A bicicleta no comércio do Rio de Janeiro

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A comprovação da eficiência da bicicleta pode e deve ser comprovada de todas as formas possíveis. Os veículos de carga movidos a propulsão humana são a melhor maneira de cumprir o caro e trabalhoso “último quilômetro”, expressão que resume o desafio logístico de entregar um produto até o consumidor final.

Quatro anos após o pioneiro levantamento sobre as bicicletas de carga de Copacabana, a Transporte Ativo em parceria com o ITDP e Embaixada Britânica foi a campo novamente com o mesmo propósito. Descobrir e divulgar a importância da ciclologística em nove diferentes regiões, no quilômetro quadrado mais denso dos bairros mais representativos das sete subprefeituras da cidade. Os dados propiciam informação sobre as entregas em diferentes pontos da cidade e permitem um investigação sobre os benefícios deste serviço para a cidade, o trânsito e o meio ambiente.

Os números da logística em bicicleta no Rio de Janeiro

Os números sempre nos permitem contar histórias. Descobrir por exemplo que restaurantes e lanchonetes são os estabelecimentos mais comuns, mas que as farmácias empregam a maioria dos entregadores e fazem o maior número de entregas. Além disso, mercados e distribuidores de bebidas compõem 71% da frota dos triciclos. E as estimativas de valores ajuda a vislumbrar a importância dos pedais para fazer girar a microeconomia urbana.

No total, foram 322 estabelecimentos, 628 veículos, 658 ciclistas/triciclistas que fazem 7.524 entregas/dia.

Ao definir um valor médio de R$ 20,00 por entrega, serão, R$ 150.480,00 ao dia; R$ 3.461.040,00 ao mês e R$ 41.532.480,00 ao ano. Na média as entregas abrangem um raio de 3 km. Em uma estimativa conservadora, se cada viagem dos entregadores tiver 1km entre ida e volta serão 7.524km/dia, 173.052km/ mês e 2.076.624km/ano.

Importância no presente, potencial para o futuro

Bicicleta e densidade urbana são bons pares. Nas regiões menos densas, com mais casas e um comércio disperso, entregas motorizadas costumam ser mais comuns. Já em bairros densos, com muitos prédios e comércio local, a bicicleta impera. Os impactos positivos com o atual quadro é visível, com toneladas de gases tóxicos e de CO2 que deixam de ser emitidos anualmente. Valorizar o profissional de entrega e incentivar que mais estabelecimentos utilizem esse serviço é portanto uma medida não só de eficiência e impactos locais, mas também globais.

Saiba mais:

A íntegra do estudo: A bicicleta no comércio do Rio de Janeiro

O melhor da promoção ao uso da bicicleta

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Valorizar o que tem sido feito em prol da bicicleta, somar às iniciativas e qualificar organizações e pessoas essa é a história e a missão do III Workshop e do II Prêmio “A Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil”. Foram 39 inscritos vindos de 18 cidades, 13 estados das 5 regiões brasileiras.

As 3 organizações selecionadas para participar do workshop e contar suas histórias foram:
Ciclo Urbano – Aracaju
Pedala Manaus – Manaus
Vá de Bike – São Paulo

Já as premiadas foram:

  • Categoria: Ação educativa e de Sensibilização
    1º Prêmio: Bike Blitz – Ciclo Urbano, Aracaju – SE
    Menções Honrosas:
    Bicicletaria Colaborativa do Mercado Sul, Taguatinga – DF
    Bambú Cicloteca Cabaré do Verbo, Porto Alegre – RS
  • Categoria: Levantamento de dados e pesquisas
    1º Prêmio: Contagens de Bicicletas – Ciclo Urbano, Aracaju – SE
    Menções Honrosas:
    Vitamina Coletiva, São Paulo – SP
    Pesquisa UNESP, Rio Claro – SP
  • Categoria: Empreendimento
    1º Prêmio: KuritiBike, Curitiba – PR
    Menções Honrosas:
    Ecolivery Courrieros, São Paulo – SP
    Ciclofemini, São Paulo – SP

Com 16 inscritos, a categoria “Ação educativa e de Sensibilização” segue como a mais popular, seguida por “Empreendimento” com 10 inscrições. Já “Levantamento de dados e pesquisas”, um aspecto importantíssmo, continua carente de projetos, foram apenas 6, um crescimento em relação às 4 enviadas em 2014, mas ainda demonstra o quanto esse tema ainda precisa evoluir e ganhar o destaque que merece. Afinal, através de dados e pesquisas é possível qualificar o debate com o poder público e sensibilizar a sociedade em geral para o potencial da bicicleta para a melhoria das cidades.

Cabe lembrar que quem quiser participar do Workshop ainda podem se inscrever. Voltado para pessoas e organizações que trabalham prol do uso da bicicleta, o encontro irá tratar de: “Desbravando Novas fronteiras –  como alcançar novos públicos e ampliar o debate sobre a bicicleta na cidade”.

Saiba mais sobre o II Prêmio e o III Workshop A Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil – 2015.

