Agradecimento aos destemidos pedestres e ciclistas

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Aos caminhantes, bicicleteiros, usuários da sola do sapato e das duas rodas com pedais:

Obrigado pela saudável desobediência civil. Com vocês o trânsito da cidade é mais humano e respeitoso, pois a qualquer instante uma pessoa que está atrás do volante poderá ser surpreendida por outra atravessando a rua, ou pedalando entre os carros, o que demanda uma atenção redobrada no volante.

Obrigado por não esperar 3 ou 4 insanos minutos para fazer a travessia de uma avenida, bizarramente condicionada a dar mais tempo e fluidez às máquinas do que às pessoas.

Obrigado aos ciclistas por seguirem pela contra mão ao invés de aumentar seu caminho em centenas de metros por conta da convenção motorizada das ruas de fluxo unidirecional.

Nossos agradecimentos também aos que desbravam novas rotas pedalando na calçada de grandes avenidas ou onde o trânsito motorizado é muito opressivo. São vocês que irão reorientar a dinâmica do espaço viário em favor dos fluxos humanos.

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Essa é uma carta escrita à quatro mãos e que tem mais informações, dados e explicações no post:
Carta aberta aos destemidos pedestres e ciclistas.

Um perfil de quem usa a bicicleta no Brasil

Estão disponíveis os primeiros dados da pesquisa “Perfil do Ciclista” que irá traçar um panorama de quem utiliza a bicicleta como meio de transporte no Brasil. Ainda preliminares, os dados já dão um grande panorama sobre quem já pedala e nos ajuda com pistas para que mais pessoas escolham pedalar.

A maioria dos ciclistas brasileiros entrevistados tem entre 25-34 anos, concluiu o ensino médio, recebe até 2 salários mínimos, pedala até 30 minutos no seu deslocamento principal, não se envolveu em incidentes de trânsito recentemente e, principalmente, gosta de pedalar. A  bicicleta é o principal meio de deslocamento das pessoas ouvidas que pedalam no mínimo 5 dias por semana de porta a porta, sem integrar com qualquer outro meio de transporte.

– Confira os resultados preliminares da pesquisa nacional do perfil do ciclista 2015.

Rio de Janeiro, cidade que ama pedalar

Dos dados preliminares do Rio de Janeiro, o que salta aos olhos é a frequência com que as pessoas entrevistadas pedalam. Cerca de 81,2%  utiliza a bicicleta no mínimo 5 vezes por semana. Desse total 37,20%  pedala de domingo à domingo, 27% utiliza 5 vezes por semana e 17% pedala 6 dias por semana.

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As pessoas que usam a bicicleta no Rio são em sua maioria jovens entre 25-34 anos (27,7%). Já 21,9%  tem entre 35-44 anos e 19,4% 15 a 24 anos.

Em relação à renda 59,8% recebe até 3 salários mínimos. Sendo 30,7% entre 1 e 2 S.M., 16,2% de 2 a 3 S.M. e 12,9% até um salário.

A integração modal é mais representativa do que na média nacional, com 34,5% das pessoas utilizando a bicicleta somada a outro meio de transporte.

Na variável tempo, 83,6% utiliza a bicicleta para deslocamentos de até 30 minutos. Sendo 56,6% mais de 10 e menos de 30 min. e 27% pedala no máximo 10 min. em sua viagem mais frequente.

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São Paulo vive revolução cicloviária que precisa alcançar a periferia

Um olhar específico sobre as cidades mostra a diversidade local e também algumas consistências em relação aos dados nacionais. Nos dados preliminares de São Paulo, chama a atenção o desejo por mais infraestrutura e como o aumento da malha cicloviária impulsionou o uso da bicicleta. O levantamento conduzido pela Ciclocidade já nos traz reflexões que estão além dos números.

Como forma de melhorar seus deslocamentos diários, 50% dos entrevistados sugerem a implantação de mais vias exclusivas para ciclistas na cidade. Já dos entrevistados que disseram nunca usar ciclovias em suas viagens, 80% estão na periferia.

