A paixão pela bicicleta é o que nos move – Velo-City 2016

IMG_2016-02-29 14:17:54

O primeiro dia de Velo-City é o que dita o ritmo para os demais com a abertura oficial recheada de falas inspiradoras em painéis que reúnem todo o público presente ao evento. Em Taipei, nesse 27 de fevereiro de 2016 não foi diferente.

A maior inspiração para o público presente, em especial aos brasileiros, foi certamente a fala de King Liu presidente e fundador da Giant, maior fabricante mundial de bicicletas.

IMG_2016-02-29 14:17:44

Em sua fala o empresário mostrou que é “da bicicleta”. Atualmente com 82 anos, King Liu comemorou oito décadas de vida sobre pedais. Foram mais de 300 km cruzando a ilha Formosa (Taiwan).

Sua maior realização no entanto foi bancar a implementação do sistema de bicicletas públicas na capital taiwanesa, Taipei. Chamado de U-bike, o serviço é tão eficiente que conta com a aprovação de mais de 90% dos usuários.

Já durante o primeiro dia de evento, os participantes do Velo-City puderam testar as bicicletas e ficaram impressionados com a rapidez para destravar uma magrela e sair pedalando.

Foi preciso primeiro agir em favor da causa da bicicleta, com resultados vindo na esteira. Mesmo sem saber dos impactos possíveis de um sistema da bicis públicas, a Giant bancou a implementação. Os números hoje comprovam o acerto. Cidades com sistemas de compartilhamento pedalam mais e compram muito mais bicicletas.

A paixão pela bicicleta no entanto precisa no entanto ser integrada e é isso que faz a diferença e o sucesso de qualquer iniciativa. As bicicletas públicas de Taipei (e qualquer outro sistema) precisam de integração e, principalmente, estar acima das expectativas ao ser simples de ser utilizado, com bicicletas perfeitas e 24 horas no ar, 7 dias por semana.

Restrição ao espaço da mobilidade individual motorizada

Tema que esteve presente no painel de abertura e que se manteve forte ao longo do primeiro dia de Velo-City foi o da restrição ao uso do automóvel.

A cidade do futuro é a que conseguir ter 50% dos seus deslocamentos a pé ou em bicicleta, 40% através do uso de transporte público e os 10% restantes para as viagens individuais motorizadas. Administrar uma cidade hoje é portanto o desafio de adequar as políticas públicas para contemplar essa lógica.

As diretrizes do governo federal brasileiro inclusive já contemplam, em teoria, essa lógica. Resta colocar na prática os orçamentos para se adequarem à expansão de infraestrutura para beneficiar as pessoas nas cidades.

No painel “Urban Challenges for Smart Cities” (Desafios urbanos para cidades inteligentes) foram feitas apresentações de Xangai na China, Los Angeles nos EUA e Gronigen na Holanda, três cidades em estágios diferentes de transição para o futuro de humanização urbana.

Há um consenso mundial de que as cidades do futuro serão de restrição à mobilidade individual motorizada e de promoção ao uso eficiente dos espaços de circulação em benefício das pessoas tendo ainda o incremento de espaços públicos de qualidade.

Até mesmo em Los Angeles o caminho para aumentar o número de pedestres e ciclistas é por meio de políticas de restrição ao uso dos automóveis. Já em Gronigen, na Holanda todo o centro histórico é inacessível para quem está de carro.

As resistências estarão sempre presentes em qualquer implementação que beneficia as pessoas. Mas depois das melhorias consolidadas, o resultado é que as pessoas não querem voltar ao passado de privilégio motorizado.

O uso de dados para favorecer a bicicleta

No painel “The Data we Have, The Data we Use” (Os dados que temos, os dados que usamos), foi apontada a necessidade para que quem planeja para a bicicleta, quem promove seu uso e que administra precisa trabalhar junto. A produção de dados atualizados e confiáveis é a melhor maneira de apontar os rumos da implementação de infraestruturas cicloviárias e corrigir eventuais desvios ao longo da trajetória.

Resumão do primeiro dia de Velo-City 2016, Taipei

Renata Falzoni, do Bike é Legal conduziu um bate-papo com a delegação brasileira presente ao Velo-City desse ano:

Leia mais:

VELO-CITY GLOBAL TAIPEI 2016 – DAY 01
Menos Carros = Mais Espaço para Pessoas – Velo-City 2016

Perfil do ciclista agora disponível em inglês, espanhol e francês

CapasBlog

Está disponível em inglês, espanhol e francês, o Perfil do Ciclista Brasileiro 2015. Agora será possível divulgar internacionalmente nossa metodologia e resultados obtidos. A tradução permite também a realização de intercâmbio e colaboração com pesquisadores e ativistas mundo afora.

Confira a pesquisa na íntegra e o livreto “Perfil do Ciclista Brasileiro 2015“.

A tradução do livreto foi realizada numa parceria entre o Laboratório de Mobilidade Sustentável da UFRJ, Transporte Ativo e Cubiculo.

