São Paulo e a criminalização das ruas

São Paulo, cidade sede da maior festa do futebol, construiu estádio, abriu avenidas e até um viaduto novo para que milhares pudessem assistir aos jogos no Itaquerão. Ficou na dívida de abrir ruas para as pessoas.

O local de festas imposto pelas pessoas é nas inviáveis ruas da Vila Madalena com suas casas, bares e ladeiras estreitas incapazes de suportar o fluxo de pessoas interessadas em compartilhar a felicidade. O sucesso do espaço público do bairro espalhou o transtorno para os moradores e como reação a administração pública investiu em criminalizar o espaço público.

Além do reforço na regra de bares fecharem às 1am, as ruas são esvaziadas à força pela Polícia Militar para que “o pessoal da limpeza” possa passar.

O vídeo mostra a história triste de uma cidade em busca de afogar as mágoas, mas que só poderia faze-lo em espaços privados, longe das ruas.

São Paulo sofre de excesso de gente, em todo evento há uma fila, em todo espaço público de lazer muita gente que teve a mesma idéia ao mesmo tempo. Uma cidade que esqueceu das pessoas e dos sentimentos que elas buscam compartilhar é uma cidade necessariamente triste. Que impõe toque de recolher nas centralidades fabricadas, que concentra gente demais nos poucos espaços que oferece para interação e diversão livre entre as pessoas.

O Rio de Janeiro tem a orla de Copacabana e seus milhões no Reveillon e em tantos outros shows, passeatas e festas. São Paulo já teve a Avenida Paulista, que sofre com excesso de regras e onde torcidas não são bem vindas para comemorar seus triunfos. Os gringos, os hermanos e os paulistanos descobriram na Vila Madelena uma alternativa, ao invés de expulsá-los para suas casas, a cidade deveria multiplicar alternativas de espaços livres para festejos.

Porque toda cidade tem o direito de festejar suas glórias e afogar suas mágoas no espaço público. Como provoação final, duas fotos da festa em Buenos Aires nessa quarta feira, 9 de julho de 2014.

Bicicletas e efemérides

Dia das mães, dos pais, dos namorados, Natal e tantas outras datas comemorativas ou feriados. Amamos efemérides, seja para comemorar, vender mais ou relembrar fatos históricos importantes.

A segunda sexta-feira do mês de maio ficou definida no Brasil como o dia “De bike para o trabalho”, uma adaptação do “Bike to work day”, invenção da Liga de Ciclistas Estadunidenses no ano de 1956, parte das festas do mês da bicicleta.

No Brasil a data é promovida pelos BikeAnjos e por isso tem como grande propósito oferecer aquela dose gratuita, voluntária e colaborativa de bicicleta no dia a dia de quem ainda não pedala sempre.

Escolher uma data em que muitas pessoas farão algo juntas é, pelo amor humano às efemérides, um hábito socialmente difundido. Os estigmas brasileiros tradicionalmente associados a bicicleta: esporte e transporte para quem não tem dinheiro, podem ser desconstruídos na prática. Quem pedala por lazer acaba por descobrir o quanto é mais simples e agradável incluir a bicicleta no dia a dia e livrar-se do stress e dos congestionamentos urbanos.

Mais do que datas, o objetivo é ter mais pessoas em mais bicicletas, mais vezes. Ou, na definição desse cientista, ter uma massa crítica capaz de mudar nosso coletivo coletivo rapidamente.

O objetivo final portanto é “naturalizar” a bicicleta nas cidades e para isso é possível pensar em um número fundamental com base no vídeo acima, 10% da população. Hoje apenas algumas cidades brasileiras apresentam índice próximo a dez porcento das pessoas em bicicleta. Tornar realidade essa massa transformadora requer portanto um esforço coletivo enorme de quem hoje promove a bicicleta.

Ir de bicicleta ao trabalho um dia é certamente uma pedalada à frente no caminho para reconstruir o entorno. Primeiro o neo-ciclista irá perceber o ambiente e irá logo em seguida perceber as inconsistências e inadequações da cidade. Idealmente quem enxerga a bicicleta e sente a importância delas para sua cidade irá ser favorável a mudanças e quem sabe até envolver-se diretamente nas transformações necessárias.

