Bicicletas e opiniões públicas

Dizem que o Brasil tem milhões de técnicos de futebol. Bem, parece que há mais especialistas em mobilidade por bicicleta que em futebol. Todo mundo tem uma opinião sobre trânsito cheia de propriedade, muitas vezes embasada em puro ‘achismo’.

Nesse meio tempo, pessoas, instituições, governos e empresas que planejam e executam avanços na mobilidade urbana precisam passar pela provação de serem indiciados, julgados e condenados por quem acha que sabe mais. Felizmente muitos são perseverantes e os avanços se tornam realidade.

As bicicletas públicas chegaram ao Brasil há quase quatro anos numa ousada iniciativa empresarial, com o aval de uma prefeitura. Logo ganhou adeptos e também críticas, muito mais importantes que os elogios aliás.

Como toda novidade precisou de ajustes e o serviço foi interrompido. No seu retorno, já com um patrocinador, os números não escondem o sucesso alcançado. Em um ano as quase 600 bicicletas em uso fizeram mais de 1.000.000 de viagens por mais de 100.000 usuários cadastrados.

Muitos problemas surgiram e há muito o que melhorar, mas uma avaliação do sistema, precisa, por ética e profissionalismo apontar tanto os erros quanto os acertos. Apontar apenas os erros não dá a dimensão de como o sistema está funcionando e nem tão pouco contextualiza as próprias críticas. Fica parecendo que não funciona e pode até transparecer que o melhor é cancelar tudo.

Entenda a polêmica em matéria publicada no jornal O Globo.

O que sobrou das praças

As praças como estão hoje são retrato de como foi construída a cidade do século XX, são ilhas, muitas vezes isoladas, cercadas de fluxo motorizado pro todos os lados. Mas essa construção é recente e um desejo profundo de reverter a condição atual das praças está em curso. Essa é um pouco a história do documentário feito para a agência Pública sobre as praças de São Paulo.

Como construir ciclorrotas colaborativas.

Cerca de 30 pessoas estiveram presentes à oficina de avaliação de demanda para o sistema cicloviário no Centro do Rio de Janeiro.
Foram traçadas as rotas utilizadas hoje, as desejadas, pontuados os principais pontos de origens e destino, bicletários existentes e desejados, tudo em busca de uma rede coerente com a demanda existente.

A galera foi dividida em três grupos:
– G1 pessoas que pedalam pelo Centro,
– G2 pessoas que pedalam e gostariam de pedalar no Centro,
– G3 pessoas que não pedalam.

Além disso haviam quatro mapas:
– M1 Rotas utilizadas hoje e desejadas,
– M2 Origens e destinos,
– M3 Bcicletários, oficinas e equipamentos de apoio (chuveiro, bomba de ar) existentes e desejados,
– M4 Projetos existentes para o Rio sobrepostos para identificação de pontos de conflito e conexões.

Cada grupo trabalhou durante 30 minutos em cada mapa e agora o próximo passo é sobrepor todos os mapas produzidos durante a oficina para consolidar as rotas mais usadas e desejadas. Concluído o trabalho, haverá um novo encontro para validar os resultados e aí começar a próxima fase.

Ao mesmo tempo em que os mapas serão consolidados, haverão três contagem de ciclistas em diferentes pontos do centro do Rio, para medir e comprovar nas ruas o que foi apontado na oficina.

Quem quiser colaborar, até 5 de setembro estaremos recebendo rotas utilizadas e desejadas para incluir no estudo. Basta enviar um email para ciclorotas@ta.org.br para receber instruções de como contribuir.

Ciclofaixa, motofaixa e segurança

São Paulo irá testar o compartilhamento em uma pista exclusiva entre motocicletas e bicicletas. Cabe então algumas reflexões sobre a dinâmica dos veículos e relembrar a trajetória de implementação das motofaixas em São Paulo.

Alimentada pelo esforço de seu condutor, a bicicleta tende a desenvolver uma velocidade final menor, mas é capaz de manter uma velocidade média perfeita para deslocamentos de curta e média distância. Além disso, em caso de queda ou colisões a baixa velocidade é grande aliada do condutor em garantir danos menores.