Brazilian Cyclists’ profile 2015 (English)

Capas (EN)

The booklet Brazilian Cyclists’ profile 2015 was translated into English, Spanish and French. Translating the material meant the methodology and general results could be shared with the international community. Beyond sharing, we also want to promote collaboration with other researchers and activists from around the globe. The translation work was done in a partnership between the Lab for sustainable mobility (Laboratório de Mobilidade Sustentável from UFRJ and Transporte Ativo.

Perfil del Ciclista Brasileño 2015 (Español)

Capas (ES)

La publicación, Perfil del Ciclista Brasileño 2015 fue traducida al inglés, español y francés. Las traducciones se realizaron con el objetivo de difundir internacionalmente nuestra metodología y los resultados obtenidos. Además, esta iniciativa también tiene como objetivo promocionar el intercambio y la cooperación entre los investigadores y activistas de diferentes partes del mundo. La traducción se llevó a cabo en colaboración entre el Laboratorio de Movilidad Sostenible de la Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ y la Asociación Transporte Ativo.

Profile du cycliste brésilien 2015 (Français)

Capas (FR)

La publication du Profile du cycliste brésilien 2015 a été traduit en anglais, espagnol et français. Les traductions ont été réalisées dans l’objectif de divulguer internationalement notre méthodologie et les résultats obtenus. Par ailleurs, cette initiative vise à promouvoir rencontres et colaboration entre chercheurs et activistes des différentes parties du monde. La traduction a eté réalisée en partenariat, entre le Laboratório de Mobilidade Sustentável de l’UFRJ et l’ONG Transporte Ativo.

Maior encontro sobre mobilidade em bicicletas do mundo será no Rio em 2018

1

Maior evento sobre mobilidade em bicicletas do mundo, a conferência Velo City Global acontecerá no Rio de Janeiro em 2018. Será a primeira vez que o evento será realizado na América do Sul.

Organizado pela Federação Européia de Ciclismo (ECF – European Cycling Federation) o congresso tornou-se global a partir de 2010 e acontece a cada dois anos em cidades  que promovem o uso da bicicleta. São cerca de 4 dias em que técnicos e políticos da administração, empresários e membros da sociedade civil vindos do mundo todo reunem-se para discutir soluções para promover a cultura ciclística e as pedaladas como meio de transporte.

Velo City Global 2018 Rio de Janeiro

O Velo City Rio 2018 é o coroamento de uma longa trajetória que começou em 2007 com a primeira participação de uma delegação brasileira no encontro. Em Munique 2007 já ficou clara a importância de trazer um evento desse porte para o Brasil. Nós da TA levamos as primeiras conversar a sério e desde então pedalamos para ter um Velo City brasileiro e carioca.

Em 2010, no primeiro Velo City Global, em Copenhagen, o assunto voltou a tona entre a delegação Brasileira e ganhou força. O Rio de Janeiro pleiteou sediar a edição 2014, chegando a ficar entre as 3 possíveis sedes, mas a escolhida acabou sendo Adelaide na Austrália.

Durante o Bici Rio 2015, a possibilidade da cidade sediar o evento foi apresentada pela ECF e logo virou notícia. Ao todo, foram mais de 6 anos nos quais a Prefeitura do Rio e a entidade organizadora dialogam para realização o Velo City na cidade, foram diversas reuniões, idas e vindas até o anúncio  que oficializou o nascimento do Velo City Global 2018 Rio de Janeiro.

Esse é apenas o começo. Nos próximos 2 anos, prefeitura, iniciativa privada, ECF toda a sociedade civil, que trabalha em prol da mobilidade em bicicleta irão trabalhar juntas para para realizar este grande encontro do ciclismo.

São esperadas cerca de três mil pessoas, direta e indiretamente, de diversas cidades do mundo que, em um período de quatro dias, em junho de 2018, se reunirão para debater todos os temas relacionados à “magrela” tais como ciclovias, ciclofaixas, infraestrutura, negócios, logística, segurança, lazer, saúde, cultura e inclusão.

Com informações Diário Oficial do Município

Carnaval: tempo de purpurinar as ruas

Há alguns anos, ainda na primeira década do século XXI, um fenômeno começou a tomar conta das ruas do Rio de Janeiro durante o carnaval, foi o fenômeno da multiplicação dos blocos. Nos bairros, no centro da cidade, da zona sul à zona norte a ruas e avenidas passaram a pulsar com gente.

Hoje o samba e a alegria já estão consolidados muito além do sambódromo da Marques de Sapucaí. Todos os anos, quem gosta de espaços públicos democraticamente ocupados por pessoas pode ser deslumbrar com a diversidade da diversão. Seja rico ou seja pobre, o rei Momo sempre vem.

A consolidação da festa pagã durante o feriado religioso ainda coloca cidades no mapa, Salvador e Rio de Janeiro ainda são as praias famosas para quem quer tomar as ruas na busca de diversão. Tanto que em ambas, existe além dos consolidados roteiros, a aventura dos “pipocas” baianos, ou os “blocos clandestinos” dos cariocas.

