Lançamento do Manual do Ciclista Urbano

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Definir o “cicloativismo” é difícil, mas certamente promover a bicicleta passa por tudo o que aconteceu no dia 03 de dezembro na Recicloteca. O palco estava quente, mas não houveram reclamações. Aproximadamente 80 pessoas compareceram e 60 livros foram vendidos. Retumbante sucesso.

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A conclusão e coroamento de um projeto de 20 anos. Um grande encontro de ciclistas. Um marco na história do cicloativismo brasileiro. Assim foi o lançamento do “Manual de Sobrevivência do Ciclista Urbano”, mais que um livro um momento histórico que constrói, agrega e faz amizades.

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Aos interessados em adquirir um exemplar, entrem em contato.

Manual do Ciclista Urbano

Manual de Sobrevivência Ciclista Urbano

Para ajudar mais pessoas a sairem as ruas em bicicleta sem perder a compostura, a Transporte Ativo apoiou a edição do “Manual de Sobrevivência do Ciclista Urbano”. Um livro para quem quer pedalar mas ainda não sabe bem como. As idéias são para facilitar a vida de todos, ciclistas e não-ciclistas. Os textos e ilustrações são de Sérgio Magalhães.

Lançamento do Manual de Sobrevivência do Ciclista Urbano

Dia: 3 de dezembro de 2009, quinta-feira

Horário: 19 hs

Local:
Recicloteca
Rua Paissandu 362 – Laranjeiras – Rio de Janeiro, RJ

Para maiores informações, envie uma mensagem.

A Invisibilidade da Diáspora

Relações possíveis e impossíveis entre um plano cicloviário e a barroquíssima Capital Reconvexa

Lucas Jerzy Portela*

A população cicloviária de Salvador é quase toda pobre, negra e periférica (lembrando que como o Rio de Janeiro, Salvador tem “periferias” no centro, inclusive entre bairros nobres – e não apenas na periferia propriamente dita, como em São Paulo ou Recife). Uma população que não faz idéia de que a bicicleta é um meio legítimo de transporte, sobre o qual incide algumas regras. Em geral ela sequer deduz intuitivamente estas regras, achando que o correto é andar na contra-mão dos carros, e que os refletores atrapalham ao invés de ajudar…

Isso se dá pela pobreza de capital linguístico em que se encontra (além da material), mas também pela posição de invisibilidade que ocupa. É comum o visitante de Salvador se surpreender: “onde estão os tão falados 80% de população negra?”. Estão invisíveis.

Se a bicicleta já é por si um veículo em diáspora e da diáspora, invisível, em Salvador ele se faz invisível exponencialmente, e duplamente diaspórico: é bicicleta de preto (isto é: pobre) – e de preto que não se autoriza a usá-la como outro veículo qualquer. É uma bicicleta que não se coloca apenas à margem – mas à margem da margem.

Claro está que isso vem de uma histórica segregação da população em relação a cidade. A reforma do Pelourinho, durante o carlismo, retirou de lá uma população identificada com o bairro – e mandou pra conjuntos habitacionais no subúrbio. E o Pelô virou um shopping pra gringo, que nem como Shopping funciona. Mais do que isso: antes, seis linhas de ônibus chegavam até sua principal entrada, a Praça da Sé. Hoje, apenas 4 vão até a Rua da Ajuda. A Sé foi lacrada para carros, mas isso não significa uma boa apropriação para os pedestres. Ao contrário, como Shopping, a principal via de acesso ao Pelô são estacionamentos, pagos, entrando pelos fundos – isto é, pelo Vale da Barroquinha.

A diferença é gritante se se compara com a única etapa da reforma já feita fora do carlismo, o Carmo e o Santo Antônio Além do Carmo – em que a população continua morando, e por conseguinte os índices de violência e pobreza são muito menores. Curiosamente, é um bairro pedestre, apesar de histórico é pouco turístico – e se usa bicicleta, não obstante seja no topo de uma montanha.

Não é sempre que a população pobre, e negra, de Salvador deixa de sentir a cidade como patrimônio seu legítimo e que deve usar sem vergonha – embora isto seja a regra. O Solar do Unhão, Museu de Arte Moderna da Bahia, com belíssima praia dentro e ao lado da favela da Gamboa de Baixo, é totalmente apropriado. Moleques mulatos vão a nado para o MAM, abusam dele como querem – e o amam e cuidam. Não se envergonham de lá estar de calção de banho, enquanto a alta burguesia toma café e ouve jazz. Fazem parte visível da paisagem – sem o que o MAM não teria a menor graça. Seria um MAM sem pôr-do-sol.

