Presença Brasileira na Conferência Anual Walk21

Por Prof. Julio Loureiro
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A edição de 2019 foi a de número 20, tendo sido realizada na cidade holandesa de Roterdã. Um dos grandes objetivos do fórum mundial Walk21 é de recolocar os pedestres como protagonistas dos deslocamentos urbanos.
Em suas sessões possibilita anualmente debater e mostrar as melhores práticas relacionadas ao uso compartilhado do espaço, priorização dos meios de deslocamento sustentáveis, principalmente em contraponto ao uso dos automóveis e meios mais poluentes, com a contribuição de especialistas dos setores público, privado e terceiro setor de todo o planeta.
Requalificação de vias, segurança viária, políticas públicas de incentivo à retomada do hábito da caminhada, benefícios para o corpo e mente, redução de obesidade, sedentarismo e outras patologias modernas trazidas pelo conforto no ir e vir são alguns dos temas abordados.
Por ser um meio de deslocamento democrático, além do incentivo ao seu uso mais regular, prescinde de adaptações que vão muito além do intervalo de abertura e fechamento de sinais de trânsito, passa pela acessibilidade de vias, redução do espaço entre calçadas em pontos de cruzamento de vias, conscientização de motoristas, ciclistas e pedestres para um deslocamento seguro, requalificação de calçadas, integração com os meios de transporte de massa e adequação nas legislações para que seu uso seja ampliado e encorajado.

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Na edição deste ano muitos trabalhos foram apresentados e debatidos em profundidade, incluindo a contribuição da utilização de vias para a realização de entregas da última milha, com a apresentação de um estudo de caso sobre o tema.
A apresentação feita com a inclusão do tema da logística teve por objetivo apresentar as alternativas para a realização de entregas, considerando o uso de meios sustentáveis, com baixo apelo tecnológico e de automação, pois se acredita que até que as tecnologias promissoras sejam acessíveis às empresas de todos os portes e segmentos, existirá espaço para o uso de meios tradicionais que revisitados e resignificados, como as entregas a pé ou com o uso de bicicletas como opção principal ou complementação dentro do esforço logístico serão possíveis.
O estudo de caso ilustrou a operação de uma empresa do segmento de materiais de escritório, que utiliza um caminhão depósito, que permanece parado durante a operação de onde são efetuadas as entregas para um número proporcionalmente maior de destinos, quando comparada com as entregas tradicionalmente efetuadas, pois a equipe de sete entregadores assume o serviço diretamente no caminhão, dispensando a ida até o depósito central e retorno junto ao veículo até o ponto de distribuição, utilizando os carrinhos de entregas para os deslocamentos, que estão embarcados no próprio veículo, retornando para novas entregas, com uma cobertura que pode ainda ser ampliada, caso venham a ser incorporados entregadores com bicicletas com capacidade de carga e maior alcance.
Trata-se de solução replicável em grandes cidades que convivem com os desafios de restrições de circulação de veículos de maior porte, agravamento dos congestionamentos e poluição do ar e sonora.

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Ao longo do encontro foram feitos contatos que possibilitarão uma maior proximidade com instituições internacionais que também atuam na possibilidade de utilizar as vias públicas como meio de desdobramento das políticas de andabilidade e que por sua vez poderão beneficiar as entregas a pé, com suporte de carrinhos (com ou sem assistência motorizada), bem como com o suporte de bicicletas para as mais distantes.

O Prof. Julio Loureiro, viajou para a Walk21 2019 para apresentar seu trabalho com apoio do SENAC, Unigranrio e TA, é vencedor do Walking Visionary Award · Walk21 2015 em Viena,

Nova onda de SUVs nas ruas do país

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Já faz um tempo que falamos sobre esse assunto por aqui, bicicletas cargueiras e seu potêncial para melhorar nossas cidades. Por muitos anos, aqui no Brasil, apenas alguns modelos  estavam disponíveis no mercado, os triciclos com “box” dianteiro, comum em muitas partes do país, os com duas rodas na parte traseira, para usos mais leves, em geral montados com kits sobre estruturas de bicicletas normais e as famosas bicicletas de carga, com rodas dianteira aro 20. Caso houvesse necessidade ou vontade de um outro tipo de cargueira, ficávamos limitados aos poucos modelos estrangeiros disponíveis no mercado.

