Pela manutenção da lei da inércia

Uma lei no estado de Idaho nos Estados Unidos existe desde os anos 1980 e permite que ciclistas cruzem sem parar por placas de “pare”. É possível tomar tal atitude com segurança pela visibilidade e agilidade que um ciclista em movimento tem. Sem barreiras ao olhar, é possível definir quando e se é possível parar em um determinando cruzamento, tudo em nome da inércia.

Abaixo um vídeo explicativo demonstra a simplicidade do conceito e a necessidade de se adotar regra semelhante no estado de Oregon. Infelizmente a legislação não foi aprovada, o que faz do pequeno Idaho pioneiro e único em possibilitar que o ciclista julgue se é necessário ou não seguir a orientação de parar.

Uma tradução aproximada:

A bicicleta é provavelmente o meio de transporte mais eficiente jamais inventado.

Um ciclista mediano gera apenas 100 watts de potência, aproxidamente a mesma energia necessária para acender um lâmpada. Compare isso com a potência média de um automóvel, o suficiente para ligar 100.000 lâmpadas. E ainda assim, uma bicicleta pode ser uma alternativa viável ao automóvel.

A eficiência da bicicleta é quase inteiramente dependente da sua inércia. Uma bicicleta em movimento funciona no seu pico de eficiência. Até mesmo quando diminui a velocidade, ela continua eficiente. Somente uma parada por completo acaba com toda a energia disponível para o ciclista. Por conta disso, os ciclistas fazem o possível para manter sua inércia e usar da maneira mais eficiente possível os seus 100 watts de potência.

Mesmo que desejem manter-se em movimento, a maioria dos ciclistas se aproxima de cruzamentos de parada obrigatória com o máximo de cuidado. Nem que seja pela noção de que eles tem mais a perder em caso de colisão. A maioria dos ciclistas se aproxima de uma placa de “Pare” com a cautela que aprenderam nas lições da autoescola (*). Eles diminuem a velocidade, olham para a esquerda, depois para a direita e para a esquerda novamente. Antes de prosseguir, eles se asseguram de que a passagem está livre e de que tem a preferência no cruzamento. Muitos, ou até mesmo a maioria, são capazes de fazer tudo isso e ainda preservar um mínimo de inércia. Essa aproximação de uma placa de “pare” é conhecida como “parada em movimento”.

A “lei do Idaho” iria permitir que ciclistas tratassem uma placa de “pare” como uma de “dê a preferência”. Iria portanto legalizar essa prática corriqueira de “paradas em movimento”. Por conta disso iria também incentivar o uso seguro e eficiente da bicicleta como meio de transporte. A segurança da proposta é inquestionável, já que se baseia em uma lei existente há mais de 27 anos no Idaho. E o histórico de segurança no trânsito para bicicletas é excelente no estado. Mesmo sendo majoritariamente rural, Idaho é um bom comparativo com o Oregon, já que Boise (a maior cidade no Idaho) seria a segunda mais populosa cidade no Oregon.

É bom lembrar que nem a lei do Idaho, nem a lei de Oregon permitem que um ciclista atravesse um cruzamento em alta velocidade. Cruzar direto por uma placa de “pare” é perigoso, inconsequente e desrespeitoso com o direito dos outros. Na lei do Oregon, a multa para tal infração seria ainda mais alta do que no Idaho.

Por fim alguns exemplos como a lei do Idaho funciona na prática. Em resumo, o ciclista só tem o direito de “parar em movimento” quando o cruzamento está livre de pedestres e ciclistas e ele tem a preferência. Em todos os casos, a placa para passa a significar “dê a preferência”.

A lei do Idaho iria simplesmente assegurar que usar uma bicicleta continue tão seguro quanto é agora, mas mais eficiente, prazeroso e portanto mais viável com um meio de transporte limpo, saudável e de baixo impacto.

(*) A maioria dos motoristas norte-americanos aprende a dirigir na escola e portanto é comum que mesmo ciclistas tenham noções de direção ou até uma carteira de habilitação.

A abordagem dinamarquesa foi ainda mais eficiente, com uma “onda verde” que assegura que o ciclista que mantiver uma velocidade constante não irá parar nunca no principal eixo cicloviário de acesso ao centro de Copenhague. Confira o post “Prioridade absoluta para bicicletas“.

Relacionados:
Superpoderes Ciclísticos: atingir a velocidade do pensamento
Símbolo de Liberdade
A Liberdade da Propulsão Humana

Dois momentos em Belo Horizonte

Bicicletas em BH

O fim da contagem…

Bicicletas em BH

e o começo.

Em breve o relatório com todos os números. E agora na quinta-feira, 15, outra contagem. Dessa vez no centro da cidade, na rua professor Moraes, perto da Savassi.

Todas as contagens estão sendo feitas em vias que irão ter melhorias cicloviárias em breve. A idéia é que um ano depois de implementada a infraestrutura, seja feita uma nova contagem.

Para conhecer mais sobre o plano cicloviário de Belo Horizonte, visite o Pedala BH, na página da BHTrans.

Relacionado:
Conhecer para promover

As pessoas mudam as cidades

As bicicletas não mudam as cidades, mudam as pessoas que vivem nas cidades. Isso é o que mostra um vídeo sobre “Bike Boulevard”, um termo em inglês para um conceito ainda sem tradução oficial em português.