Nem todos irão de bicicleta todas as vezes a todos os lugares, mas uma cidade onde 10% da população usa a bicicleta é uma cidade em que as magrelas são parte da paisagem e por isso mesmo o ambiente urbano torna-se adequado a seres humanos.

Pedalemos pois, ao trabalho, à escola, ao lazer à padaria, ao mercado e aonde mais for da vontade de cada ciclista.

A música da bicicleta

sinetabicicleta

Pedalar de olhos fechados é um experiência interessante, ainda que pouco recomendável. Mas mesmo com a visão apurada à frente, é possível trabalhar outros sentidos.

Toda bicicleta tem seu som, seja uma roda livre que gira enquanto não se pedala ou tantos outros. O chacoalar das peças nas imperfeições no asfalto, a campainha, a corrente que gira, o pedivela torcido que geme.

Com tantos sons, é possível fazer música, como o compositor abaixo:

Ou simplesmente imaginar-se de olhos fechados, tal e qual o passageiro de uma tandem, e ouvir sua bicicleta através de cada um dos seus barulhos.

A evolução da bicicleta

 

Certo dia alguém montou duas rodas alinhadas em um pedaço de madeira. Desde então o movimento humano nunca mais foi o mesmo. O vídeo abaixo é uma deliciosa ilustração de como a bicicleta evoluiu se adaptou até se tornar a maneira mais eficiente de deslocamento no planeta.

Com essa simples invenção, a pessoa em bicicleta gasta menos energia que o mais eficiente pássaro e nem precisa sair do chão para consumir poucos recursos e ir mais longe.

Pedalemos!

Via: Arquitetura Sustentável

O futuro chegou

 

No Brasil ainda estamos superando o carnaval, mas é sempre bom lembrar que, mundo afora, a festa de Momo não tem espaço nas ruas ou nas mentes. Natural portanto que surjam novidades que irão dominar o mundo e apontar o futuro quando por aqui ainda estamos em meio a blocos e desfiles carnavalescos.

Abaixo um vídeo com a lenda viva do skate Tony Hawk e outros nomes das artes e da música em que é apresentado o skate flutuante do filme “De Volta para o Futuro II”.

Um olhar atento já percebe que o “produto” é claramente uma encenação, o que faz com que seja esperada alguma explicação posterior sobre os motivos de tal campanha na internet. É interessante no entanto pensar o que era o futuro de 30 anos atrás em relação ao presente que temos hoje. Afinal, a categoria de “ficção científica” é sempre um retrato perfeito do presente com eventuais antecipações sobre a realidade que está por vir.

O mundo dos anos 1980 tinha ainda mais fé no tal “progresso tecnológico” do que ainda temos hoje. O discurso de que vivemos em um planeta de recursos naturais finitos ainda está fora do senso comum e as pessoas realmente acreditavam na remota possibilidade da ultra-tecnologia na casa de todos. Talvez não com carros e skates voadores em meio a paisagem urbana, mas certamente numa onipresença da tecnologia.

Muita coisa mudou nos últimos 30 anos, mas continuamos sendo humanos, com necessidades humanas. Respirar, acesso a água e comida, abrigo, amor etc. Talvez nessa sanha pelas mais complexas soluções dependentes de tecnologia, esquecemos que somos apenas animais que habitam um ecossistema planetário. Em sua maioria vivendo dentro de gigantescas colméias de concreto. Felizmente o futuro da desumanização começa a ceder espaço, no presente, para tecnologias métodos e meios de vida mais humanizados.

O futuro talvez nos traga algo muito mais especial que skates voadores, televisores com ultra interatividade e chamadas em vídeo. Hoje conseguimos imaginar um tempo com mais participação cidadã e por isso mais democrático. Um futuro em que as necessidades dos mais frágeis (nas ruas e no mundo) sejam respeitadas e assim todos possam ter de volta a garantia de abrigo e segurança que ficou esquecida em nome do espaço que tecnologias sonhadas em pleno século XX e que não se mostraram de grande valor nesse novo milênio.

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Um poucos mais sobre essa trollada midiática do skate:
Why Are All These Celebrities Participating In An Epic Fake Hoverboard Troll?

Mas para imaginar um outro futuro, vale a leitura do Nowtopia.