Desafio intermodal, um histórico

Trajeto de deslocamento do “Desafio Intermodal” no Rio de Janeiro.

O Desafio Intermodal é uma excelente ferramenta para divulgar a necessidade de alternativas de deslocamentos para os cidadãos. Mais do que medir o tempo dos deslocamentos urbanos, ele mede as diferenças de custo e eficiência dos deslocamentos das pessoas, independente de qual modal.

No Brasil essa idéia nasceu no Rio de Janeiro, no século XX, mais precisamente em 28 de janeiro de 1993. O nome “Desafio Intermodal” só veio depois, em 2006, e vem de uma tradução livre do termo “commuter challenge”, iniciativa feita no exterior com o mesmo propósito.

Muita coisa mudou nas cidade ao longo de todos esses anos, principalmente em relação a necessidade de equacionar de maneira mais inteligente os congestionamentos. A realidade urbana das grandes cidades brasileiras é bastante similar. Em diferentes graus, todas enfrentam congestionamento e perda de qualidade de vida crescentes.

Dentro desse contexto, é natural que os desafios intermodais tenham ganho tanto espaço no século XXI. A primeira edição dessa segunda etapa histórica, teve início em 2006, no Rio de Janeiro, recebeu enorme visibilidade midiática e iniciou uma tradição, no mesmo ano São Paulo e Santo André realizaram os seus.  Desde então os resultados tem sido bastante similares, a bicicleta é sempre mais eficiente, econômica e sem emitir poluentes.

Quais são as novidades? Em São Paulo já teve até helicóptero e ainda assim a bicicleta chegou antes. Na edição de 2012 o helicóptero chegou apenas 2 minutos antes da bicicleta, mas certamente os custos financeiros, ambientais e sociais continuam proibitivos.

Alguns desafios persistem e ainda não foram equacionados, o maior deles é deixar claro que o evento não é uma corrida, mas sim um desafio cotidiano. Sendo assim, importa menos quem chega primeiro, mas sim o resultado geral e a comparação com anos anteriores bem como a detecção de distorções urbanas que precisam ser corrigidas.

Dentro dessa lógica, é mais importante medir velocidades e lançar luz sobre as dificuldades enfrentadas por pedestres, cadeirantes, ciclistas e usuários de transporte público. A única vitória possível para um desafio intermodal é que o cidadão seja privilegiado e que a circulação urbana seja cheia de opções, seguras, confortáveis, econômicas e sustentáveis.

Ciclofaixa, motofaixa e segurança

São Paulo irá testar o compartilhamento em uma pista exclusiva entre motocicletas e bicicletas. Cabe então algumas reflexões sobre a dinâmica dos veículos e relembrar a trajetória de implementação das motofaixas em São Paulo.

Alimentada pelo esforço de seu condutor, a bicicleta tende a desenvolver uma velocidade final menor, mas é capaz de manter uma velocidade média perfeita para deslocamentos de curta e média distância. Além disso, em caso de queda ou colisões a baixa velocidade é grande aliada do condutor em garantir danos menores.

Veículos motorizados populares, as motocicletas guardam com a bicicleta uma única grande semelhança, a quantidade de rodas. É justamente o motor que diferencia um veículo do outro por influenciar diretamente na velocidade final, aceleração e danos ao condutor em caso de colisão e queda.

As motofaixas em São Paulo foram um teste para buscar aumentar a segurança das motocicletas, os resultados foram decepcionantes. A maior velocidade em uma pista exclusiva aumentou o número de colisões e atropelamentos envolvendo motocicletas e a iniciativa não foi ampliada desde de 2010, quando cicloativistas sinalizaram informalmente a motofaixa da Vergueiro com pictogramas de bicicletas.

Eis que 2 anos depois as bicicletas irão ser toleradas aos domingos e feriados justamente na motofaixa da Vergueiro. A idéia é integrar o centro da cidade à nova ciclofaixa de lazer da Avenida Paulista. A iniciativa de compartilhamento é louvável mas parte de dois precedentes maléficos para uma boa política cicloviária. O primeiro é improvisar “onde dá” para implantar uma infraestrutura para circulação de bicicletas, de maneira provisória. O segundo malefício é promover a circulação de bicicletas em grandes avenidas junto ao canteiro central.

O Brasil ainda está descobrindo seus caminhos em relação ao planejamento cicloviário, testando soluções e criando um padrão. O “Caderno de Referência para elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades” publicado pelo Ministério das Cidades foi um dos passos para a criação de um padrão de infraestrutura cicloviária nele a referência para uma ciclofaixa é de uma largura total de 1,80m, sendo 1,20m para circulação de bicicletas em sentido único, 0,2m de isolamento junto ao meio fio e mais 0,4m de isolamento do trânsito motorizado.

O Caderno de Referência traz ainda referência a outros tipos de infraestrutura, tanto ciclovias, quanto também iniciativas de moderação de tráfego que visam readequar o viário para o compartilhamento entre motorizados e bicicletas.