Ruas dentro de um bairro formam uma rede com baixo fluxo de trânsito motorizado, em baixa velocidade. Além disso, a sinalização vertical e horizontal informa sobre a total prioridade as bicicletas e bloqueios nos cruzamentos e medidas de acalmia de tráfego impendem o uso da rota como caminho direto para os automóveis.

A falta de conhecimento técnico de como projetar esse tipo de via, tão importante para as cidades, serviu de motivação para a elaboração de um manual que aborda todos os conceitos por trás da elaboração de uma rede de vias cicláveis.

Muito se fala em ciclovias como forma de induzir e facilitar a bicicleta como modal de transporte urbano. No entanto, ruas cicláveis trazem benefícios para além da circulação viária, já que a diminuição do tráfego motorizado em ruas de bairro trazem benefícios inestimáveis a qualidade de vida das pessoas, valorizando até mesmo o patrimônio dos moradores.

Faça o download do Manual de Planejamento de Ruas Cicláveis. (em inglês). Saiba mais no site do departamento para a inovação em prol de pedestres e cicilistas da Universidade Estadual de Portland.

Relacionados:
Boulevard Ciclístico
Uma Solução Pronta
O dilema das ciclovias
Um Número Mágico
Devagar e sempre

Para quem são feitas as ruas

O que nossas ruas são hoje, é resultado de decisões tomadas no passado. O que faremos com o espaço público de circulação em nossas cidades é tarefa para o presente.

No mês de fevereiro, esteve no Rio de Janeiro, à convite do ITDP, o arquiteto Michael King. Ele falou sobre as mortes no trânsito, e foi enfático ao declarar que para reduzir o número de mortos, tem de haver reduções no limite de velocidade do trânsito motorizado. Um pequeno diálogo imaginário ajuda a ilustrar a idéia.

– Você deixaria seu filho de 7 anos atravessar a rua para ir a escola? Então: quais as medidas que precisam ser tomadas para permitir que uma criança de 7 anos possa atravessar a rua?

– Projetar conversões que se adaptam a caminhões proporcionam que automoveis possam fazer o giro a 43km/h. É esta a velocidade que gostaríamos que um automóvel realizasse uma curva em qualquer lugar?

Outras questões ficaram no ar: Porque nos cruzamentos da cidade do Rio de Janeiro as travessias de pedestres estão recuadas da esquina se os pedestres não fazem desvios?

Como parte do workshop, King visitou, com diversos técnicos da prefeitura do Rio, a Lapa e os arredores da Central do Brasil, lugares com um enorme fluxo de pedestres. Espera-se que trabalhadores e boêmios sejam beneficiados.

Com informações do site do ITDP (em inglês) e do blog Urbanismo e Transporte.

Relacionados:
Visão Zero
Cidade que queremos
Melhor a cada por do sol
Em favor das reduções de velocidade
Um número mágico
Frágeis criaturas

Fluxos de Água e de Vida

Condição fundamental para a existência de vida, a água sempre foi fator preponderante em qualquer ocupação humana. Ao redor de rios cresceram cidades e deles retiravam o precioso líquido, mas também transportavam-se neles, podiam extrair energia. O fluxo das águas sempre esteve associado a qualidade de vida, em seu mais amplo sentido. Desde a garantia de sobrevivência até a beleza da paisagem.

Durante o século XX, sempre ele, as ocupações urbanas intensificaram ainda mais a perda de simbiose com o fluxo de vida dos rios. Esgoto, canalizações, rios enterrados para dar lugar ao asfalto.

Esse janeiro de 2010 tem ensinado aos brasileiros, da pior maneira possível, quão importante são os rios e as águas nas cidades. Deslizamentos em encostas e alagamentos nas ruas tem paralizado o trânsito paulistano. A “locomotiva do Brasil”, responsável por mais de 10% da riqueza econômica do país, enferruja um pouco a cada tragédia com mortos e em interrupções do fluxo motorizado.

Os prejuízos financeiros são astrômicos, mas maior é o prejuízo para as pessoas que passam a conviver com o medo e a insegurança. Seja de soterramentos, ou de ficar ilhada por conta de ruas alagadas. E não são exclusividade de São Paulo, são apenas maiores na maior cidade da América Latina.

A tragédia das chuvas em São Paulo ou em qualquer cidade brasileira é acima de tudo um convite a reflexão sobre como construimos nossas cidades e o que está sendo priorizado. As grandes avenidas de São Paulo, assentadas em grande parte no leito de rios e córregos, representam mais um erro de percepção em relação ao poder dos rios.

Piscinões e canalizações nunca serão suficientes e requerem um custo de manutenção proibitivo e que nem sempre será pago. Uma cidade do tamanho de um país tem sempre prioridades de mais para poder cuidar de todas com a devida atenção.

Humanizar as cidades é também tratar de maneira correta seus rios. Devolvendo-os para que a população possa usufruir deles (como foi feito em Seoul) ou simplesmente permitindo que eles aos poucos possam voltar a serem rios. Poderosos fluxos de água que seguem sempre o caminho mais fácil que a gravidade lhes manda tomar.

Relacionados:
Águas e Asfalto
Pessoas gostam de água
Breve fábula sobre caminhos
E o rio Pinheiros continua sendo…

Mais:
A história dos rios que correm sob os buracos da 9 de julho
São Paulo vive situação caótica por causa das chuvas