Carnaval para redescobrir cidades

O ano de 2016 foi de consolidação da redescoberta das festividades de rua pelos paulistanos. Houve quem dissesse que a culpa foi da crise econômica que limitou os orçamentos e fez com que mais gente optasse por ficar em casa durante o carnaval. Uma análise mais ampla aponta para um fenômeno que se alastra Brasil afora. Carnaval deixou de ser a época de escapar dos grandes centros em busca de diversão sem limites nas cidades carnavalescas.

As pessoas continuam buscando as ladeiras de Olinda, Ouro Preto e tantas outras. Mas cada ano torna-se mais possível e razoável escolher entre ir dormir em casa depois da folia ao invés de enfrentar estradas ou aeroportos.

São Paulo é cidade de fugitivos. Destino de homens de negócio durante a semana e palco de gigantescos congestionamentos nas estradas causados por moradores em fuga para locais mais aprazíveis nos feriados prolongados. O necessário embate entre lazer/prazer e trabalho é ainda mais necessário na maior cidade brasileira, a noção de que a cidade é engrenagem de produção de riqueza e moedor de carne humana precisa ser reinventada.

Os cariocas descobriram primeiro que é possível ter prazer nas ruas da cidade em que se vive. Os paulistanos estão seguindo no caminho, e com seus superlativos, buscam espalhar a folia pela cidade para que o carnaval seja a apoteose da felicidade e menos parecido com o apocalipse da bebedeira, urina e lixo.

Saldo positivo para apresentar São Paulo já tem. A cidade arrecada mais dinheiro com o Carnaval de rua do que com o sambódromo do Anhembi e principalmente, desloca-se em massa através dos ônibus, metrô e trens. Mas acima de tudo, o reinado motorizado do resto do ano submete-se ao reinado das pessoas alegres, fantasiadas e dançantes.

Até quando o próximo carnaval chegar, o importante é tirar a purpurina do corpo, mas deixá-la guardada na alma.

Bicicleta na ladeira do senso comum

Foto: ITDP Brasil

Inauguração Ciclovia Avenida Paulista Foto: ITDP Brasil

Promover o uso da bicicleta no Brasil ainda envolve uma série de pequenas ladeiras assentadas no senso comum. O discurso de preservação do meio ambiente e dos benefícios para a saúde são rotineiramente utilizados como ponto de partida para qualquer discussão. O velho clichê de quem pedala vai salvar o mundo e ter mais qualidade de vida.

Essa abordagem funciona em reportagens televisivas e campanhas publicitárias, mas não é elemento decisivo para mudanças de atitude individual e na transformação efetiva da paisagem urbana.

Símbolo de liberdade e ferramenta de transformação urbana

Bicicleta como poster de marca de roupas é a apropriação do veículo como símbolo e certamente traz impacto mental positivo ao tornar cada vez mais as magrelas como figura onipresente no imaginário popular. No entanto, um bicicletário na porta da loja é não apenas a adoção de uma bandeira, mas a valorização efetiva de quem pedala além de encorajar mais pessoas a faze-lo.

O papel da sociedade civil, o que naturalmente inclui a Transporte Ativo, é abraçar as transformações, mesmo as superficiais, e colaborar para aprofundá-las. A mentalidade rodoviarista do século XX ainda resiste e desmontá-la requer ações conjuntas e inteligentes. No âmbito do fortalecimento de políticas públicas, a visão tem de ser ainda mais estrutural.

Nos idos de 2006 fez sucesso o desafio intermodal. Iniciativa de grande apelo midiático e que provou de forma simples o que para quem pedala era apenas o óbvio, que a bicicleta é o veículo mais rápido no congestionado meio urbano. Iniciativa menos formatada ao jornalismo televisivo, o perfil do ciclista brasileiro no entanto apresentou papel similar ao novamente apresentar a quem está longe do selim, o que nos parece óbvio. Dessa vez foi apresentada a informação do uso da bicicleta e sua importância como veículo, em especial para as pessoas mais pobres.

O perfil do ciclista apareceu em mais de 56 notícias, desde blogs especializados ao Jornal Nacional. Uma pequena pedalada para dar visibilidade aos ciclistas e mostrar a importância de encarar com seriedade a urgência de políticas públicas sérias em favor da mobilidade em bicicleta.

Bicicleta na agenda política

Iniciativas como o perfil do ciclista, contagens fotográficas e outras são atalhos possíveis para criar um ambiente favorável para a promoção ao uso da bicicleta. O fornecimento de dados mensuráveis e confiáveis são um caminho fundamental para fortalecer quem já trabalha o mobilidade cicloviária dentro da máquina pública.

As análises e recomendações do ITDP Brasil para São Paulo é uma dessas iniciativa. Já parte do pressuposto que infraestrutura é fundamental e buscar ir além. Promove ao mesmo tempo uma perspectiva favorável em relação à bicicleta e facilita mudanças de comportamento para modos suaves de deslocamento.

São dois eixos principais:

  • identificação do histórico de ações, programas e políticas de mobilidade por bicicleta;
  • análise da rede cicloviária implantada no município de São Paulo.

Conhecer o longo caminho até a adoção da bicicleta como ferramenta de transformação urbana é fundamental para que se possa seguir esse caminho, ultrapassando bandeiras partidárias.

Saiba mais: