas não é perigoso?”, que atire o primeiro pedivela. Mas não vale escrever mais um livro sobre isso. A única resposta possível é a mais óbvia:

– A percepção do medo é sempre subjetiva e quanto mais bicicletas nas ruas, mais seguro para todos.

Liberdade é um exercício cotidiano praticado individualmente. O exemplo da primeira foto que ilustra esse post é de uma imagem corriqueira no Rio de Janeiro, registrada durante uma contagem fotográfica no túnel Velho em Copacabana. Pode parecer perigoso, mas o risco real e a percepção dele ao longo dos anos é que mudou. As bicicletas continuam bem parecidas.

Por exemplo, na outra boca do túnel:

túnel Velho - 1927
Foto de Augusto Malta – via: foi um RIO que passou

Entre os mais de 80 anos que separam as duas imagens nossas cidades mudaram para pior. As bicicletas são uma das ferramentas para as mudanças positivas e para usá-las mais, o mito do medo precisa ser derrotado. Para isso não adiantam estatísticas que comprovem a acidentalidade de veículos automotores ou pedestres. Precisamos apenas de mais vida nas ruas.

Primeiro mudam os cidadãos, com o tempo muda a infraestrutura das cidades. Pedalemos!

Outra leitura:
Fear is the mind killer – Cyclelicio.us

Relacionados:
Barreiras Psicológicas
Valores democráticos nas ruas

Caminhos da Serra

pedalando na serra

Para ter sucesso, quem luta em favor das bicicletas precisa aproveitar as oportunidades e agir quando for preciso, sem esperar que alguém faça por nós.

Saber aproveitar as oportunidades requer estar aberto e antenado, sem nunca fechar canais de comunicação. Também é preciso saber dizer não quando preciso, para ter foco. Uma boa dose de conhecimento técnico ajuda muito. Agir, colocar a mão na massa, exige comprometimento, e a clara visão de que o futuro se constrói hoje. Estar pronto para enfrentar o que vem após a curva.

Um excelente exemplo disto é o movimento para implantação da Trilha Verde da Maria Fumaça, na região central de Minas Gerais, entre Diamantina e Monjolos. O objetivo é possibilitar o deslocamento de caminhantes e ciclistas pelo antigo ramal ferroviário da região, criado em 1909. Que foi totalmente desativado em 1973, dentro da política rodoviarista da época.

antigo leito ferroviário

Durante cerca de 30 anos a “linha do trem” ficou abandonada. Apesar de estar sob responsabilidade do DNIT e as construções sob responsabilidade do IPHAN, passou a ser aos poucos vendida, alugada, roubada e ocupada ilegalmente. Recentemente, o trajeto começou a ser usado em atividades de lazer e estudo por ciclistas, caminhantes, cavaleiros, professores, estudantes e um novo olhar passou a conviver com as belezas e problemas do caminho.

Em 2000 uma expedição encabeçada pela ONG Caminhos da Serra percorreu a pé todo o trecho de Diamantina a Corinto. Desde então, vem sendo discutida a proposta de se criar a Rota de Ecoturismo da Trilha Verde da Maria Fumaça, com cerca de 100km de extensão.

trilha da maria fumaça

Por ser um percurso criado para o tráfego ferroviário, a Trilha Verde da Maria Fumaça não possui ladeiras acentuadas ou curvas fechadas, apesar do trajeto serpentear por entre escarpas da Serra do Espinhaço e haver um desnível de mais de 800m.

estrada para Diamantina

A Serra do Espinhaço possui como características marcantes os afloramentos de rochas quartzíticas entremeados por campos e pequenas faixas de matas, e recebeu da Unesco o título de Reserva da Biosfera. Além de passar por 7 localidades, ao longo da Trilha da Maria Fumaça existe um grande número de atrativos naturais.

Serra do Espinhaço

O destaque fica para os vilarejos de Barão de Guaicuí, com a Cachoeira do Barão, e as formações e sítios arqueológicos da Serra do Pasmar; e o vilarejo de Conselheiro Mata, com mais de 10 cachoeiras no seu entorno.

Conselheiro Mata

A Trilha foi subdividida em seis trechos, conforme as localidades existentes ao longo do trajeto, com distâncias propícias para viagens a pé ou de bicicleta.
Trecho 1: Diamantina a Bandeirinha – 16,6 km
Trecho 2: Bandeirinha a Barão de Guaicuí – 10,5 km
Trecho 3: Barão de Guaicuí a Mendes – 17,6 km
Trecho 4: Mendes a Conselheiro Mata – 24,4 km
Trecho 5: Conselheiro Mata a Rodeador – 16,5 km
Trecho 6: Rodeador a Monjolos – 14,4 km

Em 2009 foi criado o Grupo Gestor da Trilha Verde da Maria Fumaça, que já se reuniu com prefeitos, DNIT, IPHAN, Procuradoria do Estado de Minas, entre dezenas de outras ações. Há poucos dias, foi concluído um relatório de identificação e diagnóstico para indução e apoio de fluxo turístico, dentro do Programa de Estruturação do Circuito dos Diamantes (estância de governança regional do turismo).

O relatório apresentado identifica os principais problemas da trilha e apresenta as soluções necessárias. Foi elaborado pelos turismólogos Felipe Marcelo Fernandes Ribeiro e Maria Luar Mendes de Souza, sob a Coordenação Técnica de Hugo Araújo.

A Transporte Ativo parabeniza todas as pessoas envolvidas e apóia a excelente iniciativa.

  • Mais: vídeo “Expedição Trilha da Maria Fumaça”
  • As fotos foram tiradas numa cicloviagem feita de Santa Bárbara a Diamantina, em julho de 2009. Passei pelos trechos da trilha entre Rodeador e Conselheiro Mata.