Agora as coisas começam a mudar e fabricantes começam a abrir seus olhos para esse novo filão do mercado, as bicicletas de carga ou os novos SUVs. Como sempre quem dá a partida é a Dream Bike, empresa brasileira que ao longo do tempo vem se mostrando pronta a inovar, entregando novos produtos ao mercado, produtos quem em geral os outras fabricantes parecem não perceber ou não se interessam, vale conferir no website deles a variedade de triciclos que oferecem. Agora eles iniciam também a fabricação das famosas cargueiras Long John, das fotos acima e abaixo. Modelo de cargueira que mantem a largura de uma bicicleta comum, se tornando mais ágil nos estreitos espaços que sobram para aas bicicletas em nossas cidades.

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Mas o assunto vai além, alguns fabricantes independentes começam a desenvolver suas cargueiras também e já é possível encontrar algumas delas pelas ruas, como os dois modelos abaixo encontrados circulando pelas ruas do Rio.

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Algumas empresas de entregas, como a Pedivela, chegam a fabricar seus próprios veículos para atender a demanda, trazendo ainda mais desses novos SUVs para nossas ruas.

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Espere para ver cada vez mais dessas bicicletas em nossas ruas e que novos modelos venham a surgir. Vale comentar que os grandes fabricantes, tanto nacionais, quanto estrangeiros, ainda não visualizaram esse filão que ainda se restringe a fabricantes menores.

Confira abaixo alguns fabricantes brasileiros e europeus.

No Brasil:
Dream Bike
Palacio dos Triciclos.

Na Europa:
BakFiets
Urban Arrow
Larry vs Harry
Trio Bike
Omnium Cargo

https://bicycletimesmag.com/bicycle-times-issue-24-way/
Clique na imagem acima, para ver a matéria sobre o assunto publicada na revista Bicycle Times nº24 em 2013.

 

Em busca de Culturas de Bicicletas de Carga: Rio e Além

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Sue Knaup da organização americana One Street, esteve no Rio para o Bicicultura e Velo-city 2018, se surpreendeu com as bicicletas cargueiras que encontrou por aqui e publicou o post traduzido abaixo em seu blog Defying Poverty With Bicycles. Autorizados pela autora e com muita honra, reporduzimos o texto aqui.

“Quando voei para o Rio de Janeiro em junho para participar da conferência Velo-city, fiquei ansiosa para me reconectar com meus colegas da promoção ao uso de bicicletas de todo o mundo. O que eu não esperava era a descoberta de uma cultura de bicicletas tão profunda e orgulhosa quanto os ciclistas de carga do Rio de Janeiro.

Nos meus primeiros passos em uma rua do Rio, encontrei uma bicicleta de carga. Estava coberta de engenhocas para os turistas, mas meu olhar pousou nas molas sob a caixa de carga dianteira, que parecia com a mola de um carro. Não muito longe, em uma praça aberta e sem carros, vi outra bicicleta de carga. Essa tinha molas em folhas, também de carro.

Enquanto caminhava pela praça, verifiquei as armações e acessórios de cada bicicleta de carga que encontrei. Desde as molas até as gancheiras, passando pelas caixas de carga, cada um desses triciclos era único, construído ou, pelo menos, consertado localmente! E cada um dos ciclistas sentava-se orgulhoso em seus selins. Na minha primeira hora no Rio, encontrei uma extraordinária cultura de bicicleta.

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Desde que retornei ao Arizona, tentei encontrar qualquer coisa por escrito ou por vídeo sobre a cultura de bicicleta de carga do Rio. Os defensores prestativos da Transporte Ativo me enviaram alguns documentos como este que demonstram os benefícios das bicicletas de carga de sua cidade. Você também pode encontrar alguns desses números postados no site Velo-city Rio. Pesquisas e documentos como esses são extremamente importantes para influenciar políticas públicas que permitam que as bicicletas de carga funcionem bem em uma cidade. Esses estudos claramente ajudaram a aumentar as bicicletas de carga na Europa. Encontre muitos destes estudos aqui.

O que eu não consigo encontrar é qualquer coisa a partir das perspectivas dos construtores e ciclistas de cargueiras do Rio. Existe uma cultura silenciosa para construir, cuidar e dirigir esses veículos. Com esse tipo de cuidado, segue o desejo de fazer parte desta cultura, incluindo pedalar e incorporar a bicicleta aos negócios locais. Esse é um sistema que nenhuma política ou financiamento governamental pode causar.

Minha experiência pessoal com tal cultura foi como mensageira de bicicleta em San Francisco nos anos 80. É onde a entrega de bicicleta nasceu nos EUA. E os anos 80 foram o auge dos mensageiros de bicicleta, logo antes da máquina de fax e, em seguida, os computadores pessoais. Eu fui Bike Messenger na crista da onda e serei eternamente grata.

