Pedalar é a cidade em cores

Mundo afora existem cores que não enxergamos, paisagens invisíveis. Pedalar tem um pouco da arte de descobrir o que antes era desconhecido. A publicidade acima é perfeita em ilustrar o lado maravilhoso da rotina do ciclista urbano.

Um olhar mais atento é capaz até de vislumbrar na realidade de nossas grandes cidades o que a animação publicitária ilustra. Em meio a tantos veículos motorizados, grandes e barulhentos, pode parecer difícil imaginar a existência de ciclistas. Mas eles estão circulando, basta ficar atento. Há os que optem por circular pelas calçadas para compartilhar o espaço com os pedestres. Existem muitos circulando por vias arborizadas, longe das grandes e congestionadas avenidas. Tem bicicleta rodando ali pelo canto daquela ponte. E tem também muito ciclista que espera a semana toda para ganhar as ruas aos sábados e domingos.

A cidade não tem manual de instruções, nem procedimento técnico capaz de defini-la. Mas para alcançar um pouco mais de felicidade urbana, é preciso antes de mais nada praticar felicidade. Primeiro através do olhar, em seguida, trabalhando corpo e mente em cima de uma bicicleta.

Bicicleta de Bambu feita na África

Uma bicicleta é capaz de gerar muito movimento com um gasto mínimo de energia. Na física isso quer dizer o mínimo de watts por quilômetro, na biologia significa que o ciclista é mais eficiente que um Condor. No dicionário de economia a bicicleta é capaz de dar a melhor taxa de retorno por investimento, socialmente falando.

A empresa californiana Zambikes é um “empreendimento social”, uma empresa que visa não a maximização do lucro, mas sim o aumento dos benefícios sociais da comunidade em que a empresa está inserida. E justamente pela pobreza econômica africana, com pouco investimento é preciso gerar grandes impactos sociais.

As estilosas bicicletas em Bambu, feitas à mão, são comercializadas ao redor do mundo e os lucros possibilitam que a empresa invista em bicicletas robustas a serem utilizadas pela população da Zâmbia.

Conheça mais sobre o projeto de bicicletas para a Zâmbia no zambikes.org ou compre a sua Zambike de bambu no zambikesint.com.

Skate, segregação e espaço público

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Museu do Ipiranga – São Paulo – Foto: João Lacerda

Uma das belezas da arquitetura é justamente a incerteza do seu uso. Espaços públicos de qualidade contém sempre o imprevisto, o erro, a arte que não antecipada e que só se faz pelo uso.

Há, no entanto, uma certa tendência a desumanizar os espaços para restringir usos e “ordenar” fluxos e comportamentos, nada mais empobrecedor. Em São Paulo andar de skate já chegou até a ser proibido, afinal ia contra a ordem estabelecida. Mas a proibição deu brecha para o debate e acabou por fim contribuindo para a profissionalização do skate como esporte.

Mas permanece a pergunta sobre o que é mais valioso para uma cidade, espaços públicos herméticos e que aos poucos acabam tomados pelos “indesejados”, ou espaços públicos de qualidade com vidas que circulam, brincam e usufruem da cidade.

A resposta parece bastante clara, mas o vídeo que inspirou esse post traz mais elementos para se refletir sobre a idéia de “arquitetura vs. skate”. Em Auckland, cidade mais importante da Nova Zelândia, o embate está definido entre a vontade e necessidade do poder público de conter o ímpeto dos skatistas e tendência dos skatistas de subverter os usos do mobiliário urbano.

Ao mesmo tempo em que faz adaptações anti-skate nos locais perfeitos para um grind, a administração municipal de Auckland investe na construção de “skate parks”, infraestrutura segregada planejada para a prática do skate. O que a princípio soa interessante, é na verdade uma miopia em relação aos desejos reais da comunidade das rodinhas.

O skatista está sempre em busca de novos locais para realizar manobras em busca de desafios. Ter um parque é bom para novos adeptos, mas é na dificuldade de pular uma nova escadaria ou em voar por um corrimão inexplorado que reside o desafio.

Manobras radicais em grandes obras arquitetônicas podem parecer uma grande heresia, contribuindo para o desgaste prematuro da infraestrutura. Mas a realidade é que uma cidade precisa ser adequada para o uso democrático do espaço. Pensar em maneiras de integrar diversos usos é sempre mais eficiente do que segregar cada grupo social, ou tribo, em sua caixinha.

Vídeo visto primeiro aqui: PatternCities.com

Saiba mais sobre a proibição do skate em São Paulo no artigo: A Proibição do Skate nas ruas de São Paulo: De Jânio Quadros a Adolfo Quintas.