Informalidade como solução

O grande papel da inserção das bicicletas na cidades brasileiras talvez não seja pelos benefícios óbvios, mas por uma característica por vezes desvalorizada, a informalidade. Quem pedala é mais ser humano do que “condutor de um veículo”. A identidade permanece com a pessoa, não se transfere para o objeto.

Ao manter-se humano, o ciclista é capaz de continuar tão cidadão quanto é fora da bicicleta, e no Brasil isso pode significar muito. Em um país que ainda tem muito o que aprender sobre representação e representatividade política o exercício constante da cidadania é um bom caminho.

Planejar para a bicicleta é buscar entender comportamentos universais ao invés de fabricar um código de conduto aplicável apenas à máquinas. Pensar no ciclista é incluir o erro humano em tudo.

Uma cidade para ciclistas só é possível quando pensada fora de um escritório com ar condicionado. A cidade brasileira de bicicletas é aquela que tem favelas, tem o transporte público como alternativa precária, tem concentração de renda, mas é acima de tudo uma cidade que sobrevive à desorganização e é repleta de redes de relacionamentos.

Pela total incapacidade de organizar o Brasil do zero, estamos fadados a buscar nossas próprias soluções, fabricar o nosso urbanismo antropofágico que vá além do modelo milenar europeu e seja capaz de corrigir o rumo do rodoviarismo norte-americano que também falhou em terras brasileiras.

Como propõe o jornalista Denis Russo Burgierman, talvez nossos problemas urbanos sejam grandes demais e essa seja uma grande vantagem.

Natália Garcia escreveu sobre esse mesmo tema em um post chamado “Soluções informais” no blog Cidades para Pessoas.

5 anos

Em 2 de junho, este blog da Transporte Ativo completou 5 anos.

Para nós, é uma satisfação muito grande manter este canal de comunicação e aprendizagem mútuas. Divulgamos nossas ideias em busca de uma cidade e um trânsito melhor para todos, e recebemos muito retorno, com elogios e também críticas. E com isto vamos construindo uma cultura coletiva e proativa.

Os artigos do blog tornam-se, às vezes, locais de discussão de ideias controversas, como foi o caso do post O dilema das ciclovias.

Outros posts polêmicos:
Uso do capacete
Capacete e segurança
Bicicleta com cano de descarga
Massa crítica ou falha crítica?
Pelo fim do cicloativismo.

Mas nem sempre os assuntos polêmicos são campeões de audiência. Por curioso que pareça, o post campeão é Paródias educativas, com a música Ande ciclista em ritmo de Marcha soldado.

Confira os demais posts mais acessados nestes 5 anos:
Estilo Feminino (34.084 acessos).
Bicicletas e a Música (32.815).
About Transporte Ativo (30.248).
Comodidade Ciclística (13.109).
Bicicletas nas Ruas (10.421).
Ciclismo, o Esporte (9.531).
Aprendendo a Andar de Bicicleta (9.059).

Outra curiosidade. Nem sempre os post mais polêmicos ou mais acessados são os mais comentados. Segue a lista dos 10 artigos mais comentados:
Paródias educativas – 282 comentários
Comodidade Ciclística – 46 comentários
Bicicleta com cano de descarga – 21 comentários
Aprendendo a Andar de Bicicleta – 20 comentários
Viajar de Bicicleta – 19 comentários
Massa crítica ou falha crítica? – 19 comentários
Bicicletas são bem-vindas! – 17 comentários
Bicicletas em Condomínios – 17 comentários
Bicicletas para todos – 17 comentários
Fluxos e seus sentidos – 17 comentários

Ao longo destes 5 anos, foram escritos 903 artigos no blog e recebemos 1928 comentários publicados por 1121 diferentes usuários.
Já passamos a barreira de um milhão de acessos! (confira na coluna à direita, seção “Estatísticas”)

Obrigado a todos vocês por estarem nesta festa!!

Equipe Transporte Ativo

Porquinhos pela floresta

Vivemos na sociedade do culto ao corpo. É uma forma das pessoas encontrarem-se a si mesmas e reagir à sociedade de consumo que transforma gente em consumidores.

Mesmo que o próprio corpo tenha se tornado objeto de consumo – basta ver as capas de revistas e propagandas que usam corpos sensuais para vender de tudo – os exercícios físicos e a valorização do corpo são uma forma de autoconhecimento, de se encontrar no mundo. Devemos sim cuidar do corpo, da saúde. Malhar, correr, pedalar. Por isto, atletas são modelos para a sociedade. Ou deveriam ser…

Porque não basta apenas pensar em si mesmo.