No mês passado, enquanto andava e pedalava em meio às bicicletas de carga do Rio de Janeiro, foi meu primeiro encontro desse nível de cultura de bicicletas desde os meus dias de Bike Messenger. Eu sei que existem outros grupos orgulhosos de ciclistas e fabricantes ao redor do mundo também. Talvez os ciclistas de carga da Europa sejam assim, embora suas bicicletas e megaempresas extravagantes causem um pouco de dúvida. Eu suspeito que Cuba poderia ser outro enclave, depois de descobrir esta história, que eu postei há alguns anos atrás.

Pedicabs e ciclo-riquixás parecem criar suas próprias culturas orgulhosas em algumas partes do mundo. Um exemplo é o Rickshaw Bank na Índia. Este vídeo dá uma boa visão geral. Espero que o Rickshaw Bank esteja inspirando empresas sociais semelhantes em outras partes do mundo.

Pense em suas próprias experiências com trabalhadores ciclistas. Você já recebeu um pacote entregue por alguém que foi de bicicleta? Você viu os carteiros entregando correspondências em bicicletas? Você assistiu da janela de um avião enquanto os trabalhadores do aeroporto pedalavam com bicicletas pesadas sob as asas e através de um oceano de asfalto? Você já encontrou micro-empresários em calçadas vendendo mercadorias ou pedalando máquinas de bicicleta que afiam facas, moem milho ou misturam bebidas?

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A Cultura de ciclistas trabalhadores são muito valiosas para mim porque eu fazia parte de uma. Mas deveriam ser valiosas para todos nós, porque são os sistemas de apoio que permitem que esses ciclistas e fabricantes prosperem, mesmo em lugares onde o transporte motorizado ainda domina. Eles estão mudando silenciosamente o transporte de caminhões barulhentos, poluentes e perigosos para veículos silenciosos cheios de pessoas que se orgulham de suas ocupações autopropulsadas.

Silêncio é um termo infeliz aqui. Não consigo encontrar nada sobre os fabricantes ou ciclistas das bicicletas de carga do Rio. Por falar nisso, além de alguns livros e filmes sobre mensageiros de bicicleta e algumas entrevistas em vídeo com pilotos de riquixás no Rickshaw Bank, não encontrei quase nada do lado humano dos ciclistas em atividade.

Você conhece algum? Se sim, por favor envie-os para mim em sue{at}onestreet.org. Se eu puder reunir diversas informações, vou usá-las em um post complementar e, quem sabe, talvez algo ainda maior.”

Para ver o post original, clique aqui.
Mais sobre bicicletas de carga e logística em bicicletas no Rio, clicando aqui.

Bicicletas de carga em destaque na Eurobike 2018

As bicicletas de carga ganharam, pela primeira vez, um espaço exclusivo na Eurobike, uma das maiores feiras de negócios do mundo com foco nas bicicletas.

As cargueiras estão circulando por aí, transportando desde material de construção, botijões de gás, de água, diversos produtos e até pessoas. Sim, em algumas cidades do mundo, e também no Brasil, muitas crianças fazem o trajeto diário, de casa até a escola, a bordo de cargueiras customizadas para elas (veja fotos abaixo).

As bicicletas de carga conquistaram cinco prêmios, num total de 45 categorias do Eurobike Award 2018. nas imagens abaixo, um modelo dobrável, que foi premiado.

Elas vieram para ficar, estão por aí mostrando ao mundo que são uma opção de transporte sustentável e que podem transformar as cidades em lugares melhores para viver. Em muitos casos, elas podem ser um investimento melhor do que comprar um carro.

Transporte Ativo na Celebração dos 200 Anos da Bicicleta

Foto: Jonas Hagen

A Transporte Ativo está presente na Conferência de Ciclismo Internacional (International Cycling Conference), que está acontecendo em Mannheim, na Alemanha, nessa semana. A conferência celebra os 200 anos da invenção da “Draisine”, uma bicicleta ancestral que foi inventado em Mannheim pelo Karl Drais.

Foto: Jonas Hagen

Uma reprodução da “Draisine”, inventada em 1817

Jonas Hagen, estudante de doutorado da Columbia University de Nova York e colaborador da Transporte Ativo, apresentou um trabalho sobre as bicicletas o os triciciclos de carga do Rio de Janeiro, elaborado em parceria com Zé Lobo, Diretor Executivo da Transporte Ativo, e Clarisse Linke, Diretora do ITDP Brasil. O trabalho usa dados coletados em 2014 e 2015 em nove centros comerciais da capital carioca.

Links relacionados:
Bicicletas e Logística
Contagem de Estabelecimentos Comerciais com Entregas por Bicicleta no Rio de Janeiro