Veículos motorizados populares, as motocicletas guardam com a bicicleta uma única grande semelhança, a quantidade de rodas. É justamente o motor que diferencia um veículo do outro por influenciar diretamente na velocidade final, aceleração e danos ao condutor em caso de colisão e queda.

As motofaixas em São Paulo foram um teste para buscar aumentar a segurança das motocicletas, os resultados foram decepcionantes. A maior velocidade em uma pista exclusiva aumentou o número de colisões e atropelamentos envolvendo motocicletas e a iniciativa não foi ampliada desde de 2010, quando cicloativistas sinalizaram informalmente a motofaixa da Vergueiro com pictogramas de bicicletas.

Eis que 2 anos depois as bicicletas irão ser toleradas aos domingos e feriados justamente na motofaixa da Vergueiro. A idéia é integrar o centro da cidade à nova ciclofaixa de lazer da Avenida Paulista. A iniciativa de compartilhamento é louvável mas parte de dois precedentes maléficos para uma boa política cicloviária. O primeiro é improvisar “onde dá” para implantar uma infraestrutura para circulação de bicicletas, de maneira provisória. O segundo malefício é promover a circulação de bicicletas em grandes avenidas junto ao canteiro central.

O Brasil ainda está descobrindo seus caminhos em relação ao planejamento cicloviário, testando soluções e criando um padrão. O “Caderno de Referência para elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades” publicado pelo Ministério das Cidades foi um dos passos para a criação de um padrão de infraestrutura cicloviária nele a referência para uma ciclofaixa é de uma largura total de 1,80m, sendo 1,20m para circulação de bicicletas em sentido único, 0,2m de isolamento junto ao meio fio e mais 0,4m de isolamento do trânsito motorizado.

O Caderno de Referência traz ainda referência a outros tipos de infraestrutura, tanto ciclovias, quanto também iniciativas de moderação de tráfego que visam readequar o viário para o compartilhamento entre motorizados e bicicletas.

Ainda sem normas definidas para todas as situações, ainda temos espaço para experimentações nas ruas que garantam o aumento da segurança efetiva e da sensação de segurança dos ciclistas. Dentro dessa lógica, é feliz a definição do Código de Trânsito que diz que a bicicleta deve circular pelos bordos da pista, sem especificar qual o bordo. Assim sendo, uma ciclofaixa do lado esquerdo não está incorreta, mas em um canteiro central de uma avenida ela ao mesmo tempo que diminui os conflitos com veículos estacionados e ônibus, também força o ciclista a cruzar uma grande avenida e todas as suas pista toda vez que quiser chegar à infraestrutura cicloviária. A opção mais correta, seja ao lado esquerdo ou direito da via, é sempre garantir que o ciclista circule junto aos prédios, destino final e inicial das viagens.

Por ser exemplo para o resto do país, os acertos e erros cometidos no planejamento da cidade de São Paulo atingem diversas cidades do resto do Brasil, um país ainda sem um padrão consolidado de infraestrutura cicloviária. O uso compartilhado da motofaixa é medida excepcional que depende do baixo fluxo de motocicletas para ser seguro para o ciclista. No entanto, é precedente para se alastrar o vício do improviso na implementação de melhorias para a bicicleta caso não venha acompanhada de dispositivos permanentes para diminuir a velocidade do fluxo motorizado e assim garantir a circulação segura dos ciclistas com sua baixa velocidade final e velocidade média respeitável.

Para contribuir para a discussão, tá rolando uma pesquisa com a pergunta: “É possivel compartilhar a motofaixa da Vergueiro com bicicletas?

A nova ciclofaixa de lazer na paulista

O asfalto já está pintado na Avenida Paulista e é hora de aproveitar a implementação de mais alguns quilometros de ciclofaixa operacional de lazer.

Feitas para funcionar aos domingos e feriados nacionais das 7am às 16h, as ciclofaixas de lazer em São Paulo representam a demanda reprimida da cidade por espaços seguros e de qualidade para a circulação de bicicletas. Mas a ampliação desse modelo não é medida que agrade a todos os ciclistas.

Confira o que tem a dizer Thiago Benicchio da Ciclocidade, Willian Cruz do vadebike.org e Ricardo Corrêa da TCUrbes.

Ciclistas falam sobre a ciclofaixa na Avenida Paulista from João Lacerda on Vimeo.