O futuro é hoje

labirinto - caminho da escola

O trânsito nas cidades oprime as pessoas, causa estresse e medo da violência. As cidades são construídas por adultos e para adultos, que têm uma carga racional e emocional mais apta a lidar com situações extremas – ou deveriam ter.

Crianças sofrem muito mais com a degeneração do espaço urbano, porque elas não são “pequenos adultos”. Elas têm uma dimensão própria e uma forma lúdica de lidar com o espaço onde moram e se movem. Precisam de liberdade para explorar e descobrir o mundo. Desconhecem os perigos reais e os fictícios.

As crianças são totalmente esquecidas e alienadas pelo urbanismo, pelos arquitetos e planejadores das cidades. Os espaços públicos, os meios de transporte e as ruas são projetadas para adultos. Adultos que dirigem um carro. Mas estes adultos estão abandonando as cidades, mesmo morando nelas. Estamos cada vez mais nos fechando em conchas de aço e vidro.

Movidos pelo medo, que brota nesta cidade fragmentada, há todo um movimento de pais e mães no sentido de deixar as crianças o mais longe possível das ruas. Cada vez mais as crianças caminham menos, andam menos de bicicleta e adquirem doenças típicas de adultos mais cedo, como estresse e obesidade.

O projeto “Transporte Ativo na escola” tem a intenção de contribuir para este debate. Mais do que isto, queremos que as bicicletas voltem a ser coisa de criança! Que as ruas sejam espaço de encontro, não um canal de violência e medo.

Em dezembro do ano passado, entramos em contato com o renomado ilustrador Lelis e ele doou para a TA cinco desenhos infantis inéditos e exclusivos. Com estas ilustrações produzimos folhas para colorir, labirintos e palavras cruzadas. Os jogos estão disponíveis na página do Projeto Transporte Ativo na escola e podem ser usados livremente.

Se você é professor, leve para sua sala de aula. Se você é pai ou mãe, divirta-se com seus filhos e indique na escola deles. Se o presente parece escapar das nossas mãos, vamos construir o futuro agora: uma cidade onde meninos e meninas possam andar a pé e de bicicleta.

para colorir - menino de bicicleta - coloring page boy riding a bicycle

Lelis é ilustrador mineiro, atualmente contribui para o Jornal Estado de Minas. Tem albuns de quadrinhos publicados, inclusive na França; participou do projeto Cidades Ilustradas, da Editora Casa 21, para quem fez um livro sobre Ouro Preto “Cidades do Ouro“; está trabalhando na ilustração de Clara dos Anjos, obra do Lima Barreto que vai sair em quadrinhos.
Lelis tem um traço marcante. Confira 3 de suas ilustrações:

  • City monster
  • Cavaleiro do apocalipse
  • Cidade para carros
  • e faça um passeio pelo blog dele em busca de mais bicicletas!

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    Em uma escola, ainda no começo do ano letivo, entra na sala o professor e acontece o seguinte diálogo:

    – O professor vem sempre para a escola de bicicleta?
    – Sim eu vou para todos os lugares de bicicleta. – responde o professor, feliz e surpreso dos alunos terem reparado.
    Até que vem a resposta:
    – Então o professor é pobre?
    – (Silêncio constrangedor).

    A percepção corrente de que riqueza se traduz em bens materiais atinge com força as crianças, mas não precisa ser fato consumado. O professor dessa pequena história não soube o que responder, mas a quantidade de boas respostas possíveis é tão grande quanto o universo de bicicletas.

    Para quem pedala todos os dias, chega a ser intrigante e soa repetitivo ouvir questionamentos sobre o uso da bicicleta. Para ajudar e sensibilizar alunos em relação a importância e ao valor das bicicletas para as pessoas e as cidades, a Transporte Ativo disponibiliza uma apresentação feita em um colégio particular no Rio de Janeiro. Nela, imagens e vídeos mostram a bicicleta como ícone de luxo, mas principalmente seu potencial para cidades e pessoas melhores no futuro.

    – Baixe em pdf a apresentação “A Bicicleta, passado, presente e futuro“.

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    Mais amor, mais transporte, mais esporte

    O Campus da Universidade de São Paulo na zona oeste da capital formou personalidades políticos, cientistas, pesquisadores e pensadores. A cidade universitária nasceu também para desarticular a luta dos estudantes contra o regime. Os prédios e vias seguem firmes, no entanto uma universidade é um lugar em outro espaço tempo, onde alunos sempre renovam o ambiente.

    Carente de espaços públicos de qualidade, muitos paulistanos buscam refúgio no campus da universidade. Pistas são tomadas por ciclistas em máquinas leves capazes de alcançar altas velocidades, corredores de rua também frequentam a USP para treinar. A atitude agressiva de alguns esportistas em bicicleta no trânsito dentro do campus fez com que a presença deles chegasse a ser até mesmo proibida.