Sobre quando a bicicleta começou a ser usada como meio de transporte, dois extremos se destacam entre as respostas: 29% dos entrevistados pedalam há mais de 5 anos, enquanto 19% há menos de 6 meses. O alto número de “novatos” pode se dever à influência da expansão da malha cicloviária na cidade – nas áreas central e intermediária, praticamente 40% dos ciclistas começou a pedalar há menos de um ano.

Com relação à renda, quase 40% dos ciclistas da capital paulista ganham entre 0 (sem renda) e 2 salários mínimos (R$ 1.576).

Com relação a faixa etária, também quase 40% dos ciclistas têm entre 25 e 34 anos. Ciclistas entre 35 a 44 anos compõem a segunda faixa etária mais presente, com cerca de 27%.

Mais de 70% dos ciclistas afirmam usar a bicicleta pelo menos 5 vezes por semana, indicando que a bicicleta é, de fato, o principal meio de transporte para muitos paulistanos. Este resultado se repete entre homens e mulheres.
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O tempo dos deslocamentos em São Paulo mostram a distribuição espacial da cidade das longas distâncias. Ainda que 54,2% pedalem entre 10 e 30 minutos, 29,2 % pedala entre 30 min e uma hora. A longa distância entre os locais de moradia e os de emprego e estudo é certamente o maior drama paulistano, mais um que a bicicleta ajuda a contornar.

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Em breve iremos publicar também os dados preliminares das outras cidades.

Faça o download das planilhas:

Saiba mais:

Quem são os ciclistas brasileiros
Quase 75% dos ciclistas de São Paulo pedalam em área sem ciclovia
Maioria dos ciclistas do Rio são de baixa renda

Porque motoristas odeiam ciclistas

 

Uma história patética: ciclista que “filma tudo” em busca de confronto encontra o mais verbalmente agressivo e destemperado motorista. Das imagens, apenas comédia com a maior vingança cármica que todos que pedalam sempre desejaram como fim de uma discussão de trânsito.

 

O motorista “tiozinho” inglês despeja toda sua ira no ciclista que se mantém arrogante e paciente enquanto aponta e reforça a necessidade de conduzir veículos motorizados sem colocar pessoas em risco. Apesar da polêmica em relação à conduta de ambos, o que mais importa é obra de arte final, o tombo. E aí vamos aos:

5 motivos porque alguns motoristas odeiam ciclistas

Ciclistas não pagam IPVA e por esse imposto a menos, não têm direito a circular fora de parques.

Cada ciclista pedalando no trânsito é a amarga lembrança que as ruas devem ser compartilhadas.

Ciclistas não respeitam o código de trânsito que foi escrito por e para condutores de veículos motorizados.

Com uma bicicleta de 100 dólares um ciclista se movimenta mais rápido que um superesportivo na cidade.

E o motivo principal:

O simples corpo humano de um motorista é incapaz de alcançar uma bicicleta em fuga.

Leia mais:

Dissecting That Road Rage Video Where the Driver Chases the Cyclist and Lands on His Face

Menos isopor, mais bicicletas

Mais bicicletas nas ruas trazem um enorme benefício para as cidades e toda a sociedade, ainda assim, existem pessoas que insistem em colocar o uso da bicicleta como uma atividade insegura e cheia de riscos, como se pedalar fosse equivalente à prática de esportes radicais.

O tema do capacete para ciclistas já esteve presente algumas vezes aqui no blog, mas a cultura do medo sobrevive. Portanto nasceu mais um texto publicado na Folha de São Paulo que reproduzimos parcialmente aqui, antes de mais nada, vale destacar o absurdo que é a coerção contra quem eventualmente pega a bicicleta ganha as ciclovias, ruas e avenidas da própria cidade.

É moralmente inaceitável e legalmente injustificável atacar o uso da bicicleta como uma atividade de alto risco e que necessita do uso obrigatório de equipamentos de proteção individual. É fundamental levantar alguns dos motivos para que os próprios ciclistas, as autoridades e a sociedade em geral deixe de lado o capacete para bicicleta e se engaje para que mais pessoas pedalem cada vez mais.

Abaixo dez motivos para pensar sobre o uso do capacete para ciclistas.