Mapeamento ativo das cidades

Mapa Consolidado de São Paulo - Código Urbano

Mapa Consolidado de São Paulo – Código Urbano

O esforço de conhecer e melhorar as cidades tem grandes aliados ainda pouco explorados. Um deles certamente é o mapeamento colaborativo. Para além do aspectos técnicos de como realizar o levantamento de dados e a compilação deles no Open Street Maps (OSM), um aspecto fundamental está no prazer de somar-se a um esforço coletivo global de milhões de pessoas em mapear o planeta.

Organizada pela Código Urbano, a primeira maratona de mapeamento de infraestrutura cicloviária da cidade de São Paulo (Mapatona) aconteceu em 18 de janeiro de 2015. Como era de se esperar, estavam presentes quem pedala por prazer, esporte ou que nem ao menos pedala, mas quer uma cidade mais amigável à bicicleta.

Como bem ressalta a equipe da Código Urbano, dentro do processo de mapeamento oficial da infraestrutura cicloviária de cidade, houve progresso. Um mapa de ciclorrotas chegou a ser feito, com base em um levantamento de caminhos cicláveis, alguns deles tendo inclusive sido sinalizados. O problema é que esse conhecimento não pôde ser usado em outras plataformas além do papel, ou um arquivo fechado em formato PDF. Atualmente o que se tem consolidado para a circulação de bicicletas está organizado na plataforma Google, um dado público entregue a uma empresa privada, mas ainda assim visualizável e editável de maneira mais fácil.

Um mapeamento mais completo capaz de corrigir distorções só é possível de ser feito através de uma comunidade de pessoas engajada e comprometida. Foi essa primeira pedalada dada na Mapatona.

Nas ciclovias de São Paulo, por exemplo, é possível pensar em identificar quais são as vias de mão dupla e quais não são, uma informação básica, mas que não está disponível no mapa oficial. Ou ter um mapa dos buracos e obstáculos, facilitando para o próprio poder público a identificação dos trechos que precisam de reparos e melhorias. Ou identificar subidas.

É hora de aproveitar o momento de abertura da administração municipal, consolidar o que já foi feito, cobrar melhorias, trazer um diagnóstico da cidade da perspectiva de quem pedala. Um intercâmbio entre as ruas e os gabinetes através de um esforço público. Transparência é o conceito chave e o primeiro passo é ter os dados expostos para quem tiver interesse em conhecer.

São provocações e pressões ativas na melhoria institucional dos órgãos de execução e gestão do poder público através de uma sociedade civil que zela e defende seus interesses dentro de um modelo de participação cidadã do século XXI.

Ações individuais são fundamentais, mas sem o amparo de um pensamento e engajamento coletivo, os esforços individuais tendem a se transformar em disputas destrutivas. A colaboração transparente de diversos atores é portanto a base de uma nova e necessária democracia. Em tempos de crise de representatividade, é preciso deixar de lado os líderes mágicos e agregar esforço para fortalecer instituições. Justamente por isso, o fortalecimento de uma plataforma de mapeamento é portanto um esforço de consolidação democrática do Brasil.

Para conhecer mais:

Vale conhecer antes de mais nada o site da Código Urbano e também as iniciativas presentes na Mapatona: HackAgendaPedalaSampaCiclocidadeMobilizeBicidade; Transporte Ativo; e BikeIT!.

Dos projetos dos próprios participantes, destaque para o BikeIIT! e os mapas colaborativos da Transporte Ativo. Vale destacar ainda outras iniciativas interessantes de mapeamento: Wheelmap.org; Cyclestreets.net; Ridethecity.com; Mapazonia.org e Grelhas Assassinas em São Paulo.

Como colaborar no mapeamento da sua cidade

Para além da fronteira municipal da paulicéia pedalável, a contribuição ao mapeamento colaborativo pode ser feita em qualquer local do planeta. Cidade, campo, bairros consolidados ou comunidades precárias.

A receita de bolo é, não necessarimente nessa ordem, ou em qualquer ordem de acontecimentos:

  • fazer um cadastro no Open Street Maps,
  • consultar a plataforma Wiki, em especial o conteúdo sobre bicicletas
  • Traduzir os textos do Inglês na página Wiki do OSM (?)
  • Editar o mapa para incluir o que falta,
  • Sair a campo para refazer traçados (?)
  • Fazer um levantamento fotográfico colaborativo através do Mapillary.

Como grande vantagem em qualquer plataforma colaborativa, está o fato de que toda contribuição, por menor que seja, é relevante.

Um pequeno exemplo do potencial de um cidade mapeada por ciclistas

Toda reivindicação em relação ao poder público ganha força com o uso de imagens. A solução encontrada para o estacionamento de ambulâncias de um hospital privado no espaço público das ruas foi certamente inadequada para o melhor interesse dos ciclistas.

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Ainda assim, é possível também inspirar o mundo através de um passeio em bicicleta.

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Façamos o mapeamento, por cada vez mais infraestrutura de qualidade com mais pessoas em bicicleta mais vezes.