    Um anacronismo. Mas que é baseado na atitude opressora de pelotões de ciclistas em alta velocidade que por serem um grupo forte intimidavam os demais frequentadores da universidade. Assim como o Pateta fica feroz atrás do voltante alguns ciclistas faziam o mesmo. A proibição na USP não está mais em vigor, mas ainda existem conflitos e a administração não sabe bem como resolver o “problema ciclístico”. Até mesmo o autódromo de Interlagos foi proposto como local para substituir os treinos dos ciclistas.

    Esssa semana foi anunciada mais uma medida que claramente tem tudo para ser ineficaz naquilo que se propõe. Ciclistas e corredores deverão se cadastrar e receber gratuitamente uma carteirinha. A universidade nesse aspecto torna-se um clube, com os sócios (alunos e professores) e os atletas fazendo o papel de convidados.

    A intenção, segundo o coordenador do campus, Antonio Marcos Massola, é reduzir as ocorrências, como discussões e brigas envolvendo pessoas de fora da universidade, que hoje não se submetem a nenhum tipo de controle.

    Medidas de burocratização e restrição do uso nunca foram responsáveis por melhorar espaços públicos. Os ciclistas tomaram o campus por conta do asfalto liso e das pistas livres. A conduta inadequada de alguns levou aos conflitos, no entanto a melhor maneira de expulsar os indesejados é convidar os “desejáveis” a tomarem conta do espaço.

    Um campus tomado por ciclistas se deslocando e passeando em baixa velocidade, ou com pistas que desfavoreçam altas velocidades são medidas muito mais efetivas do que cadastros. Regras nunca foram respeitadas simplesmente por estarem escritas em algum lugar. Leis servem para minimizar conflitos, mas quando são pensadas como um fim em si mesmo, sem levar em conta o fator humano, tendem a ficar presas no papel.

    As adequações para a boa convivência entre velozes ciclistas, ciclistas lentos, corredores, e a população do campus pode e de ser feita de maneira mais amistosa. Mas restrições nunca foram o caminho e os incentivos para a prática adequada dos esportes na Cidade Universitária ou em outros locais da cidade de São Paulo é certamente um ganho para todos os paulistanos.

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    A importância das universidades
    Breve Fábula sobre Caminhos

    – Bicicletas Livres na Universidade de Brasília:
    Bicicletas Livres
    As Amarelinhas já Chegaram

    Bicicleta de Sucata

    Toda criança faz brinquedo de sucata na escola. Garrafas PET viram foguetes, potinhos de iogurte são porquinhos, caixa de pasta de dente é um trenzinho.

    Trabalhos manuais desenvolvem a coordenação motora, e permitem que as crianças saibam como o mundo funciona de verdade, com formas, texturas e processos de fazer. Mais que isto, ao proporcionar a concretização de conceitos abstratos, brinquedos de sucata são sementes de sonhos e simbolismos.

    O mundo infantil é um mundo de liberdade, descobertas, de tornar-se humano, estar no mundo e conviver com outras pessoas. Poucas coisas representam isto tão bem quanto a bicicleta. De ser livre e traduzir a condição humana, que exige força, equilíbrio e solidariedade.

    E nada mais fácil do que fazer uma bicicleta com sucata. Basta uma folha de papelão, uma tampinha de garrafa, canudinhos plásticos e tesoura.
    material para bicicleta de sucata

    Com poucas etapas
    bicicleta de papelão, tampinha de garrafa e canudinhos

    O resultado pode ser este.
    bicicleta de sucata

    A Transporte Ativo produziu um folheto explicativo, com todas as etapas ilustradas e o molde para corte do papelão.

    O folheto faz parte do material pedagógico do Projeto Transporte Ativo na Escola, cujo objetivo é dar às crianças a educação sobre trânsito que elas merecem, o trânsito da qual elas próprias podem ser os atores: andar a pé e de bicicleta.

    Teoria do Ovo

    A bicicleta é o veículo urbano mais eficiente.

    Esta comparação entre meios de transportes exige cálculos complexos. A eficiência pode ser medida em termos de consumo por unidade de distância por veículo, consumo por unidade de distância por passageiro ou consumo por unidade de distância por unidade de carga transportada. Pode-se medir também redução de gastos e impacto nos orçamentos da sociedade, empresas ou pessoas.

    Há um complicador nestas equações comparativas, que é o fato dos combustíveis utilizados serem diferentes. Trens, automóveis e ônibus usam combustíveis fósseis. O combustível de bicicletas e pedestres é um café da manhã ou um almoço e uma taça de sorvete. É preciso fazer uma matriz de conversão para consumo calórico, em joules ou watts, e mesmo assim os cálculos comparativos exigem algum esforço de compreensão.

    De um modo mais simples e direto, podemos usar a teoria do ovo para comparar a eficiência energética entre os meios de transportes urbanos. Veja neste novo folheto produzido pela TA.

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