  1. Uso do capacete não é um ítem obrigatório pela legislação brasileira
  2. Ciclistas estão MENOS expostos a ferimentos e traumas na cabeça do que pedestres, motociclistas e até motoristas de carro
  3. Obrigar o uso do capacete é a pior forma de promover o uso de bicicleta e produz efeito inverso ao desejado
  4. Capacetes são inócuos para proteger sua cabeça
  5. Capacetes e equipamentos de proteção individual desviam a atenção dos problemas reais
  6. Paises com maiores índices de uso de bicicleta têm os mais baixos índices de uso de capacete
  7. Uso de capacete aumenta o comportamento de risco
  8. Um capacete salvou minha vida! (será?)
  9. Usar capacete = levar mais finas!
  10. Indústria automobilística incorporou, desconfie.

Confie mais na bicicleta

Esperamos que os dados, estatísticas, estudos e evidências aqui detalhados possam esclarecer um pouco mais o debate sobre o uso do capacete e, mais do que isto, que possam diminuir a animosidade causada pelo preconceito, falta de dados e pelo senso comum emburrecedor.

Da próxima vez que você ouvir “cadê o capacete?” pare, dialogue e mostre os fatos. Desconstruir um senso comum é um processo educativo longo e deve ser encarado com respeito e serenidade.

Pedalemos, pedalemos! Com ou sem capacete. Mas que a escolha seja integralmente sua.

Saiba mais:

Entenda por que o capacete para ciclistas é apenas um boné de isopor sem qualquer poder mágico

Uma ciclovia para abrir novas avenidas

São Paulo, 28/06/2015 - Inauguração da ciclovia da Av. Paulista. Foto: André Tambucci / Fotos Públicas

São Paulo, 28/06/2015 – Inauguração da ciclovia da Av. Paulista. Foto: André Tambucci / Fotos Públicas

A Avenida Paulista é a melhor ágora que sobrevive em São Paulo. Todo movimento político e toda discussão que diz respeito a polis tem de passar por lá ou tem no vão do MASP seu epicentro.

Torna-se óbvio que a praça do ciclista tenha sido disputada e ganha pelo movimento cicloativista para que a bicicleta ganhasse espaço na cidade. Mas a inauguração da mais paulista das ciclovias foi mais que vitória de um grupo ativista ou de aficcionados pelas pedaladas. Foi retomada do espaço público, foi mais uma porteira que se abriu em prol de uma cidade para pessoas.

Aos que estão empenhados em mais bicicletas na cidade há décadas, foi o coroamento de um sonho; os que pedalam há apenas alguns anos, foi o incentivo para que se mantenha a cadência; para quem acabou de descobrir os pedais foi deslumbramento.

Já para quem tem dúvidas sobre o que uma cidade para pessoas significa, foi um manual completo de introdução a uma cidade melhor.

São Paulo, 28/06/2015 - Inauguração da ciclovia da Av. Paulista. Foto: André Tambucci / Fotos Públicas

São Paulo, 28/06/2015 – Inauguração da ciclovia da Av. Paulista. Foto: André Tambucci / Fotos Públicas

O comércio não conseguiu atender a demanda, a alegria transbordou em lágrimas e sorrisos e o asfalto conheceu o silêncio, as conversas sem gritos e o ar limpo.

Política pública da melhor qualidade é a que parte da sociedade civil organizada, é encampada pelo poder público e transforma a realidade. Sempre foi essa a intenção da massa crítica de São Paulo, nascida em 29 de junho de 2002. A reação em cadeia que pessoas em bicicleta quiseram iniciar 13 anos atrás, depois de muitos catalisadores agora está agindo de maneira quase espontânea.

O cicloativismo ainda não chegou ao ponto de ser desnecessário, mas a cada pedalada é possível enxergar mais perto o fim do movimento que se tornará extinguirá quando for incorporado por toda a sociedade.

Pedalemos. As cidades ainda não mudaram, mas cada vez mais pessoas em mais bicicletas mais vezes irão realizar utopias.

Leia mais:

A política pública se torna “chic” e distante do povo quando começar em áreas nobres!

Ocupando o símbolo de São Paulo

33 imagens adoráveis da inauguração da ciclovia na Avenida Paulista