Ainda sem normas definidas para todas as situações, ainda temos espaço para experimentações nas ruas que garantam o aumento da segurança efetiva e da sensação de segurança dos ciclistas. Dentro dessa lógica, é feliz a definição do Código de Trânsito que diz que a bicicleta deve circular pelos bordos da pista, sem especificar qual o bordo. Assim sendo, uma ciclofaixa do lado esquerdo não está incorreta, mas em um canteiro central de uma avenida ela ao mesmo tempo que diminui os conflitos com veículos estacionados e ônibus, também força o ciclista a cruzar uma grande avenida e todas as suas pista toda vez que quiser chegar à infraestrutura cicloviária. A opção mais correta, seja ao lado esquerdo ou direito da via, é sempre garantir que o ciclista circule junto aos prédios, destino final e inicial das viagens.

Por ser exemplo para o resto do país, os acertos e erros cometidos no planejamento da cidade de São Paulo atingem diversas cidades do resto do Brasil, um país ainda sem um padrão consolidado de infraestrutura cicloviária. O uso compartilhado da motofaixa é medida excepcional que depende do baixo fluxo de motocicletas para ser seguro para o ciclista. No entanto, é precedente para se alastrar o vício do improviso na implementação de melhorias para a bicicleta caso não venha acompanhada de dispositivos permanentes para diminuir a velocidade do fluxo motorizado e assim garantir a circulação segura dos ciclistas com sua baixa velocidade final e velocidade média respeitável.

Para contribuir para a discussão, tá rolando uma pesquisa com a pergunta: “É possivel compartilhar a motofaixa da Vergueiro com bicicletas?

Mensagens que grudam e circulam

A maior importância da bicicleta no século XXI é pelos impactos que ela pode trazer para as cidades. Os benefícios do veículo mais eficiente que a humanidade foi capaz de inventar são conhecidos desde o século XIX, mas com as dificuldades e inviabilidades das cidades projetadas para veículos motorizados, a bicicleta vem como uma bandeira catalizadora da resolução de problemas urbanos.

Dentro dessa lógica, os ciclistas urbanos tendem a se tornar apaixonados pelas cidades e inconformados com as condições de circulação e a perda crescente de qualidade de vida nos ambientes urbanos. Torna-se então uma grande necessidade espalhar as boas novas de que a bicicleta é muito maior do que aquilo que se vê, é parte da revolução em curso para devolver as cidades para as pessoas.

Para espalhar a mensagem, ciclistas gostam de contar a todos sobre os prazeres e a praticidade de pedalar. Para ajudar na circulação dessa mensagem, tem adesivo novo para ser distribuído gratuitamente. Iniciativa do Banco Itaú no Facebook. Basta entrar com os dados pessoais no aplicativo e pedir um kit de adesivos entregue pelo correio.

vá de bicicleta

A nova ciclofaixa de lazer na paulista

O asfalto já está pintado na Avenida Paulista e é hora de aproveitar a implementação de mais alguns quilometros de ciclofaixa operacional de lazer.

Feitas para funcionar aos domingos e feriados nacionais das 7am às 16h, as ciclofaixas de lazer em São Paulo representam a demanda reprimida da cidade por espaços seguros e de qualidade para a circulação de bicicletas. Mas a ampliação desse modelo não é medida que agrade a todos os ciclistas.

Confira o que tem a dizer Thiago Benicchio da Ciclocidade, Willian Cruz do vadebike.org e Ricardo Corrêa da TCUrbes.

Ciclistas falam sobre a ciclofaixa na Avenida Paulista from João Lacerda on Vimeo.

Skates, bicicletas e eleições municipais

Arte: Pedala Manaus

Estamos em pleno ano eleitoral, nos mais de 5.000 muncípios brasileiros é hora de discutir propostas e debater o futuro das cidades. A mobilidade urbana nas grandes cidades está na pauta e junto com ela a qualidade de vida.

No entanto, nas duas maiores capitais do Brasil, duas imagens semelhantes ganharam destaque e valem uma reflexão. Primeiro o candidato a prefeito de São Paulo José Serra apareceu na capa do Jornal Folha de São Paulo prestes a cair de um skate. Pouco tempo depois, o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição no Rio de Janeiro foi fotografado estatelado no chão, depois de cair justamente de um skate.

Agenda pública de candidato é sempre uma grande festa, ao grupo de assessores e militantes dos candidatos ao cargo majoritário somam-se os candidatos aos cargos minoritários e seus assessores e militantes e principalmente nas grandes cidades, um grupo de fotógrafos, cinegrafistas e jornalistas.

Para além de tombos em quatro rodinhas, bicicleta já é assunto nas eleições municipais de diversas cidades. Londres inclusive foi exemplo desse debate nas eleições para prefeito em maio de 2012. Chegou-se até a especular se não estaria se formando um “voto ciclístico” na capital inglesa.

Fato é que no Brasil bicicleta e mobilidade humana já estão dentro da pauta. A iniciativa da Ciclocidade, associação paulistana de ciclistas, buscou justamente fortalecer o debate e discutir propostas com os candidatos a prefeito em São Paulo através de um convite para encontro e assinatura de uma carta compromisso sobre o tema da mobilidade em Bicicleta.

No calor de campanhas eleitorais, a dinâmica muda em relação a forma de diálogo com o poder público, a tendência é de apoio a causas que dêem visibilidade midiática para o candidato, mas para que as promessas sejam de fato implementadas, é preciso uma presença constante de quem defende e valoriza a bicicleta como veículo urbano durante os 4 anos de gestão municipal.