Oxalá esta venha a ser a regra – também para que as bicicletas, um dia, como os Tambores da Liberdade, e o Tapete de Turbantes dos Filhos de Gandhy, ocupem as ruas da SanFrancisco Nagô-Malê, da Lisboa Sudanesa revisited. A bike bem que poderia ser um atributo mágico de um novo Exú, em banda-larga, nascido do rum, do rumpi e do lé, lá no Terreiro do Afonjá. Larô-iê!

* Lucas Jerzy Portela é psicólogo, mantem o blog de crítica cultural O Último Baile dos Guermantes e é ex-namorado de arquiteto – o que acaba por ser um atributo importante para um cicloativista newbie.

Mais:
Bó de Bike, Salvadô
Tuas ladeiras e montes, tal-qual um postal

Pedalear al trabajo

capa do guia

Como parte das celebrações do Dia Mundial Sem Carros, estamos publicando hoje o guia Pedalear al Trabajo.

É a versão em espanhol do Guia De bicicleta para o trabalho , que foi lançado em setembro do ano passado.

A tradução é fruto de meses de trabalho e colaboração entre a Transporte Ativo, o Mountain Bike BH e a Ciudad Viva. E resultou do interesse demonstrado pelos integrantes do Bicycle Partnership Program (BPP), no encontro internacional organizado pelo I-Ce, em Quito, no final de 2008.

A tradução foi feita pela Juliana Sá (MountainBike BH) e revisada pela Magadalena Morel (Ciudad Viva), a quem agradecemos bastante pela dedicação, empenho e voluntariado.

Tuas ladeiras e montes, tal-qual um postal

Relações possíveis & impossíveis entre o plano cicloviário e a barroquíssima Capital da Diáspora

*Lucas Jerzy Portela

A primeira fantasia de que Salvador não serve para andar de bicicleta é sua topografia. É uma cidade completamente barroca, pendurada no topo de cadeias de montanhas que não se comunicam naturalmente entre si. Foi assim pensada para ser uma fortaleza natural, quando era capital do Império Ultramarino Português. Pra quem nunca veio em Salvador, uma boa maneira de imaginá-la é como um Rio de Janeiro às avessas: um Rio que só ocupa o topo dos montes, que não são redondos e de pedra, mas de barro e em escarpa. Uma enorme Santa Tereza, cercada de mar por quase todos os lados (é uma península).

Suas ladeiras são de fato íngrimes demais para subir a pé (por vezes, até para os carros, que não conseguem passar da segunda marcha mesmo a trânsito livre), que dirá de bici. Não a toa, seu mais famoso cartão postal é um elevador urbano de 70m de altura. Elevadores urbanos seriam a grande solução de transporte para Salvador: no topo dos morros anda-se com prazer, por vezes em bairros arborizados como Graça, Vitória, Nazaré; nos vales, grandes vias expressas sem semáforos (os bairros se ligam, para os pedestres, topo a topo de morro, por belas passarelas de João Filgueiras Lima) permitem transporte de massa ou individual célere.

Com o calor úmido daqui, subir ladeira pedalando implica em chegar ao topo empapado de suor.

Eis que aí está o mito: a bicicleta serve sim como meio de transporte dentro dos bairros e nas avenidas de vale. A questão é que se precisa de dispositivos para guardá-las nos sopés de ladeira e nas duas entradas dos quatro (Planos Inclinados do Gonçalves, Liberdade, Pilar, e o legendário Elevador Lacerda) elevadores urbanos existentes no Centro Histórico – de modo que o ciclista possa guardar sua bicicleta e migrar para o ônibus, bonde, trem, etc. Ou então entrar nos elevadores urbanos (o problema é que são poucos, respondendo por uma área que hoje é 1/10 da cidade…) portando a magrela – que voltaria a ser pedalada no cume ou no vale, conforme o caso.

Para tal, caberia ao poder público municipal resolver a questão. Isto é: caberia aos ciclistas cobrar da Prefeitura a construção de bicicletários em terminais de trem e ônibus, e em certas instituições (universidades, shoppings centers). Planejamento cicloviário que vá além de local de estacionamento e de tráfego, mas que tenha em mente as peculiaridades barrocas de Salvador.

* Lucas Jerzy Portela é psicólogo, mantem o blog de crítica cultural O Último Baile dos Guermantes e é ex-namorado de arquiteto – o que acaba por ser um atributo importante para um cicloativista newbie.