Mais: 10 mandamentos para uma cidade melhor

Após a última Meia Maratona Internacional do Rio, em apenas 2 quarteirões foram encontrados 76 pacotes vazios de aditivo energético pelo chão.

lixo pelo chão

lixo deixado por atletas

A pergunta que fazemos é: se os atletas carregavam os pacotes cheios no bolso, por que jogá-los vazios na rua??

Talvez seja para diminuir o peso morto. Sabe como é, depois que bate o cansaço, um grama faz muita diferença. Carregar o flaconete até o lixo mais próximo seria um esforço sobrehumano, capaz de causar tontura e até desmaio, VO2max!
lixo

Mas depois de pesquisar muito, na internet, nas academias e nos manuais, nós encontramos a verdadeira resposta: o lixo jogado no chão marca uma trilha, como aqueles miolos de pão que os porquinhos deixavam pela floresta para encontrar o caminho de volta.

 

Linhas de desejo e representatividade

Rios sempre foram obstáculos naturais. Em São Paulo são a grande barreira para os meios de transporte ativos. Os rios Pinheiros e Tietê formam uma linha real que separa o centro expandido da capital do resto da mancha urbana metropolitana.

Alças de acesso que permitem velocidades altas para os motorizados e a ausência de faixas de pedestres acabam por desencorajar viagens a pé e de bicicleta nas pontes. Em algumas delas caminhar e pedalar é até proibido.

Como forma de reforçar o desejo de pedalar em segurança sobre o rio Pinheiros, ciclistas pintaram uma ciclofaixa na ponte Cidade Universitária. O fluxo de pedestres é enorme por conta da USP de um lado e da estação de trem do outro lado do rio. Some-se a isso a grande oferta de empregos de um lado e moradias do outro.

O “cicloativismo apocalíptico” exemplificado na sinalização não-oficial carrega consigo o desejo ancestral de traçar o caminho mais curto e seguir por ele. Nas palavras do filósofo Gaston Bachelard, é a linha de desejo, ou trilha social. Foi desse modo humano de viajar que se fizeram caminhos na mata, que viraram trilhas, estradas. Por onde passaram boiadas, trilhos e estradas.

Caminhos em qualquer cidade, ou espaço humano habitado, serão sempre os mais curtos e fáceis. Durante as últimas décadas esse caminho era pensado para a utilização de veículos motorizados. A demanda e ineficiência em deslocar pessoas provaram a falência desse modelo. Para mitigar o colapso, resta investir em alternativas que encoragem o uso de meios de transporte inteligentes para as inúmeras demandas humanas por ir e vir.

Leia mais:
atos de amor e coragem (pedaline)
23 de maio (apocalipse motorizado)
Desire path (wikipedia)
Subconscious Democracy and Desire (Copenhagenize)

Relacionados:
Pontes Paulistanas
Fluxos de Água e de Vida
Breve Fábula sobre Caminhos
A Importância dos Apocalípticos
Integrar-se à Cidade
Vias Humanas

A simplicidade no ambiente urbano

Para além das grandes obras, suas grandes avenidas e viadutos, uma cidade tem muitas vezes detalhes esquecidos. Becos que ninguém cuida, vazamentos que pingam livremente há anos. Mas também existem pessoas que se focam em pequenos e inspiradores detalhes.

Um simples gotejamento não só deixava feia uma calçada, mas podia ser um grave risco a segurança quando a fina camada d’água congelava no inverno. Um grupo de artistas interveio com uma solução improvisada que chamou a atenção das pessoas certas que enviaram o maquinário pesado que resolveu o problema.

Astoria Scum River Bridge from Jason Eppink on Vimeo.

De uma maneira ainda mais completa, uma iniciativa em São Paulo que buscou não só agir para que algo fosse feito, mas da prática reverter um contexto desagradável. A filosofia por trás é o “Manifesto BioUrban” que começa assim:

A arquitetura e urbanismo modernista mata, é ademocratico, é panoptico e rouba o dinheiro público. O manifesto BioUrban é a antítese quanto concepção. É a resistência filosófica e estética da prática do construir e viver Cidade. É a vida. É a Cidade Viva.

O vídeo abaixo explica um pouco mais.

Existem muitas formas de viver nas cidades e vivenciá-las. Mas sempre, as melhores cidades são aquelas em que seus habitantes tomam para si o espaço compartilhado de todos.

Saiba Mais:
Jardim suspenso da babilônia
Astoria Scum River Bridge
Manifesto BioUrban

Relacionados:
Dez Mandamentos para uma Cidade Melhor
Arte e Planejamento Cicloviário
Provocações Brancas
Minha cidade
Domingos a mais
Para quem são feitas as ruas