Pedalar é para qualquer idade

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Foto: Denir Mendes Miranda – A bicicleta do meu avô

Pedalar é atividade sem limite de idade, enquanto houver força para os pedais e equilíbrio qualquer pessoa poderá seguir em bicicleta. Mas os que pedalam há mais tempo trazem consigo uma lição aos mais novos, aquele exemplo que inspira e molda novos ciclistas.

Toda criança sonha em pedalar a bicicleta do avô, aquele objeto especial que é símbolo de liberdade. Uma bicicleta de adulto, grande e robusta que leva uma criança mais longe. Nas palavras do neto Denir Miranda:

Lembro da bicicleta Philips, pesadíssima, com um selim de couro com franjas, e uma placa ovalada azul escuro com letras e números brancos. Agora me recordo: conseguir a chave da dispensa e obter autorização para pedalar era um prêmio inigualável!

E pelo mundo afora, muitos seguem pedalando, sem dar importância à data de nascimento.

Por mais pesssoas em mais bicicletas mais vezes, sem limite de idade.

Mais da história do avô do Denir: A bicicleta do meu avô

365 dias na vida de uma bicicleta

Uma agência de comunicação em Nova Iorque conduziu um experimento curioso durante o ano de 2011, prenderam uma bicicleta toda equipada em um bicicletário ao ar livre no bairro do SoHo. Depois, uma foto por dia que mostraram o lento desaparecimento da bicicleta.

Uma imagem bonita e triste, mas que ilustra a bicicleta parada e seu valor maior, o potencial de movimento e de uso. As peças dispersas alimentaram o comércio de peças roubadas, ainda que de valor muito baixo. Mas o vídeo faz lembrar daquela bicicleta parada, que só acumula poeira e poderia servir ao nobre propósito de circulação.

Vale nos mirarmos no que é bonito do vídeo e devolver a circulação uma bicicleta ou peças paradas.

A Lei da Mobilidade Urbana

A recém promulgada lei da Política Nacional de Mobilidade Urbana, aponta novas caminhos para equacionar o drama urbano da (i)mobilidade. As diretrizes da nova lei preveem integração entre “a política de desenvolvimento urbano e respectivas políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso do solo” (art. 6, ítem I). O texto segue em linha gerais estabelecendo prioridade para o transporte público, dos meios de transporte “não-motorizados” e dando incentivos a melhorias em prol da sustentabilidade.

Dentre as principais medidas da nova lei, fica assegurada a participação da sociedade civil no planejamento, fiscalização e avaliação da mobilidade urbana (art. 15) e o código de defesa do consumidor passa a valer para os usuários do transporte público (art. 14). Mas o mais importante é os municípios com mais de 20 mil habitantes terão prazo de 3 anos para elaborarem um Plano de Mobilidade, antes ele só era obrigatório para os 38 municipíos brasileiros com mais de 500 mil habitantens.

Segundo análise do IPEA, (Nova lei moderniza regulação da mobilidade urbana) a primeira constatação é que a nova lei oficializa o que já estava definido na “Política Nacional da Mobilidade Urbana Sustentável“, formulada pelo Ministério das Cidades em 2004. Ou seja, o que já estava redigido pelo Ministério passa a ter força de lei federal, mas na prática o caminho ainda é longo para que as medidas previstas sejam colocadas em prática.

Além do texto um tanto quanto amplo demais, o principal deslize do novo plano é insistir na definição de modos de transporte ativos como “não motorizados“. A questão é mais do que sintática, pedestres cadeirantes, ciclistas, skatistas, patinadores são definidos em função do meio de transporte principal nas cidades, os motorizados e isso ainda não mudou com a nova lei. O texto “Transporte Não Motorizado“, alonga-se sobre a questão.

Para quem quiser saber mais sobre a importância de Planos de Mobilidade, a Autoridade Européia de Transporte Metropolitano tem um documento valioso em inglês: “Mobility Plans: the way forward for a sustainable urban mobility“.

Para que a legislação tenha valor, agora é preciso que haja pressão local nos milhares de municípios que passam a ser obrigados a ter um plano de mobilidade. Antes apenas as cidades com mais de 500 mil habitantes eram obrigadas a elaborar um plano e ainda hoje nem todas as 38 cidades que se encaixam nesse perfil Brasil afora foram capazes de elaborar seus planos de mobilidade.

Bicicleta de Bambu feita na África

Uma bicicleta é capaz de gerar muito movimento com um gasto mínimo de energia. Na física isso quer dizer o mínimo de watts por quilômetro, na biologia significa que o ciclista é mais eficiente que um Condor. No dicionário de economia a bicicleta é capaz de dar a melhor taxa de retorno por investimento, socialmente falando.

A empresa californiana Zambikes é um “empreendimento social”, uma empresa que visa não a maximização do lucro, mas sim o aumento dos benefícios sociais da comunidade em que a empresa está inserida. E justamente pela pobreza econômica africana, com pouco investimento é preciso gerar grandes impactos sociais.

As estilosas bicicletas em Bambu, feitas à mão, são comercializadas ao redor do mundo e os lucros possibilitam que a empresa invista em bicicletas robustas a serem utilizadas pela população da Zâmbia.

Conheça mais sobre o projeto de bicicletas para a Zâmbia no zambikes.org ou compre a sua Zambike de bambu no zambikesint.com.

Resgate da cidadania

O Rio de Janeiro passa por um processo de resgate cidadão e da retomada da cidade por seus moradores. Nos jornais vemos a fuga dos traficantes e seu armamento pesado e a entrada da polícia e dos militares, também com armamento pesado. Mas não é só de segurança pública que o carioca precisa.

Aliás, não é só de segurança pública que nenhum cidadão precisa. Para que as cidades possam voltar a ser espaços de convivência e trocas humanas é preciso agir também na escala micro. Recolher guimba de cigarro, fazer mutirão de limpeza em espaços que ninguém cuida. Em resumo, levar ao pé da letra essa tal cidadania.

A bicicleta é o veículo cidadão por excelência, mas pedalar por si só não torna ninguém melhor. Para ser das pessoas, uma cidade precisa acima de tudo valorizar o espaço público e unir seus cidadãos. As melhorias no transporte público, na segurança dos pedestres e um trânsito mais humano virão à reboque.

Fica feito o convite aos cariocas, visitem o RioEuAmoEuCuido.com.br e participe. Aos paulistanos, vale procurar o Mapa da Participação Cidadã, e se engajar em umas das diversas iniciativas para melhorar a qualidade de vida na cidade.

E claro, caso onde você mora tenha alguma iniciativa similar, avise nos comentários para que mais pessoas conheçam.