As novas ciclovias cariocas para 2015-16

Fonte: GT Ciclovia

Fonte: GT Ciclovia

A administração municipal disponibilizou dados sobre as ciclovias que estão sendo construídas e projetadas para o Rio de Janeiro nos dois próximos anos. Confira aqui: Sistema Cicloviário: Obras em andamento e projetos.

Serão no total mais 230km, 43,6km já em construção, com ligações fundamentais entre regiões da cidade, bem como infraestruturas alimentadoras de grandes eixos de transporte e integradoras de bairros. Destaque óbvio para os 29,8 km da ciclorrotas do Centro, um anteprojeto realizado em parceria da Transporte Ativo com o ITDP e Studio-X e agora à cargo da SMAC (Secretaria Municipal do Meio Ambiente).

Já estão em obras a, talvez, mais bela pista para bicicletas do mundo, a ciclovia da Avenida Niemeyer (3,72 km), que ligará as praias do Leblon e São Conrado e que será complementada através da ligação cicloviária do Elevado do Joá (5 km). A conclusão dessas duas obras permitirá pedaladas livres por quase toda a extensão do litoral carioca. Será possível ir do Centro ao Pontal, na maior tranquilidade, somente por ciclovias. Um trajeto que vai precisar da discografia completa do Tim Maia para ser apreciado em mais de 50 km de pedaladas.

Seguiremos acompanhando de perto, por cada vez mais pessoas em mais bicicletas mais vezes pra pedalar sorrindo, pedalar cantando.

Paris ficará livre para as pessoas

A cidade de Paris não inventou a roda, mas tratou de popularizar a bicicleta e para isso o Velib foi fundamental. O primeiro grande sistema de bicicletas públicas, que se somou a uma rede de ciclovias e ciclofaixas revolucionou a cidade mais turística do planeta e com um dos mais densos sistemas metroviários.

Seguindo a lógica de investimentos da administração municipal de Bertrand Delanoe, a atual prefeita Anne Hidalgo tem planos para uma cidade livre para pessoas e com menos poluição até 2020. A poluição do ar é um problema a ser combatido no entendimento da opinião pública parisiense e a restrição aos motores diesel e motores à explosão em geral é um passo fundamental para limpar os ares de moradores e de milhões de turistas.

Centro da cidade livre de carros

Cabe ressaltar que Paris não inventou a lógica de um centro urbano livre de carros. Calçadões e até centros históricos permitidos apenas para pedestres, ciclistas e veículos de carga são realidade até mesmo no Brasil. A importância da decisão tomada na capital francesa é sobre o impacto que uma metrópole para pessoas e veículos limpos representa mundo afora.

O presente nos mostra congestionamento e poluição em todas as grandes capitais mundiais, que a mais visitada delas retome o paradigma de cidades centradas ao redor das pessoas é certamente uma decisão que definirá o futuro urbano do planeta.

Cidades radiantes

Foi também da França que veio a idéia da cidade do século XX. Através do suíço Le Corbusier, espalhou-se pelo mundo a revolução urbanísticas das cidades máquinas, espaços construídos à partir do nada e planejados de maneira rígida em zonas residenciais, comerciais e industriais. Uma proposta de uma nova sociedade, moderna, limpa e eficiente.

Como era de se esperar, o modelo de Ville Radieuse (ou Cidade Radiante) defendido por Corbusier, foi apenas parcialmente implementado e no geral falhou em seus princípios. As concentrações urbanas jamais poderiam ser pensadas como tábulas rasas a serem desenhadas no papel para funcionar de acordo com a lógica de máquinas. O elemento humano, esse “detalhe imperfeito”, mudou muito pouco (ou quase nada) com a invenção da modernidade. Natural portanto que mais importante que adequar o espaço urbano aos “novos tempos”, é preciso mante-lo adequado às necessidades de seus moradores e visitantes.

Preconceitos escancarados

Infelizmente a invenção da lógica da cidade como espaço de circulação entre “zonas” permanece viva até hoje no famoso e famigerado “senso comum”. Por mais que a elite brasileira visite e admire o quão ciclável Paris seja hoje, ainda sobrevive a defesa simbólica da rua como espaço público de uso privado dos que podem pagar.

Em (mais um) caso, moradores de São Paulo demonstram o quanto a cidade ainda pedala ladeira acima para ser um pouco mais européia. Seja ao adaptar o modelo parisiense, ou buscar se tornar uma Copenhague dos trópicos como definiu a revista inglesa The Economist.

Declarações insulfladas na cobertura midiática visam a desqualificar o debate, reforçar preconceitos na defesa infrutífera de um modelo de cidade que nasceu no século XX e que lá ficou.

O vídeo abaixo e o texto que o acompanham é material vasto para irritar ciclistas e cicloativistas e fazer corar quem acompanha as vanguardas do planejamento urbano mundial.

Antes que a marcha ciclística da história condene as metrópoles brasileiras ao congestionamento motorizado apocalíptico, é preciso sensibilizar corações e mentes sobre o futuro inevitável da reumanização urbana. Afinal, cidades foram e continuam sendo as colméias humanas por excelência. Há quem não goste de gente, ou de colméia, resta a estes buscar alternativas.

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